quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Terra: o Planeta azul no vermelho. A longa e agonizante caminhada rumo ao fim



Recentemente, a convite da Companhia de Desenvolvimento do Estado do Rio, CODIN, estive presente ao bom seminário promovido pelo Sebrae RJ, na BMF e BOVESPA, que teve como tema central a “Sustentabilidade nas relações entre pequenos negócios e as grandes empresas”.  Com dados conhecidos mas estarrecedores do ponto de vista do perigo que nosso Planeta corre, Sonia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da Bolsa, iniciou sua apresentação com a informação de que no dia 19 de agosto a Terra esgotou os recursos naturais disponíveis para todo o ano de 2014.  Pergunto ao leitor: você sabia disso?  Se sabia, lembra-se de em quantos jornais ou telejornais leu ou ouviu esta informação? 

Pois é, tal qual um assalariado que ganha mil e esbanja dois mil, entramos no “Cheque Especial” dos recursos naturais da Terra, dispendendo mais que sua capacidade de regeneração.  E se hoje gastamos 1,5 planeta para produzir os recursos ecológicos necessários para suportar a atual pegada ecológica mundial, a continuar nessa toada, bem antes de 2050 precisaremos de três planetas.  No Brasil, o número atual é de que consumimos 1,6 planeta.  Esse, um dos principais desafios do século XXI.  Pergunto mais uma vez: o que a governança global está fazendo para impedir isso?



Segundo Haroldo Matos de Lemos, presidente do Instituto Brasil Pnuma, em 1802 o Planeta tinha 1 bilhão de habitantes, hoje, pouco mais de dois séculos depois, sete vezes mais.  Cerca de 85% da população mundial vive em países que extraem da natureza mais do que seus ecossistemas suportam, o que tornará viver aqui humanamente impossível.  Países com tradição na pesca como Espanha, Japão e Canadá subsidiam com US$27 bilhões anualmente a atividade fazendo com que seus pesqueiros possam ir ao fim do mundo à procura de pescado.  Quem interromperá tal insanidade?  A Amazônia, e seus controversos números anuais sobre o desmatamento, continua ardendo.  E os mais variados governos do período pós redemocratização não conseguiram tornar o tema, ainda, uma prioridade nacional.  Um crime de lesa-humanidade. Temos uma única alternativa para evitar que a Terra entre em colapso: repensar nossos hábitos de consumo e nos conscientizarmos que a era da abundância, acabou.  E que entramos na era da escassez.

Renato Regazzi, gerente de Grandes Empreendimentos do Sebrae RJ, fez interessante explanação sobre encadeamento produtivo, demonstrando, na prática, como grandes empresas podem incorporar dentro de suas cadeias produtivas o trabalho de pequenas empresas, um belo exemplo de Responsabilidade Social Empresarial.

A complementar sua fala, o consultor Luiz Claúdio Ferreira de Castro, afirmou que hoje, economia e ecologia caminham juntas pois nos dois casos suas tarefas nada mais são do que administrar a escassez.  Corretíssimo.

Por último, Isabel de Araujo Sbragia, gerente de certificação da ABNT, demonstrou a importância de pequenas e grandes empresas terem seus números inventariados, uma exigência do mundo atual.  E que isso, ao contrário do que possa parecer, não é uma tarefa impossível, mas necessária, e que as empresas só têm a ganhar.



Mas alguns sinais positivos são emitidos mundo afora.  Um grupo de 767 investidores globais, detentores de US$92 trilhões em fundos de investimentos, em parceria com a Ong internacional CDP, que atua para prevenir mudanças climáticas e recursos naturais, vem monitorando periodicamente as empresas e seus gestores sobre a gestão desses recursos dentro delas.  O PRI, Princípios para o Investimento Responsável, é outro grupo que reúne 1.273 investidores institucionais de 53 países com mais de U$45 trilhões sob gestão, e também monitora a mudança do clima.  As duas são iniciativas globais saudáveis que visam adiar pelo maior tempo possível essa tragédia anunciada.

Perguntei a palestrante Sonia Favaretto se diante de tantas evidências e números, o que estaria faltando para avançarmos no "Salvamento do Planeta", e o que seria necessário para a Sustentabilidade entrar definitivamente na agenda Brasil de desenvolvimento.  E provoquei: mais conscientização, mais marketing? Finalizei lembrando que estamos em plena campanha eleitoral e o tema sequer é prioridade entre os principais candidatos.  Objetivamente, ela me disse: Marcos legais e, principalmente, vontade política.   Acrescentaria que em função da gravidade da situação a inclusão da disciplina "educação da sustentabilidade" no currículo escolar do ensino  básico, é questão fundamental para a conscientização da sociedade brasileira. A pauta global nos fez revisar e incluir o ensino da computação e educação financeira nos currículos.  Temos que estar cônscios dessa nova necessidade.

A Global Footprint Network, organização internacional pela sustentabilidade, parceira da Rede WWF, que mede global e anualmente as atrocidades que Terráqueos cometem contra seu habitat original, o Planeta Terra, nos dá dois dados interessantes e, ao mesmo tempo, preocupantes.  Desde 2000 a data que nos informa que os recursos naturais consumidos no Planeta esgotaram-se para aquele ano de referência, chega mais cedo.  Ali, naquele início de milênio foi o dia 1º de outubro.  Este ano, ela recuou para 19 de agosto.  Pelo jeito, estão brincando com fogo.  E também com água.  E a Mãe Natureza parece que não está gostando nada disso.

Abraços Sustentáveis

Odilon de Barros