domingo, 30 de novembro de 2014

COP 20: ‘É hora de agir’




COP20 COP 20: É hora de agir
Foto: Observatório do Clima

Que se pode esperar da reunião a ser promovida pela ONU em Lima, no Peru, de representantes de quase 200 países, do próximo dia 10 ao dia 12, para discutir um acordo “vinculante”, no âmbito da Convenção do Clima, em que todos se comprometam a reduzir emissões de poluentes que aumentam a temperatura do planeta? Até aqui, dizem os promotores que pretendem chegar a um “rascunho” do acordo com metas obrigatórias, a ser assinado até o final do ano que vem, em Paris, e que vigore a partir de 2020. Mas, apesar das datas distantes, há certo ceticismo quanto à possibilidade de acordo mesmo para um rascunho, tantas são as divergências entre países industrializados, de um lado, e “emergentes” e “subdesenvolvidos”, do outro, quanto à definição das responsabilidades de cada um na redução (hoje, 1 bilhão de pessoas mais prósperas emitem metade dos poluentes no mundo; 3 bilhões na faixa intermediária, 45%; e 3 bilhões – metade sem energia elétrica – emitem 5%).
Os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) são categóricos: é preciso reduzir até 2050 as emissões em 40% a 70% do que são hoje para impedir que a temperatura do planeta suba mais que 2 graus Celsius (já subiu 0,85% em relação ao século 19); e chegar a zero nas emissões até o fim deste século. O último relatório, de 5 mil páginas, foi escrito por 800 cientistas, que reviram os estudos de mais de 30 mil no mundo todo. Por isso o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, é categórico. “A ciência já falou. Não há ambiguidade. É hora de agir”, disse ele na última reunião do IPCC, em Copenhague.
E as tarefas não são fáceis. Em 2030 é preciso emitir 15% menos do que em 2010. É preciso trabalhar imediatamente no reflorestamento para que as áreas recuperadas ajudem na redução de temperaturas; avançar com a eficiência energética, que pode ajudar a reduzir a quantidade de poluentes emitidos na queima de combustíveis fósseis (carvão, óleo, gás) entre 3 bilhões e 7 bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono equivalente. Mas um dos avanços que também se conseguiria com isso seria reduzir os 7 milhões de mortes anuais por causa da poluição do ar (estudo da Organização Mundial de Saúde) na Índia, no Brasil, na China, no México e nos Estados Unidos – além da geração de 7 milhões de empregos nas áreas de energias renováveis. Tudo isso feito, as emissões anuais, que estarão em 47 gigatoneladas de CO2 em 2025, chegariam a 2050 com 22 gigatoneladas (55% menos que em 2012). Se nada for feito, poderemos chegar a 87 gigatoneladas em 2050.
Mas para avançar, calcula sir Nicholas Stern, estudioso respeitado, é preciso investir nos próximas anos nada menos que US$ 90 trilhões (quase 40 vezes o PIB brasileiro). E, pensam os cientistas, eliminar os subsídios ao consumo de combustíveis fósseis, hoje na casa dos US$ 600 bilhões por ano. E seguir nos caminhos de 2012, quando foram investidos cerca de US$ 360 bilhões em programas de eficiência energética, além de US$ 244 bilhões em energias renováveis.
Há quem veja como sinal para otimismo o fato de Estados Unidos e China (que, juntos, emitem 45% do total de poluentes, hoje) haverem firmado acordo pelo qual os norte-americanos se comprometem a reduzir suas emissões entre 26% e 28% até 2025, enquanto os chineses só diminuirão em 20% seu consumo de combustíveis fósseis a partir de 2030. Os mais céticos ironizam as datas. E François Hollande, presidente da França, pede mais pressa, porque um fracasso no acordo global “pode levar à guerra” e à “catástrofe” (Business and Financial News, 7/11). Angela Merkel, a chanceler alemã, pede à Austrália que reveja sua posição contra o acordo: os desastres do clima “não se limitarão a algumas ilhas do Pacífico, atingirão todos os países” (17/11).
Por essas e outras, diz um dos relatórios da ONU (AP, 19/11) que o mundo ainda não está no caminho de evitar os perigos gerados pelas ações humanas; seria preciso baixar as emissões para 42 bilhões de toneladas métricas de CO2 em 2030 – quando as projeções de hoje são para 15 bilhões a 19 bilhões de toneladas acima disso.
Há países já francamente assustados. O Nepal, por exemplo, mostra que a cobertura de gelo em suas montanhas se reduziu em 1.266 quilômetros quadrados em duas décadas – e o abastecimento de água de milhões de pessoas depende dela. Botswana demonstra que secas e inundações estão arrasando o país . O Banco Mundial manifesta preocupação com o que está acontecendo na Groenlândia e na Antártida. Se as temperaturas continuarem a subir, afirma (23/11), o nível dos oceanos poderá elevar-se em até 2,3 metros nos próximos séculos. Colheitas de soja no Brasil poderão baixar 70%; de trigo, 50%. O oeste dos Estados Unidos enfrenta uma sucessão de nevascas (dez pessoas morreram na última). A área dos vinhos na França está sofrendo com calor inédito e tempestades de granizo (Estado, 16/11). Lembra o Peru que em 30 anos os Andes perderam pelo menos 30% da cobertura de gelo.
Não estranha. De janeiro a outubro deste ano a temperatura média global esteve em 14,78 graus Celsius, a mais alta desde 1880, segundo a Agência de Administração Oceânica e da Atmosfera (NOAA), dos EUA. Ou 0,68 grau acima da média do século 20; recorde em cinco dos últimos seis meses.
Dinheiro resolveria, como o do Green Climate Fund, com o qual se espera reunir US$ 100 bilhões anuais para ajudar os países mais pobres e vulneráveis? Mesmo que seja, até agora só reuniu US$ 5 bilhões.
No Brasil, continuamos mergulhados em polêmica. Diz o Observatório do Clima (Estado, 25/11) que em 2013 aumentaram nossas emissões (1,57 bilhão de toneladas de CO2, mais 7,8%); diz o Ministério do Meio Ambiente que a metodologia oficial difere da que é usada nessa medição. Mas é tudo muito preocupante com os números sobre a perda de florestas – que está influenciando no clima, nas chuvas, no abastecimento.Washington Novaes é jornalista.

sábado, 29 de novembro de 2014

O futuro do planeta e a irresponsabilidade dos governos




planetasustentavel O futuro do planeta e a irresponsabilidade dos governos
O último informe do IPCC é muito mais dramático do que os anteriores: afirma de maneira concludente que a mudança climática se deve à ação do homem, e expõe uma extensa revisão sobre os danos que afetarão o setor agrícola, sobretudo em países pobres como a Índia. Foto: http://www.shutterstock.com/
Depois de alguns dias durante os quais todos celebraram o acordo histórico entre Estados Unidos e China sobre a redução das emissões de CO2, assinado no dia 12 deste mês, uma ducha muito fria chegou da Índia.
O ministro indiano de Energia, Piyush Goyal, declarou: “Os imperativos de desenvolvimento da Índia não podem ser sacrificados no altar de uma potencial mudança climática futura que demorará muitos anos. O Ocidente terá que reconhecer que nós enfrentamos as necessidades da pobreza”.
Trata-se de um duro golpe para o presidente norte-americano, Barack Obama, que após a assinatura de Pequim no acordo sobre redução de emissões de CO2 (dióxido de carbono) voltou para casa alardeando seu sucesso em estabelecer a política na região asiática.
Porém, mais importante ainda é que a posição de Nova Délhi fornece abundante munição ao Congresso norte-americano, controlado pela oposição republicana, que argumenta que os Estados Unidos não podem participar do controle climático, a menos que outros grandes contaminadores assumam compromissos semelhantes.
Este argumento se referia principalmente à China, que se recusava a qualquer tipo de compromisso até que seu presidente, Xi Jinping, para surpresa de todos, assinou o acordo com Obama.
A Índia é um país contaminador importante. Não chega aos níveis da China, que soma 9.900 toneladas métricas de CO2, contra 6.826 dos Estados Unidos, mas aumenta suas emissões rapidamente.
Goyal anunciou que o uso de carvão nacional na Índia passará dos 565 milhões de toneladas registrados no ano passado para mais de um bilhão de toneladas em 2019, e está entregando concessões para extração de carvão em grande velocidade.
Entretanto, o novo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, proclamou que realizará um amplo programa de desenvolvimento de fontes renováveis de energia.
Há um aparente paradoxo no fato de muitos cientistas que integram o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) serem indianos, como seu diretor, Rajendra K. Pachauri, que também é diretor-executivo do Instituto de Recursos Energéticos da Índia.
O último informe do IPCC é muito mais dramático do que os anteriores: afirma de maneira concludente que a mudança climática se deve à ação do homem, e expõe uma extensa revisão sobre os danos que afetarão o setor agrícola, sobretudo em países pobres como a Índia. O documento prevê que ao menos 37 milhões de pessoas serão deslocadas pela elevação do nível dos mares.
Metade dos agricultores indianos depende da água das geleiras do Himalaia, que estão derretendo pelo aquecimento global. As cidades da Índia são as mais contaminadas do mundo, e várias vezes ao ano se supera o pior dia de contaminação na China.
Porém, o mais preocupante é que os governos estão reagindo com extrema lentidão. Seria necessário um grande esforço, que não figura na agenda climática, para impedir que a temperatura global aumente mais do que dois graus centígrados, para depois começar a diminuir as emissões até 2020.
Estima-se que em 2014 as emissões serão as mais altas da história e chegarão a 40 bilhões toneladas, contra 32 bilhões de toneladas em 2010.
Existe consenso de que, para limitar o aquecimento do planeta a não mais do que dois graus centígrados acima do nível pré-industrial, os governos deveriam limitar as emissões adicionais procedentes de combustíveis fósseis a não mais de um trilhão de toneladas de dióxido de carbono.
Mas, segundo a investigação do IPCC, as companhias de energia já programaram reservas de carbono e petróleo que igualam várias vezes essa quantidade e estão investindo cerca de US$ 600 bilhões por ano em novas explorações.
Em contraste, gasta-se menos de US$ 400 bilhões por ano para reduzir as emissões. Essa quantidade é menor do que a renda de uma única corporação petroleira norte-americana, a ExxonMobil.
A última reunião do Grupo dos 20 (G20) países ricos e emergentes, realizada na cidade australiana de Brisbane, nos dias 15 e 16 deste mês, deu ao clima uma atenção inesperada.
Mas as nações do G20 gastam US$ 88 bilhões anuais em subsídios para a exploração de hidrocarbonos, que é o dobro do que investem para esse fim as 20 empresas privadas mais importantes do planeta.
Outro bom exemplo da falta de coerência dos governos ocidentais é que prometeram US$ 10 bilhões para o Fundo Verde para o Clima, cuja tarefa é apoiar os países do Sul em desenvolvimento na mitigação e adaptação à mudança climática.
Essa quantia é apenas dois terços do previsto para a criação do Fundo em 1999, que ainda está longe de ser operacional.
E agora a discussão passa para a 20ª Conferência das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá nos 12 primeiros dias de dezembro em Lima, onde é previsível que, novamente, os governos serão incapazes de conseguir um acordo satisfatório sobre os problemas climáticos.
Se isso acontecer, diminuirá ainda mais o tempo disponível para a salvação do planeta.
Além da anunciada resistência por parte do Congresso norte-americano, se prevê a oposição de várias nações dependentes dos combustíveis fósseis, como Rússia, Austrália, Índia, Venezuela, Irã, Arábia Saudita e os países do Golfo.
Essas atitudes demonstram a ausência de coerência e de responsabilidade por parte dos governos.
Roberto Savio1 O futuro do planeta e a irresponsabilidade dos governos
Roberto Savio. Foto: IPS
E, quanto à opinião pública, se for feito um referendo perguntando à sociedade se prefere pagar US$ 800 bilhões a menos de impostos, retirando os subsídios contra a contaminação, há pouquíssimas dúvidas de que sairia ganhadora a redução tributária.
O mesmo resultado se obteria se lhe fosse perguntado se prefere gastar esses US$ 800 bilhões em energia limpa ou deixar as coisas como estão.
Uma agravante é que as corporações energéticas e os governos têm uma relação incestuosa, que está fora da vista do público.
Tudo isso prova que, quando estão em jogo a sobrevivência das ilhas, das costas, da agricultura e dos pobres, os governos não são capazes, ou não desejam, ver além de sua existência imediata.
A conclusão é que nossa geração precisa urgente e desesperadamente de uma governança global que seja capaz de enfrentar esse catastrófico tipo de globalização. Envolverde/IPS
Roberto Savio é fundador e presidente emérito da agência de notícias Inter Press Service (IPS) e editor do boletim Other News. (IPS) 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Não podemos perder a capacidade de nos indignar



Esta semana recebi interessante artigo de Ricardo Semler, tucano de carteirinha, com ficha abonada por Montoro, Serra, Covas e FHC, intitulado “Nunca se roubou tão pouco”.  

Conheço Semler e um pouco de seus pensamentos por conta de seus livros, o mais interessante “Virando a própria mesa”, em que conta como sua vida virou do avesso a partir da morte do pai e a inesperada herança que o obrigou a entrar prematuramente para comandar os negócios da família.   Com situação financeira ruim e métodos de gestão atrasados, a SEMCO tinha um único produto e estava em declínio no mercado.  Vale a leitura.

Certamente o artigo é uma luz no fim do túnel de incertezas e lamentações em que se transformou a gigante do petróleo nacional e deve ter soado como música para ouvidos petistas e de funcionários da estatal, até aqui acuados como se nas cordas estivessem vendo a empresa em que trabalham apanhar de uma mídia hipócrita travestida de Mike Tysson. 

Mas apesar de concordar com a descrição do cenário de falcatruas usualmente utilizado por corruptos, corruptores e políticos, instalados de forma generalizada, desde sempre, dentro de organismos governamentais prontos a sangrar os cofres da Nação, nada vai justificar ou me convencer da bandalheira criminosa que tristemente assistimos, hoje, na empresa, imposta pelo PT e aliados em nome da tal da governabilidade.  Isto sempre será INJUSTIFICÁVEL!!!




Tenho vários parentes trabalhando na estatal e todos pouco falam do que acontece lá, estão envergonhados, acabrunhados.  A sensação real quando se lê um artigo como esse ( e senti um pouco isso quando recebi o texto), é que se apegam a qualquer coisa boa que leem e rapidamente a repassam a amigos e parentes visando ajudar a defesa da empresa, o que é louvável.  Outra questão é que para a grande maioria (funcionários concursados) que entrou ali para fazer carreira, aquele será seu único emprego na vida. 

Oriundo de empresa pública e defensor incondicional delas, sempre acreditei que seus funcionários têm missão que vai um pouco além daqueles que trabalham em empresas privadas, afinal, tendo como patrão o próprio Estado, carregam consigo a responsabilidade de, investidos no cargo, também defender o país, daí a diferença para aqueles que trabalham para um “patrão” privado. 

Ainda na semana passada, assisti à entrevista do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, AEPET, Silvio Sinedino, afirmar à jornalista Monica Waldvogel, da Globo News, que a Ouvidoria da Petrobras - órgão destinado a receber denúncias, reclamações, sugestões e colaborações, entre outras tarefas - jamais recebeu denúncia sobre desvios, corrupção ou malfeitos cometidos por qualquer funcionário ou colaborador.  Se é verídica a afirmação, a questão merece uma reflexão, vejamos: funcionários de estatais (à parte a nomenclatura da legislação trabalhista) são servidores do estado brasileiro e por ele devem zelar, principalmente no quesito ética. 

Como funcionário de empresa estatal lembro bem de 86 quando Sarney, recém empossado no lugar de Tancredo, resolveu acabar com o BNH e funcionários das principais estatais do país juntaram-se através das várias associações e sindicatos de classe para barrar a estúpida ideia criando a “Câmara de Estatais”.  Eram outros tempos, concordo, mas esses servidores sempre eram vistos com orgulho pelas empresas em que trabalhavam.  Portanto, fica a pergunta: se sabedores de malfeitos causadores de prejuízos à empresa e ao país, não teriam obrigação de denunciar tais fatos a instâncias superiores (ouvidorias), imprensa, tentando barrar ou interromper tais práticas? Afinal, quem tem ciência de um crime e não o denuncia, passa a ser conivente com ele, ou não?   E os sindicatos e associações que em nenhum momento se manifestaram, será que também não receberam denúncias?   Reconheço que entidades representativas têm sempre a tendência de proteger a corporação, porém, nesse caso, o corporativismo foi maligno para a empresa e seus empregados.

Que me desculpem os funcionários, mas acho improvável crimes dessa magnitude serem cometidos sem rastros visíveis de ilegalidade e o conhecimento de várias pessoas.  Mais, a liberação de quantias tão vultosas forçosamente passou em várias mãos.   Isto não funciona no automático, têm regras, padrões pré-estabelecidos a serem seguidos.




Sei que a questão é delicada pois está envolta em perigoso ingrediente político.  Entendo e respeito o medo de alguns em não querer se intrometer por não gostar de política ou querer apenas preservar os merecidos salários e PL’s que recebem, sem se envolver, afinal, às vezes, é melhor não arriscar ficar marcado, porém, nesse caso, a empresa estava sendo saqueada. 

Não estou aqui pregando um denuncismo irresponsável, tampouco futricas e intrigas por questões particulares ou emocionais, mas a questão é tão grandiosa que o corpo funcional poderia ter precipitado o processo lá atrás.  

De ressaltar, importante esclarecer que a lei que permitiu esta “maior agilidade e competitividade à empresa”, hoje, o Regime de Contratação Diferenciada, RDC, foi instituída em 1998, no governo FHC.   

Não é simples engolir desculpas de que apenas a casta superior agiu sozinha tungando a empresa e a Nação.  Todos têm, mesmo infimamente, sua parcela de responsabilidade.  Afinal, foram bilhões desviados que poderiam (e deveriam) estar sendo usados em prol de uma melhor saúde, educação, mobilidade urbana, combate ao desmatamento e políticas ambientais e de sustentabilidade.

Guardo sempre uma frase proferida pelo grande Betinho quando da campanha contra a fome e a miséria: “Não podemos passar por cima de nossos pedintes com fome na rua a nos implorar ajuda para comer como se fosse algo normal.  Não podemos perder a capacidade de nos indignar”.   E acrescento...não podemos relativizar fatos tão graves, não podemos achar normal roubar.  A Governabilidade não pode, jamais, ser sinônimo de corrupção.  

Abraços Sustentáveis


Norte-americana cria camisinha sustentável e doa a comunidades africanas






Talia Frenkel é uma fotojornalista norte-americana que por anos registrou imagens de desastres mundo a fora. Essa experiência permitiu que ela conhecesse pessoas diferentes e também problemas com os quais não estava acostumada. Em uma de suas viagens, ela conheceu mulheres africanas infectadas pelo vírus da AIDS. O problema veio junto com o desejo de encontrar uma solução.
“Enquanto eu estava tirando fotos, eu percebi que ao invés de desastres naturais, dessa vez eu estava olhando para um desastre evitável. Isso me chocou, principalmente o fato de a primeira causa de mortes de mulheres em idade reprodutiva (minha idade) ser a AIDS e a segunda, a morte de gestantes, ambas preventivas com uma camisinha”, explicou a jovem em declaração ao site Mother Nature Network.

Foto: Divulgação
Incomodada com essa situação e com a facilidade com que o problema poderia ser evitado, a jovem voltou ao seu país e, em 2008, iniciou um projeto de pesquisa para a fabricação de camisinhas com um viés sustentável.
Além de se preocupar com os materiais usados na produção, Talia tinha como principal ideal criar um preservativo que fosse acessível e que ajudasse, principalmente, as mulheres da África. Assim surgiu a marca L. condoms.
O formato de vendas é de 1:1, ou seja, a cada camisinha comprada nos Estados Unidos, outra é distribuída no continente africano. O projeto também lida com a questão dos gêneros, incentivando as mulheres a comprarem camisinhas. “Desde a nossa pesquisa até o processo de manufatura, embalagem e distribuição, nós focamos na questão de como dar poder às mulheres”, esclareceu a fotojornalista. Isso se refletiu até mesmo na matéria-prima, que é livre de glicerina e parabenos, para evitar irritações nas mulheres.
Para ter a sustentabilidade presente em todo o processo, os produtos são distribuídos por entregadores ciclistas. A linha está disponível em Manhattan, São Francisco e Los Angeles. Mas, a jovem pretende expandir o alcance, assim como os produtos fabricados. Ciclovivo/Utopia Sustentável

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Aquecimento global pode minar luta contra a pobreza, alerta Banco Mundial




agricola Aquecimento global pode minar luta contra a pobreza, alerta Banco Mundial
Um aumento de até 2 °C na temperatura média em relação aos tempos pré-industriais levaria a uma redução da produção agrícola do país. Foto: Beto Ricardo – ISA
Em novo relatório sobre mudanças climáticas, instituição prevê grave impacto na agricultura. No Brasil, a produção de soja pode ser reduzida em 70% até 2050
As mudanças climáticas podem levar a retrocessos nos esforços para derrotar a pobreza extrema em todo o mundo, advertiu o Banco Mundial neste domingo 23, ao divulgar um relatório sobre os impactos do aquecimento global.
No documento, intitulado Reduzam o calor: enfrentando a nova normalidade climática (em tradução livre), o banco afirma que elevações bruscas de temperatura devem reduzir profundamente a produtividade nas lavouras e o abastecimento de água em muitas áreas.
O relatório, que foca em impactos regionais específicos do aquecimento global, prevê efeitos no Brasil. Um aumento de até 2 °C na temperatura média em relação aos tempos pré-industriais levaria a uma redução da produção agrícola do país – de até 70% para a soja e 50% para o trigo em 2050, diz o documento.
O Banco Mundial estima que, em 2050, a temperatura média seja 1,5 °C mais alta do que a registrada na era pré-industrial, com base no impacto das emissões de gases de efeito estufa do passado e atualmente.
“Sem uma ação forte e rápida, o aquecimento poderia exceder 1,5 °C ou 2 °C, e o impacto decorrente poderia piorar significativamente a pobreza intra e intergeracional em várias regiões do mundo”, diz o relatório.
Quanto ao nível do mar, o documento afirma que este continuará subindo por séculos, visto que as grandes capas de gelo da Groenlândia e da Antártica vêm derretendo lentamente. Se as temperaturas se mantiverem nos níveis atuais, os mares subirão 2,3 metros nos próximos 2 mil anos, aponta o estudo.
Entre outros efeitos citados, cidades andinas estariam ameaçadas pelo derretimento de geleiras, e comunidades do Caribe e da costa ocidental da Índia poderiam ver diminuir seus suprimentos de peixes. Na Macedônia, o cultivo de milho, trigo e uva seria reduzido em 50 %.
Ações urgentes
Sem ações coordenadas, o perigo é que o aumento da temperatura média global chegue a 4 °C até o fim do século, um cenário descrito pelo Banco Mundial como “um mundo assustador de aumento de riscos e instabilidade global”.
“Acabar com a pobreza, aumentar a prosperidade global e reduzir a desigualdade no mundo, o que já é difícil, vai ser muito mais difícil com um aquecimento de 2 °C, disse o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “Mas com [um aumento de] 4 °C, há sérias dúvidas de que essas metas possam ser alcançadas.”
Os piores efeitos do aquecimento global poderiam ser evitados através da redução das emissões de gases de efeito estufa, reitera o relatório.
Representantes de quase 200 países se reunirão em breve para a próxima Conferência Mundial do Clima. Realizado no Peru entre os dias 1º e 12 de dezembro, o evento tem como objetivo a definição das bases de um acordo global de limitações de emissões de gases do efeito estufa. Espera-se que o acordo seja firmado em Paris em 2015.* Publicado originalmente pela Deutsche Welle e retirado do site Carta Capital.

Estudantes espanhóis criam sistema de refrigeração que não usa eletricidade





Estudantes do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha desenvolveram um sistema que promete reduzir o uso de ar-condicionado em edifícios. Apelidado de Hydroceramic, o sistema se baseia em relações físicas para funcionar e não necessita de eletricidade.
A lógica por trás dessa ideia é quase a mesma do organismo humano ao transpirar. O suor ajuda a regular a temperatura do corpo da mesma forma como o Hydroceramic pode reduzir o calor dentro de uma construção.
O sistema é formado por duas partes. A primeira delas é a camada porosa de proteção, feita em cerâmica, alumínio, acrílico ou argila, sendo esta a mais eficiente testada. Ela também serve como molde para a instalação de esferas de hidrogel, o segredo para o arrefecimento.
As bolinhas são feitas de um polímero que expande e retem água, assim, quando a temperatura externa está alta, o líquido evapora e é absorvido pela cerâmica. Quando está frio, as “bolhas” voltam a se compactar. De acordo com a apresentação dos estudantes, esse sistema é capaz de reduzir a temperatura interna em até 6ºC.

Foto: Divulgação
Esta é mais uma solução econômica para construções alternativas. Os criadores ainda estão desenvolvendo materiais que poderiam aumentar a eficiência ao mesmo tempo em que reduz custos. Mas, os testes já demonstram capacidade para diminuir em até 28% os gastos com eletricidade para refrigeração.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Às vésperas de completar 450 anos, Rio de Janeiro tenta ser mais sustentável


cristo redentor riomais20 Às vésperas de completar 450 anos, Rio de Janeiro tenta ser mais sustentável
Cristo Redentor, Rio de Janeiro. Foto: © © Anand Gopal / WWF-Canon

O Fórum Carioca de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável é um instrumento participativo, formado por representantes dos governos, sociedade civil e academia e que tem o objetivo de discutir propostas de sustentabilidade e políticas públicas para o meio ambiente. Em parceria com a Coppe/UFRJ, a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou recentemente seu terceiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa com ano base 2012, que serve de base para os trabalhos de mitigação e adaptação.
O Rio de Janeiro caminha para se tornar uma cidade mais sustentável. É o que mostra a relatoria no Registro Climático de Cidades Carbonn, plataforma do ICLEI utilizada para o Desafio das Cidades, uma iniciativa da Rede WWF e em sua segunda edição no Brasil. A capital fluminense é concorrente de novo. Como no Desafio passado, as cidades deveriam reportar o desenvolvimento de ações urbanas nos setores de energia, transportes, gestão de resíduos e construções para a transição a uma economia de baixo carbono e com 100% de energias renováveis nas próximas décadas.
Diversos atores, como a sociedade civil, governos locais e nacional e o setor privado estão reunidos para desenvolver um Plano de Adaptação e Resiliência da Cidade do Rio de Janeiro.
A criação do Centro de Operações Rio é uma medida importante neste sentido. Ele integra 30 agências com monitoramento 24 horas da cidade. Está integrado a todos os níveis da administração de crises, desde a antecipação, preparação e redução, até respostas imediatas a eventos como chuvas fortes, deslizamentos e acidentes de trânsito.
No setor de transportes, a nova linha 4 do metrô prevista para funcionar a partir de dezembro de 2015, levará mais de 300 mil pessoas por dia, retirando aproximadamente 2000 veículos das ruas. No início do projeto de ampliação da ciclovias, em 2009, havia 150 km dessas faixas na cidade. Hoje, já são 305 km e a previsão é chegar a 450 km em 2016. Também foi implementado o Rio Bike, sistema de aluguel de bicicletas que pode ser encontrado nas 60 estações com 600 unidades disponíveis.
O Programa BRT, por sua vez, oferece mais rapidez nos transportes públicos, conforto e custo eficiência por meio do desenvolvimento de faixas exclusivas e operações rápidas e frequentes. Agora é possível cruzar os bairros de ônibus com uma redução de tempo de 40%. O tempo de percurso para carros e táxis também diminuiu.
Energia e Carbono
Desde 1997, o projeto de substituição da rede de gás da cidade já reformou 692 km, com a substituição de tubos de ferro fundido por tubos de polietileno para a distribuição de gás pela CEG. Faz parte do projeto de redução de emissões de GEE através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto.
No Aterro de Seropédica, o biogás gerado pelos restos de resíduos é queimado, reduzindo assim as emissões de gás metano, que tem um poder de aquecimento 21 vezes maior que o CO2.
A prefeitura também faz o mapeamento da situação atual de eficiência energética e sustentabilidade do Centro Administrativo São Sebastião e Anexo, que servirá de base para as intervenções necessárias.
Desafio das Cidades
Trata-se de uma iniciativa concebida pela Rede WWF para homenagear as cidades que estão se tornando lugares mais verdes, de vida mais saudável e sustentável em direção a um futuro de clima mais ameno para o planeta. O objetivo é reconhecer esforços para o desenvolvimento de baixo carbono, as ações em andamento, por que e como relatar os compromissos. Estão convidadas a participar cidades que proponham soluções e planos de mitigação em setores como transportes, habitação, iluminação pública, resíduos e alimentação.* Publicado originalmente no site WF BWrasil.

Moratória da soja é renovada para fortalecer governança na Amazônia




moratoriasoja Moratória da soja é renovada para fortalecer governança na Amazônia
Assinatura renovação da moratória da Soja – 24/11/2014. Foto: Wenderson Araujo/Greenpeace

O acordo voluntário compartilha responsabilidades entre setor produtivo, governo e sociedade civil para evitar a comercialização de grãos plantados em áreas desmatadas da Amazônia após 2008.
Depois de meses de intensas negociações, a Moratória da Soja, acordo que visa eliminar o desmatamento da Amazônia da cadeia produtiva de Soja, foi renovado na manhã desta terça-feira (25), em Brasília, e passa a valer até maio de 2016. O acordo, em vigor desde 2006, vem sendo prorrogado anualmente.
A cerimônia de assinatura aconteceu as 10h30 de hoje, na sede do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O novo documento foi ratificado pelos coordenadores do Grupo de Trabalho da Soja (GTS): Carlo Lovatelli, presidente da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais); Sergio Mendes, diretor geral da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais); Paulo Adario, coordenador da sociedade civil no GTS; e pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Também estiveram presentes na cerimônia representantes de empresas do setor de soja, do governo federal e de outras ONGs.
“A renovação dos princípios básicos da moratória é um alívio para todos aqueles que, no Brasil e no exterior, temiam que o fim do acordo colocasse mais lenha na fogueira do desmatamento da maior floresta tropical do planeta, que voltou a aumentar no ano passado depois de 7 anos de queda”, disse Paulo Adario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace.
O novo acordo mantém o critério fundamental da moratória, que é o veto à soja plantada em novas áreas de desmatamento. Antes, no entanto, o pacto previa o boicote ao produto semeado em áreas desmatadas a partir de 2006. Já o novo documento passa a utilizar como referência a data definida pelo novo Código Florestal, que anistiou desmatamentos até junho de 2008.
Assim, a partir desta safra, as traders da soja – responsáveis por mais de 80% das exportações brasileiras do produto (grãos, óleo e farelo) – se comprometem a não comprar soja de áreas desmatadas na Amazônia depois de junho de 2008.
Pelo novo critério, cerca de 400 mil hectares desmatados entre uma data e outra poderiam se somar às áreas de produção de soja. Mas nem toda a área é adequada ao grão.
E agora?
Desde o início da moratória, em 2006, dos 5,2 milhões de hectares desmatados no bioma Amazônia no período, cerca de 1 milhão de hectares (ou 19,7% do total) estão nos 73 municípios produtores de soja monitorados pelo GTS – responsáveis por 98% da soja produzida no bioma. Mas apenas 47 mil hectares em desacordo com a moratória foram plantados com soja na safra 2012-2013. A área total ocupada com soja no bioma era de 3 milhões de hectares na safra passada.
Esses dados constam do relatório consolidado sobre o monitoramento da produção de soja na Amazônia desde o primeiro ano de vigor da moratória, 2007, até 2013, e foram divulgados durante a cerimônia de hoje. Os dados demonstram que a moratória foi bem sucedida em conter o desmatamento para plantio do grão, mesmo em um período de alta de preços da soja no mercado global.
A eficácia do acordo também foi citada este ano pela Union of Concerned Scientists (UCS), que classificou a Moratória como um dos principais motivos para a redução do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos.
Mas o termo moratória, por definição, é usado para nomear medidas provisórias, e não permanentes. E é isso que ela deveria ser: uma solução emergencial para conter o avanço do desmatamento, até que mecanismos públicos e eficientes fossem criados para substituí-la.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Programa de Regularização Ambiental (PRA), dois instrumentos fundamentais do Código Florestal, ainda têm baixa adesão. Quando estiverem implementados (segundo a lei, até 2016), serão muito úteis para auxiliar no rastreamento e monitoramento da produção. Mas sem um compromisso das empresas pelo Desmatamento Zero, a floresta poderá continuar sendo destruída para dar lugar a soja e outras commodities e isso compromete o nosso futuro.
O Greenpeace espera que nos próximos 18 meses o GTS consiga construir um novo mecanismo que, mantendo as conquistas feitas até aqui, assente as bases para um novo modelo produtivo, que contribua para o fim do desmatamento não apenas na Amazônia, mas em todos os biomas até 2020, e que envolva as demais commodities agrícolas. Um modelo que servirá de exemplo para o mundo no combate às mudanças climáticas e à perda acelerada da cobertura florestal.
Com esta nova página que acaba de ser escrita, a floresta amazônica ganha um pouco mais de tempo. Mas as consequências de um fim precoce da Moratória, sem a prática de uma solução permanente, podem ser desastrosas para todo o planeta.* Publicado originalmente no site Greenpeace.

Estados Unidos inaugura sua maior usina solar




A maior usina solar dos Estados Unidos já está em funcionamento. Localizada no condado de San Luis Obispo, na Califórnia, a estrutura é capaz de produzir mais de 500 megawatts de energia limpa, obtida a partir de nove milhões de painéis solares.
O projeto, que pertence à MidAmerican Solar, também é o maior do mundo a estar ligado às linhas de transmissão. A fazenda começou a ser construída há dois anos e estava prevista para entrar em pleno funcionamento apenas em 2015, mas a conclusão ocorreu antes do esperado.
Apelidada de Topaz Solar, a usina possui 15,2 milhões de metros quadrados, por onde estão espalhadas nove milhões de placas fotovoltaicas. Toda esta estrutura resulta em 550 megawatts de capacidade instalada.
A energia produzida na fazenda solar é suficiente para abastecer 160 mil residências e impedir que 377 mil toneladas de CO2 sejam despejadas na atmosfera todos os anos.
No entanto, mesmo com bons números, o posto de maior usina solar dos Estados Unidos será da Topaz por um período curto de tempo. O país já tem uma fazenda ainda maior sendo construída e ao finalizada, no próximo ano, será capaz de produzir 579 megawatts de energia. CicloVivo/Utopia Sustentável

terça-feira, 25 de novembro de 2014

No Brasil, situação análoga à escravidão atinge 155,3 mil pessoas




trabalho escravo ecod No Brasil, situação análoga à escravidão atinge 155,3 mil pessoas
No Brasil, situação análoga à escravidão atinge 155,3 mil pessoas Ministério Público do Trabalho. Foto: Divulgação

O Brasil tem 155,3 mil pessoas em situação análoga à escravidão, segundo o relatório Índice de Escravidão Global 2014, da Fundação Walk Free, divulgado hoje (17). Houve significativa queda em relação ao levantamento do ano passado, que apontou mais de 210 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo no país. De acordo com a organização, dos 200.361.925 de brasileiros, 0,078% está nesta condição.
Pela primeira vez, segundo o levantamento, o número de pessoas resgatadas em situação de trabalho forçado no setor da construção civil (38% dos casos) foi maior que no setor rural do país. De acordo com a Walk Free, o Brasil atraiu bilhões de dólares em investimentos para a execução da Copa do Mundo, o que propiciou o aumento do número de casos em áreas urbanas.
O relatório também destaca que a exploração sexual concentrou um grande número de pessoas em situação de trabalho forçado por causa do grande fluxo de turismo nas cidades-sede do Mundial. A Walk Free ressaltou que Fortaleza concentrou boa parte dos casos de abuso sexual de crianças por turistas.
O documento ressalta que ainda há muitas crianças trabalhando como empregadas domésticas. Em 2013, segundo a organização, 258 mil pessoas entre 10 e 17 anos estavam trabalhando como trabalhadoras domésticas no Brasil. Segundo um dos autores do relatório Kevin Bales, também há preocupação com a participação de crianças no tráfico de drogas.
De acordo com a Walk Free, outro dado relevante no país é o fato de muitos bolivianos e peruanos serem explorados na indústria têxtil. Mais da metade dos 100 mil imigrantes bolivianos entraram no Brasil de forma irregular e são facilmente manipulados por meio da violência, das ameaças de deportação, e da servidão por dívida, segundo a pesquisa.
A organização ressaltou o progressivo comprometimento do governo e das empresas com a erradicação do trabalho forçado no Brasil. Um das medidas lembradas foi a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Trabalho Escravo, que determina a expropriação de imóveis urbanos e rurais onde seja constatada a exploração de trabalho análogo à escravidão. Outra medida importante é a lista suja do trabalho escravo, elaborada pelo Ministério do Trabalho.
“O Brasil é um dos líderes mundiais no combate à escravidão. A lista suja e os grupos móveis de combate ao trabalho escravo são muito importantes e nenhum outro país tem medidas como essa”, disse Bales.
O documento destacou que somente Estados Unidos, Brasil e Austrália estão tomando medidas para eliminar o trabalho escravo na contratação pública e nas cadeias de fornecimento das empresas que atuam em seus países.
O Brasil está em 143º dos 167 países avaliados proporcionalmente em relação à população. A Mauritânia, na Costa Oeste da África, está em 1º lugar no ranking e é apontado como o pior caso. No ano passado, o Brasil estava em 94º entre os 162 países avaliados.
No ranking das Américas, o Brasil está em 24º em um total de 27 países avaliados, melhorando também em relação ao primeiro relatório, que apontou que o país estava em 13º.
Cerca de 35,8 milhões de pessoas em todo o mundo vivem em situação análoga à escravidão, aponta o relatório Índice de Escravidão Global 2014.
O número de pessoas escravizadas aumentou 20,13% em relação ao levantamento em 2013. O primeiro relatório da organização mostrou que o mundo tinha 29,8 milhões de vítimas da escravidão moderna.
De acordo com a Walk Free, o trabalho escravo nos dias atuais ocorre por meio do tráfico de seres humanos, do trabalho forçado, da servidão por dívida, do casamento forçado ou servil e ainda pela exploração sexual comercial.
“Não temos que ter escravidão no mundo. Deve haver vontade política para implementar as leis contra a escravidão, como acontece com os homicídios. Gostaria de ver a escravidão se tornar um crime tão raro no mundo como acontece com o canibalismo hoje”, disse Kevin Bales.
A África e Ásia, segundo o documento, continuam sendo os continentes com a maior incidência de pessoas nestas condição. Proporcionalmente, a Mauritânia, na Costa Oeste da África, lidera novamente o ranking dos países com maior prevalência, com 4% da população escravizados. Ela é seguida do Uzbequistão (3,97%), Haiti (2,3%), Catar (1,36%) e da Índia (1,14%).
Em números absolutos, a Índia permanece no topo da lista com mais de 14,29 milhões de pessoas escravizadas, seguida da China (3,24 milhões), do Paquistão (2,06 milhões), Uzbequistão (1,2 milhão) e da Rússia (1,05 milhão). Juntos, estes países representam 61% da escravidão moderna mundial, ou seja, quase 22 milhões de pessoas.
De acordo com a Walk Free, apesar de o índice de 2014 estimar que há mais 20,13% de pessoas escravizadas no mundo ante os dados de 2013, “este aumento significativo deve-se à melhoria dos dados e da metodologia, que inclui inquéritos representativos a nível nacional em alguns dos países mais afetados”. Este ano, o ranking foi elaborado com base em 167 países avaliados. Taiwan, Sudão do Sul, Coreia do Norte, Kosovo e Chipre foram incluídos no relatório de 2014. No ano passado, foram 162 países avaliados.** Publicado originalmente no site Agência Brasil.