sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Racismo, uma ferida muito aberta. Insustentável !


Texto de Rômulo Arbo com sua percepção do que aconteceu na noite de quinta-feira, no reencontro do goleiro Aranha com a torcida gremista, na Arena.

Não é uma estrela, é um asterisco. Foi o que pensei ao final do jogo de ontem. Mas poderia ter pensado desde o começo. Eu gosto bastante quando estas mentiras caem por terra, mas não deixa de doer. E ontem passou do limite da vergonha, e doeu.

Finalmente se pode generalizar, sem medo de errar: a maioria da torcida do Grêmio que vai ao estádio é racista. É bem possível que o mesmo valha para os outros times, mas eu vou falar do meu. Não vale, simplesmente não terá razão, dizer, como foi dito no episódio de semanas atrás contra o Aranha, que foi uma “minoria barulhenta”, e, pior, que “aqueles nem eram torcedores do Grêmio”.

Claro que eram. Ser torcedor de qualquer time não é atestado de nada. E fazer merda em grupo é mais fácil? Pois a covardia talvez pudesse ser um AGRAVANTE ao crime de racismo. Ontem os racistas covardes mostraram a cara. São duplamente burros, porque usam de um SUPOSTO jogo de linguagem para “serem racistas sem o serem”. Meus caros, isto pode funcionar como um destes subterfúgios que vemos políticos corruptos usarem, “me resguardo no direito de ficar calado”. Pois eu digo MELHOR! Melhor que ontem mostraram a face real do seu racismo, melhor! E me peguei pensando que se pudéssemos estender aquela partida por dias, semanas, depois meses, uma a uma, todas as máscaras cairiam, porque no longo prazo não importam câmeras, reputação e, bem, caduca o tempo para prestarem queixa.

A que me refiro? Aos gritos de "Aranha viado"? Também. Este foi gritado pela maioria, mas o cardápio de ignorância era farto e servido ao pé do ouvido. Mais acima, um grupo puxou “ão, ão, ão, o Aranha é alemão”, e é possível que tu rias aqui, como se ri de uma piada de um Gentili, que trabalha nessa inversão superficial de expectativas. Rá. E daí, o que eles estavam dizendo? É fácil perceber, estavam todos dizendo o mesmo: Aranha é culpado. Culpado por ter trazido um “assunto menor” à discussão – cidadania numa hora dessas? Culpado por mexer numas feridas protegidas por esta medicina social que nos mata aos poucos, jogando os resultados dos exames no lixo e mentindo que tá tudo bem. E chegaram todos ontem à Arena com esta receita médica fria, vai lá amigo e fale o que quiser, tá liberado, só não diga macaco, isto pode elevar a pressão, há substitutos para esta dieta, vai lá, tenha criatividade.

Foram lá, e era o Aranha pegar na bola e o tribunal da escória apitava. Tive muita vergonha, e estivesse lá embaixo é possível que invadisse o campo para pedir desculpa. Mas com que autoridade? Eu não represento nada. A bem dizer, estas representações são todas falsas. Uma estrela na bandeira é Everaldo? Talvez um dia. Hoje, pra mim, ainda é um asterisco, e mais abaixo, letras miúdas informam: volta em cem anos, amigo, Lupicínio recém fez cem, não é? Melhor, volta em mil, em um milhão de anos. Já viste o nascimento de uma estrela?
Texto extraído do blog Meio Encarnada.