sexta-feira, 29 de julho de 2016

As reformas prometidas por Temer e os bilhões à plutocracia para garantir o golpe


Faz pouco mais de dois meses que o governo interino (???) de Temer adentrou pela porta dos fundos o Palácio do Planalto. Desde então, conquistas sociais de décadas vêm sendo jogadas no lixo e negócios de duvidosa eficácia para o país e a sociedade, realizados aos borbotões. É a fatura do golpe sendo paga antecipadamente e a trupe do dinheiro tomando de assalto o poder. 

Aliás, conversando com uma amiga sobre nossas angústias atuais diante da crise, ouvi uma frase que vale a reflexão e pode explicar os motivos dessa escumalha estar indo com tanta sede ao pote antes mesmo da votação final do impeachment: “ninguém é interino destruindo tudo que encontra pelo caminho, se não souber de antemão que esse caminho já está asfaltado. Nem que tenha sido asfaltado com dinheiro”.

Mal chegou, precisando de apoios, Temer não perdeu tempo. Aumentou o limite do cartão de crédito do tesouro para R$170 bilhões e numa canetada só concedeu aumento generalizado ao judiciário. R$60 bilhões.  De lambuja aceitou um penduricalho de 14 mil cargos camuflados dentro da mesma medida.  Para quem entrou pedindo austeridade e sacrifícios à sociedade, coerência zero.  A proposta, aliás, não passou pelo crivo do cordato Meireles e foi a primeira (não a última) a descer atravessada na garganta do ministro.

Na área social, a reforma trabalhista com flexibilização da CLT visa atender a classe empresarial, sempre ávida por mais e mais lucros.  Importante ressaltar que ainda vivemos em um país extremamente desigual e que a proteção jurídica nem sempre é o bastante para garantir o direito do trabalhador.  Somos um dos países com maior incidência de trabalho escravo no mundo, segundo a OIT.  Não raro vemos operações para libertação de trabalhadores em fazendas que vivem em condições análogas à escravidão. Alguma razão para isso além da frouxidão de nossas leis?



A reforma da previdência é outra promessa de campanha do interino usurpador e tem o intuito, além das fajutas desculpas de rombo e quebradeira do sistema, de alavancar a venda de planos de previdência privada por bancos e seguradoras.  Faz seis meses acabamos de aprovar a flexibilização do fator previdenciário, onde foi criada a tabela progressiva 85/95, que chegará a 90/100 daqui a dez anos. Ou seja, depois desse justo período de transição a idade mínima já estará pavimentada em 62/63 anos. É de longa data estudos que comprovam que a previdência nacional sozinha é superavitária, mesmo com todas as desigualdades existentes entre seus vários regimes.  O problema desse e de outros governos é que incluíram na rubrica social, por exemplo, o seguro-desemprego e o bolsa-família, entre outros.  E aí a conta não fecha.

Não para por aí o desmonte.  Essa semana, talvez aconselhado por seu assessor especial, Alexandre Frota, o ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou o fim do Programa Ciência Sem Fronteiras para graduação.  Esqueceu de dizer que essa parte representava 90% do projeto.  O argumento? Alto custo do programa.  De 2011 até hoje mais de 100 mil alunos foram enviados nesses intercâmbios ao exterior.

De ressaltar, desde o fim das eleições de 2014, passando pela preparação da sociedade, apresentação do pedido de impeachment, criação do clima para a votação e as votações na Câmara e Senado, a grande mídia nacional teve papel fundamental em todo esse processo.  E agora, continua desempenhando o mesmo papel manipulador perante a sociedade até a votação final prevista para depois das olimpíadas. 

Prova disso foi a pesquisa Datafolha publicada pelo jornal Folha de São Paulo, em 17/7, informando ao respeitável público que 50% dos brasileiros queriam Temer até 2018.  Mentira, mentira, mil vezes mentira.  A fraude foi desmascarada pelo jornalista Glenn Greenwald e o blog Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, ambos descobriram no interior da pesquisa a omissão de uma pergunta fundamental, a vontade de 62% dos entrevistados por eleições para presidente já.



Mais.  Todas as reformas palacianas a serem implementadas contam com a parceria da grande mídia nacional para o convencimento da sociedade.  Lógico, nada disso é 0800 ou ideológico, tem um preço. Na calada da noite, em 30 de junho desse ano, em decreto totalmente lacônico, Temer permitiu ao conglomerado Globo a venda indireta de algumas de suas emissoras.  O que isso significa só saberemos daqui a alguns dias quando acabar o prazo de confidencialidade previsto no decreto, mas deve ser bom. Pra eles.

A parceria mídia/governo parece não ter fim. Essa semana, novos ensaios de avanço sobre o social começaram a ser testados pelos grandes jornais.  Com direito à coluna de Míriam Leitão, estrela maior do jornalismo global e assecla-mor dos Marinho, a serviço das elites, publicou sob o título de “O dono do dinheiro”, artigo-campanha que visa passar aos bancos privados cerca de 300 bilhões do FGTS dos trabalhadores, depositados na Caixa.  Essa, porém, trata-se apenas da fase preparatória.  Muitas outras virão até nossa plebe rude se convencer da necessidade da entrega aos amigos banqueiros.

Mas não acabou. Dia 21/7 foi encaminhada ao Congresso proposta de aumento para doze novas categorias não beneficiadas na primeira fase enviada ao poder judiciário.  E 29/7, Temer avisou que está concedendo 37% de aumento aos delegados da Polícia Federal.  Uma festa.

Com o social encaminhado, passemos a outra parte da conta a ser paga, essa mais salgada. Sem fazer alarde, no mesmo dia de sua posse, 12/5, Temer começou a arar o terreno para os passos que viriam a seguir. A edição da MP 727/16, que entre outras coisas, estabelece regras para um aparente Programa de Parcerias de Investimento, PPI, tem a intenção de abrir o estado brasileiro à iniciativa privada, nacional e estrangeira. Nela, estão previstos investimentos públicos de infraestrutura da Administração Pública, direta e indireta e, o mais importante, medidas do Programa Nacional de Desestatização a que se refere a lei n° 9.491, de 1997, do governo FHC.  Ou seja, vão acabar o serviço que não conseguiram terminar.  Três exemplos recentes de que ela já está sendo praticada: o anúncio de venda dos ativos da BR Distribuidora, previsto para 2017, o leilão de um bloco do pré-sal no valor de 2,5 bilhões de dólares e a renegociação dos contratos de concessão de estradas federais para alongamento dos prazos contratuais. Detalhe, o contrato das estradas havia sido renovado em 2013.

Os rentistas não poderiam deixar de ser convidados para a festa.  Na última reunião do Comitê de Política Econômica do Banco Central, mais uma vez, as taxas foram mantidas em 14,25%, pelo sétimo mês consecutivo. Medalha de ouro!!!

As Olimpíadas Rio 2016 começam apenas 5 de agosto.  Pelas bandas de Brasília, os gatos (ou ratos?) estão à vontade dando seus mortais triplo carpados.  Podem quebrar as fuças.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros



Nenhum comentário: