terça-feira, 4 de agosto de 2015

Mais fogo e menos água


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Queimada para limpeza do pasto, em São Félix do Xingu, no Pará. Foto: © Greenpeace/Daniel Beltrá
Queimada para limpeza do pasto, em São Félix do Xingu, no Pará. Foto: © Greenpeace/Daniel Beltrá

Estudos apontam que as temporadas de queimada na Amazônia devem aumentar nos próximos anos e entre as causas estão a degradação e o desmatamento florestal
O período de seca mal começou no Norte do Brasil, mas as queimadas já pintam de vermelho a cobertura verde da floresta. Os incêndios, tão comuns de agosto a setembro, estão começando mais cedo e, de acordo com duas pesquisas lançadas este mês, a explicação pode estar no desmatamento e a tendência é que tenhamos cada vez mais dias com fogo e menos dias com chuva.
Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE), de janeiro a 29 de julho deste ano o número de focos de incêndio cresceu em cinco, dos oito estados que compõem o bioma Amazônia, chegando a até 70% de aumento, no Acre e em Rondônia, na comparação com o mesmo período de 2014. Nas últimas 48 horas a Amazônia concentrou 39,3% dos focos de incêndios identificados por satélite.
Segundo o estudo “Climate-induced variations in global wildfire danger from 1979 to 2013” (Variações induzidas pelo clima no risco de incêndios florestais), publicado no periódico Nature, as mudanças climáticas estão alterando os padrões globais de queimadas e devem gerar um aumento na “temporada de incêndios” nas próximas décadas. O estudo aponta também que, de 1979 a 2013, o período anual de queimadas ficou 18,7% maior .
“O aumento da temporada de fogo e das áreas afetadas por queimadas foi verificado em todos os continentes, exceto Austrália. Florestas tropicais e subtropicais, campos e savanas da América do Sul têm experimentado enormes mudanças meteorológicas e temporadas de fogo mais longas, com um aumento médio de 33 dias ao longo dos últimos 35 anos”, revela a pesquisa.
“Esses dados são preocupantes. Vale lembrar que as queimadas ainda respondem por boa parte dos gases do efeito estufa emitidos pelo Brasil, o que agrava ainda mais as mudanças climáticas”, explica Rômulo Batista, da Campanha da Amazônia do Greenpeace. “É um círculo vicioso: as queimadas deixam o clima mais seco, o que provoca mais queimadas. Esta é uma relação perigosa, que deve ser evitada a todo o custo”, completa Batista.
Queimada gigantesca registrada dentro do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso. Foto: © Paulo Pereira /Greenpeace
De acordo com o artigo, a seca enfrentada na Amazônia em 2005 trouxe um longo período propício ao fogo, “levando a um aumento dramático na atividade com uso de queimadas em toda a bacia”.
Para os pesquisadores de outro estudo recente – “Landscape fragmentation, severe drought, and the new Amazon forest fire regime” (Fragmentação de paisagem, secas severas, e o regime de fogo na Amazônia), fruto de uma parceria entre as universidades de Stanford e da Flórida com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), os incêndios florestais estão cada vez mais longos e comuns na região devido a “mudanças fundamentais no clima e na paisagem”.
“O desmatamento influencia os regimes de fogo da Amazônia, pois resulta no aumento de fontes de ignição, aumento do comprimentos de borda da floresta , e alterações de climas regionais”, esclarece o estudo. Ou seja, o desmatamento e a degradação deixam as florestas mais expostas e vulneráveis à queimadas.Segundo a pesquisa, ao longo de um período de 24 anos (de 1983-2007) 44% das florestas degradadas e 46% florestas de transição queimaram, contra 15% das florestas primárias, muito mais densas e protegidas.
“Os efeitos combinados de um futuro climático mais seco, com mais fontes de ignição em paisagens cada vez mais fragmentados, pode diminuir a resistência ao fogo até nas densas florestas verdes”, alerta o estudo.
“As Florestas Primárias ou mata virgem, como são chamadas aqui na região, são muito mais densas e úmidas, constituindo uma barreira para o fogo. Além disso é nela que se concentram a biodiversidade e o carbono estocado na Amazônia, além de retirar da atmosfera mais de 2 toneladas de carbono por hectare todo ano. Ao preservá-las evitamos e mitagamos as mudanças climáticas e garantimos a sobrevivência de milhões de espécies únicas” afirma Batista.
Ambos os estudos chamam atenção para o alarmante aumento na emissão de gases do efeito estufa que este “alongamento” na temporada de queimadas pode representar. “O aumento dos incêndios de larga escala em florestas degradadas pode aumentar as emissões de carbono para as taxas de três ou quatro vezes as emissões anuais de desmatamento de alguns tipos de floresta”.
O Brasil já conseguiu reduzir o desmatamento. Mas ainda não é o suficiente. Esta destruição está fragilizando nossas florestas e os serviços ambientais que elas nos prestam. Está na hora de o país reassumir o papel de vanguarda ambiental, a que está destinado, e apresentar metas realmente ambiciosas em relação ao combate às mudanças climáticas e a perda florestal, assumindo um compromisso com o Desmatamento Zero no Brasil.

Faça parte do movimento pelo fim do desmatamento de nossas florestas. Assine em apoio ao projeto de lei pelo Desmatamento Zero e ajude a levar esta demanda ao Congresso Nacional. (Greenpeace Brasil/ #Envolvere/Utopia Sustetntável)

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