segunda-feira, 30 de junho de 2014

Terras apropriadas por grandes investidores poderiam alimentar até 550 milhões de pessoas




oxfamfood Terras apropriadas por grandes investidores poderiam alimentar até 550 milhões de pessoas
Foto: Oxfam

A apropriação de terras é uma prática controversa muito comum em países em desenvolvimento, na qual investidores adquirem – de forma ilegal ou não – terrenos nessas nações para a realização de grandes investimentos, geralmente agrícolas, com foco na exportação de alimentos e biocombustíveis. Mas um novo estudo aponta que essas terras poderiam alimentar milhões de pessoas se fossem de propriedade das populações locais.
A pesquisa, publicada na quinta-feira (26) no periódico Environmental Research Letters, sugere que esses grandes empreendimentos costumam arruinar os agricultores de pequena escala e de subsistência, retirando deles suas terras e deixando-os sem condições de produzirem seu próprio sustento.
Mas os autores da nova análise afirmam que não é necessário que seja assim, e que poderia haver inclusive ganhos com as tecnologias desses empreendimentos.
“Os legisladores precisam estar cientes de que, se esse alimento fosse usado em benefício das populações locais, seria suficiente para diminuir a desnutrição em cada um desses países. Tais investimentos levariam a melhoras substanciais na produtividade das culturas, principalmente nas nações africanas”, escreveram Maria Cristina Rulli e Paolo D’Odorico, da Universidade Politécnica de Milão e da Universidade da Virgínia, respectivamente.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas calcularam as aquisições de propriedades de mais de 200 hectares realizadas em países em desenvolvimento desde 2001, o que totalizou 31 milhões de hectares. Em seguida, estimaram a produtividade das colheitas se essas terras tivessem sido deixadas para os povos locais com seus métodos agrícolas tradicionais, e também a possível produtividade das plantações usando métodos tecnológicos dos grandes empreendimentos.
Se a terra fosse cultivada com 100% de sua capacidade, através das formas mais tecnológicas, poderia alimentar entre 300 milhões e 550 milhões de pessoas. Sem as tecnologias dos investidores, a terra poderia alimentar de 170 milhões a 370 milhões de pessoas.
Os pesquisadores acreditam que o estudo ajuda a criar um panorama de possíveis soluções para o problema da fome, mas dizem que muitas dúvidas sobre a questão ainda precisam ser sanadas por futuros trabalhos.
“Nosso estudo oferece uma avaliação abrangente da quantidade de alimento que poderia ser produzida em terras adquiridas por investidores estrangeiros em países como o Sudão e a Indonésia. Mas ainda há questões em aberto: O que aconteceria com os alimentos produzidos? Seriam enviados para o estrangeiro?”
Os próprios autores acreditam que dificilmente uma alta produtividade nessas terras seria conseguida visando à alimentação dos povos locais. “Muito da terra adquirida não foi sequer colocada para produção. Além disso, quase metade dessas aquisições de terra não é para cultivar alimentos. Na Malásia, Zimbábue e Gabão, as plantações para biocombustível são os únicos grandes cultivos”, observaram.
“O mundo já produz comida suficiente para alimentar a todos, mas uma em cada oito pessoas vai dormir com fome todos os dias, muitas das quais são as mesmas pessoas que dependem dos alimentos das terras que grandes agronegócios estão visando. O fortalecimento do direito à terra é crucial para garantir que as comunidades afetadas não sejam prejudicadas”, comentou Hannah Stoddart, diretora de políticas para alimentação e mudanças climáticas do Oxfam, ao jornal The Guardian. Ela concluiu dizendo que investimentos em agricultura em pequena escala e práticas agrícolas mais sustentáveis poderiam reduzir a fome dos países mais pobres.* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.

Os negócios que vêm do lixo




shutterstock logisticareversa 300x153 Os negócios que vêm do lixo
Foto: shutterstock
A coleta seletiva e a reciclagem patinam em grande parte das cidades brasileiras, não vão dar certo enquanto não existirem cadeias de negócios baseadas em matérias-primas recicladas.
A urbanista Raquel Rolnik publicou recentemente umartigo mostrando o que acontece com a coleta seletiva e a reciclagem na cidade de São Paulo, a mais populosa do país e a que mais gera resíduos, de todas as classes, recicláveis ou não. Ela aponta que a cidade tem 46% de domicílios servidos por coleta seletiva, no entanto apenas 2% dos resíduos são de fato reciclados. Essa é uma realidade que em maior ou menor grau se espraia por todas as cidades brasileiras, apesar de coleta seletiva e reciclagem estarem previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, de dezembro de 2010 (depois de 20 anos dormitando no Congresso), e que tem 2014 como prazo para a eliminação completa dos lixões e implantação de aterros sanitários em todo o país.
Minha opinião é que nada disso vai dar certo se não houver, também, um esforço consistente para a geração de novos produtos e negócios com base em matérias-primas obtidas a partir da separação dos resíduos coletados, seja em residências ou em empresas. Negócios capazes de gerar inovação, empregos e renda a partir do uso de materiais que podem ser obtidos a partir da mineração dos resíduos gerados pela atividade humana.
O primeiro desafio que se impõe é a necessidade de que esses negócios sejam espalhados por todo o país, uma vez que transportar resíduos por longas distâncias pode tornar o custo da operação incompatível com qualquer negócio. Então, será preciso envolver não apenas cooperativas de recicladores em todo o país (capazes de coletar, separar e dar destinação adequada a cada classe de resíduo), mas também fomentar o empreendedorismo para a formação de milhares de pequenas empresas que utilizem esses materiais para a produção de uma miríade de produtos que satisfaçam as mais diversas necessidades da sociedade.
Isso não acontecerá de forma espontânea, será preciso um planejamento e um esforço coordenado de empresas, governos, universidades, institutos de pesquisa e organismos financeiroscapazes de produzir inovações, design e modelos de negócios viáveis e espalha-los por todo o Brasil. Desta forma não apenas as principais questões relativas aos resíduos podem ser encaminhadas, como também haverá muito mais oportunidades de negócios e empregos à disposição da sociedade.
Já existem iniciativas na direção de transformar lixo em matéria-prima para produtos de bom valor econômico e alto benefício social. Um exemplo interessante é o desenvolvimento de produtos a partir da reciclagem de embalagens longa-vida. Hoje já existe no mercado telhas e uma série de tipos de painéis feitos a partir da reciclagem desses materiais, com grande vantagem frente a materiais tradicionais no mercado. Para se chegar a esse formato de produto e negócio a Tetra Pak, maior empresa global de embalagens longa-vida apostou no desenvolvimento de tecnologias e apoio às cooperativas de catadores e produtores de telhas e placas. “O resultado foi a criação de um mercado novo, algo que não existia antes e que a demanda é ainda bem maior do que a capacidade de oferta”, explica Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da empresa.
A inovação neste caso foi planejada e não veio apenas porque a empresa é boazinha, mas também porque ela deve ser responsável pelos resíduos que coloca no mercado.  Centenas de pequenas empresas estão sendo criadas em todo o Brasil para o aproveitamento dessa matéria-prima com bons resultados nos negócios.  Outros materiais tem mais valor e, por isso, são mais demandados, é o caso das latas de alumínio, onde o Brasil detém recordes de reciclagem. Vidros e PETs estão entrando nessa linha de materiais com valor comercial, mas ainda em escala insuficiente para cumprir as metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A chave para a solução dos resíduos está basicamente em dois vetores, a redução na produção de resíduos e a inovação na geração de novos produtos e negócios a partir dos resíduos coletados. Sem isso a coleta seletiva simplesmente vai fazer com que as prefeituras tenham de manter imensos depósitos de materiais recicláveis que não serão reciclados por falta de uma cadeia de negócios que os utilize. (Envolverde)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Participação Social, o novo fantasma das elites




participacao Participação Social, o novo fantasma das elites
Reação feroz dos conservadores ao decreto de Dilma revela incapacidade de compreender sociedades atuais e interesse de manter política como monopólio dos “representantes”
O texto na nossa Constituição é claro, e se trata nada menos do que do fundamento da democracia: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Está logo no artigo 1º, e garante portanto a participação cidadã através de representantes ou diretamente. Ver na aplicação deste artigo, por um presidente eleito, e que jurou defender a Constituição, um atentado à democracia não pode ser ignorância: é vulgar defesa de interesses elitistas por quem detesta ver cidadãos se imiscuindo na política. Preferem se entender com representantes.
A democracia participativa em nenhum lugar substituiu a democracia representativa. São duas dimensões de exercício da gestão pública. A verdade é que todos os partidos, de todos os horizontes, sempre convocaram nos seus discursos a que população participe, apoie, critique, fiscalize, exerça os seus direitos cidadãos. Mas quando um governo eleito gera espaços institucionais para que a população possa participar efetivamente, de maneira organizada, os agrupamentos da direita invertem o discurso.
É útil lembrar aqui as manifestações de junho do ano passado. As multidões que manifestaram buscavam mais quantidade e qualidade em mobilidade urbana, saúde, educação e semelhantes. Saíram às ruas justamente porque as instâncias representativas não constituíam veículo suficiente de transmissão das necessidades da população para a máquina pública nos seus diversos níveis. Em outros termos, faltavam correias de transmissão entre as necessidades da população e os processos decisórios.
Os resultados foram que se construíram viadutos e outras infraestruturas para carros, desleixando o transporte coletivo de massa e paralisando as cidades. Uma Sabesp vende água, o que rende dinheiro, mas não investe em esgotos e tratamento, pois é custo, e o resultado é uma cidade rica como São Paulo que vive rodeada de esgotos a céu aberto, gerando contaminação a cada enchente. Esta dinâmica pode ser encontrada em cada cidade do país onde são algumas empreiteiras e especuladores imobiliários que mandam na política tradicional, priorizando o lucro corporativo em vez de buscar o bem estar da população.
Participação funciona. Nada como criar espaços para que seja ouvida a população, se queremos ser eficientes. Ninguém melhor do que um residente de um bairro para saber quais ruas se enchem de lama quando chove. As horas que as pessoas passam no ponto de ônibus e no trânsito diariamente as levam a engolir a revolta, ou sair indignadas às ruas. Mas o que as pessoas necessitam é justamente ter canais de expressão das suas prioridades, em vez de ver nos jornais e na televisão a inauguração de mais um viaduto. Trata-se aqui, ao gerar canais de participação, de aproximar o uso dos recursos públicos das necessidades reais da população. Inaugurar viaduto permite belas imagens; saneamento básico e tratamento de esgotos muito menos.
Mas se para muitos, e em particular para a grande mídia, trata-se de uma defesa deslavada da política de alcova, para muitos também se trata de uma incompreensão das próprias dinâmicas mais modernas de gestão pública.
Um ponto chave, é que o desenvolvimento que todos queremos está cada vez mais ligado à educação, saúde, mobilidade urbana, cultura, lazer e semelhantes. Quando as pessoas falam em crescimento da economia, ainda pensam em comércio, automóvel e semelhantes. A grande realidade é que o essencial dos processos produtivos se deslocou para as chamadas políticas sociais. O maior setor econômico dos Estados Unidos, para dar um exemplo, é a saúde, representando 18,1% do PIB. A totalidade dos setores industriais nos EUA emprega hoje menos de 10% da população ativa. Se somarmos saúde, educação, cultura, esporte, lazer, segurança e semelhantes, todos diretamente ligados ao bem estar da população, temos aqui o que é o principal vetor de desenvolvimento. Investir na população, no seu bem estar, na sua cultura e educação, é o que mais rende. Não é gasto, é investimento nas pessoas.
A característica destes setores dinâmicos da sociedade moderna é que são capilares, têm de chegar de maneira diferenciada a cada cidadão, a cada criança, a cada casa, a cada bairro. E de maneira diferenciada porque no agreste terá papel central a água; na metrópole, a mobilidade e a segurança e assim por diante. Aqui funciona mal a política centralizada e padronizada para todos: a flexibilidade e ajuste fino ao que as populações precisam e desejam são fundamentais, e isto exige políticas participativas. Produzir tênis pode ser feito em qualquer parte do mundo, coloca-se em contêiner e se despacha para o resto do mundo. Saúde, cultura, educação não são enlatados que se despacham. São formas densas de organização da sociedade.
Eu sou economista, e faço as contas. Entre outras contas, fizemos na Pós-Graduação em Administração da PUC-SP um estudo da Pastoral da Criança. É um gigante, mais de 450 mil pessoas, organizadas em rede, de maneira participativa e descentralizada. Conseguem reduzir radicalmente, nas regiões onde trabalham, tanto a mortalidade infantil como as hospitalizações. O custo total por criança é de 1,70 reais por mês. A revista Exame publica um estudo sobre esta Organização da Sociedade Civil (OSC), porque tenta entender como se consegue tantos resultados com tão poucos recursos. Não há provavelmente instituição mais competitiva, mais eficiente do que a Pastoral, se comparada com as grandes empresas, bancos ou planos privados de saúde. Cada real que chega a organizações deste tipo se multiplica.
A explicação desta eficiência é simples: cada mãe está interessada em que o seu filho não fique doente, e a mobilização deste interesse torna qualquer iniciativa muito mais produtiva. Gera-se uma parceria em que a política pública se apoia no interesse que a sociedade tem de assegurar os resultados que lhe interessam. A eficiência aqui não é porque se aplicou a última recomendação dos consultores em kai-ban, kai-zen, just-in-time, lean-and-mean, TQM e semelhantes, mas simplesmente porque se assegurou que os destinatários finais das políticas se apropriem do processo, controlem os resultados.
As organizações da sociedade civil têm as suas raízes nas comunidades onde residem, podem melhor dar expressão organizada às demandas, e sobre tudo tendem a assegurar a capilaridade das políticas públicas. Nos Estados Unidos, as OSCs da área da saúde administram grande parte dos projetos, simplesmente porque são mais eficientes. Não seriam mais eficientes para produzir automóveis ou represas hidroelétricas. Mas nas áreas sociais, no controle das políticas ambientais, no conjunto das atividades diretamente ligadas à qualidade do cotidiano, são simplesmente indispensáveis. O setor público tem tudo a ganhar com este tipo de parcerias. E fica até estranho os mesmos meios políticos e empresariais que tanto defendem as parceiras público-privadas (PPPs), ficarem tão indignados quando aparece a perspectiva de parcerias com as organizações sociais. O seu conceito de privado é muito estreito.
Eu, de certa forma graças aos militares, conheci muitas experiências pelo mundo afora, trabalhando nas Nações Unidas. Todos os países desenvolvidos têm ampla experiência, muito bem sucedida, de sistemas descentralizados e participativos, de conselhos comunitários e outras estruturas semelhantes. Isto não só torna as políticas mais eficientes, como gera transparência. É bom que tanto as instituições públicas como as empresas privadas que executam as políticas tenham de prestar contas. Democracia, transparência, participação e prestação de contas fazem bem para todos. Espalhar ódio em nome da democracia não ajuda nada.
Ladislau Dowbor é professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas. Seus artigos estão disponíveis online em http://dowbor.org
** Publicado originalmente no site Outras Palavras.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Aplicativo Passaporte Verde traz roteiros mais responsáveis nas 12 cidades-sede




São mais de 60 roteiros que convidam turistas e moradores a viverem experiências mais autênticas em viagens de lazer ou negócio. A campanha Passaporte Verde é uma das ações de sustentabilidade do governo federal para a Copa do Mundo.

Por meio do aplicativo, os usuários terão acesso a mais de sessenta opções de roteiros nos arredores das 12 cidades-sede da Copa do Mundo. Subir no Corcovado, no Rio de Janeiro, por meio de uma trilha pela Mata Atlântica com saída do Parque Lage; visitar comunidades ribeirinhas nas margens do Rio Negro, em Manaus; ou ainda conhecer o Morro da Conceição, importante ponto cultural de Recife, são alguns dos Roteiros Passaporte Verde. No geral, os itinerários convidam os viajantes a explorarem as cidades de uma maneira mais autêntica, com sugestões que incentivam a maior proximidade da natureza, a degustação da culinária local, o contato com culturas tradicionais, entre outros.
Com versões em português e inglês, o aplicativo também traz dicas para tornar viagens de lazer ou negócio menos impactantes para o meio ambiente e para o destino escolhido. Do planejamento da viagem a como desligar corretamente aparelhos que serão deixados em casa, as dicas estimulam práticas mais responsáveis com ações simples que podem fazer uma grande diferença, como evitar conexões aéreas e se informar sobre frutas e legumes da estação do seu destino.
Apple Store – Aplicativo Passaporte Verde: 
http://itunes.apple.com/pt/app/passaporte-verde/id888927319?mt=8

Sobre o Passaporte Verde
Criada em 2008, a campanha Passaporte Verde surgiu como uma parceria do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os Ministérios do Meio Ambiente e do Turismo do Brasil, o Ministério Francês do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e outros parceiros. Atualmente, com disseminação em diversos países como Brasil, Costa Rica, Equador, África do Sul e Coréia do Sul, a campanha já é referência internacional em disseminação de informações sobre turismo sustentável.
A edição de 2014, no Brasil, conta com apoio do Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Turismo, Ministério do Esporte e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a campanha também conta com a parceria de UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), OIT (Organização Internacional do Trabalho),  UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) e a FAS (Fundação Amazonas Sustentável). Os workshops Jornadas da Sustentabilidade, parte integrante da campanha, são realizados com patrocínio do Itaú Unibanco e apoio da BRAZTOA (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).

Sobre o PNUMA
O PNUMA é a principal autoridade global em meio ambiente e a agência do sistema das Nações Unidas responsável por promover a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e o uso eficiente de recursos. Criado em 1972, o PNUMA tem entre seus objetivos fomentar o desenvolvimento sustentável; manter o meio ambiente global sob constante monitoramento; alertar sobre ameaças ao meio ambiente; e disseminar práticas que promovam a qualidade de vida sem comprometer os recursos e serviços ambientais para as gerações futuras. Para saber mais, acesse www.pnuma.org.br ou www.unep.org. 

Mais informações
João Gonçalves – 55 61 3038.9241 – passaporte.rp@pnuma.org
Marcelo Tavela – 55 61 3038.9237 – comunicacao@pnuma.org

De vilã às boas práticas, Apple vira exemplo de sustentabilidade




1158 300x183 De vilã às boas práticas, Apple vira exemplo de sustentabilidade
Loja da Apple na China. Empresa tem empregado esforços para desconstruir imagem negativa. Foto: Jake Ji
Desconstruir uma imagem negativa no setor corporativo global tem sido uma das batalhas da Apple nos últimos anos. A companhia criada por Steve Jobs já foi criticada no passado por suas emissões de gases do efeito estufa, uso de materiais tóxicos e a contratação de trabalhadores em condições análogas à escravidão, mas atualmente melhorou suas práticas e conseguiu avaliações melhores de grupos ambientalistas como o Greenpeace.
Essas são boas notícias para fundos mútuos conscientes em relação ao meio ambiente que detêm fatias na Apple por outro grande motivo – ela gera dinheiro. A fabricante do iPhone, a maior companhia de capital aberto do mundo em valor de mercado, adotou uma série de políticas sustentáveis como a reciclagem ampliada de produtos e o uso de energia solar em seus centros de dados.
Para gestores que a tornaram uma favorita dos maiores fundos mútuos “verdes” acompanhados pela unidade Lipper da Thomson Reuters, as melhorias aumentam o apelo de um papel que subiu 15% neste ano, o décimo nono melhor do índice Standard & Poor’s 100.
A confluência de um preço crescente e um desempenho ambiental melhor fizeram da Apple “aquela ação que você não pode ignorar”, afirmou à Reuters Anthony Tursich, gestor de portfólio sênior do Portoflio 21 Global Equity Fund de 498 milhões de dólares, um fundo verde que comprou fatia na Apple em 2011 após a companhia começar a fornecer mais dados sobre emissões.
A empresa com maior participação na carteira de Tursich é o Google, que ele comprou apenas depois que a companhia teve progressos em energias renováveis, refletindo como as principais corporações norte-americanas estão adotando metas verdes, e como os fundos pulam sobre essas organizações quando elas começam a adotar tais medidas ambientais.* Publicado originalmente no site EcoD.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Especialistas defendem que cidades devem ser a vanguarda da luta climática




Evento na Alemanha alerta que as mudanças climáticas já afetam as vidas das pessoas e recomenda que as autoridades locais não esperem por um acordo climático internacional para agir
Segundo o Banco Mundial, a perda anual com enchentes nas cidades vai ultrapassar US$ 1 trilhão em 2050, sendo que boa parte do litoral brasileiro está entre as regiões que mais serão afetadas. Além disso, a entidade afirma que ondas de calor, escassez de recursos hídricos e tempestades mais intensas e frequentes já são observadas por todo o mundo, e que as autoridades locais deveriam assumir a vanguarda para lidar com esses problemas.
179 Especialistas defendem que cidades devem ser a vanguarda da luta climática
Foto: Banco Mundial
Essas mensagens foram apresentadas no Fórum sobre Experiências e Melhores Práticas Municipais e de Autoridades Subnacionais, que foi realizado em paralelo à rodada de negociações climáticas em Bonn, na Alemanha, ainda em andamento.
“Um novo mundo urbano precisa ser construído para que consigamos enfrentar o desafio climático. O sucesso ou o fracasso de uma civilização mais resiliente depende das cidades”, declarou Kishan Kumarsingh, co-presidente do evento.
O caso da atual crise de água em São Paulo chegou a ser mencionado, assim como exemplos de outras cidades que já enfrentam problemas possivelmente relacionados às mudanças climáticas, mesmo que não percebam.
“Ainda há muito desconhecimento quanto a esse assunto. Mas já está claro que as autoridades subnacionais não podem ficar esperando por algum tipo de acordo climático internacional para só então agirem. Mesmo que não reconheçam a realidade das mudanças climáticas, prefeitos precisam se dar conta que ações urgentes são necessárias em vários setores, como na gestão de recursos hídricos”, disse Brian Kilkelly, da Rede Mundial de Cidades.
Boas iniciativas
Um dos pontos centrais do evento foi dar destaque para as melhores políticas já implementadas ao redor do mundo.
Por exemplo, a cidade de Malmo, na Suécia, possui 98% de seus resíduos residenciais reciclados ou transformados em energia. Toda a frota do transporte público utiliza apenas biogás e os carros da prefeitura são elétricos. Além disso, a cidade tem como meta ter 100% de sua energia gerada através de fontes renováveis até 2030, ano em que também deve alcançar a neutralidade de carbono.
Por sua vez, Bogotá, capital da Colômbia, investiu pesado nos últimos anos em um modelo de transporte público mais eficiente, o que retirou das ruas milhares de carros, melhorando o trânsito e reduzindo a poluição do ar e as emissões de gases do efeito estufa. A cidade lidera ainda o ranking latino-americano de ciclovias, com um total de 376 km construídos.
De uma forma geral, os especialistas reunidos em Bonn apontaram uma série de benefícios relacionados aos investimentos em resiliência climática nas cidades: são medidas que geram empregos em vários setores, como eficiência energética; que melhoram a saúde pública, diminuindo, por exemplo, os gastos com tratamentos de doenças respiratórias; e que reduzem enormemente as perdas em casos de eventos climáticos extremos, como enchentes e secas.
“Além disso, as cidades podem servir de exemplo para o mundo e facilitar o estabelecimento de um acordo climático vigoroso”, disse Gino Van Begin, do Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI).
Porém, nem todas as cidades possuem condições financeiras para promover ações desse tipo. Foi o que deixou claro o representante do município de Dar Es Salaam, na Tanzânia, que afirmou não haver recursos disponíveis para que se pense em adaptação ou mitigação climática.
Para casos como esse, os especialistas reunidos no evento destacaram a necessidade de serem colocados em prática mecanismos de financiamento já existentes, como o Fundo Climático Verde. Também deveriam ser criadas novas ferramentas de cooperação, transferência de tecnologias e de apoio logístico e técnico entre os governos nacionais e subnacionais.
“Será nas cidades que a batalha do desenvolvimento sustentável será vencida ou perdida”, concluiu Kirabo Kacyira, co-presidente do evento.* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Juízes negros são 1,4% dos magistrados, aponta censo do CNJ




1116 Juízes negros são 1,4% dos magistrados, aponta censo do CNJO Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou o resultado do primeiro Censo do Poder Judiciário, feito de forma voluntária por servidores e magistrados de todo o país. Os dados apontam que o perfil da magistratura é o de homens brancos (84,5%), com média de idade de 45 anos, casado e com filhos. Conforme a pesquisa, 14% dos magistrados se declararam pardos; 1,4% negros e apenas 0,1% se identificaram como indígenas.
O censo teve participação de 60% (170,7 mil) dos servidores do Judiciário e de 64% dos juízes (10,7 mil). Apesar de poucos juízes afrodescendentes na Justiça, em dois anos, o percentual de negros e pardos que ingressaram carreira cresceu de 15% para 19%.
A pesquisa também mostra que 64% dos juízes são homens e 36% são mulheres. A presença de magistradas é maior na Justiça do Trabalho (47%). Do total de juízas que responderam ao censo, 65% afirmaram que a vida pessoal é afetada pela carreira em relação aos colegas homens. Pelo fato de ser mulher 30% das juízas informaram que vivenciaram reações negativas.
O Censo Nacional do Poder Judiciário teve início em agosto do ano passado e foi elaborado para definir o perfil dos magistrados e de servidores. De acordo com o CNJ, o censo terá importância para a formulação de políticas de recursos humanos e públicas do Judiciário. Publicado originalmente no site Agência Brasil.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Aulas de caráter. Uma boa ideia

Uma rede de escolas americana, a KIPP (Knowlegde is Power Program), fundada em 1994, nos Estados Unidos, tem como meta levar seus alunos – 86% são de famílias pobres – até a universidade. O projeto tem como meta dar confiança a todos de que são capazes de aprender.  Mais, a ideia, acredito, se encaixa perfeitamente a alunos de baixa renda no Brasil.  Entre as atividades propostas, a escola estimula atividades de autocontrole, perseverança, gratidão, otimismo e curiosidade em seus alunos, entre outras.  E há dois anos radicalizou o ensino de competências socioemocionais criando a disciplina de, pasmem, caráter.
Aí, um parêntese com a realidade brasileira: ao fazermos uma analogia com nosso cenário, vejo como imprescindível em nossas escolas tal disciplina.  Por quê?  Vivemos em um país extremamente desigual em que é muito difícil à classe mais baixa de nossa população ascender às oportunidades de categorias mais abastadas.  Incluir o ensino de conteúdo tão importante pode significar a essas categorias acreditar que é possível, sim, ascender sem transgredir, sem levar vantagem, sem trapacear.  E crescer.  E isso é preciso ser dito com todas as letras, para pais e alunos. 
As aulas de caráter acontecem duas vezes por semana, para 5ª e 6ª séries, e nelas é ensinado como enfrentar os pontos fracos, como estabelecer relações saudáveis com outras pessoas e como usar a mente para conseguir o que querem.
Os professores da escola são preparados para relacionar questões socioemocionais com conteúdos cognitivos. Assim, numa aula de inglês, os alunos analisam as características dos personagens dos textos que leem, e nas de história, discutem motivações por trás de fatos importantes. 
Assim, a expectativa é que as crianças mudem de atitude também em casa. Por isso, os pais são chamados no início do ano para um workshop em que são apresentados ao conteúdo que será ensinado e como isso será feito. A professora também dá dicas de como eles podem dar suporte aos seus filhos. Alguns pais ajudam, outros não. Mas a missão é fazer com que mesmo os que são oriundos de famílias disfuncionais saibam lidar melhor com isso. O fato de uma criança não ser incentivada a estudar em casa não significa que ela não deva ter acesso a boa educação. A meta é garantir a todos.
Embora a implantação desse currículo socioemocional na Kipp Infinity Middle School ainda esteja em fase de testes e os dados sobre o impacto no desempenho acadêmico não tenham sido computados, a escola tem convicção de que os alunos estão aprendendo mais e que estão mais tranquilos e confiantes. “Estamos ansiosos pelos resultados para seguir em frente”, afirmou a diretora. No próximo ano letivo, o plano é preparar outros professores para ministrarem as aulas de caráter e passar a incluí-las na grade de mais séries.
Mesmo embrionariamente, os primeiros resultados já começam a aparecer.  Antes, afirmaram professores, eles ficavam muito nervosos e achavam que não iam conseguir.  Passado um ano, dizem que estão preparados e que vão se dar bem, contam orgulhosos.
Trazendo para a realidade da educação brasileira, o circo dos horrores nosso de cada dia, em que faltam desde estrutura física, melhores salários, reciclagem de professores e vontade política de nossos governantes em transformar o país através da educação, aulas de caráter poderiam ser ministradas, para começar, no legislativo, no judiciário e no executivo.
Abraços sustentáveis

Odilon de Barros 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Insistir no Brasil ou desistir dele?




Insistir no Brasil ou desistir dele depende de como cada um vê o mundo e é decisão de foro íntimo
1121 300x199 Insistir no Brasil ou desistir dele?Um dos aspectos interessantes de dar palestras é ser confrontado com perguntas surpreendentes. Encontrei, no aeroporto, um homem que estivera em palestra minha, e ele estava embarcando o filho de 17 anos para o Canadá, onde o rapaz faria intercâmbio estudantil. O pai perguntou-me se o filho deveria insistir ou desistir do Brasil, referindo-se à possibilidade de o menino transferir-se definitivamente para o exterior.
Respondi que procuro não dar esse tipo de conselho, pois tento seguir o ensinamento do filósofo Arthur Schopenhauer, que dizia: “A realidade exterior não existe como um fato concreto; o mundo externo a nós é apenas uma apreensão de nosso interior”. Anthony Robbins, escritor americano vivo, imitando a sabedoria de Schopenhauer (1788-1860), disse algo parecido: “Nós não vemos os problemas como eles são; nós vemos os problemas como nós somos”. Portanto, minhas crenças e convicções valem para mim, e podem valer ou não para os outros.
Contei-lhes uma fábula. Havia duas cidades, uma de cada lado de um grande rio. Um homem era condutor de uma barca e seu trabalho era transportar passageiros de uma margem à outra. Certo dia, um passageiro diz que pretendia morar no outro lado e pergunta-lhe como era a cidade de lá. O condutor indaga o que o passageiro pensa da cidade em que mora, ao que o homem responde: “Aqui, a cidade é ruim e o povo é um atraso”. E o condutor assevera: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”.
Chegando ao outro lado do rio, o condutor atende a outro passageiro que também desejava se mudar para a cidade do outro lado, agora no sentido contrário do primeiro, e recebe a mesma pergunta. E a resposta do condutor é igual: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”. Questionado por que dera resposta igual para os dois passageiros, ele redarguiu: “Os lugares são o que deles pensamos, independentemente de como eles sejam de fato”.
Diante da insistência do pai que me fizera a pergunta, socorri-me de Roberto Campos, que costumava repetir: “O Brasil é a amante que mais eu amei, mas foi a que mais me enganou”. Acrescentei-lhe que essa amante, nossa pátria, tem tantos recursos que sempre acredito em seu arrependimento e regeneração, e que ela ainda vai se comportar direito e ser uma boa companheira de vida. Mas fiz uma ressalva: acredito, mas com certa desconfiança.
Antigamente, dizia-se que Brasil e Argentina eram como dois bêbados cambaleantes, com uma diferença: o Brasil estava no rumo de casa, enquanto a Argentina caminhava na direção oposta. Hoje, o risco é o bêbado Brasil fazer uma curva de 180 graus, tomar o rumo contrário e deixar o progresso para trás. Eu temo que isso aconteça, pois nos especializamos em desperdiçar oportunidades históricas.
O Brasil erra demais, a corrupção corrói a esperança, a violência urbana assusta, às vezes a desesperança bate, mas o país é tão rico em recursos naturais que o subdesenvolvimento chega a ser uma distorção. Insistir no Brasil ou desistir dele depende de como cada um vê o mundo e é decisão de foro íntimo. Em junho do ano passado, atingimos 201 milhões de habitantes. Alguns até podem desistir do país e fixar residência no exterior. Mas a nação inteira não tem como fazer isso.
Apesar dos problemas, o país tem amplas condições para superar o atraso e ser um bom lugar para morar. Um jovem de 17 anos tem muita vida pela frente e, por isso, tem a chance de ver este país oferecer bom padrão de bem-estar a todos os seus habitantes. Porém, chance não é certeza.** Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.

Quem envergonhou o Brasil aqui e lá fora?



          Pertence à cultura popular do futebol a vaia a certos jogadores, a juízes e eventualmente a alguma autoridade presente. Insultos e xingamentos com linguagem de baixo calão que sequer crianças podem ouvir é coisa inaudita no futebol do Brasil. Foram dirigidos à mais alta autoridade do pais, à Presidenta Dilma Rousseff, retraída nos fundos da arquibancada oficial.
Esses insultos vergonhosos só podiam vir de um tipo de gente que ainda têm visibilidade do pais, “gente branquíssima e de classe A, com falta de educação e sexista’ como comentou a socióloga do Centro Feminista de Estudos, Ana Thurler.
Quem conhece um pouco a história do Brasil ou quem leu Gilberto Freyre, José Honório Rodrigues ou Sérgio Buarque de Hollanda sabe logo identificar tais grupos. São setores de nossa elite, dos mais conservadores do mundo e retardatários no processo civilizatório mundial, como costumava enfatizar Darcy Ribeiro, setores que por 500 anos ocuparam o espaço do Estado e dele se beneficiaram a mais não poder, negando direitos cidadãos para garantir privilégios corporativos. Estes grupos não conseguiram ainda se livrar da Casa Grande que a tem entrenhada na cabeça e nunca esqueceram o pelourinho onde eram flagelados escravos negros. Não apenas a boca é suja; esta é suja porque sua mente é suja. São velhistas e pensam ainda dentro dos velhos paradigmas do passado quando viviam no luxo e no consumo conspícuo como no tempo dos príncipes renascentistas.
Na linguagem dura de nosso maior historiador mulato Capistrano de Abreu, grande parte da elite sempre “capou e recapou, sangrou e ressangrou” o povo brasileiro. E continua fazendo. Sem qualquer senso de limite e por isso, arrogante, pensa que pode dizer os palavrões que quiser e desrespeitar qualquer autoridade.
O que ocorreu revelou aos demais brasileiros e ao mundo que tipo de tipo de lideranças temos ainda no Brasil. Envergonharam-nos aqui e lá fora. Ignorante, sem educação e descarado não é o povo, como costumam pensar e dizer. Descarado, sem educação e ignorante é o grupo que pensa e diz isso do povo. São setores em sua grande maioria rentistas que vivem da especulação financeira e que mantém milhões e milhões de dólares fora do país, em bancos estrangeiros ou em paraísos fiscais.
Bem disse a Presidenta Dilma: “o povo não reage assim; é civilizado e extremamente generoso e educado”. Ele pode vaiar e muito. Mas não insulta com linguagem xula e machista a uma mulher, exatamente aquela que ocupa a mais alta representação do país. Com serenidade e senso de soberania pessoal deu a estes incivilizados uma respota de cunho pessoal:”Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada me tirou do rumo”. Referia-se às suas torturas sofridas dos agentes do Estado de terror que se havia instalado no Brasil a partir de 1968. O pronunciamento que fez posteriormente na TV mostrou que nada a tira do rumo nem a abala porque vive de outros valores e pretende estar à altura da grandeza de nosso país.
Esse fato vergonhoso recebeu a repulsa da maioria dos analistas e dos que sairam a público para se manfiestar. Lamentável, entretanto, foi a reação dos dois candidatos a substitui-la no cargo de Presidente. Praticamente usaram as mesmas expressões, na linha dos grupos embrutecidos:”Ela colhe o que plantou”. Ou o outro deu a entender que fez por merecer os insultos que recebeu. Só espíritos tacanhos e faltos de senso de dignidade podiam reagir desta forma. E estes se apresentam como aqueles que querem definir os destinos do país. E logo com este espírito! Estamos fartos de lideranças medíocres que quais galinhas continuam ciscando o chão, incapazes de erguer o voo alto das águias que merecemos e que tenham a grandeza proporcional ao tamanho de nosso país.
Um amigo de Munique que sabe bem o portugues, perplexo com os insultos comentou:”nem no tempo do nazismo se insultavam desta forma as autoridades”. É que ele talvez não sabe de que pré-história nós viemos e que tipo de setores elitistas ainda dominam e que de forma prepotente se mostram e se fazem ouvir. São eles os principais agentes que nos mantém no subdesenvolvimento social, cultural e ético. Fazem-nos passar uma vergonha que, realmente, não merecemos.
Leonardo Boff é professor emérito de Etica

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Os Parques de Papel ameaçam a Mata Atlântica




1117 Os Parques de Papel ameaçam a Mata AtlânticaNo último dia 27 de maio, “Dia Nacional da Mata Atlântica”, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgaram dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, estudo que há 28 anos monitora o desmatamento do bioma. E o resultado observado foi um aumento de 9% do valor bruto do desmatamento comparado com o ano anterior. Foram suprimidos 23.948 hectares, ou 24 mil campos de futebol, de vegetação nativa.
Os Estados de Minas Gerais, Bahia, Piauí e Paraná são os com situação mais crítica. Juntos, foram responsáveis por 92% do total dos desmatamentos, o equivalente a 21.973 hectares. Minas Gerais, com 8.437 hectares suprimidos, é o campeão do desmatamento pelo quinto ano consecutivo.
A situação impõe um alerta sobre a necessidade de restrições de uso do solo e mostra que é preciso proteger os recursos ambientais por meio da criação, implantação e regularização de áreas protegidas.
A necessidade de criação e implantação de Unidades de Conservação, como parques e reservas, é ainda mais urgente devido à grande perda de áreas com relevância ecológica ocorrida de forma acelerada nos últimos 50 anos, em razão do desenvolvimento de atividades agroindustriais e parcelamento do solo urbano.
O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, passou a apurar as irregularidades destes “Parques de Papel”, que existem nas normas legais, mas que, na realidade, são esquecidos pelo poder público.
Apenas com relação às Unidades de Conservação de Proteção Integral situadas na Mata Atlântica no Estado de Minas Gerais, o Ministério Público Estadual, no último ano, ingressou com ações judiciais para a proteção e estruturação de quase 35 mil hectares. Além disso, existem outros inquéritos civis instaurados a fim de apurar a efetiva implantação de outras dessas unidades, e que totalizam mais de 116 mil hectares.
As Unidades de Conservação formalmente criadas enfrentam graves problemas: são pouco conhecidas pela sociedade, têm regularização fundiária deficiente e falta uma infraestrutura mínima de gestão, visitação e fiscalização.
Ressalta-se que no dia 22 de maio o Ministério Público assinou um termo de compromisso com um empreendimento responsável pelo desmate irregular de mais de 6 mil hectares indevidamente autorizados pelo Estado de Minas Gerais. Na oportunidade, esperava-se que o Governo do Estado também aderisse ao documento, de forma a cumprir as determinações legais de proteção da Mata Atlântica. Este comprometimento, pelo Estado de Minas Gerais, representaria uma mudança efetiva de postura quanto sua política de regularização ambiental e de autorização de desmates.
Ao final, porém, somente o empreendedor assinou o termo de compromisso, com a assunção da obrigação de proceder à regularização ambiental dos desmates praticados. O Estado de Minas Gerais, porém, se recusou a adotar as posturas necessárias para o cumprimento da legislação, o que demonstra que ainda está distante de uma solução real para a triste posição de líder em desmatamento da Mata Atlântica brasileira.
Há ainda poucos exemplos de política efetiva e inovação na gestão dessas áreas que, a médio ou longo prazo, comprometem não apenas o equilíbrio ambiental, como também os serviços ambientais – que incluem a produção de água, a fertilidade do solo, a regulação do clima, entre tantos outros indispensáveis ao próprio bem-estar das populações humanas.
A Constituição Federal elevou a Mata Atlântica à patrimônio nacional e garantiu o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado às presentes e futuras gerações. O bioma é considerado um hotspot mundial, extremamente rico em biodiversidade e também um dos mais ameaçados do planeta, já que restam 8,5% de remanescentes florestais acima de 100 hectares do que existia originalmente. Somados todos os fragmentos de floresta nativa acima de 3 hectares, temos 12,5%.
A maior parte dos remanescentes florestais permanece sem a devida proteção. Além da priorização de políticas públicas voltadas à ampliação e consolidação da rede de áreas protegidas, é preciso desenvolver estratégias para a conservação que fomentem a preservação e uso sustentável da biodiversidade.** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.