quarta-feira, 30 de abril de 2014

Políticas para a mobilidade: está mais do que na hora


transito Políticas para a mobilidade: está mais do que na hora
Trânsito caótico, resultado de um modelo falido. Foto: Reprodução
Modelo urbano que repete o trinômio apartamento-carro-shopping acentua doenças no trânsito, piora a vida e não tem solução a vista. É preciso romper com este
Reportagem publicada pelo jornal O Povo, de Fortaleza, na semana passada, mostra que a doença do trânsito maluco já se espalhou por todas as capitais do Brasil e especialmente no Nordeste, região que hoje vive uma grande onda de crescimento, com suas oportunidades e armadilhas.
Por enquanto, as novas metrópoles parecem estar repetindo o trinômio apartamento-carro-shopping, que abriu espaço exagerado para o automóvel e afastou as pessoas das ruas. E, de forma geral, a resposta das autoridades tem sido o investimento maciço na abertura de novas vias, alargamento de avenidas e a construção de viadutos e pontes, solução que apenas adia ou transfere os congestionamentos para outros lugares, ou tempos. Como se sabe, o congestionamento volta. Mais forte, com violência, ruidoso, a pedir mais e mais espaço.
A matéria fortalezense acerta ao recomendar que as pessoas busquem o caminho da convivência e da gentileza urbana nas ruas, entre pedestres, ciclistas e condutores de veículos motorizados. Faltou apenas apontar a necessidade urgente de mudar a direção dos investimentos públicos para obras que tragam benefícios também públicos: corredores de ônibus, trens e veículos sobre trilhos, metrôs, sistemas de barcos, ciclovias e calçadas.
Os enganos do modelo urbano importado da América do Norte – condomínios fechados, distantes dos centros, acessíveis apenas por automóveis – se mostram plenamente no bairro de Alphaville, na Grande São Paulo, hoje às voltas com enormes desafios de mobilidade e segurança. Os problemas foram tema de um seminário realizado ha alguns dias, com a presença de urbanistas, especialistas em transportes e gestores públicos, todos em busca de soluções para a região.
Longe dos gabinetes, as respostas positivas estão nascendo de iniciativas individuais, ou de pequenas organizações, como os estudantes de Porto Alegre, que pretendem adesivar os ônibus da cidade para estimular o usos do transporte público. Ou os “parklets”, vagas vivas que ocupam as laterais das ruas com pequenas instalações para abrigar (e reunir) pessoas, tal como os implantados em São Paulo por iniciativa do Instituto Mobilidade Verde e agora oficializados pela prefeitura da capital paulista.
Enfim, as boas práticas já estão nas ruas, na história das cidades, no desejo das pessoas. E há que combinar uma ação técnica, de desenho, de projeto, com ações políticas, que rompam o imobilismo (perdão pelo trocadilho) dos gestores públicos.* Publicado originalmente no site Mobilize Brasil.

Desmatamento e degradação florestal zero




florestas 300x200 Desmatamento e degradação florestal zero
A pressão nas florestas, principalmente no País, deve aumentar consideravelmente nos próximos anos
© WWF-Brasil/Juvenal Pereira
O nosso planeta precisa de florestas. Elas abrigam animais e plantas, espécies que absorvem carbono e liberam oxigênio, fazem a chuva cair e fornecem água limpa. As árvores garantem abastecimento de combustíveis e materiais brutos renováveis – papel, embalagens e plásticos para móveis e utensílios domésticos. Mas não podemos nos acomodar com a realidade. Nos próximos anos, as florestas sofrerão uma enorme pressão ambiental como nunca antes na história.
Diante desse cenário, o WWF tem o objetivo de por um fim ao desmatamento. Isso significa não perder mais quantidade nem qualidade das florestas mundiais. De acordo com o Relatório Florestas Vivas, a proposta é alcançar a meta de desmatamento e degradação florestal líquida ZERO até 2020 e, a partir daí, mantê-la principalmente nas regiões prioritárias para a Rede WWF. A data estipulada reflete a urgência com que precisamos enfrentar as ameaças à biodiversidade florestal no mundo todo.
Relatório Florestas Vivas
O Relatório tem por objetivo catalisar o debate sobre o papel e o valor das florestas no futuro, em um mundo onde a humanidade terá que adequar o seu modo de vida aos limites ecológicos do Planeta, compartilhando os seus recursos de forma equilibrada.
O quarto capítulo Florestas e Produtos Madeireiros teve sua versão em português lançada nesta semana. A publicação indica caminhos para atender a demanda por produtos de madeira – que deve triplicar nos próximos 30 anos – levando em conta que os recursos do planeta são esgotáveis.
São apresentadas soluções gerais para a humanidade aperfeiçoar o uso e os benefícios da madeira, sem diminuir o capital natural mundial de florestas. Nesse capítulo, especificamente, são abordados os diversos valores e usos da madeira, com relação às alternativas de materiais; às demandas atual e futura de produtos madeireiros; a relação entre a produção madeireira e a conservação de outros valores florestais e várias opções de produção madeireira.
florestas2 300x225 Desmatamento e degradação florestal zero
O WWF trabalha para diminuir o desmatamento no Brasil e também no restante do mundo
© WWF-Brasil/Bruno Taitson
O valor econômico, cultural e ecológico faz com que a madeira seja importante para o manejo florestal sustentável e para a conservação da diversidade biológica e cultural. Entretanto, o capítulo observa que as florestas também fornecem produtos não madeireiros.
Os primeiros três capítulos do Relatório Florestas Vivas foram publicados em 2011. Os dois primeiros foram focados em Florestas e Energia – a adoção de um novo modelo sustentável de atividade florestal, expansão do uso da bioenergia na segurança energética, desenvolvimento rural e outros temas específicos – e o capítulo 3 abordou Florestas e Clima, que destacou a Redução das Emissões Oriundas do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD+) como uma forma para prevenir o descontrole das mudanças climáticas.
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.

terça-feira, 29 de abril de 2014

“Não é preciso crescer sempre para que a sociedade se desenvolva”




economia 300x201 “Não é preciso crescer sempre para que a sociedade se desenvolva”
“Sendo a economia um subsistema aberto do meio ambiente, não há economia sem meio ambiente, já que toda produção econômica depende do fluxo de matéria e energia advinda do meio ambiente”, frisa o economista Junior Ruiz Garcia.
A solução para o antagonismo entre os conceitos “desenvolvimento” e “sustentabilidade”, quando se trata de pensar um modelo econômico que proporcione desenvolvimento e preserve o meio ambiente, deve ser formulada pela Economia a partir de uma perspectiva econômico-ecológica. A sugestão é do economista Junior Ruiz Garcia, para quem “o desenvolvimento deve ser entendido como um processo de mudanças qualitativas na sociedade, que não necessariamente implicaria em crescimento econômico, entendido como aumento da produção de bens e serviços econômicos”. A concepção de sustentabilidade, de acordo com essa compreensão, “está relacionada ao conceito de ‘durabilidade ou continuidade’ ao longo do tempo. Dessa maneira, a sustentabilidade de uma sociedade dependerá basicamente da sua escala (tamanho físico), de sua estrutura de consumo de bens e serviços econômicos e da tecnologia disponível para produzir os bens e serviços econômicos, desde que respeite os limites biofísicos impostos pelo ecossistema global”, esclarece Garcia na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.
Segundo ele, o sistema econômico é um subsistema dentro do “sistema natural”, que sustenta a dinâmica econômica; portanto, “se a produção econômica de bens e serviços de uma sociedade respeita a limitação imposta pelo sistema, (…) essa sociedade seria sustentável”.
Garcia esclarece que a economia neoclássica ensinada nos cursos de Economia “entende o desenvolvimento sustentável como a manutenção do estoque total de capital de uma sociedade, sendo formado pelo capital feito pelo homem (inclui o capital físico, tais como máquinas e equipamentos, capital humano, capital social, etc.) e pelo capital natural (recursos naturais)”. A partir dessa lógica de capitais substitutos entre si, “a sustentabilidade do sistema econômico ou o desenvolvimento sustentável seria alcançado a partir da manutenção do estoque de capital total, independentemente de sua composição.
No limite, essa visão supõe que é possível a sociedade viver sem recursos naturais, já que os capitais são substitutos perfeitos! Na verdade, o capital feito pelo homem e o capital natural são complementares. Desse modo, sempre a sociedade precisará manter um estoque mínimo de capital natural, o problema é saber quanto”, salienta. Considerando as discussões acerca da escassez dos recursos naturais, o economista questiona: “Não deveríamos promover o crescimento nas regiões que realmente precisam de crescimento, como as regiões pobres? Será que as regiões desenvolvidas ainda precisam de crescimento econômico ou de uma melhor distribuição dos benefícios?”.
Junior Ruiz Garcia é graduado em Economia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, mestre em Desenvolvimento Econômico Agrícola e Agrário pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pelo Instituto de Economia da Unicamp. É pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental – NEEA do Instituto de Economia da Unicamp e do Núcleo de Economia Empresarial do Departamento de Economia da UFPR. Também leciona no curso de Ciências Econômicas, no Mestrado Profissional em Desenvolvimento Econômico e no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico do Departamento de Economia da UFPR.
Confira a entrevista:
IHU On-Line – Como conciliar os conceitos desenvolvimento e sustentabilidade, visto que para autores como Serge Latouche eles são incompatíveis?
Junior Ruiz Garcia - O desenvolvimento deve ser entendido como um processo de mudanças qualitativas na sociedade, que não necessariamente implicaria em crescimento econômico, entendido como aumento da produção de bens e serviços econômicos. A produção de bens econômicos necessariamente implica a retirada de recursos do sistema natural e a geração de resíduos, já que o sistema econômico é um subsistema aberto dentro do sistema natural. Um subsistema aberto significa que há troca de matéria e energia com o sistema, neste caso, a Terra. Nenhum subsistema pode ser maior que o sistema, ou seja, não é possível pensar em crescimento econômico infinito. Para ilustrar essa questão, veja a seguinte situação: em algum momento de nossas vidas (nós somos um subsistema aberto dentro do sistema maior, representado pela Terra) paramos de crescer em termos quantitativos (biológicos), mas não paramos o nosso desenvolvimento; sempre estamos adquirindo novos conhecimentos e experiências, nos tornando um indivíduo melhor (esperamos que isso sempre aconteça). O mesmo pode ocorrer com uma sociedade: não é preciso crescer sempre para que a sociedade se desenvolva.
Já a sustentabilidade está relacionada ao conceito de “durabilidade ou continuidade” ao longo do tempo. Dessa maneira, a sustentabilidade de uma sociedade dependerá basicamente da sua escala (tamanho físico), de sua estrutura de consumo de bens e serviços econômicos, desde que respeite os limites biofísicos impostos pelo ecossistema global, e da tecnologia disponível para produzir os bens e serviços econômicos. Se a produção econômica de bens e serviços de uma sociedade respeita a limitação imposta pelo sistema (representada por sua capacidade de provimento de recursos naturais e de assimilação dos resíduos), já que o sistema econômico é um subsistema, essa sociedade seria sustentável.
Contudo, no contexto atual, em que vivemos em um mundo com sete bilhões de pessoas e com uma estrutura de consumo intensiva em energia e matéria, não existirá compatibilidade entre desenvolvimento e sustentabilidade, a não ser que a sociedade empreenda uma mudança radical em sua estrutura de consumo e estabilize o crescimento demográfico.
IHU On-Line – É possível pensar desenvolvimento sustentável a partir de princípios econômicos?
Junior Ruiz Garcia - Como a teoria econômica tradicional ignora o sistema natural em suas análises e modelos teóricos, tratando a problemática ambiental a partir apenas da perspectiva de externalidades (efeitos positivos ou negativos não intencionais decorrentes da decisão de produção e consumo de um agente econômico sobre outros agentes que podem gerar uma perda ou um ganho no grau de bem-estar), que significa externo ao mercado, as externalidades são tratadas pela teoria econômica tradicional como uma exceção à regra.
Assim, o entendimento de desenvolvimento sustentável não cabe na teoria econômica tradicional, embora a economia tradicional neoclássica apresente um entendimento. A economia neoclássica, também conhecida como mainstream econômico, que é ensinada em praticamente todos os cursos de economia do mundo e é base para a tomada de decisão dos agentes econômicos, entende o desenvolvimento sustentável como a manutenção do estoque total de capital de uma sociedade, sendo formado pelo capital feito pelo homem (inclui o capital físico tais como máquinas e equipamentos, capital humano, capital social, etc.) e pelo capital natural (recursos naturais). Como essa escola supõe que esses capitais são substitutos perfeitos entre si, a sustentabilidade do sistema econômico ou o desenvolvimento sustentável seria alcançado a partir da manutenção do estoque de capital total, independentemente de sua composição.
No limite, essa visão supõe que é possível a sociedade viver sem recursos naturais já que os capitais são substitutos perfeitos! Na verdade, o capital feito pelo homem e o capital natural são complementares. Desse modo, sempre a sociedade precisará manter um estoque mínimo de capital natural, o problema é saber quanto.
IHU On-Line – As abordagens de desenvolvimento sustentável feitas a partir da perspectiva econômica e do mercado têm recebido críticas de ambientalistas e especialistas da área ambiental, porque têm uma perspectiva mercadológica. Como o senhor interpreta essa concepção de desenvolvimento sustentável?
Junior Ruiz Garcia - Como a teoria econômica tradicional entende a problemática ambiental a partir do conceito de externalidades e o desenvolvimento sustentável implica a manutenção do estoque de capital, a solução seria a internalização das externalidades ambientais na decisão dos agentes econômicos, ou seja, o mercado promoveria a alocação eficiente dos recursos naturais. Para internalizar as externalidades é preciso valorá-las já que elas são externas ao mercado, e aí que vem o problema, como valorar algo que não tem preço? Por exemplo, qual o valor da água, da floresta amazônica, do Rio Tietê, se eles são insubstituíveis, não têm direitos de propriedade definidos e ainda aportam à sociedade um conjunto de bens e serviços que em sua maioria também são insubstituíveis? Ou seja, o mercado por si só não tem condições de promover o desenvolvimento sustentável.
IHU On-Line – Que relações estabelece entre as discussões acerca do meio ambiente e a Economia?
Junior Ruiz Garcia - Sendo a economia um subsistema aberto do meio ambiente, não há economia sem meio ambiente, já que toda produção econômica depende do fluxo de matéria e energia advinda do meio ambiente. Algum bem ou serviço econômico pode ser produzido sem o uso de recursos naturais e sem a geração de resíduos lançados no meio ambiente?
IHU On-Line – Como a discussão acerca da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável deve ser abordada pela Economia?
Junior Ruiz Garcia - Deve ser abordada a partir da restrição absoluta imposta pelo sistema natural, já que a economia é um subsistema daquele. Desse modo, a dimensão ecológica estaria no centro da análise econômica, onde a economia deveria respeitar a capacidade de carga do sistema natural (escala), representada pelo provimento de recursos naturais e por sua capacidade de assimilação de resíduos. Nesta perspectiva, não há espaço, por exemplo, para a busca pelo crescimento econômico infinito como é defendido pela teoria econômica tradicional.
IHU On-Line – Por que a discussão acerca do desenvolvimento sustentável não tem sido feita nos cursos de Economia?
Junior Ruiz Garcia - A discussão sobre o desenvolvimento sustentável tem sido realizada pelos cursos ou disciplinas de Desenvolvimento Econômico. O problema é que a discussão sobre o papel do sistema natural na dinâmica econômica tem estado ausente nos cursos de economia. Essa afirmação pode ser verificada ao consultar as grades dos principais cursos de Economia oferecidos no Brasil e no restante do mundo e pela bibliografia adotada por estes cursos — no máximo essa discussão é colocada em uma disciplina optativa ou nos últimos capítulos dos livros.
Assim, se houver tempo, o professor discutirá com seus alunos. Isso ocorre porque a principal base teórica (representada pela Economia Neoclássica) adotada pelos cursos de Economia trata a questão ambiental como uma subdisciplina dentro do ensino de Economia e da análise econômica. Por exemplo, no curso de Introdução à Economia, Macroeconomia e Microeconomia, que representam as bases teóricas para a formação do economista, o sistema econômico é visto como isolado do sistema natural, como se ele fosse o todo, o “Universo”, ou seja, não há meio ambiente. Nesta perspectiva, o sistema econômico não precisaria do meio ambiente! Embora exista na economia toda uma discussão sobre a relação entre o meio ambiente e o sistema econômico, levada a cabo pela Economia Ecológica, mas que está ausente dos cursos de economia.
IHU On-Line – Que papel o sistema natural assume na dinâmica econômica?
Junior Ruiz Garcia - O sistema natural sustenta a dinâmica econômica, sem o qual não existiria o sistema econômico.
IHU On-Line – E que papel ele poderia assumir a partir das discussões acerca da sustentabilidade?
Junior Ruiz Garcia - A abordagem acerca da sustentabilidade e da dimensão ecológica deveria ser tratada na dinâmica econômica a partir de uma perspectiva transversal (transdisciplinar) como destaca a Economia Ecológica, e não como um apêndice ou complementar à análise como tem sido apresentada pela Economia Tradicional.
IHU On-Line – É possível conciliar crescimento, desenvolvimento e preservação ao mesmo tempo?
Junior Ruiz Garcia - Não é que eu seja contra o crescimento econômico. Algumas regiões do mundo e do Brasil ainda precisam de crescimento para promover suas mudanças estruturais em termos qualitativos e de bem-estar. Por exemplo, para universalizar o acesso ao saneamento básico (captação, tratamento e distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto e dos resíduos sólidos) é preciso crescimento, porque implica o aumento da infraestrutura, a conversão de recursos naturais em bens econômicos. No entanto, quando os economistas falam em crescimento econômico, não importa o tipo de produto que será produzido.
Por exemplo, a produção de armas gera crescimento econômico, mas será que realmente aumenta o bem-estar das pessoas como faria a universalização do acesso à infraestrutura de saneamento básico?
Acrescento ainda os seguintes motivos para essa reflexão sobre o crescimento econômico. Primeiro, a sociedade está vivendo um contexto que chamamos de “mundo cheio”, em que o recurso escasso é o recurso natural; desse modo, não deveríamos promover o crescimento nas regiões que realmente precisam de crescimento, como as regiões pobres? Será que as regiões desenvolvidas ainda precisam de crescimento econômico ou de uma melhor distribuição dos benefícios? Segundo, a sociedade já viveu muitos períodos de crescimento e nem por isso conseguiu eliminar a pobreza no mundo; além disso, aumentou a degradação dos ecossistemas, veja os problemas relacionados com as mudanças climáticas induzidas pela aceleração do efeito estufa.
Terceiro, é impossível buscar o crescimento econômico infinito sendo o sistema econômico um subsistema do sistema natural; nunca um subsistema pode ser maior que o sistema que o sustenta.
IHU On-Line – Depois das crises financeiras de 2008, a Economia e os economistas receberam muitas críticas e ficaram até desacreditados por parte da população. A partir disso e também considerando as discussões acerca da sustentabilidade, há como pensar as questões socioambientais para além da Economia?
Junior Ruiz Garcia - Há, mas isso envolve uma profunda revisão das teorias econômicas e do ensino da Economia na graduação, em que a dimensão ecológica assumiria o centro dos modelos teóricos e da análise econômica.
* Publicado originalmente no site IHU On-Line.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O futuro de nosso planeta depende de 58 pessoas




RSavio0976 O futuro de nosso planeta depende de 58 pessoas
Embora para muitos tenha passado inadvertidamente, o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) publicou, no dia 13 de abril, a terceira e última parte de um informe no qual adverte sem rodeios que temos apenas 15 anos para evitar ultrapassar a barreira de um aquecimento global de dois graus. Além disso, as consequências serão dramáticas.
Somente os mais míopes não tomam consciência do que se trata: aumento do nível do mar, furacões e tempestades mais frequentes e um impacto adverso na produção de alimentos.
Em um mundo normal e participativo, no qual 83% das pessoas que vivem hoje ainda existirão dentro de 15 anos, esse informe teria provocado uma reação dramática.
Entretanto, não houve um único comentário dos líderes dos 196 países nos quais habitam os 7,5 bilhões de “consumidores” do planeta.
Os antropólogos que estudam as semelhanças e diferenças entre os seres humanos e outros animais há um bom tempo chegaram à conclusão de que a humanidade não é superior em todos os aspectos.
Por exemplo, o ser humano é menos adaptável à sobrevivência do que muitos animais em casos de terremotos, furacões e outros desastres naturais. A esta altura, eles devem manifestar sintomas de alerta e mal-estar.
O primeiro volume desse informe do IPCC, divulgado em setembro de 2013 em Estocolmo, estabelece que os humanos são a causa principal do aquecimento global, enquanto a segunda parte, apresentada em Yokohama no dia 31 de março, afirma que “nas últimas décadas as mudanças climáticas causaram impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e em todos os oceanos”.
O IPCC é formado por mais de dois mil cientistas de todo o mundo e essa é a primeira vez que chega a firmes conclusões finais desde sua criação pelas Nações Unidas, em 1988. A principal conclusão é que, para deter a corrida rumo a um ponto sem volta, as emissões globais devem cair entre 40% e 70% antes de 2050.
O informe adverte que “só as grandes mudanças institucionais e tecnológicas darão uma oportunidade superior a 50%” para o aquecimento global não ultrapassar o limite de segurança, e acrescenta que as medidas devem começar, no mais tardar, em 15 anos, completando-se em 35.
Vale a pena assinalar que dois terços da humanidade têm menos de 21 anos e em grande parte são eles que terão que suportar os enormes custos da luta contra a mudança climática.
A principal recomendação do IPCC é muito simples: as principais economias devem fixar um imposto sobre a contaminação com dióxido de carbono, elevando o custo dos combustíveis fósseis, para impulsionar o mercado de fontes de energias limpas, como a eólica, solar ou nuclear.
Dez países são causadores de 70% do total da contaminação mundial de gases-estufa, sendo que Estados Unidos e China respondem por 55% desse total.
Ambos estão tomando medidas sérias para combater a contaminação.
O presidente norte-americano, Barack Obama, tentou em vão obter o beneplácito do Senado e teve que exercer sua autoridade sob a Lei de Ar Limpo de 1970 para reduzir a contaminação de carbono dos veículos e instalações industriais, estimulando as tecnologias limpas. Mas não pode fazer mais nada sem apoio do Senado.
O todo poderoso presidente da China, Xi Jinping, considera prioritário o ambiente, em parte porque fontes oficiais estimam em cinco milhões anuais o número de mortes nesse país em razão da contaminação.
Mas a China precisa de carvão para seu crescimento, e a postura de Xi é: “por que deveríamos frear nosso desenvolvimento, quando os países ricos que criaram o problema atual querem que tomemos medidas que atrasam nosso crescimento?”.
Dessa forma, cria-se um círculo vicioso. Os países do Sul querem que as nações ricas financiem seus custos de redução da contaminação e os do Norte querem que esses deixem de contaminar e assumam seus próprios custos.
Como resultado, o resumo do informe, que destina-se aos governantes, foi despojado das premissas que poderiam dar a entender a necessidade de o Sul fazer mais, enquanto os países ricos pressionaram para evitar uma linguagem que pudesse ser interpretada como a necessidade de eles assumirem as obrigações financeiras.
Isso deveria facilitar um compromisso brando na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Lima, onde se deveria alcançar um novo acordo global (lembremos o desastre da conferência de Copenhague, em 2009).
A chave de qualquer acordo está nas mãos dos Estados Unidos. O Congresso desse país bloqueia toda iniciativa sobre o controle climático, proporcionando uma saída fácil para China, Índia e o resto dos contaminadores: “por que devemos assumir compromissos e sacrifícios se os Estados Unidos não participam?”.
O problema é que os republicanos converteram a mudança climática em uma de suas bandeiras de identidade. A última vez que se propôs um imposto sobre o carbono, em 2009, depois de um voto positivo na Câmara de Representantes, controlada pelos democratas, o Senado, dominado pelos republicanos, o rejeitou.
Nas eleições de 2010, uma série de políticos que votaram a favor do imposto sobre carbono perderam suas cadeiras, o que contribuiu para que os republicanos assumissem o controle da Câmara.
Agora, a única esperança para os que querem uma mudança é aguardar as eleições de 2016 e esperar que o novo presidente norte-americano seja capaz de mudar a situação. Esse é um bom exemplo do que os gregos antigos diziam: que a esperança é a última deusa…
O quadro é muito simples. O Senado dos Estados Unidos tem cem integrantes, o que significa que bastam 51 votos para liquidar qualquer projeto de lei de imposto sobre os combustíveis fosseis.
Na China, a situação é diferente. Na melhor das hipóteses, as decisões são tomadas pelo Comitê Permanente do Comitê Central, formado por sete membros, que são o verdadeiro poder no Partido Comunista.
Em outras palavras, o futuro de nosso planeta é decidido por 58 pessoas de uma população de quase 7,7 bilhões de habitantes. Envolverde/IPS* Roberto Savio é fundador e presidente emérito da agência de notícias Inter Press Service (IPS) e editor do Other News.

Fiat responde a consumidores




Greenpeaceautomoveis 300x300 Fiat responde a consumidores
Ao receber milhares de mensagens pedindo carros mais limpos e eficientes, montadora lista medidas que adota pelo meio ambiente. Greenpeace mantém posição: dá para ir além.
Na última terça-feira, o Greenpeace lançou uma campanha desafiando Fiat, Volkswagen e Chevrolet – líderes em vendas de automóveis no Brasil – a produzir veículos que consumam menos combustível e emitam menos gases estufa. A Fiat começou a responder, por email, às milhares de pessoas que enviaram mensagens pedindo essa mudança. As demais companhias ainda não se manifestaram.
No email enviado pela Fiat (íntegra abaixo), a companhia elenca várias medidas mostrando comprometimento com inovações que reduzem o impacto ambiental de seus veículos. Para exemplificar, a montadora cita um de seus carros novos que, segundo ela, emite menos CO2 que a média.
A Fiat também destaca que 97,5% de seus automóveis são flex, podendo ser abastecidos com etanol. E nesse caso, sugere a empresa, o problema está resolvido, pois o combustível é 100% renovável e “praticamente neutraliza as emissões de CO2 na atmosfera com o ciclo do plantio da cana-de-açúcar”, diz a nota.
O Greenpeace mantém sua posição: dá para ir além. Os novos veículos que a fabricante têm colocado no mercado brasileiro, com eficiência energética superior à média dos veículos nacionais, são a prova disso: a tecnologia não só existe como está acessível. O que o Greenpeace e os consumidores estão pedindo é que essa prática – que significa menos emissões e menos consumo de combustíveis – não seja fato isolado, mas que se torne padrão em todos os veículos produzidos pela montadora.
Se a Fiat já está aplicando essas inovações tecnológicas em alguns de seus automóveis, não há motivos para que ela não se comprometa com as mesmas metas de eficiência energética europeias, alinhando toda sua frota com o que há de mais avançado em termos de redução de consumo de combustível.
Quanto à adoção de motores flex, abastecidos com etanol, não se pode ignorar dois elementos: isso não significa ganho de eficiência energética – desde que foi criada, a tecnologia flex avançou pouco nesse sentido. E há impactos socioambientais inegáveis da atual produção de biocombustíveis no Brasil, como o desmatamento, o avanço sobre outras culturas alimentares e a contaminação de água e solo por fertilizantes. O investimento em eletromobilidade também pode ser uma resposta a essas questões.
Enquanto esses problemas são solucionados no médio e longo prazo, medidas de eficiência energética são a melhor solução de curto prazo na redução de emissões e de consumo de combustíveis. Esperamos que a Fiat, líder em vendas de carros no Brasil, também lidere o caminho para carros mais limpos e eficientes.
Leia abaixo o email enviado pela Fiat
Agradecemos o envio de sua mensagem. A propósito do tema que é sua preocupação, gostaríamos de observar que a Fiat foi uma das primeiras fabricantes do país a apoiar voluntariamente o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) criado em 2009 pelo Inmetro, ao informar com transparência aos consumidores os valores de consumo de combustível de seus principais modelos e de emissão de CO2.
A cada novo lançamento, a Fiat investe em tecnologias para ampliar a eficiência energética e reduzir a emissão de CO2, com resultados concretos para a qualidade do ar. O Novo Uno com motor 1.4, que recebeu nota A no PBEV 2014, emite 97,4 gramas de CO2 fóssil – valor que está abaixo da marca exigida pelo Inovar-Auto em 2017 e pelas legislações europeias vigentes, comprovando a constante evolução da Fiat por veículos cada vez mais eficientes. O Palio Fire e o Novo Fiorino, recém-lançados, também trazem importantes inovações como pneus verdes, óleo lubrificante do motor com aditivos de baixo atrito, melhorias aerodinâmicas, entre outras tecnologias e ações, com foco na redução do consumo de combustível. Atualmente, 80% dos veículos produzidos têm pneus de baixa resistência a rolamento (pneus verdes).
Vale destacar que 97,5% dos veículos da marca Fiat comercializados são flex, que podem ser abastecidos com etanol – combustível 100% renovável que praticamente neutraliza as emissões de CO2 na atmosfera com o ciclo do plantio da cana-de-açúcar. Além da escolha do combustível, a manutenção dos veículos também é um importante diferencial com reflexos diretos na emissão de CO2. Velas usadas, filtro de ar sujo, pneus com calibragem fora do padrão e suspensões desalinhadas ampliam, em média, 20% do consumo de combustível. Com o objetivo de conscientizar os motoristas para os riscos da falta de manutenção, a Fiatrealiza, de forma contínua, campanhas educativas.
É importante lembrar também que a Fiat foi a primeira fábrica de automóveis a conquistar a ISO 14001, em 1997, que atesta a eficácia de nosso Sistema de Gestão Ambiental. E a Fiattambém foi a primeira montadora do Brasil a conquistar a ISO 50001, de gestão da energia. Fiat Chrysler América Latina* Publicado originalmente no site Greenpeace.

domingo, 27 de abril de 2014

As 10 cidades mais igualitárias do Brasil




O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. A constatação é do índice de Gini, produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o mais famoso indicador para medir distribuição de renda.
No entanto, o Brasil tem registrado avanços nos últimos anos para diminuir sua desigualdade, mas o abismo entre os ricos e pobres ainda é gritante. Algumas cidades do país, todavia, contam com distribuição de renda mais equitativa do que as demais.
Por exemplo: entre os 4,5 mil moradores de São José do Hortêncio, no Rio Grande do Sul, não será possível encontrar nenhum bilionário ou multimilionário como aqueles que existem, em certa quantidade, em São Paulo. Mas tampouco será fácil localizar uma pessoa que não saiba ler e escrever: a taxa de analfabetismo, pouco maior que 1%, está entre as menores do Brasil.
E praticamente todos os cidadãos, com mais ou menos renda, estudam em escola pública até o ensino médio – trata-se da única opção disponível. Este cenário de pouca desigualdade garantiu à pacata cidade, junto com a também diminuta Botuverá, em Santa Catarina, o título de mais igualitária do país.
O ranking que pode ser visto a seguir é dominado por municípios do Sul e alguns poucos exemplares do Sudeste. “As cidades do Sul são menos desiguais em parte porque a população costuma ser mais educada, a desigualdade educacional costuma ser menor. São populações mais homogêneas”, afirma Rafael Osório, técnico do Ipea especialista em estudos de distribuição de renda.
A desigualdade de renda é tida como um elemento que atrapalha a coesão social, impedindo que indivíduos – sejam mais ricos ou mais pobres – sintam-se parte da mesma sociedade.
1) SÃO JOSÉ DO HORTÊNCIO (RS)
cidade1 saojose ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,28
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,36
População – 4.094
Em São José do Hortêncio, os 10% mais ricos ganham 4 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
2) BOTUVERÁ (SC)
cidade2 botuvera ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,28
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,49
População – 4.468 habitantes
Em Botuverá, os 10% mais ricos ganham 4,1 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
3) ALTO FELIZ (RS)

cidade3 altofeliz ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,29
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,41
População – 2.917 habitantes
Em Alto Feliz, os 10% mais ricos ganham 4,2 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
4) SÃO VENDELINO (RS)

cidade4 saovendelino ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,29
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,50
População – 1.944 habitantes
Em São Vendelino, os 10% mais ricos ganham 4,3 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
5) VALE REAL (RS)

cidade5 valereal ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,29
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,36
População – 5.118 habitantes
Em Vale Real, os 10% mais ricos ganham 4,1 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
6) SANTA MARIA DO HERVAL (RS)
cidade6 santamariadoherval ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,30
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,39
População – 6.053 habitantes
Em Santa Maria do Herval, os 10% mais ricos ganham 4,4 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
7) CAMPESTRE DA SERRA (RS)
cidade7 campestredaserra ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,31
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,39
População – 3.247 habitantes
Em Campestre da Serra, os 10% mais ricos ganham 4,5 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
8) TUPANDI (RS)
cidade8 tupandi ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,31
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,41
População – 3.924 habitantes
Em Tupandi, os 10% mais ricos ganham 4,6 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
9) CÓRREGO FUNDO (MG)

cidade9 corregofundo ECOD As 10 cidades mais igualitárias do Brasil
Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,32
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,50
População – 5.790 habitantes
Em Córrego Fundo, os 10% mais ricos ganham 4,9 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
10) MORRO REUTER (RS)
morro reuter ecod As 10 cidades mais igualitárias do Brasil
morro-reuter-ecod.jpg

Índice de Gini (Atlas 2013) – 0,32
Índice de Gini (Atlas 1991) – 0,38
População – 5.676 habitantes
Em Morro Reuter, os 10% mais ricos ganham 4,9 vezes mais que os 40% mais pobres. No Brasil, são 22,7 vezes mais.
Obs: O índice varia de 0 a 1. Só alcançaria zero se todo mundo em um local pesquisado tivesse exatamente a mesma renda. E exatamente um, apenas se uma pessoa concentrasse todo o dinheiro.
Na prática, portanto, o índice nunca encosta nesses extremos, só que quanto mais perto de zero, melhor. O da Noruega, por exemplo, é de 0,25. Já o do Brasil é de 0,50.* Publicado originalmente no site EcoD.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Cientistas mobilizam-se pelo tombamento da Serra da mantiqueira


Serra Cientistas mobilizam se pelo tombamento da Serra da Mantiqueira
Remanescentes da Mata Atlântica na região abrigam grande número de espécies endêmicas e nascentes que ajudam a abastecer as cidades do Vale do Paraíba e o município do Rio de Janeiro. Foto: Mantiqueira Viva
Além de abrigar um grande número de espécies animais e vegetais endêmicas, muitas delas ameaçadas de extinção, os remanescentes florestais da Serra da Mantiqueira garantem grande parte da água que abastece as populações e as indústrias das cidades do Vale do Paraíba (no leste do estado de São Paulo e no sul do estado do Rio de Janeiro) e da capital fluminense.
Na avaliação de integrantes do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP), interromper o processo de degradação pelo qual a região passa é, portanto, fundamental para evitar não apenas uma irreparável perda de biodiversidade como também o agravamento, no futuro, de crises hídricas como a que atualmente afeta a região Sudeste.
“Não seria possível, no momento, criar uma área de grande restrição ambiental, como um parque estadual, pois isso requereria desapropriações de terras e teria um grande custo para o Estado. Mas defendemos o tombamento das regiões acima de 800 metros de altitude, o que regulamentaria as atividades a serem realizadas sem impedir o desenvolvimento”, afirmou Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Programa BIOTA-FAPESP.
Ao lado do ambientalista Fábio Feldmann, Joly foi um dos organizadores do movimento Mantiqueira Viva, que promove desde março deste ano um abaixo-assinado pedindo o tombamento da Serra da Mantiqueira como patrimônio ambiental com o intuito de aumentar a proteção de um corredor de 45 mil hectares de remanescentes florestais existentes entre o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Estadual de Campos do Jordão. A petição já conta com mais de 5 mil assinaturas.
Segundo Joly, a proposta de tombamento foi apresentada inicialmente em 2011 e, desde então, vem sendo analisada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) da Secretaria Estadual de Cultura. Um primeiro parecer da equipe técnica da Unidade de Proteção do Patrimônio Histórico (UPPH) foi negativo à abertura do processo. Os defensores da proposta decidiram se mobilizar para evitar seu arquivamento definitivo.
Na prática, o tombamento não aumenta o nível de proteção da mata – apenas referenda a legislação já existente e representa uma nova barreira para eventuais mudanças, proibindo que o local seja destruído ou descaracterizado. Desde 1985, a Mantiqueira é considerada uma Área de Proteção Ambiental (APA) federal (categoria de unidade de conservação menos restritiva), mas até hoje não tem plano de manejo.
A região inserida na proposta abrange áreas de florestas contínuas nas encostas mais elevadas, as florestas com araucária da região do planalto e os campos de altitude da Serra da Mantiqueira Paulista que ficam na divisa de Minas Gerais com os municípios de Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Piquete, Cruzeiro, Lavrinhas e Queluz.
Toda essa área está inserida no mapa “Áreas Prioritárias para Incremento da Conectividade”, elaborado pelo BIOTA-FAPESP, e foi considerada pelos cientistas como Área da Mais Alta Relevância Ecológica, prioritária para a conservação da biodiversidade, para a criação de áreas protegidas e para o incremento da conectividade (leia mais em aqui).
Além disso, em um estudo internacional publicado em novembro de 2013 na revista Science, a Serra da Mantiqueira foi apontada como um dos 78 locais mundiais “insubstituíveis” para a preservação da biodiversidade global de mamíferos, aves e anfíbios (outros três pontos brasileiros apontados no artigo foram: a Serra do Mar, também na Mata Atlântica; e o Vale de Javari e o Alto Rio Negro, na Amazônia).
Ameaças
De acordo com Joly, uma das principais ameaças aos remanescentes de Mata Atlântica na região da Mantiqueira é a expansão da mineração de bauxita para a produção de alumínio e de outros minerais, principalmente perto da divisa do Rio de Janeiro com os municípios de Lavrinhas e Queluz.
O pesquisador também menciona a extração ilegal de madeira, palmito, bromélias e orquídeas; a caça de espécies ameaçadas de extinção, como o macuco (Tinamus solitarius), a araponga (Procnias nudicollis), o sabiá-cica (Triclaria malachitacea), o muriqui (Brachyteles arachnoides) e o bugio (Alouatta guariba); a especulação imobiliária; e o descarte inadequado de lixo urbano e de resíduos da mineração.
“Diversas espécies associadas às matas de araucárias e aos campos de altitude só ocorrem nessas áreas mais altas da Mantiqueira, sendo estas os únicos refúgios desta fauna em nosso Estado. Muitas dessas populações são os remanescentes de grupos de animais do sul do Brasil e dos Andes, um resquício isolado de um passado remoto quando as temperaturas eram mais baixas em toda a América do Sul”, afirmou André Victor Lucci Freitas, professor da Unicamp e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.
Ainda segundo Freitas, 20 das 55 espécies de borboletas do Brasil ameaçadas de extinção encontram refúgio na Serra da Mantiqueira. Muitas dessas espécies possuem populações pequenas e frágeis, sendo facilmente eliminadas quando ocorre perturbação antrópica, como queimadas constantes, plantio de pinheiros e eucaliptos e poluição dos corpos d´água.
“Trabalhos recentes na Serra da Mantiqueira têm revelado diversas espécies desconhecidas para a ciência, muitas delas já ameaçadas antes mesmo de serem descritas. Em anos recentes, temos observado a extinção local das populações de diversas dessas espécies na região da Mantiqueira. Se não houver um plano para conservação de toda a região, com um bom zoneamento, uma porção importante da fauna paulista desaparecerá para sempre do nosso estado”, disse Freitas.
Na avaliação de Célio Fernando Baptista Haddad, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, os ambientes de encostas e topos de serras e montanhas vêm funcionando, no curso da história evolutiva, como verdadeiros berçários de espécies. Essa condição, segundo ele, faz com que os ambientes altitudinais sejam muito frágeis e particularmente suscetíveis às degradações antrópicas – com o agravante de que a recuperação dessas áreas é mais difícil, cara e complexa.
“Os pontos culminantes da Mata Atlântica são encontrados na Serra da Mantiqueira, onde podemos observar uma fauna particular que resulta de um grau de endemismos mais elevado que o das áreas vizinhas, em altitudes menores. Assim, a conservação de remanescentes de Mata Atlântica é urgente e, dentre estas áreas, aquelas localizadas nas altitudes mais elevadas, como na Serra da Mantiqueira, devem ser priorizadas”, afirmou Haddad.
O especialista em recursos hídricos José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia, lembra que o rico sistema aquático da Serra da Mantiqueira é um dos poucos ainda bem preservados no Estado de São Paulo e contribui para o abastecimento das bacias hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, Rio Tietê e Rio Grande.
“A degradação desses mananciais poderia comprometer tanto a quantidade como a qualidade da água para os municípios da região. Sabemos hoje que as nascentes e a floresta têm papel fundamental na qualidade da água”, afirmou Tundisi.
* Publicado originalmente no site Agência Fapesp.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Riscos dos agrotóxicos nos alimentos são abordados em novo filme de Silvio Tendler


pimentao ecod 300x183 Riscos dos agrotóxicos nos alimentos são abordados em novo filme de Silvio Tendler
Documentário dá continuidade à reflexão sobre o perigo que o uso de agrotóxicos representa para a saúde. Foto: Hannap
No país que mais consome agrotóxicos no mundo, há alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. É o que procura mostrar o filme O Veneno Está na Mesa 2, novo documentário do cineasta Silvio Tendler, lançado em 16 de abril, no Teatro Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio.
O documentário dá continuidade à reflexão sobre o perigo que o uso de agrotóxicos representa para a saúde, mostrada no primeiro documentário de Tendler sobre o tema, com o mesmo título e lançado em 2011. Com 70 minutos de duração, O Veneno Está na Mesa 2avança na desconstrução do mito de que a utilização dos defensivos agrícolas é indispensável para garantir abundância de alimentos na mesa do consumidor.
Os dois documentários fazem parte de uma estratégia de ação da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, iniciativa que reúne movimentos sociais e entidades no objetivo comum de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam.
A partir daí, a ideia é propor medidas para frear seu uso no Brasil. “O povo brasileiro não pode mais engolir essa história de que o agrotóxico é a modernidade no campo. Ele gera câncer, trabalho escravo e manda todo seu lucro para o exterior”, alerta Alan Tygel, um dos coordenadores da campanha.
Alternativa viável
A produção do filme contou com o apoio da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), que vem desenvolvendo iniciativas para que a produção de alimentos sem veneno se torne uma alternativa viável. De acordo com o diretor Silvio Tendler, não há sentido em se construir uma economia baseada na destruição da natureza.
“A agroecologia é fundamental como forma de produção econômica, social e de desenvolvimento. No filme eu mostro pessoas que plantam e cultivam de forma sadia e também as dificuldades que elas enfrentam para a comercialização dos alimentos que produzem”, destacou o cineasta.
A exemplo do primeiro documentário da série, visto por mais de um milhão de pessoas, O Veneno Está na Mesa 2 será distribuído gratuitamente para um circuito alternativo de exibição. Escolas, universidades, comunidades, igrejas, assentamentos de trabalhadores rurais e outros locais integram esse circuito, coordenado pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida.** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

OMM alerta para possível elevação “dramática” das temperaturas neste ano devido à combinação El Niño e aquecimento global




omm2013 OMM alerta para possível elevação dramática das temperaturas neste ano devido à combinação El Niño e aquecimento global
Em seu maisrecente boletim, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) destacou que há sinais de que teremos a formação do fenômeno conhecido como El Niño em 2014, e que isso poderá resultar em altas temperaturas em todo o planeta, agravando os efeitos do aquecimento global.
“O El Niño possui um importante efeito de aquecimento nas temperaturas globais, como vimos durante o forte El Niño de 1998. Porém, somente dois dos últimos 15 anos apresentaram o fenômeno, e mesmo assim foram mais quentes do que a média. Assim, a combinação entre o aquecimento natural do El Niño com o aquecimento provocado pelos gases do efeito estufa resultantes das atividades humanas podem causar uma alta dramática nas temperaturas globais”, explicou Michel Jarraud, secretário-geral da OMM.
Segundo a entidade, a maioria dos modelos indica o desenvolvimento de um El Niño em meados de 2014, apesar de ainda ser muito cedo para confirmar a força do evento.
“Para junho e agosto, cerca de dois terços dos modelos predizem que as condições para o El Niño serão atingidas. Uma quantidade menor de modelos indica que isso pode acontecer ainda antes, em maio. Nenhum modelo prevê a ocorrência da La Niña em 2014”, afirma o boletim.
O El Niño é o aquecimento acima da média da temperatura da superfície do Oceano Pacífico na região equatorial, enquanto o La Niña é o resfriamento. Os dois fenômenos formam o chamado ciclo ENSO.
Para o Brasil, além da elevação das temperaturas, as consequências comuns do El Niño costumam ser a seca no Norte e o excesso de umidade no Sul.
A expressão El Niño é derivada do espanhol, e refere-se à presença de águas quentes na costa norte do Peru que costuma ocorrer na época de Natal. Os pescadores da região chamaram esse fenômeno de ‘Corriente de El Niño’ em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.