sexta-feira, 29 de julho de 2016

As reformas prometidas por Temer e os bilhões à plutocracia para garantir o golpe


Faz pouco mais de dois meses que o governo interino (???) de Temer adentrou pela porta dos fundos o Palácio do Planalto. Desde então, conquistas sociais de décadas vêm sendo jogadas no lixo e negócios de duvidosa eficácia para o país e a sociedade, realizados aos borbotões. É a fatura do golpe sendo paga antecipadamente e a trupe do dinheiro tomando de assalto o poder. 

Aliás, conversando com uma amiga sobre nossas angústias atuais diante da crise, ouvi uma frase que vale a reflexão e pode explicar os motivos dessa escumalha estar indo com tanta sede ao pote antes mesmo da votação final do impeachment: “ninguém é interino destruindo tudo que encontra pelo caminho, se não souber de antemão que esse caminho já está asfaltado. Nem que tenha sido asfaltado com dinheiro”.

Mal chegou, precisando de apoios, Temer não perdeu tempo. Aumentou o limite do cartão de crédito do tesouro para R$170 bilhões e numa canetada só concedeu aumento generalizado ao judiciário. R$60 bilhões.  De lambuja aceitou um penduricalho de 14 mil cargos camuflados dentro da mesma medida.  Para quem entrou pedindo austeridade e sacrifícios à sociedade, coerência zero.  A proposta, aliás, não passou pelo crivo do cordato Meireles e foi a primeira (não a última) a descer atravessada na garganta do ministro.

Na área social, a reforma trabalhista com flexibilização da CLT visa atender a classe empresarial, sempre ávida por mais e mais lucros.  Importante ressaltar que ainda vivemos em um país extremamente desigual e que a proteção jurídica nem sempre é o bastante para garantir o direito do trabalhador.  Somos um dos países com maior incidência de trabalho escravo no mundo, segundo a OIT.  Não raro vemos operações para libertação de trabalhadores em fazendas que vivem em condições análogas à escravidão. Alguma razão para isso além da frouxidão de nossas leis?



A reforma da previdência é outra promessa de campanha do interino usurpador e tem o intuito, além das fajutas desculpas de rombo e quebradeira do sistema, de alavancar a venda de planos de previdência privada por bancos e seguradoras.  Faz seis meses acabamos de aprovar a flexibilização do fator previdenciário, onde foi criada a tabela progressiva 85/95, que chegará a 90/100 daqui a dez anos. Ou seja, depois desse justo período de transição a idade mínima já estará pavimentada em 62/63 anos. É de longa data estudos que comprovam que a previdência nacional sozinha é superavitária, mesmo com todas as desigualdades existentes entre seus vários regimes.  O problema desse e de outros governos é que incluíram na rubrica social, por exemplo, o seguro-desemprego e o bolsa-família, entre outros.  E aí a conta não fecha.

Não para por aí o desmonte.  Essa semana, talvez aconselhado por seu assessor especial, Alexandre Frota, o ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou o fim do Programa Ciência Sem Fronteiras para graduação.  Esqueceu de dizer que essa parte representava 90% do projeto.  O argumento? Alto custo do programa.  De 2011 até hoje mais de 100 mil alunos foram enviados nesses intercâmbios ao exterior.

De ressaltar, desde o fim das eleições de 2014, passando pela preparação da sociedade, apresentação do pedido de impeachment, criação do clima para a votação e as votações na Câmara e Senado, a grande mídia nacional teve papel fundamental em todo esse processo.  E agora, continua desempenhando o mesmo papel manipulador perante a sociedade até a votação final prevista para depois das olimpíadas. 

Prova disso foi a pesquisa Datafolha publicada pelo jornal Folha de São Paulo, em 17/7, informando ao respeitável público que 50% dos brasileiros queriam Temer até 2018.  Mentira, mentira, mil vezes mentira.  A fraude foi desmascarada pelo jornalista Glenn Greenwald e o blog Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, ambos descobriram no interior da pesquisa a omissão de uma pergunta fundamental, a vontade de 62% dos entrevistados por eleições para presidente já.



Mais.  Todas as reformas palacianas a serem implementadas contam com a parceria da grande mídia nacional para o convencimento da sociedade.  Lógico, nada disso é 0800 ou ideológico, tem um preço. Na calada da noite, em 30 de junho desse ano, em decreto totalmente lacônico, Temer permitiu ao conglomerado Globo a venda indireta de algumas de suas emissoras.  O que isso significa só saberemos daqui a alguns dias quando acabar o prazo de confidencialidade previsto no decreto, mas deve ser bom. Pra eles.

A parceria mídia/governo parece não ter fim. Essa semana, novos ensaios de avanço sobre o social começaram a ser testados pelos grandes jornais.  Com direito à coluna de Míriam Leitão, estrela maior do jornalismo global e assecla-mor dos Marinho, a serviço das elites, publicou sob o título de “O dono do dinheiro”, artigo-campanha que visa passar aos bancos privados cerca de 300 bilhões do FGTS dos trabalhadores, depositados na Caixa.  Essa, porém, trata-se apenas da fase preparatória.  Muitas outras virão até nossa plebe rude se convencer da necessidade da entrega aos amigos banqueiros.

Mas não acabou. Dia 21/7 foi encaminhada ao Congresso proposta de aumento para doze novas categorias não beneficiadas na primeira fase enviada ao poder judiciário.  E 29/7, Temer avisou que está concedendo 37% de aumento aos delegados da Polícia Federal.  Uma festa.

Com o social encaminhado, passemos a outra parte da conta a ser paga, essa mais salgada. Sem fazer alarde, no mesmo dia de sua posse, 12/5, Temer começou a arar o terreno para os passos que viriam a seguir. A edição da MP 727/16, que entre outras coisas, estabelece regras para um aparente Programa de Parcerias de Investimento, PPI, tem a intenção de abrir o estado brasileiro à iniciativa privada, nacional e estrangeira. Nela, estão previstos investimentos públicos de infraestrutura da Administração Pública, direta e indireta e, o mais importante, medidas do Programa Nacional de Desestatização a que se refere a lei n° 9.491, de 1997, do governo FHC.  Ou seja, vão acabar o serviço que não conseguiram terminar.  Três exemplos recentes de que ela já está sendo praticada: o anúncio de venda dos ativos da BR Distribuidora, previsto para 2017, o leilão de um bloco do pré-sal no valor de 2,5 bilhões de dólares e a renegociação dos contratos de concessão de estradas federais para alongamento dos prazos contratuais. Detalhe, o contrato das estradas havia sido renovado em 2013.

Os rentistas não poderiam deixar de ser convidados para a festa.  Na última reunião do Comitê de Política Econômica do Banco Central, mais uma vez, as taxas foram mantidas em 14,25%, pelo sétimo mês consecutivo. Medalha de ouro!!!

As Olimpíadas Rio 2016 começam apenas 5 de agosto.  Pelas bandas de Brasília, os gatos (ou ratos?) estão à vontade dando seus mortais triplo carpados.  Podem quebrar as fuças.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros



quinta-feira, 28 de julho de 2016

Saneamento fica sem medalha

Na lagoa de Jacarepaguá é visível a mancha da águas negras, ao lado do Parque Olímpico, coração dos Jogos Olímpicos que acontecerão no Rio de Janeiro no próximo mês. A projetada dragagem não aconteceu, devido à restrição de fundos para a obra. Foto: Cortesia de Mario Moscatelli.
Na lagoa de Jacarepaguá é visível a mancha da águas negras, ao lado do Parque Olímpico, coração dos Jogos Olímpicos que acontecerão no Rio de Janeiro no próximo mês. A projetada dragagem não aconteceu, devido à restrição de fundos para a obra. Foto: Cortesia de Mario Moscatelli.

A grande frustração dos Jogos Olímpicos, que começarão no dia 5 no Rio de Janeiro, será o não cumprimento de metas e promessas de saneamento ambiental de seus corpos de água.

Rio de Janeiro, Brasil, 26/7/2016 – Perdeu-se a oportunidade de dar um empurrão decisivo na descontaminação da emblemática baía de Guanabara e das lagoas da cidade, tal como estabelecia o plano com que a cidade ganhou o direito de ser sede da Olimpíada 2016.
É um fracasso que possivelmente terá escassa repercussão para moradores e visitantes, diante da maior visibilidade dos projetos de transporte urbano e revitalização do centro carioca.O fato confirma uma tradição nacional de relegar o saneamento nas prioridades governamentais. Até agora, somente metade da população brasileira conta com esgoto e apenas uma pequena parte do que o sistema transporta é tratada.
“O ambiente não paga impostos e nem vota, por isso não atrai a atenção de nossos líderes políticos, nem da sociedade”, queixou-se o biólogo Mario Moscatelli, ativista do tema hídrico no Rio de Janeiro.Nem mesmo a lagoa de Jacarepaguá, em cujas margens foi construído o Parque Olímpico, coração dos Jogos da 31ª Olimpíada da era moderna, na zona oeste da cidade, foi devidamente tratada. Os rios e riachos continuam despejando água suja na lagoa o tempo todo, contou à IPS.
Sérgio Souza dos Santos no cais construído pelos pescadores de Tubiacanga, para entrar na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, porque a sedimentação impede que suas embarcações se aproximem da margem, que há décadas era uma bela praia. Foto: Mario Osava/IPS
Sérgio Souza dos Santos no cais construído pelos pescadores de Tubiacanga, para entrar na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, porque a sedimentação impede que suas embarcações se aproximem da margem, que há décadas era uma bela praia. Foto: Mario Osava/IPS
O aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão – onde chegará a maioria dos atletas e torcedoresestrangeiros para os Jogos, está em uma das áreas mais contaminadas da baía de Guanabara, embora os visitantes não cheguem a notar isso.Localizado na ponta oeste da Ilha do Governador, onde viviam 212.754 pessoas em 2010, segundo o censo oficial, o aeroporto tem por vizinhos canais onde é despejado esgoto sem tratamento e o lixo de milhões de residências de bairros e cidades, através de rios convertidos em cloacas.
Pela estrada que leva ao centro da cidade pode-se vislumbrar o canal do Fundão, de águas negras e mau cheiro, que persistem apesar de uma recente dragagem por causa do que chega do conectado canal de Cunha. Neste convergem os dejetos de cinco rios que cruzam bairros muito povoados, incluindo várias favelas e indústrias.Atrás do Galeão, ao norte, o bairro de pescadores de Tubiacanga, sintetiza as tragédias ambientais da baía de Guanabara, que tem 412 quilômetros quadrados e se estende entre os bairros de Copacabana e Itaipu.
“Tínhamos sete ou oito metros de profundidade, agora na maré baixa pode-se andar com água pelo peito” na parte mais estreita do canal, entre a Ilha do Governador e Duque de Caxias, a cidade próxima em terra firme, contou à IPS o pescador Sergio Souza dos Santos, de 66 anos, dois terços vividos em Tubiacanga. A sedimentação por aterros, a lama trazida pelos rios e o lixo reduziram a profundidade da baía explicou.
“Tubiacanga fica no encontro das águas sujas, das marés que sobem desde a entrada da baía, inclusive por vários canais, incluído o do Fundão, e a água dos rios. Isso acumula sedimento e lixo diante do bairro”, cuja praia de areias brancas se converteu em lodaçal e lixão em poucas décadas, lamentou Santos.A baía recebe 90 toneladas de lixo e 18 mil litros de esgoto sem tratamento por dia, principalmente através dos 55 rios e canais que desembocam em suas águas, destacou Sergio Ricardo de Lima, ecologista fundador do Movimento Baía Viva.
Descontaminar 80% dos efluentes lançados na baía de Guanabara foi a meta anunciada no projeto olímpico. Chegou-se a 55%, declarou o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, em um encontro com jornalistas estrangeiros, no dia 7 deste mês.“Só creio no que vejo: dos 55 rios da bacia, 49 se converteram em cursos de efluentes sem vida”, protestouMoscatelli, que assim deu voz ao ceticismo dos ambientalistas.
“A meta de 80% não era realista. Descontaminar totalmente a baía exigiria de 25 a 30 anos, com investimentos equivalentes a US$ 6 bilhões em saneamento, admitiu André Correa, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, ao inaugurar, no dia 20 deste mês, uma ecobarreira no rio Meriti, uma das vias de contaminação.
As ecobarreiras são boias presas em cadeia que retêm o lixo flutuante e constituem uma medida de emergência para garantir que os esportes náuticos das Olimpíadas possam acontecer em alguns pontos da baía. Barcos recolhem o lixo retido e enviam para reciclagem.As 17 ecobarreiras prometidas são insuficientes e para sua melhor eficácia teriam que ser instaladas onde se concentra o lixo flutuante, como em Tubiacanga, e não perto da entrada da baía, onde acontecerão as competições náuticas, apontou Lima.
Assim está hoje o que no passado foi uma praia de areias brancas no bairro de pescadores de Tubiacanga, na baía de Guanabara, nas imediações do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Os moradores contribuem para a contaminação e sedimentação da emblemática baía brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
Assim está hoje o que no passado foi uma praia de areias brancas no bairro de pescadores de Tubiacanga, na baía de Guanabara, nas imediações do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Os moradores contribuem para a contaminação e sedimentação da emblemática baía brasileira. Foto: Mario Osava/IPS
Sua implantação no rio Meriti atende esse critério do ambientalista. Mas se trata de uma “ação paliativa”, a solução é promover a coleta seletiva nas fontes, isto é, nas residências, no comércio e nas indústrias, e reciclar o máximo dos resíduos sólidos, como estabelece uma lei a respeito aprovada em 2010. “Atualmente só se recicla 1% do lixo da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, que tem 12 milhões  de habitantes, lembrou Lima.
A descontaminação da baía de Guanabara é um velho sonho. Foi a meta de um projeto iniciado em 1995 e que já custou US$ 3 bilhões, ao câmbio atual. Mas não foi evitada a deterioração ambiental da água e das praias locais.Oito estações de tratamento de efluentes (ETE) foram construídas ou ampliadas para melhorar a qualidade de sua água. Mas sempre operaram com pequena parte de sua capacidade, porque não foram construídos os troncos coletores necessários para recolher o esgoto e levá-lo às ETE, segundo Lima.
A contaminação da baía se agrava pelos vazamentos de petróleo. Além de uma refinaria e de um polo petroquímico instalados nas margens, em Duque de Caxias, em toda a frente do bairro de Tubiacanga, a baía de Guanabara é crescentemente cruzada por dutos transportando óleo, derivados e gás. Até hoje se sente os danos de um grande vazamento de petróleo ocorrido em janeiro de 2000 que teve impacto direto em Tubiacanga e na captura de seus pescadores.
“Os que mais sofrem as consequências da contaminação e melhor conhecem a baía de Guanabara, os pescadores, não são ouvidos, estamos encurralados, ameaçados de extinção”, concluiu Souza dos Santos, que incentiva seus quatro filhos a deixarem o ofício da pesca. Envolverde/IPS/Utopia Sustentável

quarta-feira, 27 de julho de 2016

‘Quem foi que tacou fogo aqui?’

No primeiro semestre deste ano, foram registradas 6.574 ocorrências, um aumento de 32% em relação ao mesmo período de 2015.
No primeiro semestre deste ano, foram registradas 6.574 ocorrências no estado do Mato Grosso, um aumento de 32% em relação ao mesmo período de 2015.

Além de afetar a terra, o fogo deteriora a qualidade do ar, levando até ao fechamento de aeroportos por falta de visibilidade (devido à fumaça), reduz a biodiversidade e prejudica a saúde humana.

Chegando à academia, deparei-me com uma cena que me deixou mais animado para o treino: uma senhora juntava as folhas das árvores que sombreavam a rua. Seu trabalho não se limitava apenas à calçada de sua casa, mas por onde houvesse necessidade de varrição – a limpeza de vias públicas é uma responsabilidade do município, que, geralmente, terceiriza o serviço.
Passados os habituais 15 minutos de esteira, como aquecimento, fui mandar a primeira série de supino, ainda ofegante pela corrida. Perto das 16h, quando me preparava para os exercícios do segundo músculo do dia, uma nuvem de fumaça tomou a sala. Mesmo sem ar, prender a respiração se fazia necessário. Com ventiladores na potência máxima, janelas e portas abertas, o que mais fazer para ter “ar puro” de volta? Quantos xingamentos não se ouviam lá dentro: “quem foi o … que tacou fogo aqui?” e “por que não queima o …?” eram as frases mais repetidas. Treino encerrado, por motivo de força maior.
Na rua, constato que os 11 montes feitos pela senhora – antes motivo de orgulho para mim – causaram a revolta de quase todos que estavam por ali, inalando a fumaça que vinham deles. E fui embora refletindo sobre minha alegria da chegada até a tristeza da saída da academia; do elogio ao voluntariado socioambiental à atividade ecologicamente incorreta, em questão de minutos.
E achei as respostas para boa parte das minhas dúvidas num artigo do pesquisador Mauro Leonel sobre a cultura do uso do fogo. Para ele, a queimada deve ser desmistificada como um legado nocivo dos índios para o país – que a utilizavam no processo de cultivo de seus alimentos – e analisada como prática de limpeza de terrenos introduzida por imigrantes europeus a partir de 1.500. “Ah, então é por isso que meus avós, tios e até o finado pai não hesitavam em fazer fogueira dos resíduos sólidos que não mais lhes serviam nas chácaras?”, pensei, logo após o estudo do texto. Essa característica da descendência italiana também é marcante em meu irmão, 10 anos mais novo, que, assim como a senhorinha, igualmente risca o fósforo sobre qualquer montinho de folhas secas.Queimadas agrícolas
Mato Grosso lidera o ranking nacional de queimadas, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No primeiro semestre deste ano, foram registradas 6.574 ocorrências no estado, um aumento de 32% em relação ao mesmo período de 2015.

Inpe

De acordo com a coordenação de Manejo Sustentável dos Sistemas Produtivos da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, a queimada causa danos ao solo e aos demais recursos naturais. E faz um alerta: “agosto tem o maior índice de registro de incidências de queimadas no Brasil. Sob o ponto de vista agronômico, o Ministério da Agricultura não recomenda. Ela elimina nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio, potássio e o fósforo. A flora e a fauna são prejudicadas. Além disso, a prática reduz a umidade do solo e acarreta a sua compactação, o que resulta no desencadeamento do processo erosivo e outras formas de degradação da área”.
Ainda segundo a pasta, além de afetar a terra, o fogo deteriora a qualidade do ar, levando até ao fechamento de aeroportos por falta de visibilidade (devido à fumaça), reduz a biodiversidade e prejudica a saúde humana. Ao escapar do controle, atinge o patrimônio público e privado (florestas, cercas, linhas de transmissão e de telefonia, construções, etc.). Também altera a composição química da atmosfera e influe, negativamente, nas mudanças globais, tanto no efeito estufa quanto na redução da camada do ozônio.
Vale ressaltar que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresenta tecnologias alternativas para substituir, com vantagens, o uso do fogo na vegetação:www.preveqmd.cnpm.embrapa.br; e a Defesa Civil deve ser acionada quando há excesso de folhas e galhos quebrados na cidade, como esclareceu uma empresa de limpeza urbana neste link.(#Envolverde/Utopia Sustentável)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Ombudsman Paula Cesarino Costa, da Folha de São Paulo: A Folha errou e persistiu no erro




Não me recordo do reconhecimento de um flagrante e grave erro jornalístico por parte de nossa imprensa.  Naturalmente, não fizeram isso por seus leitores, e sim por uma atenta e vigilante mídia alternativa, que não é de hoje vem ganhando espaço.  Glenn Greenwald (The Intercept) e Fernando Brito (Tijolaço) estão de párabéns.  Mas também DCM, O Cafezinho, Brasil 247  e tantos outros pelo contra-ponto à imoralidade de uma mídia chapa-branca que arquitetou e vem tentando emplacar uma fraude chamada Michel Temer.  Por isso republico abaixo integralmente seu artigo e creio que todos deveriam fazer o mesmo.
Parabéns em especial, mais uma vez, a Glenn Greenwald.
Odilon de Barros


Paula Cesarino Costa
Fundado em 1983, o instituto de pesquisas Datafolha, pertencente ao Grupo Folha, acumulou um patrimônio de qualidade técnica, arrojo de abordagem e interpretação de dados isenta. Sua credibilidade foi construída em trabalho conjunto com a Redação. Introjetou-se de tal forma no jornal que uma crítica antiga à Folha é a de ser um jornal "data-dependente".
Dito isso, é preciso reconhecer que a semana que passou foi amarga para o Datafolha e para a Folha.
Desde que assumi o mandato, nenhum assunto mobilizou tanto os leitores. Do total de mensagens recebidas desde quarta-feira, 62% foram críticas e acusações ao jornal.
Variavam de fraude jornalística e manipulação de resultados a pura e simples má-fé, passando por sonegação de informação e interpretação tendenciosa.
A questão central está na acusação de o jornal ter omitido, deliberadamente, que a maioria dos entrevistados (62%) pelo Datafolha se disseram favoráveis a novas eleições presidenciais, em cenário provocado pela renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer.
Optou por destacar que 50% preferiam a permanência de Temer à volta de Dilma, em questão que, mesmo sem haver essa hipótese, 3% disseram defender novas eleições.
As perguntas 11, 13 e 14 do questionário do Datafolha (leia a seguir) tornaram-se objeto de vigorosa controvérsia.
Os sites The Intercept, do jornalista Glenn Greenwald, e Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, acusaram a Folha de "fraude jornalística com pesquisa manipulada visando alavancar Temer".
Em trabalho complementar, comprovaram que o jornal omitira da reportagem e do questionário divulgado no site do Datafolha questão proposta aos entrevistados sobre a convocação de novas eleições.
Outra pergunta também foi omitida. Esta pedia aos entrevistados que avaliassem se o processo de impeachment está seguindo as regras democráticas e a Constituição: 49% disseram que sim; 37% que não.
Para alimentar teorias conspiratórias, revelou-se que o Datafolha colocou em seu site mais de uma versão do relatório da pesquisa polêmica, sendo que em só uma delas constavam as duas perguntas. O instituto explica que faz um relatório completo para a Redação, mas divulga no site apenas o que saiu no jornal. No caso, o primeiro documento continha, por falha, título sobre a pergunta 14, ausente do relatório por não ter sido usada.
Diante da polêmica, Folha e Datafolha optaram por divulgar link para o relatório completo.
Reveladas as omissões e estabelecida a confusão, o editor-executivo do jornal, Sérgio Dávila, disse que o resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não pareceu especialmente noticioso, por repetir uma tendência, além de o jornal considerar tratar-se de cenário político pouco provável.
Leitores discordaram: "A Folha me pareceu escapar pela tangente, com respostas vagas", disse Eduardo Ottoni. "Os argumentos chegam a ser até um insulto à inteligência do leitor", afirmou Márcia Meireles. "A Folha errou, é tão grave assumir seus erros?", questionou.
A ombudsman resumiu as críticas dos leitores ao editor-executivo. Dávila argumentou que "o único cenário concreto à frente é o Senado decidir se Dilma Rousseff volta a exercer o cargo de presidente da República ou se Michel Temer continua a exercê-lo. Não há terceira opção além dos dois desfechos possíveis. (...) Faz parte da boa prática jornalística não publicar o que é pouco relevante".
Dávila lembrou que a Folha frequentemente publica uma fração das pesquisas, "nunca sua íntegra".
Discordo em muitos pontos do editor-executivo. Quando a Folha, emeditorial de Primeira Página em 3 de abril, defendeu a renúncia de Dilma e de Temer e a convocação de nova eleição, também esse não era um cenário provável.
Se a possibilidade de dupla renúncia não era mais levada em conta, por que então a questão foi incluída na pesquisa? O questionário já foi elaborado nesse cenário. A repetição de tendência como argumento para não publicar o resultado é incoerente com a prática do jornal por anos a fio.
Quando secretária de Redação e editora de Política, participei da elaboração de incontáveis questionários de pesquisas Datafolha. Com a limitação técnica de quantidade de perguntas, cada uma precisa ser muito bem pensada e escolhida. Não há justificativa para colocar uma pergunta e depois ignorá-la.
Na crítica que circula diariamente na Redação, questionei a abordagem da pesquisa, feita pelo jornal, subaproveitando temas políticos, ao destacar em manchete o otimismo com a economia. Reveladas as omissões, lamentei a forma como o jornal enfrentou a polêmica. Sugeri que reconhecesse seu erro editorial e destacasse os números ausentes da pesquisa em nova reportagem.
A meu ver, o jornal cometeu grave erro de avaliação. Não se preocupou em explorar os diversos pontos de vista que o material permitia, de modo a manter postura jornalística equidistante das paixões políticas. Tendo a chance de reparar o erro, encastelou-se na lógica da praxe e da suposta falta de apelo noticioso.
A reação pouco transparente, lenta e de quase desprezo às falhas e omissões apontadas maculou a imagem da Folha e de seu instituto de pesquisas. A Folha errou e persistiu no erro.

Produzir alimentos ou conservar florestas

O mundo enfrenta um enorme desafio: por um lado, a necessidade imperiosa de produzir alimentos para a crescente população mundial, por outro, a pressão de frear e reverter o desaparecimento das florestas, tão necessárias para a vida humana como cobrir as necessidades de sua dieta.
Desmatamento. Foto: FAO
Desmatamento. Foto: FAO

As florestas têm um papel fundamental no desenvolvimento da agricultura sustentável por vários fatores: ciclos da água, conservação de solos, sequestro de carbono, controle natural de pestes, incidência nos climas locais, e preservação do habitat dos polinizadorese de outras espécies.
Mas a agricultura responde pela maior parte do desmatamento. Nas regiões tropicais ou subtropicais, a agricultura comercial e a de subsistência são responsáveis por 50% e 33%, respectivamente, da conversão de florestas, e os restantes 27% do desmatamento ocorre pelo crescimento urbano, pela expansão da infraestrutura e da mineração.
Para conseguir os dois objetivos, as agências da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregadas da alimentação e da agricultura oferecem dados específicos que falam por si mesmos. “A agricultura continua sendo a principal responsável pelo desmatamento e é urgente a necessidade de promover interações mais positivas entre ela e a silvicultura, para construir sistemas agrícolas sustentáveis e melhorar a segurança alimentar”, destacou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Essa foi a principal mensagem do informe O Estado das Florestas do Mundo, apresentado no dia 18 deste mês, na abertura da sessão do Comitê Florestal da FAO (Cofo), que termina hoje. “A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris sobre mudança climática reconhecem que não podemos pensar a segurança alimentar e a gestão dos recursos naturais separadamente”, pontuou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.
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Foto: FAO

“Os dois acordos exigem um enfoque coerente e integrado da sustentabilidade de todos os setores da agricultura e dos sistemas alimentares”, apontou Graziano. “As florestas e a silvicultura têm um papel importante nesse campo. A mensagem do Cofo é clara: não precisa desmatar para produzir mais alimentos”, ressaltou. A agricultura ocupa um lugar importante na retórica sobre as florestas, mas a FAO destaca que estas cumprem muitas funções ecológicas vitais que beneficiam a própria agricultura, já que incentivam a produção de alimentos.
“A segurança alimentar pode ser obtida pela intensificação da agricultura e de outras medidas como proteção social, em lugar da expansão das áreas cultivadas à custa das florestas”, disse Eva Müller, diretora da Divisão de Recursos e Políticas Florestais da FAO. “Precisa-se é de melhor coordenação entre os setores das políticas agrícolas, florestais, de alimentação e de uso da terra, bem como melhor planejamento do uso da terra, marcos legais efetivos e maior participação das comunidades e dos pequenos agricultores”, afirmou.
Para Müller, os “governos deveriam garantir às comunidades locais não somente a posse da terra, como também direitos sobre as florestas. Um agricultor sabe como manejar seus próprios recursos, mas costuma carecer dos instrumentos legais para isso”.
Melhorar a segurança alimentarfrear o desmatamento
O fato é que as florestas bem administradas têm um potencial enorme para promover a segurança alimentar. Além de sua vital contribuição ecológica, diz o informe a FAO. As florestas são um meio de subsistência para as comunidades rurais e uma forma de aliviar a pobreza, ao permitirem a geração de renda mediante a elaboração de produtos florestais e serviços ambientais.
Cerca de 24 bilhões de pessoas usam lenha para cozinhar e deixar a água potável. Além disso, as florestas oferecem proteínas, vitaminas e minerais às comunidades e são uma alternativa em casos de escassez de alimentos.Desde 1990, mais de 20 países conseguiram melhorar a segurança alimentar porque mantiveram ou melhoraram sua cobertura vegetal, demonstrando que não é necessário cortar árvores para produzir alimentos, segundo o informe da FAO.
Os 12 países que aumentaram sua cobertura vegetal são: Argélia, Chile, China, República Dominicana, Gâmbia, Irã, Marrocos, Tailândia, Tunísia, Turquia, Uruguai e Vietnã. Seu êxito se baseou em um conjunto de ferramentas: marcos legais efetivos, garantias na posse da terra, medidas para regular a mudança de uso da terra, incentivos para a silvicultura e a agricultura sustentável, fundos adequados e definições claras sobre papéis e responsabilidades de governos e comunidades locais.
Foto: FAO
Foto: FAO

Casos de sucesso
O informe apresenta sete estudos de casos de sucesso, de Chile, Costa Rica, Gâmbia, Geórgia, Gana, Tunísia e Vietnã. Esse grupo de países, segundo o documento, ilustra as oportunidades de melhoria na segurança alimentar, bem como o aumento ou a manutenção da cobertura vegetal. Seis desses países conseguiram mudanças positivas entre 1990 e 2015 em dois indicadores de segurança alimentar (prevalência de pessoas subalimentadas e o número de pessoas subalimentadas), bem como no aumento da superfície reflorestada.
No caso de Gâmbia, único país de baixa renda entre os sete mencionados, se conseguiu o primeiro objetivo de reduzir pela metade a proporção de pessoas com fome nesse período.O Vietnã, por exemplo, implantou com sucesso uma reforma agrária para garantir a posse da terra, como forma de impulsionar o investimento de longo prazo. O processo foi acompanhado de uma mudança na gestão florestal, de uma silvicultura estatal para uma de múltiplos atores, com a participação das comunidades locais, incluído o programa de destinação de áreas florestais e contratos para sua proteção com os moradores locais.
A reforma agrária também foi acompanhada de instrumentos para aumentar a produtividade agrícola, como isenção de impostos, empréstimos brandos, promoção da exportação, garantia de preços, apoio à mecanização e redução das perdas de cultivos colhidos.
Na Costa Rica, o desmatamento atingiu seu máximo na década de 1980, principalmente pela conversão de florestas em áreas de pastagem. O país conseguiu reverter essa tendência graças a uma lei florestal que proíbe mudanças no uso das florestas naturais e a um sistema de pagamento por serviços ambientais, que oferece aos agricultores incentivos para plantar árvores e apoio para a conservação florestal. Graças a essas medidas, a cobertura florestal aumentou para quase 54% da superfície do país em 2015.
Na Tunísia, os planos de desenvolvimento nacional reconhecem os benefícios das florestas em proteger a terra da erosão e da desertificação. A produção agrícola aumentou com intensificação, que melhora o uso das terras cultiváveis existentes mediante a irrigação, os fertilizantes, a mecanização, melhores sementes e práticas agrícolas. Os incentivos para fomentar o plantio de árvores incluem distribuição gratuita de sementes e compensações pela perda de renda derivada da agricultura.
Os temas mais importantes da sessão do Comitê Florestal da FAO buscavam responder diretamente aos acordos históricos de 2015 e pesquisar como as florestas e a gestão sustentável podem contribuir para o sucesso dos objetivos de desenvolvimento acordados pela comunidade internacional.
Na Semana Florestal Mundial, o Comitê avalia como aproveitar melhor o potencial das florestas, incluída sua contribuição parao sustento, a segurança alimentar, o emprego, a igualdade de gênero e muitos outros dos objetivos de desenvolvimento incluídos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e no Acordo de Paris. Envolverde/IPS/Utopia Sustentável