sábado, 13 de dezembro de 2014

Trabalho escravo em produção da Renner é descoberto na zona norte de SP





Mais uma marca famosa e popular está envolvida com trabalho análogo a escravidão no Brasil. Desta vez, é uma linha de fornecimento das Lojas Renner, que agora tem seu nome marcado pela descoberta de que bolivianos ganhavam 85 centavos por cada peça produzida.
Com o nome de Oficina de Costura Letícia Paniágua, funcionava a fábrica no Tremembé, bairro da zona norte. Eram 37 funcionários bolivianos que trabalhavam e moravam no local – todos foram resgatados pelo Ministério do Trabalho.
A investigação, que durou três meses, encontrou no local 35 mil peças da Renner, das marcas Cortelle, Just Be, Blue Steel e Blue Stell Urban. Foi constatado condições degradantes de alojamento, jornada de 16 horas de trabalho, retenção e descontos indevidos de salários, servidão por dívida, uso de violência psicológica, verbal e física. No total, a Renner recebeu 30 autuações no valor de R$ 2 milhões.
“O boliviano M. S. produzia 26 vestimentas da Renner por hora. Em 2013, um cronômetro ao lado da máquina de costura controlava o ritmo de produção. Se a meta não fosse atingida, o valor era descontado do salário de 1,082 mil reais. Também eram abatidos valores de emissão de documentos, multas por não cumprimento de tarefas como lavar banheiros, pagamentos de creche e custos por materiais de trabalho quebrados”, descreve a reportagem da Carta Capital. Neste ano, o controle de tempo passou a ser feito por peça produzida, aumentando o número de horas trabalhadas diariamente.
No alojamento, uma das coisas que mais impressionou os investigadores foi a comida. As condições de sujeira, com baratas e ratoeiras espalhadas no local, alimentos vencidos, explicam as infecções intestinais detectadas em alguns trabalhadores.
Os auditores fiscais do Ministério do Trabalho foram até o Rio Grande do Sul, onde está a sede da Renner, para comprovar a ligação direta da empresa com a oficina. Em nota, a Renner confirmou que a oficina é contratada de dois de seus fornecedores, a Kabriolli e a Betilha, mas que não compactuam e repudiam o uso de mão de obra irregular.
A Renner ainda destacou que toda sua cadeia produtiva é fiscalizada e tem certificação da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex). Para o auditor fiscal Luís Alexandre de Faria, este foi o primeiro caso de trabalho análogo ao de escravidão encontrado em uma rede fiscalizada privadamente pela associação de fabricantes.
Em entrevista à Agência Brasil, o superintendente regional do Trabalho em São Paulo, Luiz Antônio de Medeiros Neto, afirma que incluir a marca na lista suja do trabalho escravo é pouco. “As condições de trabalho dessa oficina são muito graves, chocantes. Botar a Renner na lista suja [de trabalho escravo] do ministério é pouco. Multar a Renner em R$ 2 milhões é pouco diante da situação de degradação do trabalhador”, afirmou. CicloVivo/Utopia Sustentável

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