sexta-feira, 31 de julho de 2015

Inscritos em leilão de energia solar somam 3 Belos Montes em capacidade


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A maior parte dos 382 empreendimentos inscritos está no Nordeste.
A maior parte dos 382 empreendimentos inscritos está no Nordeste.

Região Nordeste concentra a maioria dos projetos inscritos no certame de 28 de agosto, que soma 12.528 megawatts de capacidade instalada; uma segunda disputa está marcada para novembro
A Agência Nacional de Energia Elétrica aprovou nesta terça-feira (28/7) o edital do próximo leilão de energia solar fotovoltaica, marcado para daqui a um mês. Como ocorreu no ano passado, o certame deve ser muito competitivo: os projetos inscritos somam 12.528 megawatts de capacidade instalada – o equivalente a três vezes o que a hidrelétrica de Belo Monte entregará em energia durante o ano.
O leilão, o primeiro de dois prometidos pelo ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) para este ano, contratará usinas fotovoltaicas para gerar eletricidade a partir de janeiro de 2017, com prazo de 20 anos.
maior parte dos 382 empreendimentos inscritos está no Nordeste. Só na Bahia são 140 usinas, totalizando mais de 4.400 megawatts de capacidade instalada. Em segundo lugar está o Piauí, com 61 projetos e 2.000 megawatts.
O número de inscrições é uma sinalização positiva, mas não significa que toda a energia será contratada. O total de projetos sofre uma primeira baixa na fase de habilitação e uma segunda no próprio leilão. No leilão de 2014 – o mais competitivo da história dos leilões de energia da Aneel –, foram 10.790 megawatts cadastrados e apenas 899,6 megawatts foram efetivamente contratados, afirma Larissa Rodrigues, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
De qualquer forma, o edital lançado nesta terça-feira já permite vislumbrar um futuro para a energia solar no país mais luminoso do que o que foi pintado pela projeção oficial do governo para 2023, contida no PDE (Plano Decenal de Energia Elétrica). “O PDE 2023 planeja 3.500 MW de solar instalados em 2023. Essa projeção é conservadora. Se mantivermos o mesmo ritmo de contratação que tivemos ano passado, sem aumentar nada, em 2020 já teríamos superado a projeção do PDE 2023”, afirma Rodrigues.
O preço do megawatt-hora, R$ 349, é mais alto do que o do ano passado (R$ 262). Isso pode ser uma boa notícia, diz Rodrigues, pois deve permitir que mais projetos sejam contratados, com remuneração adequada. “Além disso, também é uma boa sinalização para projetos que pretendem participar do outro leilão, agendado para 13 de novembro.”

(Observatório do Clima/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Captação de água da chuva em prédios novos poderá ser obrigatória


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Edificação no Parque Chico Mendes em Osasco (SP) já utiliza a captação de água pluvial. Foto: Ivan Cruz/SECOM/PMO
Edificação no Parque Chico Mendes em Osasco (SP) já utiliza a captação de água pluvial. Foto: Ivan Cruz/SECOM/PMO

Proposta em análise na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) determina que novas construções residenciais, comerciais e industriais, públicas ou privadas, tenham em seu projeto técnico item referente à captação de água da chuva para uso não potável. O PLS 324/2015, de iniciativa do senador Donizeti Nogueira (PT-TO). A emissão de cartas de habite-se das edificações será condicionada ao atendimento dessa exigência.
O projeto estabelece também que as construções já existentes sejam adaptadas sempre que for técnica e financeiramente viável. O autor do projeto argumenta que o objetivo é impedir o desperdício de água limpa, reduzindo seu consumo, por meio da substituição por água da chuva em atividades que não exijam consumo direto, como as de limpeza.
Relator da matéria na CDR, o senador Gladson Cameli (PP-AC) concordou com a importância do projeto, afirmando que o aproveitamento da água das chuvas é uma alternativa viável e eficiente para economia desse recurso natural.
A maior parte dos usos da água, argumenta o relator, não exige sua potabilidade, que é o grau de qualidade fornecido pelas distribuidoras às edificações urbanas. Assim sendo, o reuso das águas pluviais deve ser estimulado, como forma de redução da água captada dos cursos d’água.
O relator ressaltou, entretanto, que a inclusão de sistemas de captação de água da chuva pode não ser economicamente viável para proprietários de pequenos imóveis, que não teriam condições financeiras de arcar com os custos de instalação e de manutenção desses sistemas. Por isso, apresentou emenda ao projeto restringindo a obrigação do uso da água da chuva apenas para condomínios residenciais e edificações comerciais e residências com mais de 300 metros quadrados de área construída.

Depois de analisada pela CDR, a proposta será apreciada pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) em decisão terminativa. (Agência Senado/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Geração de lixo supera taxa de crescimento populacional


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A média brasileira de produção de lixo por pessoa é 1,062 quilo (kg) por dia. Foto: Shutterstock
A média brasileira de produção de lixo por pessoa é 1,062 quilo (kg) por dia. Foto: Shutterstock

Produção de lixo no país cresce 29% em 11 anos, mostra pesquisa –
A geração de lixo no Brasil aumentou 29% de 2003 a 2014, o equivalente a cinco vezes a taxa de crescimento populacional no período, que foi 6%, de acordo com levantamento divulgado hoje (27) pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A quantidade de resíduos com destinação adequada, no entanto, não acompanhou o crescimento da geração de lixo. No ano passado, só 58,4% do total foram direcionados a aterros sanitários.
Mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no país em 2014 tiveram como destino lixões e aterros controlados. Segundo a Abrelpe, esses locais são inadequados e oferecem riscos ao meio ambiente e à saúde. No ano anterior, o percentual foi 41,7%. A metodologia da pesquisa envolveu 400 municípios, o equivalente a 91,7 milhões de pessoas. Por dia, o brasileiro gera, em média, 1,062 quilo de lixo.
Esse dados mostram que mais de 78 milhões de brasileiros, ou 38,5% da população, não têm acesso a serviços de tratamento e destinação adequada de resíduos sólidos. Além disso, mais de 20 milhões de pessoas não dispõem de coleta regular de lixo, pois cerca de 10% dos materiais gerado não são recolhidos. O volume de lixo produzido aumentou 2,9%, entre 2013 e 2014. A coleta de resíduos, por sua vez, melhorou 3,2%.
Esta é a primeira pesquisa que retrata a situação da gestão dos resíduos, depois da vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010. Em relação à reciclagem, a pesquisa revela uma evolução de 7,2 ponto percentual. Em 2010, apenas 57,6% dos municípios tinham alguma iniciativa de coleta seletiva. No ano passado, o percentual aumentou para 64,8%.
Entraves da PNRS
“Nem mesmo com a edição da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que traz entre os princípios, como primeira ação na hierarquia dos resíduos, a minimização da geração, a gente percebe que isso ainda não está em curso. Nós ainda estamos em linha de crescimento de geração [de lixo], tanto no total quanto per capita”, destacou o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho.
A média brasileira de produção de lixo por pessoa é 1,062 quilo (kg) por dia. Na avaliação por estado, Brasília lidera com mais de 1,5 kg/dia per capita, seguida por São Paulo e Rio de Janeiro, empatados em cerca de 1,2 kg/dia.

Entre os entraves para o funcionamento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Carlos Filho aponta falta de vontade política dos gestores municipais, pouca capacidade técnica para viabilização da solução adequada e falta de recursos. “Não adianta dar mais prazo, não adianta estender a lei. O que precisa é conjugar esses três fatores e colocar isso em prática. Do contrário, vamos continuar sofrendo com uma gestão inadequada”, declarou. Para ele, dar mais tempo para cumprimento da lei pode agravar problemas ambientais já registrados hoje, como contaminação do solo e das águas. (Agência Brasil/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

terça-feira, 28 de julho de 2015

Esgoto tratado favorece agricultura e poupa água para consumo


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Água usada atualmente na irrigação das lavouras pode ser substituída com segurança pelo efluente, o que pouparia água potável importante no abastecimento das cidades Foto: Shutterstock
Água usada atualmente na irrigação das lavouras pode ser substituída com segurança pelo efluente, o que pouparia água potável importante no abastecimento das cidades
Foto: Shutterstock

O emprego da água de esgoto tratado (efluente) na agricultura aumenta a produtividade, segundo estudo do Núcleo de Pesquisa em Geoquímica e Geofísica da Litosfera da Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadores testaram, durante 15 anos, as vantagens do uso dessa água, que contém minerais e nutrientes como nitrogênio e fósforo, importantes no desenvolvimento das plantas.
Para o professor de geoquímica e ambiente da USP, Adolpho Melfi, a água usada atualmente na irrigação das lavouras pode ser substituída com segurança pelo efluente, o que pouparia água potável importante no abastecimento das cidades. “A agricultura utiliza praticamente 70% da água que poderia ser para o consumo humano”, explica ele. Atualmente, o efluente só pode ser usado na lavagem de ruas e irrigação de jardins, por não haver legislação que autorize o seu uso no campo.
O experimento feito nas cidades de Lins e Piracicaba, interior de São Paulo, mostrou que a economia no uso de fertilizantes nitrogenados chegou a 80% no plantio de capim, utilizado na alimentação do gado, durante um ano de baixa ocorrência de chuvas.
Os cientistas compararam a produtividade do capim irrigado com água comum e do irrigado com esgoto tratado. Ambos receberam a mesma quantidade de fertilizante necessário para o crescimento das plantas. O resultado foi uma produtividade de 33 toneladas de capim por hectare ao ano no caso das plantas que receberam irrigação comum, e de 39 toneladas por hectare ao ano no capim irrigado com efluente.
O mesmo experimento feito com a cana-de-açúcar resultou na produtividade de 87 toneladas por hectare ao ano para a cana que recebeu irrigação comum, e de 143 toneladas por hectare ao ano na irrigada com água de esgoto tratado. Os testes foram feitos com cana soca, ou seja, quando a planta ainda não recebeu o primeiro corte.
Riscos do uso de efluentes
Para o emprego da técnica do esgoto tratado na agricultura, porém, é preciso atenção a alguns riscos, explica Melfi. “Como o efluente tem muito nitrogênio, uma parte não será aproveitada pela planta. Essa parte vai infiltrar no solo e contaminar o lençol freático na forma de nitrato. Há também os organismos patogênicos [presentes no efluente], que podem provocar problemas na saúde humana. A gente precisa ter um controle muito grande também dos metais pesados”, disse.
Para contornar esses problemas, os cientistas encontraram soluções simples. Para evitar os metais pesados, presentes nos dejetos de indústrias, os efluentes devem ser recolhidos preferencialmente de cidades pequenas, onde o controle é mais fácil e predomina o esgoto doméstico.
“Em Lins, o esgoto é exclusivamente doméstico. Em Franca, por exemplo, com a indústria de couro para a fabricação de sapatos, a curtição do couro usa uma substância formada por cromo, altamente tóxico. Mas o esgoto de lá pode ser usado, porque existem duas redes separadas, uma que é esgoto industrial e outra que é doméstico. No esgoto doméstico, não tem metal pesado”, explica o cientista.
Quanto aos organismos patogênicos, como o grupo de bactérias E.coli, existem tratamentos que são capazes de eliminá-los do efluente. Outra forma mais simples de evitar essa contaminação nas plantas é selecionar culturas que passam por tratamento industrializado antes do consumo, como é o caso do café, milho e cana-de-açúcar.
“O café pode ser irrigado com efluente, pois depois é torrado. A laranja também é irrigada nos Estados Unidos, na Flórida, por efluente. Basta fazer uma irrigação na superfície do solo, por gotejamento ou mesmo enterrada em até 20 centímetros, de forma que a fruta não entre em contato com os efluentes”, explica o professor.
O capim, cultura testada no estudo, é cortado e permanece na superfície do solo durante algumas semanas para que seja transformado em feno. Após isso, o produto estará seguro para alimentar o rebanho de gado, já que os organismos patogênicos morrem nesse processo de fenação.
É importante lembrar, ainda, que o simples despejo do efluente em rios também gera problemas, pois causa a eutrofização. “Aumentam muito os micro-organismos, algas que consumem o oxigênio, e essa água sofre eutrofização, são aquelas espumas. Ou a água fica esverdeada por causa de algas”, disse Melfi.

O estudo também ouviu a população para avaliar a aceitação da novidade. “O resultado foi positivo, as pessoas entrevistadas disseram que, desde que soubessem que estava havendo o controle adequado, consumiriam [alimentos produzidos com efluentes]”, contou o professor. (Agência Brasil/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nova detecção espacial do desmatamento


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SantaremAmazonia
O uso de duas novas tecnologias deve gerar ganhos significativos na detecção do desmatamento na Amazônia ao permitir o monitoramento de áreas cobertas por nuvens e aquelas desmatadas de menor dimensão a partir deste segundo semestre do ano. A primeira inovação, anunciada nesta semana, é o uso de imagens do radar orbital SAR (sigla em inglês para Synthetic Aperture Radar) que começa a gerar dados para a fiscalização a partir de outubro. O investimento totalizou R$ 80,5 milhões, R$ 63,9 milhões dos quais fazem parte dos recursos não reembolsáveis do Fundo Amazônia e o restante do orçamento da União.
A segunda será o aumento da resolução do mapeamento do Deter com a adoção de imagens do satélite indiano, ResourceSat-2 (AWiFS). Em fase de testes, ele é capaz de detectar desmatamentos com tamanho mínimo de 6,25 hectares. Esperado inicialmente para final de 2014, a previsão, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é de que a nova ferramenta seja lançada nos próximos meses.
Com os dois investimentos, a política brasileira de monitoramento e combate ao desmatamento superaria neste ano dois limitadores: a impossibilidade de identificação de desmatamentos em áreas sob nuvens e a baixa resolução do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), usado para alertas à fiscalização, quando comparado ao Prodes, responsável pela taxa anual de desmatamento com base em três satélites.
Aprimorando o monitoramento
Conforme o diretor do Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento (DPCD) do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Oliveira Filho, o governo federal deve anunciar ainda neste segundo semestre o aprimoramento do Deter, aumentando sua resolução para padrões equivalentes ao do radar orbital e ao dos satélites que alimentam o Prodes. Hoje o Deter identifica áreasdesmatadas a partir de 25 metros, mas com as imagens do satélite indiano e a melhor resolução terá capacidade para descobrir desmatamentos pelo menos quatro vezes menores.
Fiscalização antecipada e em áreas sob contínua nebulosidade
O uso do radar orbital trás como principal avanço o fornecimento de informações sobre o desflorestamento durante o período com maior predominância de nuvens, entre outubro e março, e em regiões com alta nebulosidade mesmo fora da estação chuvosa. Oliveira Filho explica que a oferta desses dados, até então indisponíveis ou limitados, permitirá antecipar e melhor distribuir ao longo do ano as ações de fiscalização terrestre. “Nossa capacidade de observação da Amazônia está mais completa. Neste período ficávamos com um olhar limitado à equipe de inteligência no campo, agora temos um novo aliado que são as imagens de radar.”
Sem o radar, a derrubada da floresta no início dos meses chuvosos só seria descoberta após vários meses quando a condição atmosférica estaria favorável à captura de imagens pelo sensor ótico do satélite MODIS, usado pelo Deter. Dessa forma, a informação ágil que estará acessível a partir de outubro, pode ajudar a coibir os desmates antes que alcancem maiores proporções.
O radar também tornará visível a retirada de cobertura florestal em regiões que estão continuamente sob nuvens, independente do período do ano, como é o caso de todo o estado do Amapá e de partes do extremo norte do Pará. “Vamos passar a monitorar sistematicamente o Amapá e outras áreas com essas características”, adianta o diretor Geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), Rogério Guedes.
Para o pesquisador sênior da ONG Imazon, Beto Veríssimo, o uso do radar precisa ser comemorado e suas informações podem intensificar o combate ao desmatamento . Em sua opinião, o Brasil tem chance de cumprir a meta oficial de redução do desmatamento em 80% até 2020, alcançando a taxa anual de 3.900 quilômetros quadrados de área desmatada, mas o governo teria condições de assumir uma posição mais ousada com o objetivo de perseguir o desmatamento zero para 2020. “O desmatamento ocorrido na Amazônia é muito grande. Já desmatamos três vezes o estado de São Paulo, então já deveríamos estar zerando e recuperando essas áreas”, ressalta.
Como funcionará dobradinha SAR e MODIS
O uso do radar orbital será restrito às áreas sob condições climáticas adversas, complementando o monitoramento do Deter, que faz a cobertura de toda a Amazônia Legal. Como usa a tecnologia ótica, que não ultrapassa a barreira das nuvens, os dados do Deter não identificam a perda florestal em regiões encobertas. Acoplado a um satélite, o sensor radar realiza um monitoramento mais rápido e preciso porque funciona com tecnologia de micro-ondas. Sua resolução de 18 a 22 metros permitirá identificar desmatamentos de dimensões menores que todos os demais sistemas.
O radar auxiliará, em especial, a geração de dados para alertas às equipes que atuam na fiscalização em terra. Em razão do alto custo, a ação terá como foco regiões prioritárias em função do alto risco de desflorestamento. Esse mapeamento ocorrerá dentro do âmbito de 950 mil quilômetros quadrados, aproximadamente 17% da região amazônica.
As imagens do radar serão analisadas pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e enviadas ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a cada 30 dias.

Guedes observa que as imagens do radar, compradas pelo órgão, reduzem o tempo de processamento e análise das áreas monitoradas de 15 para 3 dias, em comparação ao desempenho obtido em sobrevoos feitos com a aeronave R-99 da FAB na etapa anterior do projeto Amazônia SAR. Paralelo ao monitoramento constante, o projeto prevê a construção da antena de recepção em Brasília, com início de operações em 2018, o que, entre outras coisas, reduzirá o custo das imagens e o tempo de processamento. (Mídia e Amazônia/ #Envolverde/Utopia sustentável)

Crescem vozes por acordo climático audacioso


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A praia de Negril, na Jamaica, com sinais de erosão costeira. Foto: Mary Vieira/IPS
A praia de Negril, na Jamaica, com sinais de erosão costeira. Foto: Mary Vieira/IPS

Uma aliança de 24 destacadas instituições científicas britânicas exortou os governos a tomarem medidas enérgicas e imediatas na crucial cúpula sobre mudança climática que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará em dezembro, em Paris.
Uma declaração, publicada pela aliança no dia 21, alerta que, para que a humanidade tenha uma possibilidade razoável de limitar o aquecimento do planeta a dois graus centígrados, o mundo deverá emitir 0% de dióxido de carbono até princípios da segunda metade do século, segundo a esmagadora evidência na qual se basearam as instituições.
O economista climático Nicholas Stern, presidente da Academia Britânica e um dos signatários do comunicado, afirmou que este “demonstra a fortaleza da concordância entre as instituições dedicadas à pesquisa na Grã-Bretanha sobre os riscos que geram os níveis em crescimento dos gases-estufa na atmosfera”. “Nossa comunidade de pesquisa esteve durante muitas décadas na vanguarda dos esforços para expandir nossa compreensão e nosso conhecimento das causas e potenciais consequências da mudança climática”, acrescentou.
Segundo Stern, “enquanto alguns de nossos políticos e órgãos de imprensa continuam apoiando a negociação irracional e irresponsável dos riscos da mudança climática, as principais instituições de pesquisa da Grã-Bretanha estão unidas em reconhecer a esmagadora evidência de que as atividades humanas estão impulsionando a mudança climática”.
Entre os signatários do comunicado estão a Sociedade Britânica Ecológica, o Instituto de Física, a Real Sociedade de Astronomia e a Real Sociedade de Meteorologia.
Segundo o documento, os perigos não são teóricos, e, de fato, muitos dos sistemas ecológicos e humanos já estão em risco. O aumento de dois graus na temperatura provocaria fenômenos meteorológicos cada vez mais extremos, com o consequente perigo para ecossistemas e culturas inteiras. Se este aumento chegar aos quatro graus ou mais, o mundo correrá o risco da extinção de um número considerável de espécies animais, insegurança alimentar mundial e regional, e mudanças fundamentais em atividades humanas que hoje são dadas como assentadas.
Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e presidente da Academia Britânica, quer que a conferência sobre mudança climática que a ONU realizará, em dezembro, em Paris, tome medidas audaciosas para combater o problema. Foto: IPS
Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial e presidente da Academia Britânica, quer que a conferência sobre mudança climática que a ONU realizará, em dezembro, em Paris, tome medidas audaciosas para combater o problema. Foto: IPS
Porém, as entidades destacam que a solução do problema tem um enorme potencial para a inovação, por exemplo, nas tecnologias com baixas emissões de dióxido de carbono. As medidas de mitigação e adaptação diante da mudança climática, como segurança alimentar, energia e água, qualidade do ar, melhorias na saúde e proteção dos serviços proporcionados pelos ecossistemas, gerariam benefícios econômicos consideráveis.
Também no dia 21, o Vaticano recebeu prefeitos das principais cidades do mundo, que assinaram uma declaração exortando os governantes do planeta a tomarem medidas audaciosas na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá na capital francesa, entre 30 de novembro e 11 de dezembro.
A cúpula de Paris “poderá ser a última oportunidade real de se negociar acordos que mantenham o aquecimento induzido pela humanidade abaixo dos dois graus”, destaca uma declaração assinada por prefeitos da África, América Latina, Ásia, Estados Unidos e Europa.
Os governantes devem chegar a um “acordo audacioso que restrinja o aquecimento mundial a um limite seguro para a humanidade, e que proteja os pobres e os vulneráveis”, acrescenta a declaração, que também foi assinada pelo papa Francisco, que assumiu uma forte posição pública sobre a mudança climática.
Entre os presentes no Vaticano, estava Jerry Brown governador da Califórnia, nos Estados Unidos, que qualificou de “trogloditas” os que negam a mudança climática, em uma entrevista ao jornal Sacramento Bee. Os que negam, como os multimilionários e norte-americanos “irmãos (Charles e David) Koch não ficam quietos”, afirmou.
“Arrecadam dinheiro, apoiando candidatos, colocando dinheiro em centros de pesquisa, e a negação, a dúvida e o ceticismo se propagam por diversos meios de comunicação, e, portanto, a sinceridade e a autoridade do papa é um bem-vindo antídoto para essa cepa virulenta de negação da mudança climática”, ressaltou Brown.
Segundo uma pesquisa do Greenpeace, os irmãos Koch, que também financiam o partido direitista Tea Party nos Estados Unidos, doaram, desde 1997, mais de US$ 79 milhões a organizações que negam as conclusões científicas sobre a mudança climática.

“Temos que tomar medidas contra um futuro incerto que pode ser algo que ninguém quer. Estamos falando da extinção… de regimes climáticos que não se viu em dezenas de milhões de anos. Ainda não chegamos aí, mas estamos a caminho”, enfatizou o governador. Envolverde/IPS/Utopia Sustentável

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A caminho de uma Terra sem água?


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Cena do game “Dystopia”, ambientado num futuro em que a falta de água estendeu-se por todo o planeta, tornando-se profunda e permanente
Cena do game “Dystopia”, ambientado num futuro em que a falta de água estendeu-se por todo o planeta, tornando-se profunda e permanente
Crise hídrica brasileira é parte de fenômeno global. Consumo abusivo de recurso renovável, porém limitado, pode gerar, em trinta anos, inferno de desabastecimento e guerras – 

Em 2030, a população mundial deverá ser de uns 8,5 bilhões de pessoas e, se a humanidade continuar a viver do mesmo modo, o déficit de água doce do planeta chegará a 40%, diz informe das Nações Unidas sobre os recursos hídricos divulgado em março em Nova Deli. Todo o nosso sistema vital e econômico gira em torno de um recurso natural limitado. Maximizá-lo e geri-lo de forma eficaz constitui o grande desafio do século XXI.
Cada vez que abrimos a torneira, acontece um pequeno milagre. Por trás deste gesto tão cotidiano há muito mais que um jorro de H2O (elemento composto de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio) em estado líquido. A água é o sistema sanguíneo deste planeta; um ciclo natural sobre o qual a atividade humana exerce enorme pressão.
“A quantidade de água doce na Terra hoje é praticamente a mesma que na época em que César conduzia o império romano. Mas nos últimos 2000 anos, a população pulou de 200 milhões para cerca de 7,2 bilhões, e a economia mundial cresceu ainda mais rapidamente (desde 1960, o PIB aumentou a média de 3,5% anual). A conjunção da demanda de alimentos, energia, bens de consumo e água para este grande empreendimento humano requereu um grande controle sobre a água”, resume Sandra Postel, diretora da organização norte-americana Global Water Policy Project.
“Há muito pouca água no planeta azul”, constata Elias Fereres, catedrático da Universidade de Córdoba que exerceu numerosos cargos relacionados com a agricultura e a ecologia. Fereres refere-se a que, embora 70% da superfície da Terra esteja coberta de água, somente cerca de 1% é água doce, além daquela presa como gelo nas calotas polares e geleiras. Sobre esse 1% não apenas repousa nossa principal fonte de vida, mas também o motor do mundo desenvolvido. “A água tem tanto valor que não tem preço, e a chave do seu uso está em obter o máximo aproveitamento sem aumentar as desigualdades econômicas, sociais e ambientais”, sustenta o catedrático.
Onde residem essas desigualdades? “O avanço da população global e do crescimento econômico ocorrido nos anos cinquenta deve-se em grande parte à engenharia de água: barragens para reservatórios, canais para movê-la, bombas para extraí-la do subsolo. Desde 1950, o número de barragens passou de 5 mil a 50 mil. Construíram-se uma média de duas por dia durante meio século. Na maior parte do mundo, a água já não circula seguindo fisicamente o processo natural, mas de acordo com a vontade do homem”, sublinha Postel.
No século passado, essas infraestruturas permitiram cobrir as necessidades da agricultura – que consome 70% da água doce –, a indústria – representa 20% – e o uso doméstico – os 10% restantes – em grande parte do globo. Mas o aumento da demanda, devido em grande medida ao desenvolvimento dos países emergentes, está rompendo um equilíbrio que já é muito precário. “Prevê-se que em 2030 o mundo terá de confrontar-se com um déficit de 40% de água em uma situação climática em que tudo continua igual”, alerta o último informe da ONU sobre recursos hídricos.
Seu autor, Richard Connor, lamenta a “escassa importância” que os governos outorgam à água, espalhando a ideia de que se trata de um bem comum inesgotável. “É um serviço essencial para o crescimento, mas as pessoas não têm essa percepção. Ao invés disso, veem a energia como fator econômico de primeira ordem e inclusive geopolítico, para a segurança de um país, razão pela qual recebe muito mais apoio. Relegar a água na ação política é um erro que, no final, se paga caro e compromete o desenvolvimento”, argumenta.
Os acontecimentos deram razão a aqueles cientistas que, como Postel, prenunciaram que “a água será para o século XXI o que o petróleo foi para o XX”. Se o chamado ouro negro é cobiçado – a ponto de provocar conflitos bélicos – isso se deve a que suas reservas são finitas e não estão nas mãos de todos. O mesmo sucede com a água doce, uma vez alcançado um volume de demanda superior a sua capacidade de regeneração, o que se define como estresse hídrico.
Alexandra Taithe, responsável pela Fundação para a Investigação Estratégica e especialista na interação entre água e energia, traça um panorama inquietante. “Nos países do Sul e do Leste do Mediterrâneo”, adverte, “os poderes públicos optaram por soluções consistentes para aumentar a água disponível. Esta política, que recorreu tanto à dessalinização da água do mar como à exploração dos aqüíferos ou transferências massivas, tem um custo energético muito elevado.”
Segundo seus cálculos, em 2025 a demanda de eletricidade para abastecimento de água destes países representará cerca de 20% do total do que precisam os estados. Hoje, supostamente são 10%. A dessalinização, às vezes apresentada como uma panacéia para combater a escassez, é o sistema que mais energia devora. Nem todo o mundo pode permirtir-se. A Arábia Saudita, o pais com maior capacidade de produção, gera 5,5 milhões de metros cúbicos por dia. Pois bem, para obter essa quantidade, consome o equivalente a 350 mil barris de petróleo diário.
Por sua vez, a fabricação de eletricidade e a extração de combustíveis fósseis precisam de grandes quantidades de água. Por exemplo, segundo Taithe, na França 60% do caudal dos rios destina-se ao processo de esfriamento das centrais térmicas e nucleares. É preciso dizer que a França é o segundo país em produção de energia atômica do mundo e que esta água – em princípio não contaminada – é devolvida às bacias e aos lagos… com alguns graus a mais, o que favorece a proliferação de algas e reduz a população de peixes. No ciclo de água, tudo está interrelacionado. Qualquer manipulação da ordem natural tem efeitos colaterais.
A extração de gás das camadas mais profundas por meio da fraturação hidráulica, o fracking, ganha a taça. Graças a essa tecnologia, os Estados Unidos alavancaram sua economia e mudaram o equilíbrio geopolítico, posto que já não dependem do petróleo árabe. Mas, para perfurar cada um dos mais de 500 mil poços em atividade – muitos dos quais em zonas de estresse hídrico –, precisam de 75 a 180 milhões de litros de água, misturada com uns 36 quilos de produtos químicos, alguns dos quais cancerígenos.
Sacrificamos a água – e a saúde – no altar da economia. Em escala mundial, os dados sobre o aumento da demanda são estonteantes: no horizonte de 2050, enquanto a demanda de água doce crescerá 55%, a de eletricidade avançará 70%. E isso, tendo em conta que o acesso não é universal. Umas 800 milhões de pessoas vivem alijadas de fonte de água limpa e 1,3 bilhão carecem de conexão elétrica. Para Taithe, a crescente necessidade de energia para obter água supõe “um obstáculo de primeira ordem para o desenvolvimento de muitos países e um risco para sua segurança energética.”
Até que ponto a água pode levar a uma escalada bélica? Taithe recorda que para os povos esse recurso “é algo irracional” que historicamente tem originado tensões e continua sendo “centro de tensão diplomática”. A seu ver, os Estados têm mais interesse em cooperar – assinaram 250 tratados multinacionais –, mas outros especialistas preveem que “as guerras do futuro serão por água”. Para Connor, esse futuro já chegou. Ele sustenta que a grande seca na região da antiga Mesopotâmia entre 2006 e 2009, que provocou uma subida radical no preço do trigo, e portanto no da farinha e do pão, teve um papel chave na guerra da Síria. Como consequência da seca, 1,5 milhões de pessoas emigraram das zonas rurais para cidades já estavam submetidas a fortes pressões, quando começaram os protestos contra Bashar el Assad.
Connor observa a mesma relação de causa-efeito entre a seca, acompanhada de grandes incêndios, que assolou a Rússia em 2010 e as primaveras árabes. “A Rússia é o grande provedor de trigo dos países árabes, e como pode apenas exportar, o preço da farinha duplicou, o que gerou descontentamento social”, resume. Sem esse mal-estar, teriam as mobilizações pró-democracia recebido tanto apoio? Connor acredita que não.
Na margem sul do Mediterrâneo, os focos de tensão se multiplicam. A construção, na Etiópia, da grande barragem do Renascimento causou um confronto com o Egito, que se opõe à obra porque garante que afetará o fluxo do Nilo e agravará seus problemas de abastecimento.
“Nos poucos lugares onde ainda se podem construir reservatórios, o impacto ecológico é demasiado negativo. É necessário pensar outras soluções”, opina Fereres. Na Índia e no nordeste da China os agricultores encontraram uma solução alternativa na extração de água do subsolo. Uma atividade subvencionada que levou o progresso a muitas regiões, mas não sem conseqüências. A venda de bombas elétricas a diesel para extrair água disparou nos últimos anos (calcula-se que na China existam 20 milhões em funcionamento, e na Índia, 19 milhões), o que eleva o consumo de energia. Em algumas regiões, representa entre 35% e 45% do total.
Taithe relaciona esse fenômeno com “os gigantescos cortes de eletricidade que, em julho de 2012, deixaram sem energia 670 milhões de pessoas no nordeste da India”. Assinala que esse ano as monções foram menos chuvosas e as autoridades cederam à pressão dos irrigantes para ampliar as cotas para áreas mais profundas de água, onde se encontram os bolsões de água fóssil, que são camadas geológicas não renováveis, como aquelas onde está o petróleo”.De acordo com o relatório da ONU, 20% dos aquíferos da Terra estão sendo superexplorados. “Estamos consumindo hoje a água de amanhã”, previne Postel.
Ao aumento da população e à pressão que exercem os países emergentes sobre as reservas de água soma-se o aquecimento global do planeta. “Em períodos de grandes inundações os recursos hídricos parecem não ter fim, mas depois vêm grandes secas, e a escassez volta a ser o grande motivo de preocupação. Essa bipolaridade está se acentuando na região mediterrânea. Essa é a mudança climática!, descreve Maitê Guardiola, engenheira geóloga especializada em aproveitamento da água com ampla experiência em projetos humanitários.
No Brasil – que possui a maior bacia hídrica do mundo, Amazônica – a falta de água tem obrigada a racionar o fornecimento em São Paulo, cidade que ilustra o problema causado pelo crescimento descontrolado das periferias. Segundo o informe da ONU, “o aumento das pessoas sem acesso à água e ao saneamento nas áreas urbanas está diretamente relacionado ao rápido crescimento dos bairros marginais nos países em vias de desenvolvimento. Essa população, que se aproximará de 900 milhões de pessoas em 2020, é mais vulnerável ao impacto dos fenômenos climáticos extremos”.
É preciso agir, mas como? Enquanto cientistas do porte de Stephen Hawking apostam em “colonizar” outros planetas – ele afirma que dentro de cem anos a espécie humana enfrentará a extinção devido ao “envelhecimento de um mundo ameaçado pelo aumento de habitantes e limitação de recursos –“, os menos catastrofistas optam por racionalizar o consumo.
“Há água suficiente para satisfazer as crescentes necessidades do mundo, mas não sem mudar a forma de geri-la”, sustenta o informe da ONU, que, entre outras medidas, reclama um marco legal universal para administrar este recurso de forma mais equitativa e respeitando os fluxos ecológicos.
Para Connor e Fereres, a chave está em poupar por meio de sistemas de irrigação inteligentes e culturas adequadas a cada região. Em sua opinião, para considerar soluções inovadoras, tais como a remoção de água do ar ou a obtenção de sementes que precisem apenas de rega, faltam “entre 20 e 30 anos de pesquisa”. Maitê Guardiola, por sua vez, enfatiza a reutilização de águas residuais tratadas. De acordo com essa especialista, se destinadas à irrigação, isso “significaria uma redução de 30% da água para a agricultura” na Espanha.
O catedrático Fereres defende também uma “mudança de dieta”, com menos proteínas – um quilo de carne de porco representa um consumo de três quilos de grãos – como uma forma “de reduzir a demanda hídrica”. E promove uma atitude militante contra a água engarrafada. “A sociedade gasta muito dinheiro purificando a água para que chegue às casas de forma potável. Quando vou a um restaurante peço um copo da torneira”. Para Guardiola, “é triste que a Espanha seja um dos maiores consumidores. Seu preço é de 500 a mil vezes superior ao da torneira, sem contar o impacto ambiental do plástico e do transporte.
O ator Matt Damon trata de sensibilizar a opinião pública com ações tipo derrubar um balde de água do vaso sanitário, enquanto se dirige à câmera e diz: “Para aqueles que, como minha esposa, acreditam que isso é nojento, lembre-se de que a água nos banheiros do Ocidente é mais limpa do que aquela à qual tem acesso a maioria das pessoas nos países em desenvolvimento. “Por meio de sua Ong Water.org , é uma das poucas celebridades a combater a crise da água e profundas desigualdades que acarreta.
No Sudão, uma menina de 12 anos dedica entre duas e quatro horas diárias para recolher e transportar sobre a cabeça apenas cinco litros de água doce para sua subexistência, uma quarta parte da quantidade (20 litros por pessoa/dia) que tanto a Organização Mundial de Saúde como a Unicef julgam suficientes para cobrir as necessidades básicas. Enquanto no Canadá uma adolescente da mesma idade consome entre 300 e 400 litros diários…
“A água não é cara o suficiente. Purificá-la e canalizá-la tem um custo muito mais alto do que o que pagamos na conta de consumo, por isso as pessoas não lhe dão valor”, censura Connor. Na Espanha, o consumo médio é de 142 litros por pessoa/dia, mas segundo Guardiola, estima-se que, devido ao mau estado das redes de abastecimento, perde-se uma média de 17,5% da água distribuída. Na Alemanha, esse percentual é de 5%.

Se implementadas, não está claro que todas essas medidas compensariam o aumento da demanda. Um futuro sem água, no qual os humanos se vejam obrigados a abandonar a Terra, como o que prediz o filme de animação Wall.E, não está longe do que vislumbra Hawking. “Devemos nos antecipar às ameaças e ter um plano B”, insiste o famoso astrofísico. E por que não mudar o planeta azul pelo planeta vermelho? Segundo um estudo da Universidade do Novo México, Marte poderia ter grandes reservas de água em seu interior. (Outras Palavras/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

O clima preocupa até na segurança pública


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As alterações climáticas têm implicações graves para a agricultura e a segurança alimentar. Foto: FAO / L. Dematte
As alterações climáticas têm implicações graves para a agricultura e a segurança alimentar. Foto: FAO / L. Dematte

Por mais que se queira, a cada dia é mais difícil de fugir dos temas relacionados a mudanças climáticas. A agência espacial norte-americana (Nasa) está dizendo que o mês de junho último “foi o mais quente dos registros históricos” desde 1880. O ano passado já teve temperatura média 0,69 grau acima da média do século 20 e este ano pode quebrar o recorde de temperatura (Estado, 21/7). Novo estudo de pesquisadores do Nepal, França e Holanda revela que as geleiras na região do Everest, no Himalaia, podem diminuir de volume pelo menos em 70% até o fim do século (elas já se reduziram em 13% nos últimos 50 anos).
Em meio a essas notícias, cerca de 2 mil cientistas de mais de cem países se reuniram em Paris entre 7 e 10 de julho para discutir “o nosso futuro comum sob as alterações climáticas”, com o objetivo maior de propor medidas para reduzir, entre 40% e 70% até 2050, as emissões de poluentes atmosféricos que contribuem para o aquecimento global.
E suas principais propostas foram de eliminar os subsídios a energias fósseis, que hoje chegam a US$ 550 bilhões anuais, e de fixar um preço para o carbono emitido em qualquer parte. Nada mais, nada menos, trata-se de enfrentar a resistência de algumas das forças econômicas mais poderosas, como as megaempresas de petróleo, gás e carvão e a indústria de veículos, entre outras. Mas, se nada for feito, a temperatura média do planeta pode aumentar entre 3,7° e 4,8° Celsius até o fim do século – com consequências que poderão ser catastróficas (ISA, 17/7).
Que fará o Brasil? Nossas autoridades da área do meio ambiente parecem não ter ainda chegado a termo com sua proposta final para a conferência do clima de dezembro, também em Paris, quando cada país deverá apresentar seus compromissos obrigatórios para essa área. Admitem que a proposta deverá ser diferente da defendida em 2009. E o País deverá propor a possibilidade de computar os efeitos benéficos de regeneração natural de florestas (só na Amazônia seriam 17 milhões de hectares de florestas secundárias crescendo e capturando carbono). Além disso, quer defender uma compensação pelo desmatamento reduzido até 2020. A proposta só deverá ser conhecida em outubro. Mas pretende-se analisar mais a intenção de reduzir as emissões nas áreas de energia e agropecuária, assim como a participação dos Estados e municípios no debate maior.
Em suas discussões com o presidente Barack Obama, no final de junho, a presidente Dilma Rousseff situou entre 28% e 33% a participação que as energias renováveis deverão ter na matriz energética nacional até 2030 e comprometeu-se a restaurar florestas (Folhapress, 1/7). Há cientistas, como o professor José A. Marengo, do Inpe e da Convenção do Clima, que acham as negociações na área brasileira muito influenciadas pelas posições de diplomatas do Itamaraty, quando o ideal seria “termos cientistas e diplomatas trabalhando juntos” (Ecológico, junho de 2015).
Estudos de cientistas na publicação Nature Climate Change dizem que a meta de limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau neste século “não está totalmente fora do alcance”, mas “as possibilidades são remotas e os custos, elevados” (Observatório do Clima, 28/5), com muitas exigências nas áreas de energia e de transportes, principalmente, além de criar preço para as emissões de carbono a ser pago pelos emitentes. E isso exigiria a implantação de tecnologias de baixo carbono.
O professor Ronaldo Serôa da Motta, da UERJ, tem afirmado que a tendência é de que o panorama atual de crise leve os países a assinarem em Paris um “acordo gradualista, com metas pouco ambiciosas até 2030” (Amazonia.org, junho de 2015). Um dos pontos mais difíceis seria estabelecer metas diferenciadas entre os países, proporcionais a suas emissões históricas e atuais. E adaptá-las ao que vem pela frente com o crescimento das emissões dos países emergentes, principalmente China, Índia e Brasil. “A principal questão”, diz ele, “é fazer com que a China e os Estados Unidos aceitem qualquer meta; se eles aceitarem, o acordo sai, porque o mundo rateia o resto”.
As graves inundações estão entre os principais efeitos devastadores da mudança climática. Foto: Shutterstock
As graves inundações estão entre os principais efeitos devastadores da mudança climática. Foto: Shutterstock
A preocupação da sociedade brasileira parece forte diante da lentidão no ritmo oficial de negociações. Pesquisa do Greenpeace e do Observatório do Clima mostra que 95% dos brasileiros acham que as mudanças climáticas já afetam o País, embora 48% entendam que “o governo federal faz menos do que deveria para enfrentar o problema” – e entendem que as mudanças no clima “têm relação com a crise hídrica e a crise energética”.
Têm razão. Texto do livro Urbanização e desastres naturais, de Lucí Hidalgo Nunes (comunitexto.com, 4/7), relaciona os 20 desastres naturais na América do Sul que causaram mais mortes (quase 150 mil) entre 1960 e 2009. São, principalmente, inundações, movimentos de massa úmida ou seca, tempestades e epidemias – que podem estar relacionados com o clima. Outro estudo, da professora Patrícia Pinho, da USP, mostra que a bacia amazônica “experimentou um aumento na variabilidade interanual principalmente no que se refere ao início e fim do período de chuvas”. Um dos ângulos estudados é a relação com El Niño e La Niña: “Há um aumento dos extremos hidrológicos na região”. Pode ser até na mortalidade de peixes e nas plantações.
Notícias recentes confirmam: o tambaqui e o cardinal diminuirão nos próximos tempos, segundo o Inpa (amazonia.org, 21/7), por causa do “impacto de mudanças climáticas”. E parece irreversível o fim da tão louvada pororoca, no encontro das águas do Rio Araguari, no Amapá, com o oceano. Reservatórios de três hidrelétricas, abertura de canais para irrigação de lavouras – que influem no clima e na água – e pastagens passaram a drenar águas do rio. E não haverá mais pororocas. Quem se preocupou?
Mas, como tem dito o cientista Paulo Nobre, do Inpe (Estado, 21/7), “falta de água já é uma questão de segurança pública”. (O Estado de S. Paulo/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Amazônia: verdades que não se curam


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O povo brasileiro adotou o método químico para cuidar de seus males, ajudando a indústria farmacêutica que contrabandeiam nossa medicina natural.
O povo Huni Kuin, do rio Jordão no Acre lançou o Livro da Cura, reunindo 109 plantas medicinais da Amazônia e seus usos – uma parceria com o Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Editora Dantes. A tradução de Huni Kuin é o povo verdadeiro e eles formam 33 aldeias no rio Jordão com mais de sete mil habitantes e também vivem no Peru. Mas a verdade é que das 30 mil plantas catalogadas da Amazônia, sendo duas mil espécies medicinais e outras 1.250 aromáticas apenas 2% foram analisadas. O Brasil importa 85% da matéria-prima usada na produção de medicamentos, um setor que no ano passado faturou R$67,5 bilhões no país. O professor aposentado da UNICAMP, Lauro Barata, especialista em botânica, ressalta que apenas as madeiras fazem parte da pauta de exportação da região Norte. As madeireiras já detonaram 3,5 milhões de árvores, sendo que 72% da madeira serrada são de baixo valor agregado.
O Brasil é o país do agronegócio, dos transgênicos das multinacionais, das tecnologias de medicamentos importados, e até mesmo dos fitoterápicos, cuja matéria-prima também é importada – um mercado de R$500 milhões. O faturamento da indústria farmacêutica beira o US$1 trilhão de dólares no mundo e as avaliações são que 7% desse mercado são abastecidos pelos fitoterápicos e pelas plantas medicinais. Desde 2006, o governo federal tenta implantar as metas da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Entretanto, os brasileiros estão viciados em drogas químicas, segundo uma pesquisa do Datafolha sobre saúde e medicalização, realizada em 132 municípios brasileiros, 54% da população toma algum medicamento regularmente – de vitamina a antidepressivo. A consultoria internacional IMS Health avalia que em 2016 seremos o quarto mercado consumidor de medicamentos no planeta.
O Congresso votou pelo saque do patrimônio genético
Além disso, a indústria de higiene, perfumaria e cosméticos faturou em 2014, R$101 bilhões. O Brasil possui 50 mil espécies de plantas, 30 mil na Amazônia, 16 mil na Mata Atlântica e sete mil no cerrado. Nunca desenvolvemos medicamentos usando matéria-prima nativa. A exceção ocorreu em 2005, quando o Laboratório Aché produziu um anti-inflamatório da planta “Cordia Verbenácea”, que está sendo registrado nos Estados Unidos e na Europa. Em 2008, um grupo de pesquisadores lançou um documento em prol da ciência e tecnologia da Amazônia, onde era reivindicado a criação de três novos institutos técnico científicos e três novas universidades, entre outras coisas, um investimento de R$30 bilhões em 10 anos. Pelo menos uma universidade foi criada, a Universidade Federal do Oeste do Pará, com sede em Santarém.
Mas isso não é nada perto do tamanho e a importância da Amazônia. Enquanto a biopirataria saqueia nossas riquezas, assistimos o Congresso Nacional votar uma lei de biodiversidade que privatizaria o patrimônio genético brasileiro. Só não ocorreu o pior porque a presidenta Dilma Rousseff vetou cinco pontos da nova lei. A única coisa que nem os políticos, nem a burocracia oficial, que enquadra o uso de plantas medicinais e produção de fitoterápicos como qualquer outro medicamento – obrigatoriedade de testes de todos os tipos, análise clínica e por aí vai-, conseguiram derrubar é a iniciativa dos povos e comunidades tradicionais, que continuam usando as plantas brasileiras para curar suas doenças. Sem contar que a população pobre não tem dinheiro para comprar químicos.
Enquanto a biopirataria saqueia nossas riquezas, assistimos o Congresso Nacional votar uma lei de biodiversidade que privatizaria o patrimônio genético brasileiro. Foto: Amazônia/ Shutterstock
Enquanto a biopirataria saqueia nossas riquezas, assistimos o Congresso Nacional votar uma lei de biodiversidade que privatizaria o patrimônio genético brasileiro. Foto: Amazônia/ Shutterstock

Falta vontade política
Sempre tem uma banca de ervas em alguma esquina do cerrado, do norte, e do nordeste, além dos mercados públicos do sul e do sudeste, que comercializam plantas, xaropes, pomadas, cremes etc. O pesquisador Juan Revilla, do INPA, também especialista em botânica e representante da região norte junto ao Ministério da Saúde, diz que a inclusão das plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos não é incluída na Atenção Básica do SUS por falta de vontade política. Ele coordena um projeto chamado “Farmácia Viva”, no município de Manaquiri, a 50 km de Manaus, que desde 2006 incentiva à população a usar as plantas medicinais da região. O viveiro conta com mais de 50 mil mudas de 120 espécies produzidas em 150 hectares.
Desde esta época a ANVISA recomenda que os estados e municípios façam inventários, criem grupos de trabalho, estudem sua flora local para incentivar o uso de plantas medicinais e fitoterápicos. A questão para o Brasil deveria ser estratégica, não somente porque temos um território de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Nos regiões distantes, onde vive a população pobre, os médicos brancos brasileiros não querem trabalhar. Foi o cubano Javier Lopez Salazar, por exemplo, que reintroduziu o uso de plantas medicinais na aldeia Kumenê, do povo Palikur, onde são atendidas 1576 indígenas, a 590 km de Macapá – mais sete horas de barco de Oiapoque.
Há 30 anos, uma missão evangélica destruiu os conceitos dos indígenas e implantou os do cristianismo ocidental, e acabou com o uso das plantas medicinais. Foi Javier quem convenceu as lideranças da aldeia e o pessoal de saúde que era importante retomar o uso das plantas locais. O exemplo dele está sendo divulgado pela Organização Pan-americana de Saúde e a OMS num vídeo reportagem, que faz parte de uma série sobre a atividade dos profissionais do Programa Mais Médicos. O professor Juan Revilla diz que 95% dos problemas do município onde foi implantado o projeto “Farmácia Viva” poderiam ser resolvidos pela Atenção Básica do SUS com as plantas da região. Por sinal, o primeiro curso de Saúde Coletiva, da Universidade Estadual do Amazonas, formará a primeira turma com 22 alunos em 2016.
O sonho do pajé
A história do pajé Agostinho Manduca Ika Muru, do povo Huni Kuin é mais uma iniciativa fora da mediocridade da política brasileira. Por 30 anos, ele anotou em pequenos cadernos as informações sobre as plantas da região e seus usos, consultando outros pajés e os mais velhos. O pesquisador botânico Alexandre Quinet, do Rio de Janeiro encontrou com o pajé em uma de suas viagens e ficou sabendo do seu sonho de fazer um livro, que seria útil para os aprendizes de pajé. Em 2011, eles conseguiram reunir uma equipe de especialistas, incluindo taxonomistas – identificam as plantas – e 22 pajés durante 15 dias. Poucos dias depois Agostinho morreu. No ano passado foi lançado o Livro da Cura, com três mil exemplares, sendo mil produzidos com um material especial, feito a partir de PET, que é impermeável, para distribuição nas aldeias. Das 351 espécies descritas pelos pajés, os pesquisadores coletaram 196 e 109 estão no livro. As amostras devidamente identificadas estão no herbáreo do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
O saque continua
O IBAMA tem um cálculo antigo que a biopirataria rouba do Brasil em torno de US$6 bilhões por ano em plantas, animais ou fósseis. São clássicos os casos de registros de frutas como o cupuaçu no exterior. Uma substância do veneno da jararaca brasileira, conhecida como captopril, foi sintetizada pelo laboratório americano Bristol Myers Squibb e usada no medicamento Capoten, um regulador da pressão arterial, garantindo vendas de US$5 bilhões no mundo. O pau-rosa é usado como fixador de perfumes desde a década de 1930, e entra na composição do Chanel nº5. Castanhas como a andiroba e o óleo de copaíba estão sendo registrados em várias regiões do mundo. Assim como fizeram com o Curare, que os indígenas usam para amortecer as presas nas caçadas, ou com o ayahuasca, o cipó alucinógeno da Amazônia.

A verdade é que em pleno século XXI, da era digital, do celular ligado 24 horas, a Amazônia continua sendo saqueada, como foi nos séculos passados, e por desinformação total, o povo brasileiro adotou o método químico para cuidar de seus males, ajudando a indústria farmacêutica e química mundial, que querem a todo custo se apoderar desse patrimônio. (Carta Maior/ #Envolverde/Utopia sustentável)