terça-feira, 30 de junho de 2015

O que torna uma cidade sustentável


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Essen, na Alemanha: infraestrutura verde como "uma solução de base natural". Foto: Divulgação
Essen, na Alemanha: infraestrutura verde como “uma solução de base natural”. Foto: Divulgação

Essen, na Alemanha, foi escolhida a “capital verde” da Europa. Mas, para obter esse título, é preciso muito mais do que parques
A cidade de Essen, no oeste da Alemanha, foi escolhida a “capital verde” da Europa para o ano de 2017 – um prêmio dado anualmente pela Comissão Europeia para exemplos de ações ambientalmente importantes, incluindo esforços locais para melhorar o meio ambiente no perímetro urbano e promover o crescimento sustentável.
Desde 2010, o título é concedido a cidades europeias com população superior a 100 mil habitantes. A premiação é dada sempre dois anos antes do período proposto. Para 2016, a vencedora foi Liubliana, na Eslovênia. A inglesa Bristol ganhou o título para 2015, e a capital dinamarquesa Copenhague, no ano passado.
Antigo centro de mineração de carvão, no coração do Vale do Ruhr, Essen foi reconhecida por superar o desafio da sua história industrial e reinventar-se de maneira ambientalmente sustentável. Depois, tornou-se exemplo para outras cidades.
Mas o que, afinal, faz uma cidade ser considerada “verde”?
Para o concurso, um grupo independente de especialistas analisou as cidades com base em fatores como qualidade do ar, transporte, áreas verdes urbanas e medidas para lidar com as mudanças climáticas.
George Ferguson, prefeito de Bristol, na Inglaterra, descreve as mudanças climáticas como “o maior desafio” que as cidades europeias precisam encarar. Segundo ele, enfrentar isso depende de inovação – e muitas vezes com bom humor. Exemplo disso é o que ficou popularmente conhecido como “poo bus”, ônibus movido a fezes.
“É o ônibus número dois, e funciona por meio de dejetos humanos. Mas não cheira mal”, brinca Ferguson.
O “poo bus” faz parte da campanha de Bristol para reduzir a emissão de carbono em 40% até 2020. Outras medidas rumo a esse objetivo são apoiadas por projetos que incentivam o aumento da energia renovável e a redução no consumo de energia.
Antecessora de Bristol como “capital verde” da Europa, Copenhague tem ambições ainda maiores quando o assunto é mudança climática. A mais ousada é extinguir a emissão de carbono até 2025. Na última década, a cidade já conseguiu reduzir o índice em 40%.
Há ainda mais esforços dos dinamarqueses para aumentar as estruturas construídas com energia renovável e fomentar o uso adequado das bicicletas, com programas como o “bike-butler” (“mordomo de bicicleta”).
Quando as pessoas estacionam as bicicletas em locais inconvenientes, os “mordomos” as removem. Mas quando os ciclistas chegam para pegá-las de volta, eles não são punidos com multa, mas sim cumprimentados de forma amigável. Pode soar quase inacreditável, mas, além disso, a bicicleta ainda recebe um banho de óleo nas correias e tem os pneus cheios.
“Criando soluções aprazíveis e elegantes para quem pedala, tornamos a atividade ainda mais atrativa”, diz Lykke Leonardsen, chefe da agência municipal que tenta “livrar” Copenhague do carbono.
Aparentemente, funciona. Hoje, em Copenhague, 45% de todos os deslocamentos para o trabalho e para a escola são feitos de bicicleta.
Além de reduzir a emissão de carbono, uma “cidade verde” deve ser também literalmente verde. Isso, porém, não significa apenas ter parques. A expressão da moda em termos de planejamento urbano é “infraestrutura verde”, definida como áreas naturais projetadas para desempenhar uma série de funções.
Ronan Uhel, da agência europeia de meio ambiente, conceitua a infraestrutura verde como “uma solução de base natural” que também pode contribuir para a preservação da biodiversidade.
“Pode estar relacionado à eficiência energética de prédios, pode suavizar as divisões das nossas paisagens, pode ser útil para regenerar a acessibilidade aos rios”, diz Uhel.
Um grande projeto em Copenhague envolveu a criação de uma rede de áreas verdes que pode absorver a água das chuvas – resultado de um replanejamento devido a uma tempestade, em 2011, que causou grandes danos à infraestrutura da cidade e ameaçou risco de vida a várias pessoas.
Agora, essas áreas desviam a água da chuva, ajudam a limpar o ar e atuam como espaços conjuntos para a comunidade.
“Isso está esverdeando a cidade, deixando-a mais saudável e atrativa”, afirma Leonardsen.
Martin Powell, chefe de desenvolvimento urbano da empresa alemã Siemens no Reino Unido, salienta o quão isso é importante:
“Uma cidade verde é absolutamente essencial para atrair o capital humano que você quer ver trabalhando e vivendo no local”, diz.
Powell afirma que os municípios e a iniciativa privada podem “pegar carona” e colocar a infraestrutura verde para investimentos. Ele sugere que, quando grandes edifícios passam por uma renovação energética, podem incluir algumas características.
“Por que não integrar com um telhado verde um lugar permeável, no lado de fora, para ajudar no escoamento da água vinda da superfície, uma drenagem sustentável e outras infraestruturas verdes?”, sugere Powell.
Ferguson, prefeito de Bristol, finaliza dizendo que as cidades são, ao mesmo tempo, fontes de muitos problemas, mas também de muitas soluções.
“Se as cidades podem se tornar um laboratório de mudanças, os benefícios podem ser espalhados por toda a Europa. Uma cidade, sozinha, não vai mudar o mundo. Mas se compartilharmos ideias, e também os problemas, vamos compartilhar as respostas, e aí poderemos mudar o mundo”, conclui.Deutsche Welle/Carta Capital/Envolverde/Utopia Sustentável

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Belo Monte, uma usina de promessas


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Belo Monte
O Instituto Socioambiental (ISA) lançou esta semana o Dossiê Belo Monte, que aponta para uma série de erros e equívocos no planejamento e construção da terceira maior hidrelétrica do mundo.
O Brasil está prestes a ver mais um reservatório de usina hidrelétrica ocupar espaços que antes eram destinados a múltiplos usos. A história se repete, com nuances de diferenças e muitas similaridades. A hidroeletricidade é apontada como uma das energias ambientalmente mais limpas do planeta, no entanto, não se pode dizer o mesmo de seus impactos sociais. A hidrelétrica de Belo Monte está instalada em uma das regiões de maior sociobiodiversidade,do Brasil, muito próxima ao Parque Indígena do Xingu e de Altamira, cidade que sempre foi um portal para a Amazônia. Principal obra da primeira fase do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), a construção da usina de Belo Monte começou em 2011 e tem sido recheada por tropeços em sua implantação e carregada de passivos ambientais e sociais.
A falta de cronograma claro e definição de responsabilidades para as contrapartidas assumidas pela Norte Energia, empresa responsável pela obra, transforma qualquer pequena demanda em um imenso jogo de empurra entre os atores envolvidos.  As obras das estações de tratamento de água e saneamento em Altamira são o exemplo mais pitoresco desses impasses. A empresa entregou para a prefeitura toda a infraestrutura que garantiria água de boa qualidade e o tratamento de esgotos, contudo, nega-se a fazer as ligações aos imóveis que consomem a água e geram os esgotos. Nesse processo foram investidos R$ 485 milhões e a população ainda depende de poços e fossas em seu cotidiano.
Há críticas consistentes também em outras áreas da relação entre poder público e a Norte Energia, como saúde ou segurança. A presença da obra de Belo Monte, que será a 3ª maior hidrelétrica do mundo, levou milhares de trabalhadores e migrantes para a região, causando um enorme impacto sobre os serviços públicos, que já não eram de excelência antes do início dessa movimentação. A população de Altamira deu um salto de 100 mil para 150 mil habitantes, o que se refletiu no número de ocorrências policiais, onde a taxa de homicídios subiu de 48 para cada 100 mil habitantes para os atuais 57 assassinatos por 100 mil habitantes. A média nacional é de 32 e a média mundial é de seis.
Transitar em Altamira também tornou-se um exercício arriscado. O número de acidentes de trânsito na cidade subiu de 456 para 1169 em um ano, o que serviu, também, para aprofundar a crise nos serviços públicos de saúde, que em apenas um hospital em 2013 os atendimentos foram triplicados.
Saúde e educação foram áreas muito impactadas pela presença de uma nova população, formada principalmente por trabalhadores da Norte Energia, suas famílias, prestadores de serviços e pessoas em busca de mais oportunidades, além, é claro, das populações ribeirinhas e rurais deslocadas de suas casas por conta das obras e do território que será ocupado pelas águas represadas do rio Xingu. A empresa se comprometeu a investir na infraestrutura de saúde, mas atrasou a entrega de todos os equipamentos contratados.
A infraestrutura de educação também é bastante exigida, novamente o atraso na entrega das obras combinadas com a Norte Energia levou os municípios a suportarem excesso de alunos em salas de aula. Além disso, há um dado importante: o Ministério da Educação considera em seus repasses para os municípios o número de estudantes matriculados no ano anterior. No caso da região impactada por Belo Monte o número de alunos tem crescido à base de mil a mais por ano, o que amplia a pressão sobre os recursos municipais. Em 2012, havia em Altamira 24.791 alunos, em 2015 o número de alunos matriculados (ensino infantil e fundamental) aumentou para 27.486.
É importante registrar que houve um expressivo aumento nas taxas de reprovação e evasão escolar com riscos importantes para segurança de crianças e adolescentes. Somado a isso há o fato de que o Conselho Tutelar de Altamira conta com apenas cinco pessoas para atender mais de dois mil casos por ano.
A hidrelétrica é, também, o empreendimento de maior impacto sobre populações indígenas em todo o Brasil. Mais uma vez o empreendedor não inovou em nada, adotou na maior parte de seus investimentos com foco nesse grupo critérios clientelistas. Dos R$ 212 milhões que a empresa alega ter gasto a maior parte foi ofertada em presentes e “mesadas” para as aldeias, em uma relação desigual com as comunidades. Essa oferta desmedida de dinheiro desequilibrou os sistemas de produção de alimentos nas aldeias, que passaram a comprar produtos industrializados de baixa qualidade e impôs riscos à segurança alimentar principalmente das crianças.
A relação da Norte Energia com o Ibama tem sido de conflito e composição em situações onde licenças são concedidas antes que as contrapartidas sejam, de fato, entregues à população e às prefeituras da região. Essa situação piora com a falta de uma presença efetiva de comando e controle, o que tem levado a uma exploração de recursos naturais em Terras Indígenas, onde a retirada de madeira já pode ter chegado a valores próximos a meio bilhão de reais.
A situação dos recursos pesqueiros é um capítulo a parte. Mesmo fazendo um monitoramento semestral na região, os dados coletados pelo Ibama não estão sendo colocados à disposição da população, de pesquisadores ou de organizações sociais que fazem o acompanhamento dos impactos sobre a pesca, um importante elemento de geração de renda e segurança alimentar para as populações ribeirinhas e para os povos indígenas.
Mesmo não sendo o primeiro e nem o único empreendimento de porte instalado no Brasil, a construção de Belo Monte vem repetindo erros que já deveriam ter ficado no passado autoritário.  Praticamente todas as iniciativas de diálogos produtivos entre os principais atores não têm levado a avanços importantes, questões fundamentais como o reassentamento de populações rurais e a criação de assentamentos urbanos não avançam por falta de flexibilidade nos planos da empresa.

Essa falta de diálogo reflete-se, também na ausência de transparência em relação aos investimentos, aos financiamentos e aos volumes de recursos alocados em cada uma das áreas de atuação da Norte Energia em todo o processo de planejamento, licenciamento e construção da usina de Belo Monte. Neste momento em que as comportas estão para ser fechadas fica a lição de como não fazer uma grande obra de infraestrutura na Amazônia, região sensível que ainda vai abrigar muitos bilhões em geração de energia, mineração, estradas e todo o tipo de intervenções impactantes sob o ponto de vista ambiental e social.Envolverde/Utopia Sustentável

Após anos de crise hídrica, Israel derrota a seca


No auge da seca, o jardineiro israelense Chabi Zvieli temeu por sua subsistência. Um pesado imposto havia passado a incidir sobre o consumo excessivo de água para fins domésticos. Muitos dos clientes de Zvieli aderiram à grama sintética e trocaram as flores sazonais por plantas nativas, mais resistentes. "Eu me preocupava com o que iria acontecer com a jardinagem", disse Zvieli, 56.
Em todo o país, os israelenses foram orientados a tomar banhos de no máximo dois minutos. Lavar carros com mangueiras foi proibido, e só quem era rico o suficiente para absorver o custo da manutenção de um gramado foi autorizado a regá-lo -ainda assim, só à noite. "Estivemos numa situação muitíssimo próxima de alguém abrir a torneira em algum lugar do país e não sair água", disse Uri Schor, porta-voz da Autoridade Hídrica do governo.
Uriel Sinai/The New York Times
Turistas nadam em piscina do hotel Beresheet no deserto de Negev, em Israel
Turistas nadam em piscina do hotel Beresheet no deserto de Negev, em Israel
Isso foi há cerca de seis anos. Hoje, há água em abundância em Israel. "O medo passou", disse Zvieli.
A revolução aconteceu em Israel. Um grande esforço nacional para dessalinizar água do Mediterrâneo e reciclar águas residuais proporcionou ao país água suficiente para todas as suas necessidades, mesmo durante as secas graves. Mais de metade da água destinada às famílias, à agricultura e à indústria em Israel atualmente é produzida artificialmente.
"Não há hoje em dia nenhum problema com a água", disse Shaul Ben-Dov, engenheiro agrônomo de Ramat Rachel. "O preço é mais elevado, mas podemos viver uma vida normal em um país que está no meio do deserto."
Israel sofreu por décadas com a escassez e superexploração de seus recursos hídricos. A água doce natural à disposição de Israel em um ano médio não atende o uso total, em torno de 2 trilhões de litros. A demanda por água potável deverá aumentar do atual 1,2 trilhão de litros para 1,95 trilhão até 2030.
A reviravolta veio com uma seca de sete anos, iniciada em 2005, que atingiu o seu auge no inverno boreal de 2008 para 2009. As principais fontes naturais de água do país -o mar da Galileia, ao norte, e os aquíferos das montanhas e da costa- foram esvaziados, o que ameaçou causar uma deterioração irreversível na qualidade da água. Medidas para aumentar a oferta e reduzir a procura foram aceleradas, sob a supervisão da nova Autoridade Hídrica.
Quatro grandes usinas privadas de dessalinização entraram em operação ao longo da última década. Uma quinta deve estar pronta dentro de alguns meses. Juntas, elas produzirão mais de 492 bilhões de litros de água potável por ano, com a meta de chegar a 757 bilhões de litros até 2020.
Israel, nesse período, tornou-se líder mundial na reciclagem de águas residuais para a agricultura. O país trata 86% do seu esgoto doméstico, reciclando-o para uso agrícola -volume que representa cerca de 55% de toda a água utilizada na agricultura. A Espanha, segunda colocada nesse ranking, recicla 17% de seus efluentes, segundo dados da Autoridade Hídrica israelense.
O governo de Israel começou fazendo cortes nas quotas anuais de água aos agricultores, encerrando décadas de uso extravagante e fortemente subsidiado de irrigação agrícola.
A sobretaxa para o uso doméstico foi adotada no final de 2009, e um sistema tarifário com duas alíquotas passou a vigorar. O uso regular da água para fins domésticos agora é subsidiado pelo imposto ligeiramente superior que os usuários pagam quando ultrapassam o consumo básico.
Funcionários da Autoridade Hídrica foram de casa em casa oferecendo a instalação em chuveiros e torneiras de dispositivos gratuitos que injetam ar no fluxo de água, reduzindo o consumo em cerca de um terço e ainda dando a sensação de um fluxo mais forte.
Autoridades dizem que o uso mais consciente da água levou a uma redução de até 18% no consumo das famílias.
Empresas locais substituíram autoridades municipais na manutenção da rede de água de cada cidade. O dinheiro arrecadado com a cobrança da água é reinvestido na infraestrutura.
Menehem Kahana - 8.abr.15/AFP
Colonos israelenses brincam em aqueduto na Cisjordânia durante feriado judaico
Colonos israelenses brincam em aqueduto na Cisjordânia durante feriado judaico
A Mekorot, empresa nacional de águas, construiu há 50 anos um sistema destinado a transportar água do mar da Galileia, ao norte, até o árido sul, passando pelas áreas populosas do centro. Atualmente, a companhia constrói uma nova infraestrutura para levar água da costa do Mediterrâneo para o interior do país.
A dessalinização, durante muito tempo rejeitada devido ao elevado consumo de energia do processo, está se tornando mais barata, mais limpa e mais eficiente do ponto de vista energético, graças ao avanço tecnológico. Sidney Loeb, cientista americano que inventou o popular método de osmose reversa, veio morar em Israel em 1967 e ensinou os técnicos daqui.
A usina de dessalinização Sorek destaca-se no solo arenoso, cerca de 15 km ao sul de Tel Aviv. Apontada como a maior usina desse tipo no mundo, produz 151 bilhões de litros de água potável por ano, o suficiente para cerca de um sexto da população de Israel, de aproximadamente 8 milhões.
Sob um arranjo complexo, as usinas serão transferidas para a propriedade estatal após 25 anos. Por enquanto, o Estado compra água dessalinizada da Sorek a US$ 0,58 por metro cúbico, um preço relativamente baixo.
Alguns israelenses ironizam a atual revolução hídrica. Tsur Shezaf, que cultiva vinhas e azeitonas no Negev, no sul, argumenta que a dessalinização é essencialmente uma privatização do abastecimento da água em Israel, beneficiando alguns magnatas, enquanto a reciclagem para a agricultura permite que o Estado venda duas vezes a mesma água.
Ambientalistas israelenses dizem que a febre da dessalinização ocorreu em detrimento de alternativas como o tratamento das reservas hídricas naturais que foram poluídas por fábricas, em especial as indústrias militares. Eles também dizem que o método de colher a água para dessalinização em alto-mar, como fazem as usinas israelenses, pode destruir a vida marinha, ao sugar ovas e girinos.
Menehem Kahana/AFP
Pessoas se refrescam em fonte de Jerusalém durante onda de calor
Pessoas se refrescam em fonte de Jerusalém durante onda de calor
Num lugar seco como o Oriente Médio, a água também tem implicações estratégicas. Disputas entre Israel e seus vizinhos árabes pelos direitos da água na bacia do rio Jordão contribuíram para as tensões que levaram à Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Israel, que partilha o aquífero das montanhas com a Cisjordânia, diz fornecer aos palestinos mais água do que seria a sua obrigação conforme os acordos de paz em vigor. Os palestinos dizem que o volume não é suficiente e é muito caro. Uma nova era de generosidade hídrica poderia ajudar a fomentar as relações com os palestinos e com a Jordânia. New York Times/Folha/Utopia Sustentável

domingo, 28 de junho de 2015

Clima: Juventude defende meta ambiciosa


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“O trabalho que vocês estão realizando irá moldar o meu futuro. Infelizmente, vocês talvez não estejam lá. Eu estarei”, alerta Raquel Rosenberg, coordenadora geral do Engajamundo, dirigindo-se aos negociadores do clima.
Entre 1º e 11 de junho em Bonn, na Alemanha, representantes das nações se reuniram para dar continuidade às negociações rumo a Paris, onde será assinado um acordo global para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) e assim enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
Raquel Rosenberg da ONG brasileira Engajamundo foi escolhida para falar em nome de todas as organizações jovens do mundo. “Eu quero ver um mundo que valoriza a vida humana e o bem-estar acima do sucesso da indústria de combustíveis fósseis”, destacou dirigindo-se ao presidente da última sessão da Conferência.
Com a tentativa árdua de fazer com que a voz dos jovens seja ouvida nas negociações de clima, Raquel volta ao Brasil preocupada. “Os países estão longe de fazer sua lição de casa e garantir um tratado ambicioso no final deste ano”, declara em sua página social na internet.
Apesar da percepção de que o caminho a Paris está em marcha lenta, a ativista acredita na força da juventude. “Juntos, nós podemos agir agora mesmo”, completa. Assista ao discurso na íntegra:
(#Envolverde/Utopia Sustentável)
Postado em: COP21Engajamundo

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Era da humanidade ou da ignorância?


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Ao longo dos últimos 200 anos, as atividades humanas têm transformado todo o Planeta rapidamente e se tornado, gradualmente, no principal condutor da mudança ambiental global. Os impactos dessas ações sobre a biosfera da Terra são tão grandes que alguns cientistas argumentam que o Holoceno, iniciado com o fim da última Era Glacial, há mais de 11 mil anos, e que se estende até hoje, chegou ao fim, dando lugar a uma nova era geológica: o Antropoceno.
O conceito de Antropoceno foi proposto uma década atrás pelo biólogo americano Eugene Stoermer e o químico holandês Paul Crutzen, prêmio Nobel em 1995. Eles sugeriram que se alterasse a linha do tempo com que os cientistas medem os períodos geológicos, de modo a refletir as transformações no Planeta causadas pelas atividades humanas. Segundo eles, as marcas da ação humana são tão agressivas e intensas que continuarão visíveis por milênios, gravadas nas camadas geológicas da Terra.
Dessa forma, por meio dos nossos rastros devastadores no Planeta, no futuro, paleontólogos ou mesmo uma futura civilização – caso a nossa seja dizimada – provavelmente saberão identificar a alteração brusca na composição da atmosfera e as demais mudanças ambientais que provocamos por meio dos fósseis de incontáveis espécies extintas, rejeitos radioativos, toneladas de plástico e outros registros, pelos quais não teríamos motivo real para nos orgulharmos de nossa passagem pela Terra.
A escolha do início dessa nova era, chamada por alguns de Era da Humanidade, ainda permanece bastante arbitrária. Os registros de CO2 atmosférico, CH4 e N2O mostram uma clara aceleração em tendências, desde o final do século 18. Por essa razão, o arranque do Antropoceno foi atribuído a esse tempo, imediatamente a seguir da invenção da máquina a vapor, em 1784.
Como resultado do aumento da queima de combustíveis fósseis, das atividades agrícolas, desmatamento e pecuária intensiva, especialmente exploração de gado, vários gases climaticamente importantes com efeito de estufa aumentaram na atmosfera ao longo dos últimos dois séculos: CO2 em mais de 30% e CH4 em mais de 100%, contribuindo substancialmente para o aumento observado da temperatura média global durante o século passado, em cerca de 0,6º C.
De posse dessas informações, um grupo de pesquisadores vem discutindo uma nova abordagem para a sustentabilidade global, em que são definidos limites nos quais espera-se que a humanidade possa sobreviver com “segurança”. Nessa linha de pensamento, transgredir uma ou mais das nove fronteiras planetárias – sistemas de suporte à vida no Planeta e essenciais para a sobrevivência humana – poderá ser prejudicial ou mesmo catastrófico, devido ao risco de limiares, ou pontos de virada, que acionarão uma mudança ambiental abrupta na Terra.
O trabalho de Rockstrom e seus colegas, publicados na revista Ecology and Society, em 2009, foi revisitado nesse ano de 2015, quando estabeleceu-se dois limites principais: mudanças climáticas e de integridade da biosfera – cada um com um grande potencial para conduzir o Planeta a um novo estado e que, portanto, não deveriam ser transgredidos.
Mesmo com todos esses alertas emitidos pela comunidade científica, parece faltar senso de urgência a todos, principalmente às lideranças tomadoras de decisões. Essa ausência de ação pode ser atribuída a falhas de comunicação entre a ciência e a sociedade, ou simplesmente a pura falta de vontade política de nossos governantes. Qualquer uma dessas alternativas precisa ser urgentemente corrigida.
No início deste ano, o pesquisador Douglas McCauley, professor da Universidade da Califórnia, proferiu numa palestra no Aquário de Monterey (EUA), à convite da Fundação SOS Mata Atlântica. A apresentação foi sobre seu recente artigo “Marine defaunation: Animal loss in the global ocean”, publicado na revista Science, qual conclui que a biodiversidade marinha já foi seriamente danificada pelo impacto das atividades humanas. No entanto, ele ressaltou que a fauna marinha, em geral, está em melhores condições do que a fauna terrestre.
Apesar de toda informação e dados científicos sobre a degradação do ambiente marinho, interessava ao pesquisador passar uma mensagem de esperança e oportunidades, entre elas a construção da gestão do espaço marítimo por meio de ferramentas inovadoras, como o planejamento espacial marinho. Entretanto, a mensagem foi percebida pela audiência, pesquisadores e membros de organizações não-governamentais como um tanto quanto negligente, na medida que não transmitia o senso de urgência necessário para incentivar ações emergenciais com relação a recuperar o que ainda nos resta nos nossos oceanos.
O Planeta Terra enfrenta sérias mudanças justamente por negligência da sociedade e dos tomadores de decisão. No Brasil, estamos testemunhando a pior seca que a região Sudeste já registrou, aumento no desmatamento, altas taxas de perda de biodiversidade em variados biomas, agravamento de desastres climáticos e outras crises ambientais. O fato de existir oportunidade para reverter esse cenário, embora possa transmitir esperança, não deve, nem por um segundo, gerar comodismo.

A informação científica e de qualidade deve ser utilizada para mover e estimular ações voltadas a promoção de um desenvolvimento mais sustentável, no qual conservação e desenvolvimento possam caminhar de mãos dadas. Caso contrário, a chamada Era da Humanidade pode vir a ser reconhecida pelas gerações futuras como a Era da Ignorância, uma época em que o conhecimento e a informação existentes não foram utilizados, e necessariamente transformados, em iniciativas inovadoras em prol de um futuro sustentável para essa e para as futuras gerações. (SOS Mata Atlântica/ #Envolverde/Utopia Sustentável)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Região amazônica deve se reinventar ao terminar a obra de Belo Monte


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Um barco turístico atracado à margem do rio Xingu em Altamira, no Pará. A falta de embarcadouros e muitos outros serviços deverá ser corrigida para que o turismo represente uma alternativa para enfrentar o impacto econômico e de emprego do fim da megaconstrução da central hidrelétrica de Belo Monte. Foto: Mario Osava/IPS
Um barco turístico atracado à margem do rio Xingu em Altamira, no Pará. A falta de embarcadouros e muitos outros serviços deverá ser corrigida para que o turismo represente uma alternativa para enfrentar o impacto econômico e de emprego do fim da megaconstrução da central hidrelétrica de Belo Monte. Foto: Mario Osava/IPS

O aproveitamento sustentável da biodiversidade aparece para alguns como a melhor alternativa de desenvolvimento no entorno da grande central hidrelétrica de Belo Monte, agora que a construção está em sua etapa final, no rio Xingu, na Amazônia brasileira.
“A riqueza florestal e o conhecimento tradicional constituem o futuro da região, se forem apoiados com novas formas de financiamento e desenvolvimento tecnológico”, afirmou à IPS Marcelo Salazar, coordenador local do não governamental Instituto Socioambiental (ISA). “A cobertura florestal ainda está presente em 90% dessa área, e oferece alimentos, látex, produtos medicinais e cosméticos, além de potencialidades turísticas, com os conhecimentos de 11 etnias indígenas e muitos trabalhadores extrativistas”, acrescentou.
A hidrelétrica estará completada em 2019, mas já tem 80% de suas estruturas construídas e estarão finalizadas no ano que vem. Ainda levarão mais quatro anos os trabalhos de montagem eletromecânico dos gigantescos equipamentos de geração elétrica, que exigem pouco pessoal.  Isso significará a demissão de dezenas de milhares e devolverá a depressão econômica a alguns dos 11 municípios sob influência de Belo Monte, especialmente Altamira, capital da área em torno do rio Xingu, e a rodovia Transamazônica.
Altamira já viveu algo semelhante com o maciço fechamento de serrarias quando, em 2005, começou uma campanha contra o corte ilegal de árvores, deixando cerca de cinco mil desempregados. O efeito econômico foi dramático para esta cidade de aproximadamente 80 mil habitantes. A localidade ainda arrastava essa crise quando, em 2011, começou a construção da central, com capacidade de geração de 11 mil megawatts, empregando paulatinamente milhares de trabalhadores, a maioria procedente de outras partes do país.
Agora, se prepara para sofrer um impacto mais forte, porque, além do desemprego relacionado às obras, restarão muitos negócios abertos ou ampliados durante o auge da megaconstrução. “Muitos esperavam enriquecer, e isso não aconteceu. Cerca de 20% das empresas vão quebrar, especialmente as que se endividaram, como hotéis e restaurantes instalados à custa de empréstimos”, afirmou Vilmar Soares, dono de uma gráfica e fundador do Forte Xingu, um movimento de empresários locais que apoiam a central de Belo Monte.
Marcelo Salazar mostra alguns produtos florestais no escritório do Instituto Socioambiental de Altamira, no Pará. O aproveitamento sustentável da riqueza florestal e do conhecimento tradicional são, segundo esse especialista, as chaves para garantir o desenvolvimento da área. Foto: Mario Osava/IPS
Marcelo Salazar mostra alguns produtos florestais no escritório do Instituto Socioambiental de Altamira, no Pará. O aproveitamento sustentável da riqueza florestal e do conhecimento tradicional são, segundo esse especialista, as chaves para garantir o desenvolvimento da área. Foto: Mario Osava/IPS
“Cerca de quatro mil pessoas de outras partes que trabalhavam em Belo Monte residem em Altamira, o que fez subir os aluguéis e estimulou a construção, mas quem construiu imóveis com créditos também perderá”, afirmou Soares. E acrescentou que o aluguel já está baixando e cairá muito mais. Isso porque os que continuarão trabalhando na operação e manutenção da central terão um bairro na própria Belo Monte, localidade da principal usina geradora, a 55 quilômetros de Altamira.
Empresário gráfico na cidade há 33 anos, Soares, um imigrante de Goiânia, 1.900 quilômetros ao sul de Altamira, evitou pedidos da Norte Energia, o consórcio que tem a concessão da central por 35 anos. Suas licitações representavam bons negócios, mas temporários e geradores de uma dependência sem futuro, explicou.
“Entretanto a depressão aqui será mais suave do que em outros casos de hidrelétricas, porque houve algum planejamento e debates para que a empresa destinasse recursos a setores definidos, como saúde, educação, saneamento e projetos de desenvolvimento”, destacou Soares.
Não é o que pensa a Igreja Católica local, contrária à hidrelétrica. “O futuro é o desemprego crescente, a violência aumentou e aumentará mais, com 3,5 mortes a cada semana, muitos feridos por bala ou faca no hospital e caos no trânsito”, disse à IPS o vigário da paróquia da Catedral de Altamira, Vandeir Alves.
“Os sonhos de bonança se converteram em pesadelo” para muitos que esperavam uma prosperidade trazida pela hidrelétrica, as compensações anunciadas não foram cumpridas e direitos de indígenas e populações afetadas foram violados, acrescenta o Fórum de Defesa de Altamira (FDA), que reúne 60 entidades como o ISA, sindicatos e associações.
“É turbulência pré-LO”, disse à IPS José de Anchieta dos Santos, diretor socioambiental da Norte Energia, se referindo à Licença de Operação, após concluir a avaliação da autoridade ambiental, de statusnacional, que dará por cumpridas as exigências impostas ao novo projeto e autorizará a formação da represa para geração de energia. “Quando a LO for emitida, acabará a confusão”, ressaltou.
A empresa espera obter essa licença nos próximos meses, mas seria ilegal segundo o FDA, que considera não cumpridas algumas medidas “condicionantes” exigidas nas licenças anteriores, como o saneamento básico da cidade, reurbanização de suas áreas inundáveis e reassentamento de famílias deslocadas. A desordem urbana, algumas ruas com esgoto a céu aberto e as pontes ainda em construção sobre os igarapés (braços do rio) parecem dar razão aos críticos. Mas a Norte Energia responde que tudo estará concluído.
O modesto Hotel Copacabana, em um subúrbio da cidade de Altamira, a maior no entorno da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia brasileira. Agora, a hospedagem tem permanentemente colocado o cartaz de “temos vagas”, ao contrário do que ocorreu durante o auge da construção. Foto: Mario Osava/IPS
O modesto Hotel Copacabana, em um subúrbio da cidade de Altamira, a maior no entorno da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia brasileira. Agora, a hospedagem tem permanentemente colocado o cartaz de “temos vagas”, ao contrário do que ocorreu durante o auge da construção. Foto: Mario Osava/IPS
“É preciso tempo, em cinco anos Altamira será outra cidade”, transformada pelas obras de saneamento, escolas, hospitais e centros de saúde construídos ou reformados, um parque e praias à margem do rio, afirmou Anchieta. No futuro a cidade será um polo de serviços de saúde, reforçado pela Escola de Medicina já aprovada, e poderá desenvolver o turismo ecológico favorecido pelo rio e pela selva próxima, acrescentou.
Vitória do Xingu, município vizinho com cerca de 17 mil habitantes, saiu na frente. Concluiu o saneamento, ordenou a cidade e está criando sua secretaria e rotas de turismo, aproveitando que em seu território fica a principal unidade de Belo Monte, uma atração como obra gigante de engenharia, capaz de gerar 11 mil megawatts. Na estrada de 40 quilômetros entre Vitória e a represa, já há vários hotéis rurais e será construída em um monte uma área de onde será possível observar todo o Baixo Xingu, incluindo a central, disse à IPS o engenheiro municipal José Odinaldo Caldas.
Cascatas que não serão afetadas pela represa, corredeiras para esportes náuticos, cavernas e trilhas florestais parra avistamento de fauna são outros projetos a explorar, acrescentou Joel Yamanaca, secretário municipal de Planejamento. Também será desenvolvida a pecuária com indústria láctea, avicultura, piscicultura, horticultura e produção de farinha de mandioca com fartos estímulos oficiais. “O desemprego afetará somente mão de obra não qualificada”, acrescentou. Mas Altamira, com população oito vezes maior, sempre terá mais hotéis, restaurantes e comércio, admitiu.
Renato Filipine, de 44 anos, se autodefine como “um tremendo empreendedor” por ampliar esses serviços. Há apenas quatro anos em Altamira, já possui dois hotéis e um restaurante com 17 mesas. Está para abrir mais dois restaurantes, um perto de Belo Monte, onde prevê um grande mercado futuro. Ele não teme a depressão econômica, embora um de seus hotéis, o modesto Copacabana, que acolhe operários e suas mulheres nos fins de semana, esteja condenado com o fim da construção. “Altamira segue sendo o melhor lugar do Brasil, só precisamos nos adequar às mudanças”, esse é o seu lema.
Para Salazar, do ISA, a prioridade é a produção extrativista, como se define no Brasil o manejo sustentável e delimitado de florestas, porque nisso a região é competitiva, e não em agricultura e menos ainda em pecuária. E pode-se melhorar, com “leis adequadas, tecnologias apropriadas, gestão das cadeias empresariais e melhor logística fluvial”, ressaltou.

Algumas empresas, como a Natura Cosméticos e a panificadora Wickbold, já compram matérias-primas e castanhas das florestas locais. Reunindo extração florestal, agricultura familiar e industrialização, Altamira pode ser um dos vários polos de economia da biodiversidade amazônica, concluiu Salazar. Envolverde/IPS/Utopia Susttentável

Suspensão dos transgênicos


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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Em Carta aberta com 29 pontos, cientistas alertam para os perigos que os transgênicos representam para a segurança alimentar e a biodiversidade
Preocupados com os perigos dos transgênicos para a sociedade, 815 cientistas lançaram, no último dia 7, uma carta aberta exigindo à proibição de qualquer tipo de cultivo desses alimentos, pois “ameaçam a segurança alimentar e violam os direitos humanos básicos e a dignidade”.
Para eles, o cultivo dos transgênicos também intensifica o monopólio corporativo, exacerbam as desigualdades e impedem a mudança para uma agricultura sustentável que garanta a segurança alimentar e a saúde em todo o mundo.
A carta ainda destaca que fontes dos governos ingleses e norte-americanos já alertam sobre os perigos dos transgênicos para a biodiversidade e a saúde humana, pois podem gerar doenças infecciosas incuráveis e câncer.
A carta é assinada por 815 cientistas de 82 países, entre os quais estão:
Dr. David Bellamy, Biólogo e artista, Londres, Reino Unido;
Prof. Liebe Cavalieri, Matemática Ecologista, Univ. Minnesota, EE.UU.;
Dr. Thomas S. Cox, geneticista, Departamento de Agricultura de EE.UU. (aposentado), Índia;
Dr. Tewolde Egziabher, porta-voz para a Região da África, Etiópia Dr. David Ehrenfeld, biólogo / ecólogo da Universidade de Rutgers, EE.UU.;
Dr. Vladimir Zajac, Oncovirologista, Geneticista, Cancer Reseach Inst., República Checa;
Dr. Brian Hursey, ex-oficial superior da FAO para as doenças transmitidas por vetores, Reino Unido;
Prof. Ruth Hubbard, geneticista da Universidade de Harvard, EE.UU. Prof. Jonathan King, biólogo molecular, MIT, Cambridge, EE.UU.;
Prof. Gilles-Eric Seralini, Laboratoire de Biochimie y Moleculaire, Univ. Caen, França;
Dr. David Suzuki, geneticista, David Suzuki Foundation, Univ. Columbia Britânica, Canadá;
Dra. Vandana Shiva, física teórica e ecologista, Índia;
Dr. George Woodwell, Diretor, Centro de Pesquisa Woods Hole, EE.UU.;
Prof. Oscar B. Zamora, Agrônomo, U. de Filipinas, Los Baños, Filipinas.
Segue a carta na íntegra
Nós, cientistas abaixo-assinados, pedimos a suspensão imediata de todas as licenças ambientais para cultivos transgênicos e produtos derivados dos mesmos, tanto comercialmente como em testes em campo aberto, durante ao menos cinco anos; as patentes dos organismos vivos, dos processos, das sementes, das linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas; e exige-se uma pesquisa pública exaustiva sobre o futuro da agricultura e a segurança alimentar para todos.
As patentes de formas de vida e processos vivos deveriam ser proibidas porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos conhecimentos indígenas e dos recursos genéticos, violam os direitos humanos básicos e a dignidade, o compromisso da saúde, impedem a pesquisa médica e científica e são contra o bem-estar dos animais.
Os cultivos transgênicos não oferecem benefícios para os agricultores ou os consumidores. Em vez disso, trazem consigo muitos problemas que foram identificados e que incluem o aumento do uso de herbicidas, o desempenho errático e baixos rendimentos econômicos para os agricultores. Os cultivos transgênicos também intensificam o monopólio corporativo sobre os alimentos, o que está levando os agricultores familiares à miséria e impedindo a passagem para uma agricultura sustentável que garanta a segurança alimentar e a saúde no mundo.
Os perigos dos transgênicos para a biodiversidade e a saúde humana e animal são agora reconhecidos por várias fontes dentro dos Governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. Consequências especialmente graves se associam ao potencial de transferência horizontal de genes. Estes incluem a difusão de genes marcadores de resistência a antibióticos a ponto de tornarem doenças infecciosas incuráveis, a criação de novos vírus e bactérias que causam doenças e mutações danosas que podem provocar o câncer.
No Protocolo de Biossegurança de Cartagena negociado em Montreal em janeiro de 2000, mais de 120 governos se comprometeram a aplicar o princípio da precaução e garantir que as legislações de biossegurança em nível nacional e internacional tenham prioridade sobre os acordos comerciais e financeiros da Organização Mundial do Comércio.
Sucessivos estudos documentaram a produtividade e os benefícios sociais e ambientais da agricultura ecológica e familiar, de baixos insumos e completamente sustentável. Ela oferece a única forma para restaurar as terras agrícolas degradadas pelas práticas agronômicas convencionais e possibilita a autonomia dos pequenos agricultores familiares para combater a pobreza e a fome.

Instamos o Congresso dos Estados Unidos a proibir os cultivos transgênicos, já que são perigosos e contrários aos interesses da agricultura familiar; e a apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de métodos de agricultura sustentável que podem realmente beneficiar as famílias de agricultores em todo o mundo.Envolverde/Utopia Sustentável

terça-feira, 23 de junho de 2015

O clima definitivamente entrou na pauta global



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08/06/2015- Alemanha , A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pediu aos líderes do G7 para se comprometerem com objetivos mais duros para cortar os gases causadores do efeito-estufa no último dia da cúpula do Grupo dos Sete nos Alpes da Baviera.
08/06/2015- Alemanha , A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pediu aos líderes do G7 para se comprometerem com objetivos mais duros para cortar os gases causadores do efeito-estufa no último dia da cúpula do Grupo dos Sete nos Alpes da Baviera. Foto: Stefenn Kugler/ Governo da Alemanha
Notícias das últimas semanas revelam preocupação com as mudanças climáticas e seus efeitos, mas ainda falta o Brasil entrar no clima
Já não era sem tempo e nem por falta de sinais gritantes das mudanças climáticas, cada vez mais intensos e preocupantes. Finalmente, a questão foi reconhecida como uma seríssima ameaça a sobrevivência do ser humano num planeta mais quente e instável.
As boas notícias começaram no encontro do G-7, o grupo de países mais desenvolvidos do mundo (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, EUA, Canadá e Japão) reunidos na Alemanha, que decidiu, pela primeira vez, encarar de frente o desafio de “descarbonizar” a economia. Ou seja, por um fim, mesmo que a longo prazo, ao uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) que tem sido a base energética da economia mundial ao menos há 200 anos.
Inicialmente o acordo dos países ricos prevê a redução entre 40 e 70%, até o ano de 2050, das emissões de gases de efeito estufa; e o comprometimento com aportes de recursos para um fundo de US$ 100 bilhões a serem investidos em tecnologia para a adoção de energias limpas e renováveis nos países pobres, principalmente no continente africano.
O objetivo mais imediato dos países que compõem o G7 é o de frear o aquecimento do planeta para que não ultrapasse os dois graus centígrados, considerados pelos cientistas um patamar crítico, já que o aumento da temperatura média poderá acarretar em mais fenômenos climáticos extremos, extinção acelerada de espécies, além de acarretar no aumento nos níveis dos oceanos, entre outras consequências. Segundo o comunicado emitido pelo G7 a economia mundial deverá estar “descarbonizada” até o ano de 2.100.
Ainda faltam detalhes sobre como será a execução do plano na prática, mas o anúncio e a importância dada ao tema são inéditos e demonstram claramente a preocupação desses líderes com o futuro do planeta. Isso não é pouca coisa. Muitos entenderam a posição como histórica, por representar o início do fim da era dos combustíveis fósseis, até aqui a base da economia global desde a Revolução Industrial.
Papa antenado com o clima
A outra boa notícia veio do Vaticano e eis que mais uma vez o Papa Francisco surpreende e renova o seu empenho em falar sobre problemas contemporâneos. Desta feita em sua primeira encíclica – “Laudato si’” (Louvado sejas), ele cita o Patriarca Ecumênico Bartolomeu: “Um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus.”
Turistas no Vaticano passam por cartaz sobre a encíclica papal que tratou do clima
Turistas no Vaticano passam por cartaz sobre a encíclica papal que tratou do clima

Se não fosse pouca coisa, o Papa ainda afirma, fazendo uma direta referência às mudanças climáticas: “o urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”.
Em consonância com os preceitos adotados desde a Conferência das Nações Unidas, a Rio+20, no Rio de Janeiro em 2012, que colocou o desenvolvimento sustentável ao lado da erradicação da pobreza, o Papa Francisco fez coro e reforçou a sua preocupação com os menos favorecidos: “São inseparáveis as preocupações com a natureza, a justiça para com os pobres, o empenho da sociedade e a paz interior.”
E agora Brasil?
Em recentes declarações durante o encontro de cúpula com a União Européia a Presidenta Dilma Roussef afirmou que o Brasil tem sido um dos países que mais reduziu suas emissões, graças principalmente a queda do desmatamento. Mesmo assim, para a 21ª Conferência do Clima a ser realizada em Paris no final do ano, será preciso um compromisso mais efetivo e não apenas jogo de palavras.
Nessa ocasião deverão ser assumidos novos compromissos para substituir o Protocolo de Kyoto com metas mais ambiciosas para todos os países. Ainda mais entre os maiores emissores, caso do Brasil que ocupa a 10ª posição. As pressões sobre o governo já começaram, entre elas, o Lançamento da Coalizão Brasil: Clima, Florestas e Agricultura, movimento com a presença de mais de 50 entidades representantes do setor privado e de importantes organizações do terceiro setor, nesta semana que, “pretende propor e promover políticas públicas para o estímulo à agricultura, pecuária e economia florestal que impulsionem o Brasil como protagonista na liderança global da economia sustentável e de baixo carbono, gerando prosperidade, com inclusão social, geração de emprego e renda”.
A Coalizão vai divulgar um documento que apresenta propostas de políticas e ações efetivas que devem contribuir para a estruturação da posição do Brasil na COP21.
Nesses seis meses que faltam para o encontro de Paris novas discussões e debates virão e o Brasil deve entrar no clima positivo que começa a tomar corpo mundo afora. (Carta Capital/ #Envolverde)
Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
** Publicado originalmente no site Carta Capital.

Alertas de desmatamento mais que dobram


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Área desmatada em Roraima, identificada graças ao SAD, foi alvo de protesto do Greenpeace: "Sem floresta não tem água!" Foto:© Marizilda Cruppe/Greenpeace
Área desmatada em Roraima, identificada graças ao SAD, foi alvo de protesto do Greenpeace: “Sem floresta não tem água!” Foto:© Marizilda Cruppe/Greenpeace
De acordo com dados do SAD, em maio foram registrados 389 km² de alertas de desmatamento na Amazônia. O estado do Amazonas e o Mato Grosso lideraram na destruição
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou na quinta-feira (18) os resultados de seu Sistema de Alertas de Desmatamento na Amazônia Legal (SAD) de maio, reafirmando a tendência de aumento do desmatamento no bioma. No mês passado foram registrados alertas em uma área de 389 km², destruição 110% maior que a identificada em maio de 2014.
Mas a surpresa deste mês veio do Amazonas, que registrou a maior área de alertas de desmatamento (27%), ao lado do Mato Grosso. O estado não costuma figurar entre os maiores desmatadores do bioma, mas isso parece estar mudando: entre os três municípios mais desmatados em maio, dois estão no Amazonas.
O município de Lábrea (AM) perdeu o equivalente a aproximadamente 6. 300 campos de futebol. A região, na fronteira com Rondônia e parte do Acre, tem sido apontada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) como uma das mais críticas na escalada na violência no campo, e tem sido alvo de ação de madeireiros ilegais e grileiros que promovem o avanço da fronteira agrícola sob a floresta. Para piorar, há poucos meses uma reforma política colocou fim a órgãos estaduais de gestão ambiental e cortou quase metade do orçamento da Secretaria de Meio Ambiente do estado.
De agosto de 2014 à maio de 2015 foram registrados alertas de desmatamento em 2.286 km², um aumento de 170% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foi de 846 km².
Em maio de 2015, a maioria (55%) das áreas com alertas localizavam-se em terras privadas ou sob diversos estágios de posse. As Unidades de Conservação assumiram o segundo lugar, concentrando 31 % da área total alertas.
“A tendência de aumento do desmatamento nos mostra que estamos indo na contramão do que deveríamos fazer, já estamos pagando a conta por tanta devastação. É hora da sociedade se posicionar e colocar um ponto final do desmatamento, que tão mal nos faz. Sem floresta não tem água, não tem ar fresco, não tem qualidade de vida”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace.
O boletim do SAD é publicado mensalmente pelo Imazon, com base em análise de imagens de satélite, e traz os chamados “alertas de desmatamento e degradação florestal”, indicando que algo pode estar errado com a floresta. Apesar de serem apenas indicadores, infelizmente, as informações apuradas pelo SAD costumam se comprovar em terra. Foi o que verificamos em abril, quando a partir dos alertas do SAD encontramos uma grande área recém-desmatada em Roraima, que foi alvo de protesto relacionando a a importância de acabar o desmatamento para garantir água na torneira.
Mais de 1,1 milhões de brasileiros já declararam seu apoio a um projeto de Lei que torna o Desmatamento Zero uma regra no Brasil. A ciência, as religiões e o próprio clima vem mostrando que o planeta não suporta mais destruição.
Precisamos de uma mudança profunda e você pode ajudar a construir um futuro com florestas. O Desafio Salve as Florestas, no ar desde quarta-feira (16), tem como objetivo o engajamento da sociedade para a reunir mais assinaturas em favor do projeto e promover esse debate Brasil afora. Participe e ajude a mostrar para todos o mundo que queremos. (Greenpeace Brasil/ #Envolverde/Utopia Sustentável)