quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A coerência como caminho



Números, a não ser que sejam manipulados, não costumam mentir.  Pois é, o resultado emanado das urnas traz um recado claro ao Partido dos Trabalhadores: ou volta às suas origens éticas e progressistas que o diferenciavam dos demais, rápido, ou dará espaço para que outras siglas tomem seu lugar.  E o PSOL, com os votos que recebeu para governador, deputado federal e estadual, aqui no Rio de Janeiro, é bom exemplo disso que estou falando.   

A diminuição da bancada estadual nacional do PT em 38% (149/108), federal em 26% (88/70), de senadores em 8% (13/12), bem como do percentual de votação da presidenta Dilma, de 46,91% em 2010, para 41,61%, agora no primeiro turno, retratam  o tamanho do sinal vermelho que se acendeu e que deveria estar sendo visto como perigo de debandada geral do rebanho.  Definitivamente, sociedade/eleitores não comungam mais as mesmas crenças e práticas partidárias de antigamente.  Não enxergar isso é cavar cada vez mais fundo a própria sepultura.  A única exceção foi a bancada de governadores que permaneceu igual podendo até crescer no segundo turno.

A nova eleição merece, portanto, uma análise urgente do que está acontecendo com este eleitorado descontente.  E agir, com demonstrações inequívocas, já, antes de o segundo turno ocorrer.  Caso contrário, corre-se o sério risco de naufragar com a nau à beira da praia.  Está na hora de assumir responsabilidades, rever caminhos e corrigir erros cometidos.  A presidenta Dilma recentemente afirmou que seu governo combate a corrupção.  Discurso dúbio.  Se verdadeiro fosse, a partir do julgamento do mensalão, com a sentença transitada em julgado, seu partido não poderia jamais manter em suas fileiras quadros condenados por formação de quadrilha e outros crimes, mas sim expulsá-los, sendo coerente com seu passado.  Não o fazendo, conforme previsto, rasgou seu estatuto.





“- Art. 231. : Dar-se-á a expulsão nos casos em que ocorrer:
XII – condenação por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado.
Parágrafo único: A pena de expulsão implica o imediato cancelamento da filiação partidária, com efeitos na Justiça Eleitoral.”

Simples assim. Os resultados de tamanho estrago à imagem já começaram a aparecer, colocando em risco todo o patrimônio construído ao longo das últimas três décadas.

Em vez de mútuas agressões, discursos de medo e campanhas de possíveis perdas, os candidatos deveriam dizer, objetivamente, o que farão sobre a questão da água, até então ignorada.  Quais as medidas que serão colocadas em prática para o combate às mudanças climáticas.  Que escolhas faremos (se é que faremos) para o enfrentamento do déficit energético.  E, em que fontes limpas de energia investiremos visando incrementar nossa matriz energética.  

Como bem disse, Elio Gaspari, “inútil pretender continuar no governo pelos defeitos do adversário e não por suas próprias virtudes”.  Seja qual for o cenário, a partir de novembro, vencendo ou perdendo, o trem precisará voltar para os trilhos.  Ou descarrilar de vez.  

Vencendo, certamente o atual governo terá maiores dificuldades para montar uma base sólida para trabalhar com tranquilidade, já que perdeu grande número de cadeiras.  Mais, com ressentimentos cada vez mais aflorados, a oposição fará uma marcação duríssima tentando imobilizar o governo.  Não esqueçamos que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef já mandaram chamar seus coleguinhas de trabalho (sujo) para a eles se juntarem.  São nomes de primeiro quilate que farão tremer (ou cair?) a República.  Apostas à parte, perdendo, a tendência será uma desintegração progressiva e consistente do partido, com drástica diminuição de seu tamanho.  A conferir.

Bom remédio para tudo isso seria, por exemplo, se praticassem como filosofia intrínseca da vida partidária, a coerência, categoria de ideias que une a lógica de ter um comportamento constante e estável durante um longo período de tempo.  Parece utopia, e é.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros