segunda-feira, 9 de junho de 2014

Modelo estúpido, riqueza insustentável


Vivemos um momento um tanto conturbado no mundo.  Se por um lado produzimos mais e mais multibilionários a cada ano, por outro, em proporções africanas, aumentamos a desigualdade e temos, ainda, 1,2 bilhão de pessoas (sobre)vivendo na extrema pobreza.

Inútil aqui enumerarmos os diversos fóruns e encontros internacionais que, em profusão, ano após ano, discutem fórmulas que sejam capazes de romper a acumulação prazerosa e estúpida das elites, em ter mais dinheiro do que o necessário para viver dignamente.  Fazer o quê?

Nem mesmo governos têm conseguido sucesso em tentar dobrar ou fazer ceder as grandes corporações na diminuição de seus lucros, e o crescer por crescer a todo custo continua a ser o carro-chefe de um consumo desenfreado que faz com que consumamos recursos equivalentes a 50% mais do que o planeta suporta.  Será que a espécie humana é realmente inteligente?

Recente artigo de Roberto Savio para a agência IPS, dissecou de forma clara o capitalismo atual.  Nele, entre tantas constatações, ele afirma que o capitalismo financeiro está cada vez mais se sobrepondo ao capitalismo produtivo (e eu concordo).  Cita, ainda, que os 25 gestores dos maiores fundos especulativos mais bem remunerados, todos homens, ganharam ano passado a bagatela quantia de US$21 bilhões, soma essa maior que dez países africanos: Burundi, República Centro-Africana, Eritreia, Gâmbia, Guiné, São Tomé, Seychelles, Serra Leoa, Níger e Zimbábue.

Mais, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, informa que, segundo o índice de multibilionários Bloomberg, os 300 indivíduos mais ricos do mundo aumentaram suas riquezas, apenas ano passado, em US$524 bilhões, o que equivale a renda conjunta de Dinamarca, Finlândia, Grécia e Portugal.  E as aposentadorias de 23 banqueiros espanhóis chegaram a 22,7 milhões de euros. 

Mesmo que a pobreza no mundo tenha diminuído de 47% para 22%, graças a Brasil, China e Índia, é inconcebível permanecermos com empresas e pessoas que na cena política têm mais poder e influência do que governos na confecção das leis. 

É imprescindível que a governança global torne a ter as rédeas e o controle de seus países, combatam a corrupção e os fortes lobbies instalados dentro de governos.  Essa minoria poderosa, que não se envergonha de ignorar as necessidades das maiorias mundo afora, que sobrevive e aumenta suas fortunas através da corrupção de governantes igualmente corruptos, que não sofre ao ver irmãos africanos esquálidos morrendo de fome e fazendo sexo para obter um prato de comida, precisa entender que é estúpido ter 20 ou 30 bilhões se só temos uma vida para gastar e que não teremos planeta para morar, água para beber e que suas polpudas fortunas virarão pó, se continuarmos nessa toada.

As dinastias do dinheiro deveriam entender que talvez seja a hora do “decrescimento econômico”, modelo pelo qual, programada e planejadamente, economias crescem de acordo com os limites do Planeta, o que não significa declínio econômico, mas sobrevivência.

Deveriam entender que às vezes é melhor ceder e doar alguns anéis do que o Planeta lhes pulverizar e tomar suas roubadas riquezas.

Abraços sustentáveis
Odilon de Barros