quinta-feira, 30 de junho de 2016

Banânia ou Brasil ?


A cassação ou não de Eduardo Cunha, que pode ocorrer nos próximos dias, definirá os rumos do combate à corrupção iniciado a partir da despretensiosa Operação Lava Jato, em 2014.

Travada no palco do Congresso Nacional, a batalha para cassá-lo se dá entre a oligarquia que sempre ditou os rumos do país desde 1500, e nossa sociedade, vassala e sempre habituada a ceder aos interesses de uma minoria que não se cansa de acumular. 

Por isso, a possibilidade que se abre com sua saída (e futura prisão), é de que tudo, literalmente tudo, poderá ocorrer a partir daí. 

Mesmo que mais divulgados pela mídia, os níveis de malfeitos praticados contra o estado brasileiro estão insuportáveis, o que remete à afirmação do ministro Barroso, do STF, de que o “sistema punitivo brasileiro não funciona para os ricos”, o que é muito ruim. 


A cassação de Cunha pode vir a simbolizar romper com o status quo reinante, a barreira do inimaginável para as elites e a sociedade brasileira, que nunca estiveram tão perto de transpor esse marco.  Ruim para as elites, ótimo para nós.

Temer e quadrilha sabem da importância (e do perigo) do atual momento.  Cunha, sem nada temer o tem nas mãos e sabe que a única chance de não ser preso é safar-se da cassação.  O enredo está posto e nos dois a sociedade está à margem.  A única coisa que fugiria ao controle de ambos, momentaneamente, é se Moro fosse um juiz imparcial e engaiolasse, já, Cláudia Cruz.

Por isso o desespero do interino, que mesmo sabendo do quanto é escandaloso continuar a encontrar-se com um duplo réu na calada da noite, permanece a tramar para livrá-lo no covil do Jaburu. 

A sociedade torce por esse abraço de afogados.  A linha tênue entre o abismo e a esperança é o que vai determinar entrarmos definitivamente para o rol de países sérios ou nos refundarmos como Banânia.  As ruas podem lhes ajudar a entender.

Viva o Brasil, será?

Odilon de Barros


Combater o desmatamento não é suficiente


Desmatamento da Amazônia. Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil (21/07/2014)
Desmatamento da Amazônia. Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
Esforços internacionais visando à conservação de espécies das florestas tropicais não irão ter sucesso se não for levado em consideração o controle da exploração madeireira ilegal, de incêndios florestais e da fragmentação de áreas florestais remanescentes. Esta é a conclusão de um estudo inovador, que acaba de ser publicado na Nature, uma das mais importantes revistas científicas internacionais.
O estudo ‘Anthropogenic disturbance can be as important as deforestation in driving tropical biodiversity loss’ (‘Perturbação antropogênica pode ser tão importante quanto o desmatamento na condução de perda de biodiversidade tropical’), mediu o impacto geral das perturbações florestais mais comuns – o que inclui a exploração madeireira, os incêndios e a fragmentação de florestas remanescentes – em 1.538 espécies de árvores, 460 de aves e 156 de besouros encontrados na Amazônia paraense.
Pela primeira vez, pesquisadores de 18 instituições internacionais, dentre as quais 11 brasileiras, foram capazes de comparar a perda de espécies causada por perturbações humanas com aquelas resultantes da perda de hábitat pelo desmatamento.
E o resultado desafia a atual concepção das estratégias de conservação adotadas pelo governo brasileiro, na qual prevalece o foco no combate ao desflorestamento: os cientistas demonstraram que, para a floresta tropical, os efeitos das perturbações causadas por atividades humanas resultam em perda de biodiversidade tão ostensiva quanto à causada pelo desmatamento.
Uma das principais pesquisadoras do projeto, Dra. Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental diz: “Conseguimos oferecer evidências convincentes de que as iniciativas de conservação amazônica precisam considerar as perturbações florestais e o desmatamento. Sem ações urgentes, a expansão da exploração ilegal de madeira e a ocorrência cada vez maior de incêndios causados pelo homem irão resultar em áreas de florestas tropicais cada vez mais degradadas, conservando apenas uma pequena fração da exuberante diversidade que já abrigaram”.
Quando analisado em conjunto, o efeito das atividades humanas resultantes em perturbações florestais no Pará é equivalente a uma perda adicional de mais de 139.000 km2 de floresta intacta e correspondente a todo o desmatamento no estado desde 1988, ano que inaugurou o monitoramento oficial do INPE.
O Pesquisador senior do projeto, Dr. Toby Gardner, do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), destaca: “As florestas tropicais são um dos mais valiosos tesouros biológicos do planeta. Ao focar exclusivamente nas extensões de floresta remanescentes, sem levar em conta o estado de saúde dessas áreas, as atuais iniciativas de conservação estão colocando em perigo tal riqueza”.
Espécies raras são as mais ameaçadas
Os cientistas também descobriram que espécies sob o risco máximo de extinção foram as mais atingidas pelas perturbações causadas por atividade humana.
Dra. Ima Vieira, pesquisadora titular do Museu Emilio Paraense Goeldi, e uma das colaboradoras do projeto diz: “O estado do Pará abriga mais de 10% das espécies de aves do planeta, muitas das quais endêmicas. Nossos estudos demonstram que são justamente estas espécies as que estão sofrendo o maior impacto da ação antrópica, pois elas não sobrevivem em ambientes com estes níveis de perturbação”. Este estado merece especial atenção quanto às estratégias de conservação e restauração de florestas, pois continua a receber projetos de infraestrutura e agropecuário, que impactam em demasia a paisagem regional e ameaçam a biodiversidade, além das formas tradicionais de produção.
É preciso ir além do combate ao desmatamento
Enquanto a redução do desmatamento é acertadamente o principal foco da maioria das estratégias de conservação em nações tropicais, a condição das florestas remanescentes não costuma ser avaliada ou mesmo controlada por políticas públicas.
“Ações imediatas são necessárias para combater as perturbações florestais em países tropicais”, explica Silvio Ferraz, da Universidade de São Paulo (USP). “No caso do Brasil, a situação é ainda mais crítica, já que 40% dos remanescentes de florestas tropicais da Terra se encontram aqui”, completa o pesquisador, que integrou a equipe do estudo. Ainda que donos de terras na Amazônia brasileira sejam obrigados por lei a manter 80% da cobertura primária em suas propriedades, a nova pesquisa demonstra que, em paisagens nas quais a lei é cumprida, a metade do valor potencial de conservação já pode ter sido perdida.
“Estes resultados devem servir de alerta para a comunidade global”, afirma Dr Jos Barlow, o principal autor do estudo. “O Brasil demonstrou uma liderança sem precedentes no combate ao desmatamento na última década. O mesmo nível de liderança é necessário agora para proteger a saúde das florestas restantes nos trópicos. Do contrário, décadas de esforço de conservação terão sido em vão”.
Dr. Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que também participou da autoria do estudo e destaca: “O Brasil conseguiu reduzir seu desmatamento em cerca de 80% como resultado de seu Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Contudo, demonstramos neste estudo que ainda precisamos, urgentemente, de um planejamento governamental orquestrado para quantificar a extensão e impactos da degradação florestal se quisermos resguardar nossa biodiversidade, estoques de carbono, e serviços ecossistêmicos”.
O estudo publicado é fruto da Rede Amazônia Sustentável (RAS), um consórcio de instituições brasileiras e estrangeiras, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade de Lancaster (Reino Unido) e Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia). A RAS é também parte do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, financiado pelo CNPQ.(#Envolverde/Utopia Sustentável)

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terça-feira, 28 de junho de 2016

Por que tanto medo da sustentabilidade?


 No Brasil, muitas práticas importantes de manejo têm sido usadas. Na foto, feira de agricultura familiar em Brasília. Foto: Tony Winston/ Agência Brasília/Fotos Públicas

No Brasil, muitas práticas importantes de manejo têm sido usadas. Na foto, feira de agricultura familiar em Brasília. Foto: Tony Winston/ Agência Brasília/Fotos Públicas
É estranha a pouca ousadia dos agricultores brasileiros no uso de tecnologias poupadoras de solos, ambiente e bolsos

Muitas vezes volto de Andanças Capitais certo de que grande parte dos agricultores brasileiros pensa sustentabilidade como o desejo pessoal de sustentar-se.
Viagem anual a Miami, caminhonete nova, colheitadeira mais potente, toneladas de agroquímicos para aplicarem em suas lavouras. Luxo, comodismo e tradição, enfim.
Maltrato-os? Verão que não. Tanto os mais capitalizados como os que se valem de financiamento subsidiado pelo governo, safra após safra, repetem os mesmos manejos nutricionais e fitossanitários de altos custos, até cartelizados, sem que isso lhes garanta efetividade ou evite riscos.
É estranha sua pequena ousadia no uso de tecnologias poupadoras de solos, ambiente e bolsos.
Pode parecer fascínio pelo jogo. Driblar os humores de Chicago, Nova York e o apetite chinês, emociona. Roleta girando! Preto: “Ufa, mais um ano sustentável”. Vermelho: “Ferrou. Os EUA produziram muito, os subsídios europeus nos massacraram, os chineses pousaram pesado, o clima não colaborou, a infraestrutura e a Dilma também. Ficamos insustentáveis”.
Cada país cultiva e produz alimentos de acordo com suas aptidões regionais e hábitos alimentares. Este o motivo para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) medir a produção mundial dos mais de 250 países, através dos 20 principais alimentos lá produzidos.
Em 2012 (o último divulgado), a produção global de alimentos alcançou 9,2 bilhões de toneladas, época em que a população mundial acabara de chegar aos sete bilhões.
Uma ração anual per capita de 1,3 tonelada, confortável para ninguém passar fome. Sobrariam ainda alpiste para pássaros, rãs para apreciadores e quinoa para veganos.
Nessa relativa fartura, contribuem: a União Europeia (22%); China (15%); Brasil (11%); EUA (8%); e África (7%). Mais de 60%.
Se, de um lado, tais expressões produtivas são repassadas às conquistas agroquímicas, de outro lado, elas começam a ser percebidas como limitantes da produtividade agrícola futura. Embora milhares de moléculas sejam patenteadas a cada ano, suas efetividades pouco acrescem aos níveis já alcançados nas principais regiões de agricultura.
Em artigo no China Daily, Asia Weekly, os pesquisadores em sustentabilidade agrícola e energética, Colin Osborne, Duncan Cameron e Mark Sinclair, da University of Sheffield, no Reino Unido, afirmam: “A união das práticas antigas à biotecnologia moderna é a chave para alimentar a crescente população global”.
Essa a crítica aos nossos agricultores, submissos à pressão dos grandes fabricantes de agroquímicos, equivocados por dois fatores. A primeira é a de que produtos orgânicos e naturais se aplicam apenas em cultivos de baixa escala. A segunda é a cegueira ambientalista de não os permitirem associados às tecnologias minerais e de baixo impacto ambiental em doses mais baixas.
São erros dos produtores rurais, principalmente os grandes, coonestados por órgãos oficiais regulatórios, educacionais e dos técnicos, consultores e agrônomos, indutores do discurso agroquímico de massa.
A China possui ao redor de 9% das terras agricultáveis do planeta. Ainda assim, é exportadora líquida de alimentos e supre um mercado interno que representa 21% da população global.
Tais resultados, até aqui, vieram da prática de agricultura intensiva.
Reformulam. Perceberam os altos custos dessa receita, os índices de erosão, poluição do solo, escassez de água e perda de biodiversidade, daí decorrentes.
Pesadas adubações químicas provocam alto uso de energia para obter suprimento de nitrogênio inorgânico (consumo de 5% da produção mundial de gás natural); esgotamento das minas de fósforo; lixiviação de nutrientes que poluem águas dos rios e costeiras; proliferação de algas que exaurem a oxigenação da água e letais para a fauna aquática.
Segundo os autores, o Ministério de Proteção Ambiental da China encontrou contaminantes em 20% das áreas agricultáveis, sem que houvesse aumento de produtividade no país, estagnada há 15 anos.
O fato tem repercutido junto à comunidade acadêmica chinesa e o governo lançou programas de manejo agrícola que conjugam métodos antigos (orgânicos) e novos (biotecnologia).
Redesenham, pois, seu modelo agrícola para diminuir a excessiva nutrição com fertilizantes artificiais e o controle tóxico de pragas e doenças. Valem-se da simbiose com micróbios, benéfica à extração de nutrientes e resistência das plantas.
Tornam assim o solo um sistema hidropônico, capaz de retenção de água, fornecimento de nutrientes pelas trocas catiônicas, minimizam a erosão.
Querem mais?
Ao argumento de que é impossível atender o consumo mundial de alimentos apenas com manejos estritamente orgânicos, a resposta está neles combinados. Em todos os sentidos.Aumentam a produtividade, diminuem a expansão * Rui Daher é colunista da Carta Capital. Criador e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola (ruidaher@yahoo.com.br).
** Publicado originalmente no site Carta Capital.

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Saída britânica mina liderança da UE no clima

bandeiraAnalistas afirmam que voto britânico por deixar o bloco não afeta ratificação do Acordo de Paris, mas pode arrefecer impulso de descarbonização da Europa e do Reino Unido e fortalecer Rússia

“Ainda estamos todos meio que em choque”, reagiu a britânica Liz Gallagher ao ser questionada sobre o impacto da saída de seu país da União Europeia, nesta sexta-feira.
Gallagher é analista da E3G, um dos principais think-tanks europeus na área de política climática. Ela afirma que o resultado do Brexit, o referendo que decidiu pelo rompimento britânico com o bloco, deve ter efeito reduzido sobre a ratificação pelo Reino Unido do Acordo de Paris. No entanto, o custo político da saída tende a ser alto para a Europa, e pode afetar a liderança do bloco na transição global para a energia limpa.
O Reino Unido votou na última quinta-feira (23) pelo fim de uma união que existe desde 1973, formalizada em 1993 com o Tratado de Maastricht na forma como existe hoje – ou existia até ontem. A campanha revelou um país dividido praticamente ao meio: 51,9% dos britânicos votaram pela separação, contra 48,1% pela permanência na UE. Temas como imigração, terrorismo e soberania pautaram o debate pela saída. Meio ambiente não esteve nas conversas.
O primeiro efeito do Brexit foi fazer as bolsas de valores despencarem dentro e fora da Europa, a cotação da libra cair em relação ao dólar (de US$ 1,45 para US$ 1,34, o menor valor desde 1985) e o premiê David Cameron renunciar. No Brasil, a Bovespa caiu 3% e o dólar subiu a R$ 3,45, recuando depois. A revista inglesa The Economist, a voz da finança global, chamou o resultado de “passo em falso” e “separação trágica”.
O pânico dos mercados se deve à incerteza instaurada sobre como será o novo gabinete britânico e o que acontecerá com a Europa, segunda maior economia do mundo, que de saída perderá seu coração financeiro – a City de Londres.
Incertezas também abundam sobre como a questão de clima e energia será tratada pelo Reino Unido de agora em diante. Vários defensores do Brexit, como o líder do partido de ultradireita Ukip, Nigel Farage, e o ex-prefeito de Londres Boris Johnson são, em maior ou menor grau, céticos do clima. Eles têm defendido menos restrições às emissões de poluentes por termelétricas, por exemplo. “Não temos ideia de quais leis serão mantidas, já que as pessoas que fizeram campanha pelo Brexit não tinham uma posição unificada”, disse em comunicado James Thornton, da Client Earth, uma organização de advogados que tem forçado o governo a aprimorar regulações ambientais.
“Há um medo muito real de que o sucessor de Cameron possa vir da escola que defende fazer uma fogueira com as leis de proteção contra a poluição”, disse John Sauven, diretor do Greenpeace no Reino Unido.
Alguns analistas acham pouco provável que o novo governo “nativista” de Londres vá mudar significativamente os compromissos já assumidos – que incluem o fechamento de usinas a carvão sem captura de CO2 em 2025 e a união energética com UE. Isso por bons motivos econômicos: primeiro, porque a indústria da energia limpa é a que mais cresce no país e tem puxado para cima o PIB britânico, mesmo num cenário de baixo crescimento de todos os países desenvolvidos. Essa indústria tem na UE seu maior mercado.
Segundo, porque a integração energética com a Europa – que implica em obedecer à legislação climática europeia – ajuda a manter alta a segurança energética do Reino Unido e baixas as contas de luz dos britânicos, já que cada vez mais energia consumida no Reino Unido vem da Europa continental. “Desplugar da Europa não é uma opção”, afirma um relatório da Chatham House, uma organização de pesquisas, publicado em maio.
Atraso em Paris
Segundo Gallagher, a princípio as implicações do Brexit para o Acordo de Paris são pequenas. “O Reino Unido continua a ser parte da Convenção do Clima da ONU e provavelmente ratificará o Acordo de Paris, como faria se não fosse esse resultado”, afirmou.
No entanto, isso deve atrasar. Primeiro, porque o Parlamento britânico agora tem mais o que fazer: iniciar o longo processo de separação da UE, que inclui desfazer leis e acordos que mexem com praticamente todos os segmentos da economia e da vida dos cidadãos.
Depois, porque tanto o Reino Unido quanto a União Europeia precisarão submeter à ONU novas INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas). A meta europeia, de reduzir suas emissões em pelo menos 40% em 2030 em relação a 1990, foi calculada com base na divisão de esforços entre todos os seus (então) 28 membros. O mesmo vale para as metas nacionais de cada país europeu. Com a perda da Grã-Bretanha, a UE precisará refazer as contas e o Reino Unido precisará apresentar uma nova INDC.
Segundo Gallagher, não se espera que a ambição das metas seja afetada. O relatório da Chatham House, porém, nota que o Brexit pode levar a um enfraquecimento do Climate Change Act, a principal lei climática britânica. Hoje esse legislação está ancorada à meta europeia: mesmo mudando-a, o Reino Unido ainda precisaria cumprir a meta do bloco. A partir desta sexta-feira isso deixa de ser verdade. Enfraquecer a própria meta, porém, deixaria o Reino Unido isolado e exposto a críticas – e, no limite, a barreiras comerciais – por parte de países como China e EUA.
Retrocesso na UE
O maior de todos os problemas está no peso político que o Reino Unido dava à decisão até aqui inequívoca da União Europeia de descarbonizar sua economia. Todos os analistas concordam em que a liderança climática do bloco, que contava com três pesos-pesados do G7 (Reino Unido, Alemanha e França) fica abalada. O próprio Reino Unido foi a principal força por trás da adoção da meta europeia.
“Embora o Brexit tenha dominado as interações do Reino Unido com outros Estados-membros e com a Comissão Europeia, o Reino Unido trem sido uma força predominantemente progressista no debate europeu sobre clima e energia”, disse Gallagher. “A confiança no projeto europeu será minada.”
Segundo a Chatham House, uma implicação imediata é um deslocamento do “centro de gravidade” da política de clima a favor de membros que advogam metas mais frouxas, como os países do Leste Europeu. Isso pode “afetar seriamente as políticas internas de descarbonização da UE”. O chamado ETS, o esquema de comércio de carbono europeu, também deve perder um de seus principais clientes.
Outro risco, apontado pela E3G, é o de uma retomada da estratégia da Rússia de “dividir e conquistar”, usando o suprimento de gás natural como instrumento de política externa. Após a anexação da Crimeia, a UE iniciou um movimento de união energética para fazer frente à Rússia, negociando coletivamente contratos de gás e ao mesmo tempo reduzindo a dependência do gás natural como fonte de energia. Sem o Reino Unido, a Rússia – e os combustíveis fósseis – ganham terreno na Europa, atrasando potencialmente a descarbonização. (Observatório do Clima/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

De volta à tragédia


O Rio Doce continua com a tonalidade marrom causada pela lama. Foto: © Fabiana Alves / Greenpace
O Rio Doce continua com a tonalidade marrom causada pela lama. Foto: © Fabiana Alves / Greenpace
Nesse mês de junho, retornamos às margens do Rio Doce para verificar a situação da região e apresentar à sociedade estudos que serão desenvolvidos nos próximos seis meses sobre a fauna, flora e água locais, além dos direitos dos impactados.

Aterrissamos em Belo Horizonte (MG) e logo seguimos para Mariana de carro para começar os encontros e reuniões com os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, pertencente à Samarco, formada pela brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
A cidade continua bonita e acolhedora, mas ao conversar com as pessoas, fica evidente o impacto que a destruição do subdistrito de Bento Rodrigues teve em Mariana. Dependente da produção mineral para seu sustento, a cidade está sendo afetada economicamente e o desespero por uma solução rápida começa a fervilhar.
Bento Rodrigues não pode ser acessado sem a defesa civil de Mariana, que alerta para o risco do colapso da barragem de Germano – mostrando que pouco foi concretamente resolvido no local em termos de segurança. Um segundo colapso afetaria ainda mais um rio já tomado pelos rejeitos de mineração.
Mais de 260 famílias continuam sem local certo para a reconstrução de suas casa. Essas pessoas recebem um salário mínimo e uma cesta básica da Samarco, que prossegue com a estratégia assistencialista, fácil e barata para resolver a situação, já que pagar o mínimo é mais fácil que criar uma estrutura que dê condições para o trabalhador retornar seus sustento original e recuperar perdas físicas. Alguns moradores de Mariana culpam os atingidos pela situação econômica, que degringolou com o congelamento das atividades da Samarco, em uma clara inversão da ótica entre culpados e atingidos.
Nos outros municípios ao longo do Rio Doce impera o medo de uma possível contaminação da água. Em Governador Valadares (MG), onde não há outra fonte de captação de água que não seja o Doce, quem tem recursos compra água mineral, e ninguém mais consome peixe. O mesmo se repete em outras cidades, que também temem a contaminação dos alimentos irrigados com a água do rio. Linhares, no Espírito Santo, que sofre com a seca, além de não poder inaugurar o novo sistema de captação de água do Rio Doce, está exaurindo a água de suas famosas lagoas – agora barradas para não sofrerem contaminação.
Os Krenak conhecem há muito a maneira de negociar da Vale, já que a empresa possui uma linha férrea que passa no meio de sua Terra Indígena demarcada. A aldeia recebe água potável da Vale, pois se recusa a utilizar a água do Doce. A única alternativa de captação de água existente é o rio Eme, que está seco devido à estiagem e ao desmatamento. A seca piora a situação dos Krenak, dos pequenos agricultores e pecuaristas que dependem da irrigação para o cultivo. A dimensão do estrago causado por Samarco, Vale e BHP são ainda imensuráveis.
Quanto aos governos, a única política conjunta existente é o acordo interfederativo entre governo estadual, federal e Samarco, assinado em 2 de março, que não ouviu os atingidos e prefeituras afetadas pelo derramamento da lama, e deixou toda a solução nas mãos da empresa. O “Acordão”, como é chamado, está sendo questionado pelo Ministério Público Federal e diversas instituições, inclusive o Greenpeace, divulgaram uma carta de repúdio ao acerto.
Acabamos em Vitória, Espírito Santo, onde a pesca na foz do rio está proibida desde fevereiro em resposta à recomendação do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Enquanto não se comprova o grau de contaminação da água, não há pesca. E mesmo que houvesse, como afirmam os pescadores, a população não consumiria.
Enquanto isso, discussões como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 65 são levantadas no Congresso com o objetivo de enfraquecer o Licenciamento Ambiental para grandes obras com impactos ambientais e sociais. Vale lembrar também do novo Código de Mineração, que busca desburocratizar o processo, passando por cima de Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Quilombolas. Tudo em nome do progresso e desenvolvimento.
Os estudos selecionados pelo edital público do Rio de Gente em parceria com o Greenpeace foram bem recebidos por todos na região e chegam em um bom momento, uma vez que cada pesquisa pode ser uma chance de resposta para as questões do moradores e atingidos. O rompimento da barragem da Samarco já é um dos maiores desastres do século, e deve servir para que dirigentes percebam que o impacto ambiental sempre será um impacto social e econômico. (Greenpeace Brasil/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Governo ataca direitos previdenciários


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Conforme bem descreveu a presidenta Dilma, os golpistas invadiram o Planalto como um bando de hunos furiosos.
Em poucas semanas, já causaram tanto estrago e ameaçam com tantos outros estragos, sem conversar com os especialistas e organizações dos setores envolvidos, que deixaram bem claro, mesmo para quem antes não tinha opinião formada, que se trata efetivamente de um golpe.
Um golpe contra os trabalhadores.
Abaixo, nota que recebo de uma amiga próxima ao Fenadados:
Dados de 30 milhões de aposentados e pensionistas e de mais milhões de trabalhadores da ativa estão em risco com mais uma estratégia de destruição das políticas sociais do governo golpista. Depois de acabar com o ministério da previdência e tirar a palavra ‘social’ do nome da Dataprev, que passou a se chamar Empresa de Tecnologia da Previdência, circula em Brasília a ideia de incorporar a empresa ao Serpro - Serviço Federal de Processamento de Dados, do ministério da Fazenda. A ameaça levou a Fenadados - Federação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados – a realizar campanha em defesa da previdência e da Dataprev.
O vídeo da campanha já está na rede. Revela os riscos da política de destruição da previdência social e prova que o golpe é contra todos os trabalhadores – da ativa ou não.