segunda-feira, 28 de março de 2016

Política e democracia na escola

Foto: Shutterstock
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Veja dicas de vídeos e materiais que podem ser usados para discutir temas como democracia, impeachment e direitos humanos com alunos
Por Marina Lopes e Maria Victória Oliveira, do Porvir –
Nas últimas semanas, a crise política brasileira monopolizou noticiários, virou tema de conversas – e até brigas – entre amigos e familiares e repercutiu nas redes sociais. Diante de tantas discussões e incertezas, também entrou nas salas de aula, mesmo quando os professores não planejaram abordar o tema. Mas a política deve ser tema de sala de aula? Especialistas consultados pelo Porvir dizem que sim e defendem a importância de tratar, no contexto atual, de questões relacionadas ao funcionamento das instituições políticas, princípios da democracia e cidadania.
Pedro Markun, um dos autores do livro Quem Manda aqui?, que discute alguns mecanismos políticos de forma leve, colorida e própria para crianças, é um dos que defende tratar do assunto desde cedo . “Eu acredito que quando a gente conversa com a criança sobre qualquer coisa, ela se instrumentaliza para entender melhor esse assunto”, afirma Markun, que faz parte do Laboratório Hacker.
Ele conta que, quando sua primeira filha nasceu, pensou como iria conversar sobre política com ela. Em contraponto, defende que “é uma burrice pensar que crianças não conseguem conversar sobre assuntos complexos. Você fala de política com seu filho, só não percebe”. A ideia do livro Quem Manda Aqui?, portanto, é ser um instrumento para que as famílias consigam iniciar o debate com seus filhos. “Criar mecanismos que facilitam um primeiro ponto de contato com a política é extremamente saudável”.
Além disso, Markun ressalta que é preciso mostrar aos pequenos que, apesar de ser um campo complexo, onde existem divergências de pensamento, a educação política é o melhor caminho para formar adultos conscientes. “É muito importante que a gente comece a educar as crianças politicamente desde cedo, senão a gente vai ter uma classe adulta política igual a de hoje, de adultos despreparados para falar sobre política, raivosos e que não conseguem discutir amigavelmente com o coleguinha”.
E como aproximar crianças e adolescentes desse debate? Para Bruno Bissoli, cofundador e educador do Pé na Escola, um negócio social voltado para educação em direitos e democracia, os alunos já demonstram naturalmente interesse em temas como direitos humanos e política. No entanto, a escola precisa abrir espaço para que eles possam se expressar. “Isso é essencial para o exercício da nossa cidadania, mas desde sempre acabamos tendo que aprender como autodidatas. A escola se mantém muito distante disso, sendo que é uma matéria essencial para que a gente atue como um cidadão pleno”, reflete.
Antes de inciar um diálogo sobre o tema, a também cofundadora Vanessa Pinheiro afirma que os educadores devem sair da posição de quem tem a verdade, para ouvir o que os estudantes têm a dizer. “O professor também tem um papel de trabalhar dentro de si os seus próprios preconceitos e discursos que ele está reproduzindo”, afirma. Segundo ela, uma estratégia interessante é incentivar que os alunos possam criar suas próprias regras internas para que o debate possa dar espaço a todos.
Ao dar voz para os alunos, os educadores devem se colocar em uma posição de mediador. De acordo com Mariana Vilella, cofundadora e educadora do Pé na Escola, eles precisam analisar se a conversa está fluindo de forma democrática e se todos estão conseguindo colocar o seu posicionamento. “O educador tem um papel bastante importante de mediar o diálogo, uma coisa que está faltando tanto na política e na educação”, explica.
Em tempos de discussões acirradas, Mariana menciona que é importante tornar o debate mais complexo, saindo de uma divisão polarizada entre bem e mal, para tentar entender como existem outras leituras da realidade. “Temos que colocar o estudante em uma posição que não é confortável para ele e forçar que ele também se coloque no lugar do outro”, afirma. Ela também defende que a escola não fique apenas no diálogo sobre política, mas também proponha a criação de projetos e pesquisas que possam refletir essa lógica de participação democrática. “Mais do que passar conceitos, a nossa preocupação principal é passar uma mensagem sobre o que é o pensar e o agir politicamente.”
Para os educadores que desejam abordar assuntos relacionados a política e democracia, o Porvir também separou alguns materiais que podem subsidiar a discussão. Confira a lista:
Da cédula de papel ao sensor biométrico, o infográfico interativo mostra a evolução do voto ao longo da história história. A linha do tempo começa em 1889, no período da República Velha, e passa por diferentes momentos, como a criação do envelope oficial para cédula (1930) ou a informatização do sistema (1985).
Em uma série de cinco games, são apresentadas movimentações políticas nacionais e elementos da democracia de forma divertida. Com uma linguagem de histórias em quadrinhos, o jogo Agentes do Destino analisa causas e consequências de períodos históricos desde a Revolução de 30 até os dias atuais.
Desenvolvido pelo Ministério Público Federal, o site Turminha do MPF traz diversos conteúdos que explicam temas como eleições, para que servem as leis e direitos das crianças. O site ainda conta com uma série de jogos e atividades, além de uma seção que explica o significado de termos como administração pública e corrupção.
O portal Plenarinho é um canal da Câmara dos Deputados voltado para o universo infantil. O site traz notícias, jogos, indicações de leitura e animações que explicam sobre o funcionamento da Câmara dos Deputados, o que é um projeto de lei, entre outros temas.
A série “E eu c/ isso?” explica, de forma simples e rápida, como funciona o sistema político brasileiro. Ao todo, são quatro vídeos curtinhos (o maior deles tem três minutos) que, com a ajuda de desenhos, explica as esferas de poder (executivo, legislativo, judiciário), quem faz parte de cada um deles e quais são seus papéis. O personagem principal é o João que, ao longo da série, vai entendendo seu papel político.
Para os fãs de vídeos, o canal Política sem mistérios também explica o assunto de forma bem didática. A maioria dos 25 vídeos traz ilustrações coloridas, com direito a bonequinhos de políticos, que ajudam a abordar temas desde os mais simples até os mais complexos. O que é política, a diferença entre Câmara, Senado e Congresso, o que é o marco civil, lei antiterrorismo e a diferença entre referendo e plebiscito estão na lista.
Acompanhando temas que estão em discussão na agenda política nacional, o Politize traz explicações sobre termos e acontecimentos de Brasília. Com o objetivo de levar educação política, o site produz conteúdos em uma linguagem acessível e descomplica assuntos como corrupção, política externa e funcionamento dos três poderes.
O vídeo produzido pela Agência Pública apresenta o passo a passo de um processo de impeachment, tema que tem aparecido com frequência nos noticiários ou até mesmo em discussões. Por meio de animações, ele também mostra qual seria uma eventual linha de sucessão do governo em caso de impeachment.
Se você quer fazer uma votação de forma mais parecida com uma eleição, precisa conhecer o Apertaquem. Trata-se de uma urna eletrônica para Windows que pode ser usada em enquetes ou até mesmo em eleição de grêmios estudantis. No site, estão disponíveis as versões gratuita e premium que, para escolas públicas, sai por R$ 24,00.
Criado a partir de seis oficinas realizadas com crianças de São Paulo e Ouro Preto, em Minas Gerais, o livro Quem Manda aqui? é o primeiro de uma série de livros infantis sobre política, especialmente para os pequenos. Disponível gratuitamente online e nas livrarias, o livro, iniciativa do Laboratório Hacker, foi inicialmente financiado por uma campanha de financiamento coletivo.
Apesar de ter sido proclamada em 1948, muita gente ainda não conhece todos os 30 direitos e liberdades listados na Declaração dos Direitos Humanos. Entretanto, o estudo desse documento é importante para que as crianças conheçam seus deveres, responsabilidades e saibam o que espera-se de um cidadão consciente. (Porvir/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

terça-feira, 22 de março de 2016

Florestas: essenciais para a estabilidade do clima global


Foto: FAO/Giulio Napolitano
Foto: FAO/Giulio Napolitano
Declaração foi feita pelo secretário-geral da ONU para marcar o Dia Internacional das Florestas; Ban Ki-moon afirmou que habitantes de grandes cidades, como Rio de Janeiro, dependem das matas para obter parte da água potável.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que as florestas são “essenciais para a prosperidade futura do mundo e para a estabilidade do clima global”.
A declaração foi feita para marcar o Dia Internacional das Florestas, comemorado esta segunda-feira, 21 de março.
Rio de Janeiro
Segundo Ban, os habitantes de grandes cidades, como Rio de Janeiro, Bogotá, Durban, Jacarta, Madrid, Nova York, entre outras, dependem das áreas florestais para obter uma parte significativa de água potável.
O chefe da ONU explicou que quando as autoridades protegem e restauram as bacias hidrográficas é possível economizar na construção de usinas para a purificação da água.
Ele disse que com o crescimento da população e o aumento da demanda, está se tornando cada vez mais urgente salvaguardar a capacidade de fornecimento de água das nascentes nas florestas.
Dados das Nações Unidas mostram que até 2025, quase 1,8 bilhão de pessoas vão viver em regiões com absoluta escassez de água e dois terços da população mundial podem enfrentar condições de dificuldade para obter o bem natural.
Mudança Climática
Ban Ki-moon deixa claro que as florestas são também fundamentais para combater a mudança climática. Elas fornecem um dos sistemas naturais mais baratos e eficazes para absorver carbono.
O secretário-geral disse que o investimento nas florestas representa uma apólice de seguro para o planeta.
Apesar dessa importância, Ban afirmou que as florestas continuam sendo desmatadas ou danificadas. A cada ano, 7 milhões de hectares de florestas naturais são perdidas e 50 milhões de hectares, queimados.
O chefe da ONU pediu a governos, empresários e sociedade civil que adotem políticas e práticas que protejam, restaurem e mantenham as florestas saudáveis para o futuro comum do planeta. (Rádio ONU/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

terça-feira, 8 de março de 2016

Este não é um texto sobre o Dia da Mulher


Manifestante no Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, no Rio, em novembro. O debate deve ser diário. Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Manifestante no Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, no Rio, em novembro. O debate deve ser diário. Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
As mulheres têm muito o que dizer, mas precisam ser ouvidas para muito além do mês de março.
Por Aline Valek —
Chega o 8 de março e dá para se sentir como no filme O Feitiço do Tempo, aquele com o Bill Murray: ficamos presas a um inescapável Dia da Marmota, que se repete vezes sem fim, em uma espécie de bug na malha cósmica do tempo.
A diferença é que se trata de um mesmo dia que se repete mais ou menos da mesma forma todos os anos. Você deve ter ideia do roteiro:
Homenagens toscas que ignoram completamente o significado político da data, mensagens de como somos lindas e multitarefas, congratulações vazias (“parabéns” e “feliz dia” exatamente pelo quê? Não é como se fosse aniversário ou Natal, minha gente), e, por outro lado, a luta para lembrar que não existimos para ser enfeite, que há reivindicações importantes, e sobre como ganhar flores não resolve os problemas de violência, de falta de oportunidades e de direitos.
Mas este texto não é sobre isso. Porque isso já foi falado – todos os anos, sempre como se fosse a primeira vez. E sempre surge a necessidade de repetir. Olha aí a maldição do Dia da Marmota outra vez.
No filme, o personagem de Bill Murray tem pelo menos a chance de agir e falar de outra maneira quando o dia se repete. Do lado de cá, estamos predestinadas a repetir as mesmas falas todo ano. Se é preciso repetir tanto, pode ser porque não ouvem. Ou porque não querem que a gente fale de outra coisa?
Às vezes até querem que a gente fale, com data certa, espaço reservado, tema definido. E ficou decidido que o momento para isso seria o Dia da Mulher. Claro, é maravilhoso aproveitar esse dia para trazer mais visibilidade para os temas importantes para as mulheres (que são de importância para toda a sociedade). Mas existem outros 11 meses e um monte de assuntos que podemos tratar.
Pode ser muito louco isso, mas também existimos em dias que não são 8 de março. Ou, pelo menos, tentamos existir.
Então não me levem a mal, mas acho necessário levantar essa provocação. Um chamado, talvez? A quem trabalha na mídia, aos jornalistas, organizadores de eventos, patrocinadores. E também a quem consome os conteúdos que essas empresas produzem. A você, que lê.
Em que assuntos, em que lugares e em quais momentos a opinião das mulheres é levada em conta? Por que o interesse pela opinião e pelo trabalho das mulheres parece “esfriar” depois que passa o Dia da Mulher? Só servimos para falar sobre o que tem “mulher” no meio?
Não precisaria lembrar isso, mas as mulheres têm um bocado de coisas para dizer, nos mais diversos assuntos. Mulheres podem falar sobre games, economia, política, literatura, cinema, esportes, ciências. Sobre tudo o que você imaginar. Com uma baita propriedade.
São assuntos que não têm data, que podem ser discutidos o ano inteiro – e mulheres podem fazer parte dessas discussões todas as vezes. Sim, é incrível, mulheres com opinião existem o ano inteiro; não são criaturas mágicas que brotam da terra apenas na proximidade do Dia da Mulher.
Temos muito o que falar, mas alguns acham que ouvir nossa voz é nos impor assuntos. Temos que falar disso, porque dá audiência; temos que falar daquilo, porque é o que querem ouvir. Mas e se quisermos falar sobre outros temas? Até onde vai a liberdade de expressão se nossa voz só tem espaço até onde nos deixam ter?
O problema, espero que entendam, não é a atenção que as mulheres e suas questões recebem em função desta data, tristemente necessária, se ainda precisamos brigar para existir; o problema é quando é um interesse com hora marcada para acabar.
O lado bom é que março está bem no início do calendário, o que permite começar, agora, um compromisso com um cenário de mais oportunidades para as mulheres. O trabalho e a opinião das mulheres podem estar em evidência todos os meses, porque estamos aí, pesquisando e produzindo e criando sem trégua.
Quero me acostumar a ver mais mulheres em espaços e assuntos que, por serem considerados de “interesse geral”, normalmente ganham porta-vozes ou debatedores masculinos – reforçando o poder que o homem tem de ser o gênero “neutro”.
Quero me acostumar a ver mais diversidade de mulheres na mídia e na produção cultural, mulheres de outras realidades, diferentes de mim e que não têm as mesmas opiniões que as minhas, para quebrar a ideia de que uma mulher é o suficiente para representar a totalidade do gênero em determinado debate, como se fôssemos todas iguais.
Entendo que essa questão parece algo mínimo, uma lasca de unha, perto dos problemas que o Dia da Mulher surgiu para questionar e combater. Mas a questão do direito à voz e de ser ouvida não deixa de ser importante. A voz é parte de nós. E também é nosso direito decidir o que fazer com ela.
Se o título do texto pareceu enganoso, explico: realmente não é um texto sobre o Dia da Mulher; afinal, eu o escrevi pensando nos outros. Um único dia, por mais que se repita feito feitiço em filme reprisado à exaustão na Sessão da Tarde, não é o suficiente para nele caber tudo o que temos para dizer. Um dia não é o suficiente. Precisamos do calendário inteiro. (Carta Capital/ #Envolverde)