O prefeito do Rio, Eduardo Paes, tomará posse neste mês de fevereiro do grupo C40, que reúne líderes de grandes cidades do mundo. Ele é o primeiro prefeito de um país emergente a comandar o C40. À frente do grupo ele terá ampliada, ainda mais, sua visibilidade internacional, o que não sabemos é se isso será bom ou ruim. A oportunidade é singular pois Paes terá a responsabilidade de definir as linhas estratégicas da organização no período pós Bloomberg e receberá o cargo de seu antecessor em Joanesburgo. Aliás, a partir de agora, o ex-prefeito e presidente do C40, terá a tarefa de gerenciar as operações diárias da equipe e será o conselheiro do novo presidente e da organização.
Paes sabe que a importância do C40 é crescente em função do impacto e mobilização que suas decisões para o meio ambiente têm em nível municipal. Redução de emissão de poluentes e mudanças no transporte urbano quando adotadas em conjunto podem alcançar efeitos muitas vezes maior que acordos articulados pela ONU.
Em nota, a prefeitura do Rio divulgou que o Prefeito Eduardo Paes disse ser uma honra assumir a presidência da C40 e que é uma oportunidade fantástica para o Rio e para o Brasil. Disse, também, que os prefeitos têm uma enorme capacidade de tomar decisões e impactar a vida das pessoas pois vivem o dia a dia delas.
Carioca da gema e observador da implantação de políticas públicas na cidade do Rio, tendo a discordar um pouquinho de nosso prefeito pois os fatos estão a desmenti-lo. O que vemos por aqui é uma desordem crescente e generalizada. Noto que somos cobaias de experiências ainda não testadas em engenharia de trânsito. E o resultado, muitas vezes, é o caos. Temos problemas sérios de mobilidade urbana não resolvidos, apesar de toda gritaria das manifestações de junho de 2013.
Se quer realmente o apoio da população para suas manobras na área de mobilidade, a sociedade e as entidades civis precisariam sentar-se à mesa com nossos representantes e não engolir pacotes prontos goela abaixo como no caso da derrubada da perimetral, escolha de Brt’s como opção de transporte visando desafogar o trânsito e outras soluções mágicas que nem sempre visam o bem comum. Democracia se exercita praticando, ouvindo opiniões diferentes das que temos e acatando ponderações quando enxergamos melhor para o conjunto da sociedade.
Sabemos que o empresariado do setor de transporte carioca tem muita força. Está aí a esquecida CPI dos ônibus da Câmara Municipal que não deu em nada. Às vezes, é preciso desagradar os poderosos fazendo o Estado retornar à essência de suas atividades para atender aos interesses maiores de sua sociedade.
A Copa do Mundo está chegando e o que se vê por aqui é o nosso Galeão com passageiros enfrentando temperaturas desérticas, muitas vezes sem ar e escadas rolantes, pois as obras de “modernização” sequer começaram. E a Olimpíada, logo ali em 2016, com tantas outras que ainda não iniciaram. Enfim, a impressão é de que não estamos fazendo o dever de casa. E, mais uma vez, tudo leva a crer que vamos perder o bonde do desenvolvimento anunciado.
Agora, comandaremos o C40. Oportunidade ímpar para avançarmos no quesito da Sustentabilidade. Hora de deixar, de verdade, um legado para nosso povo. Para isso, precisamos de um Prefeito com P maiúsculo, ousado e verdadeiro, disposto a romper a barreira da mesmice com propostas sérias e um novo modelo de cidade, que coloque os cidadãos da outrora Cidade Maravilhosa em primeiro lugar e acima de interesses privados.
Que tal começar demonstrando na prática que o tema é coisa séria e perene criando a disciplina de Responsabilidade Social e Sustentabilidade nas escolas municipais, visando desde cedo incutir a prática nas cabecinhas de nossas crianças, afinal elas são o futuro da Nação e do Planeta. Depois, para disseminar o debate na sociedade, criar a Secretaria de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, para pensar em projetos para a cidade.
Finalizando, ouso sugerir a criação do IPTU verde, com descontos progressivos para aqueles que realizarem obras que tornem seus imóveis/condomínios, residenciais ou comerciais, mais sustentáveis; aproveitando a boa onda ciclística, a criação de ciclo-faixas e ciclovias que interliguem a Barra à Zona Sul, Centro e Zona Norte, também são bem-vindas, pois estamos na contramão do Planeta incentivando a compra de carros; ônibus movidos à energia solar ou elétricos já existem e podem também incentivar nossos usuários a práticas mais sustentáveis; a implementação de uma maciça coleta seletiva de lixo urbano, com reciclagem dos resíduos sólidos coletados, pode abrir milhares de novas vagas em um mercado de trabalho ainda virgem; arborizar a cidade e criar hortas comunitárias em canteiros de ruas e avenidas, humaniza a convivência e pode ser também outra boa opção e; a iluminação pública da cidade, que pode ser mais sustentável e menos custosa para os cofres públicos municipais.
Por sua natureza turística e visitantes oriundos do mundo inteiro, o Rio de Janeiro poderia ser uma vitrine e tanto para irradiar tais práticas Brasil afora. Essencialmente nesse tema, Eduardo Paes tem a chance de fazer história pois estar perto de experiências implementadas em outras grandes metrópoles pode ser bom e importante. E copiar é preciso. Resta saber se nosso prefeito entende a magnitude de sua missão e se terá força e vontade política para implementar tais ações.
Abraços Sustentáveis
Odilon de Barros