sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A hora do “mea culpa” Global



Todos sabemos da importância e papel fundamental que a mídia exerce nas sociedades democráticas.  Com todos os erros e preferências que sabemos infelizmente existir, imprensa livre é sempre melhor do que censura.  Por pior (ou mais tendenciosa) que ela seja.

Vivemos um momento ímpar em nosso país, onde notícias com a temática corrupção se proliferam em quantidade e velocidade supersônica.  Nada, porém, que iniba as quadrilhas que atuam nas várias instâncias e esferas de poder. 

E mesmo com toda abrangência de Operações como o Mensalão, Lava a Jato, Zelotes e Metrô de São Paulo, à parte as dez propostas contra a corrupção apresentadas pelo Ministério Público e a novidade da colaboração premiada encampada pelo juiz Moro, nada estruturante relativo à legislação com o propósito de inibir tal prática foi proposto pelo Congresso Nacional.

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Destaque-se, aí, o papel dúbio de nossa mídia que, ao mesmo tempo que sempre criticou duramente PT e aliados por se beneficiarem das propinas travestidas de doação de campanha, também se posicionou favorável à manutenção do financiamento privado em campanhas políticas.  Por quê?

Além de a prática ser um comportamento hipócrita e incoerente, a resposta simples e óbvia é que grande parte da mídia se beneficia do dinheiro sujo arrecadado e a quebra desta corrente podre significa que a torneira irá secar as milionárias contas de publicidade e consultorias que irrigam grandes grupos de mídia em épocas eleitorais. 

Para medir o termômetro ético midiático nada melhor que compararmos coberturas jornalísticas com temáticas equivalentes.  Dou-lhes dois exemplos atuais, ambos tendo como eixo central a corrupção e apurados pelo Sistema Globo: a corrupção desvendada pela Operação Lava a Jato praticada por políticos ligados e aliados ao atual grupo de poder que comanda o país e a que vem sendo investigada pelo FBI e atinge indiscriminadamente FIFA, CBF e boa parte das federações nacionais mundo afora, enfim, o coração do esporte mais popular do planeta, o futebol.   

A grande diferença entre os dois casos é que um diz respeito apenas a nós brasileiros (Lava a Jato), o outro (FIFA/CBF), um caso internacional de corrupção que coloca em risco a credibilidade do jogo e do esporte, um negócio que movimenta bilhões de dólares anualmente.  Ambos, porém, considerados grandiosos e com grande exposição na mídia.

www.veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

Para leitores e observadores assíduos, as manipulações do noticiário político, seja ele escrito, falado ou televisado, promovido pelo Sistema Globo, indicando ou incentivando caminhos, como o do impeachment, são gritantes.   Para um tema que está em pauta há um ano e meio, criar-se a pecha de grupo criminoso apenas para uma agremiação partidária, quando sabemos que o atual sistema político propicia esse tipo de prática a todas as siglas, é algo tendencioso que deveria ser olhado com mais atenção pela sociedade.   

Por que não apoiar, de verdade, uma ampla reforma política onde a sociedade discutisse temas polêmicos como o fim do voto obrigatório, financiamento privado de campanhas eleitorais, cláusula de desempenho que inibisse a proliferação de partidos, fidelidade partidária, entre outros?

Exemplo clássico de manipulação midiática ocorreu em 8 de fevereiro de 2015.  A conversa transcrita abaixo versava sobre uma ordem dada pela diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria e foi publicada no blog de Luís Nassif.

“Ontem,  a diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo com o seguinte conteúdo:
“Assunto:  Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a Jato
Atenção para a orientação 
Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.
O recado se deveu ao fato da reportagem ter procurado FHC para repercutir as declarações de Pedro Barusco – de que recebia propinas antes do governo Lula.”  Por Luis Nassif, Jornal GGN

"No Jornal Nacional, o realismo foi maior. Não se divulgou a acusação de Barusco, mas deu-se todo destaque à resposta de FHC (http://migre.me/oyiwP) assegurando que, no seu governo, as propinas eram fruto de negociação individual de Barusco com seus fornecedores; e no governo Lula, de acertos políticos".

Entretanto, quando o assunto é o velho e violento esporte bretão, o espírito acusador e inquisitivo notado claramente nos assuntos políticos referentes ao Governo Federal, dá lugar a coberturas protetoras e pouco informativas, sem qualquer conteúdo.

Pouca cobrança, pouca informação.  Não à toa os últimos quatro presidentes da entidade que comanda o esporte mais popular do país, a CBF, e os últimos dois da FIFA, têm processos e são réus em vários processos em curso por acusação de corrupção. 

Enquanto lá fora o mundo da bola, aí propositalmente com duplo sentido, se esfarela e urge por mudanças que certa e obrigatoriamente virão, aqui, uma tal de Rede Globo faz ouvido de mercador passando sempre com “delay” máximo, informações sobre o desenrolar do caso FIFA já degustadas pelo grande público no exterior.  Uma esperteza que pode custar caro em um futuro próximo.

Praxe em democracias, comum em momentos de crise onde temos programas e mesas-redondas dedicados a contribuir e solucionar problemas, não vimos até agora qualquer programa de tv, rádio ou jornal, convites para entrevistas (exclusivas) com Marin, Del Nero Ricardo Teixeira, tão comuns em caso escabrosos de corrupção.  Obviamente por razões comerciais, jamais veremos, pelo menos até que sejam deportados e presos. 

Pouco tempo faz, Coca-Cola, McDonald’s e InBev, solicitaram o afastamento imediato do presidente da FIFA, Joseph Blatter, por acreditarem que suas marcas perdiam ao estarem associadas à entidade.  Mesmo com o “delay” global, seria interessante que os anunciantes que patrocinam CBF e a própria Globo, começassem a contabilizar prejuízos em função de opções equivocadas.

Mesmo pedindo desculpas 50 anos depois por ter apoiado o golpe de 64, vê-se que a Globo não se emenda. Plin Plin.

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros



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