terça-feira, 30 de setembro de 2014

A insustentável leveza de ser (rico)


Imagine 400 cidadãos americanos comprando o Brasil.  Parece brincadeira, mas não é.  A divulgação dessa possibilidade consta da publicação “Forbes 400”.  É que, segundo a revista americana, a fortuna desses “trabalhadores” chega a US$2,29 trilhões contra US$2,24 trilhões referentes ao PIB brasileiro.   Detalhe: estamos entre as dez maiores economias do mundo.  Apenas em 2013 a fortuna desses senhores cresceu US$270 bilhões.  

Um escárnio!  E prova cabal de que o modelo atual de consumo desenfreado, acumulação, desenvolvimento, está esgotado e precisa ser repensado.  Querem mais?  Em 2013, 85 cidadãos tinham renda maior que mais da metade da população do planeta.

Caro leitor, pense comigo....Qual o prazer em ostentar o título de “mais ricos do mundo” ignorando que vivemos em um planeta extremamente desigual e perverso? Como botar a cabecinha no travesseiro e dormir em paz sabendo que estamos, em qualquer parte do planeta, como diria o velho Betinho (da campanha contra a fome e a miséria), a uma esquina da miséria absoluta? 

Pois é, infelizmente, não são números para se comemorar e sim refletir, pensar em quanto estamos distante de um mundo mais justo, fraterno, igual...sustentável.   Acumular, acumular, acumular.  Pra quê? Com muita sorte vamos ficar por aqui, no máximo, 80/90 anos. 

Se inteligentes fossem (e parassem para pensar), ricos trabalhariam menos para viver muito bem as suas próprias vidas.  Acumular pelo simples prazer de acumular, significa, na prática, deixar fortunas de bilhões de dólares para outros gastarem. 
Acredito na tese de que aqueles que têm o estúpido prazer de chegar ao fim da vida com 200/300 milhões intactos em suas contas bancárias, não são ricos, mas otários.  Aqueles que o são, de verdade, usufruem da riqueza em vida.  Morrendo sem sequer tocá-las, famílias, sócios, amantes e outros sucessores, desfrutarão daquilo que não contribuíram para construir.  

É louco o cidadão que trabalhou por toda uma vida sem se divertir, que ficou paranoico com medo de ser roubado, sequestrado, perdeu saúde, adquiriu doenças, tudo isso apenas para ostentar o título de “rico”.  No fim, quando se dá conta do quão imbecil foi, a vida passou e a família muitas vezes torce por sua morte para, com tranquilidade, curtir seus “dinheirinhos”.  E o mundo está cheio desses exemplos. 

Esta semana li em algum lugar que o comunismo soube distribuir mas não soube produzir e o capitalismo produziu mas não soube distribuir. Ou seja, ambos fracassaram.  
Com minha “Utopia Sustentável” e sempre acreditando que é possível um mundo diferente desse em que vivemos, gostaria de ousar provocando economistas e suas teses mirabolantes, afirmando que nada aconteceria aos ricos do mundo caso viessem a abrir mão de 90% de suas fortunas em prol de se acabar com a fome e a pobreza no mundo.  

Em 2008, quando da crise financeira mundial, iniciada com a quebra do Lehman Brothers, a governança global gastou mais do que nosso PIB para salvar da quebradeira a camarilha irresponsável de banqueiros que há muito transformou nosso planeta em um grande cassino. 

Bem que a brincadeira de ganhar dinheiro comandada por esses cidadãos, doravante, poderia ser mais inteligente e, por exemplo, salvar o planeta investindo em energias renováveis, descobrir a cura da AIDS, do vírus Ebola, e por aí vai. 

Movimentos solitários já são vistos aqui e acolá, Bill Gates que o diga.  Talvez esteja faltando organizar a generosidade em um movimento global nesse sentido. Eu vou continuar acreditando que um dia eles vão acordar.

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros