sexta-feira, 20 de junho de 2014

Aulas de caráter. Uma boa ideia

Uma rede de escolas americana, a KIPP (Knowlegde is Power Program), fundada em 1994, nos Estados Unidos, tem como meta levar seus alunos – 86% são de famílias pobres – até a universidade. O projeto tem como meta dar confiança a todos de que são capazes de aprender.  Mais, a ideia, acredito, se encaixa perfeitamente a alunos de baixa renda no Brasil.  Entre as atividades propostas, a escola estimula atividades de autocontrole, perseverança, gratidão, otimismo e curiosidade em seus alunos, entre outras.  E há dois anos radicalizou o ensino de competências socioemocionais criando a disciplina de, pasmem, caráter.
Aí, um parêntese com a realidade brasileira: ao fazermos uma analogia com nosso cenário, vejo como imprescindível em nossas escolas tal disciplina.  Por quê?  Vivemos em um país extremamente desigual em que é muito difícil à classe mais baixa de nossa população ascender às oportunidades de categorias mais abastadas.  Incluir o ensino de conteúdo tão importante pode significar a essas categorias acreditar que é possível, sim, ascender sem transgredir, sem levar vantagem, sem trapacear.  E crescer.  E isso é preciso ser dito com todas as letras, para pais e alunos. 
As aulas de caráter acontecem duas vezes por semana, para 5ª e 6ª séries, e nelas é ensinado como enfrentar os pontos fracos, como estabelecer relações saudáveis com outras pessoas e como usar a mente para conseguir o que querem.
Os professores da escola são preparados para relacionar questões socioemocionais com conteúdos cognitivos. Assim, numa aula de inglês, os alunos analisam as características dos personagens dos textos que leem, e nas de história, discutem motivações por trás de fatos importantes. 
Assim, a expectativa é que as crianças mudem de atitude também em casa. Por isso, os pais são chamados no início do ano para um workshop em que são apresentados ao conteúdo que será ensinado e como isso será feito. A professora também dá dicas de como eles podem dar suporte aos seus filhos. Alguns pais ajudam, outros não. Mas a missão é fazer com que mesmo os que são oriundos de famílias disfuncionais saibam lidar melhor com isso. O fato de uma criança não ser incentivada a estudar em casa não significa que ela não deva ter acesso a boa educação. A meta é garantir a todos.
Embora a implantação desse currículo socioemocional na Kipp Infinity Middle School ainda esteja em fase de testes e os dados sobre o impacto no desempenho acadêmico não tenham sido computados, a escola tem convicção de que os alunos estão aprendendo mais e que estão mais tranquilos e confiantes. “Estamos ansiosos pelos resultados para seguir em frente”, afirmou a diretora. No próximo ano letivo, o plano é preparar outros professores para ministrarem as aulas de caráter e passar a incluí-las na grade de mais séries.
Mesmo embrionariamente, os primeiros resultados já começam a aparecer.  Antes, afirmaram professores, eles ficavam muito nervosos e achavam que não iam conseguir.  Passado um ano, dizem que estão preparados e que vão se dar bem, contam orgulhosos.
Trazendo para a realidade da educação brasileira, o circo dos horrores nosso de cada dia, em que faltam desde estrutura física, melhores salários, reciclagem de professores e vontade política de nossos governantes em transformar o país através da educação, aulas de caráter poderiam ser ministradas, para começar, no legislativo, no judiciário e no executivo.
Abraços sustentáveis

Odilon de Barros