sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Os dez países mais sustentáveis do mundo; Brasil é apenas o 77º




O levantamento classificou 178 países com base em 20 indicadores


Nem só de discussões sobre PIBs foi feito o Fórum Econômico de Davos, realizado de 22 a 25 de janeiro, na Suíça. Já mostramos aqui no EcoD que o Greenpeace aproveitou o evento para divulgar os indigestos premiados da lista das piores empresas do mundo. No mesmo encontro foi conhecido o ranking dos países mais sustentáveis do mundo.
Batizado de Environmental Performance Index (EPI), o ranking bienal é produzido por uma equipe de especialistas das universidades norte-americanas de Yale e de Columbia.
O levantamento classificou 178 países com base em 20 indicadores distribuídos por 9 categorias: critérios de saúde ambiental; poluição do ar; recursos hídricos; biodiversidade e habitat; recursos naturais; florestas; energia e clima, entre outros. E cada quesito possui pesos diferentes.
Com 52.97 pontos (de um total de 100 possíveis), o Brasil ocupa o 77º lugar no ranking. O país encontra-se bem distante da líder Suíça, que fez 87.67 pontos. Na análise por categoria, o país apresentou melhor desempenho no quesito qualidade do ar, com 97.67 pontos, mas decepcionou na preservação de recursos florestais, levando um vexatório 10 de 100 pontos, o que o coloca como o 115º país que melhor cuida de suas florestas. Eco D 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

85 ricos têm dinheiro igual a 3,57 bilhões de pobres no mundo




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Foto: Lucas Braga
Essa é a conclusão do relatório Governar para as Elites, Sequestro democrático e desigualdade econômica, que a ONG Oxfam Intermón publicou em 19/01/14. A desequilibrada concentração de renda nas mãos de poucos (típica do capitalismo retrógrado, exageradamente desigual) significa menos renda per capita para cada habitante e cada família do país. Mas isso não implica automaticamente mais violência (mais homicídios). Outros fatores devem ser considerados: escolaridade (sobretudo), emprego estável ou não, perspectiva de futuro, a racionalidade ou irracionalidade da política criminal adotada, religião, tradição, existência ou não do “tabu do sangue” (ninguém pode sangrar outra pessoa) etc.
O que sabemos? Que cruzando os dados objetivos do IDH (índice de desenvolvimento humano), Coeficiente Gini (distribuição da renda familiar), renda per capita e o número de homicídios temos uma tese: quanto mais elevado o IDH e menor o Gini menos desigualdade e menos violento é o país (e vice-versa: quanto mais baixo o IDH e mais alto o Gini, mais desigualdade e mais violência existe). Como regra geral essa premissa é bastante válida. As exceções confirmam a regra.
O que essa tese aconselha ao bom governo assim como às lúcidas classes burguesas dominantes? Que o incremento (a melhora substancial) dos fatores estruturadores do IDH (escolaridade, longevidade e renda per capita) e do Gini (distribuição da renda familiar) não pode ser desconsiderado como fator preventivo da violência. É de se chamar a atenção aqui, especialmente, para a educação. No lapso temporal de uma geração a Coréia do Sul se revolucionou completamente por meio da educação massiva de qualidade. Esse é o fator preventivo mais relevante de todos. Como já dizia Beccaria, em 1764: “Finalmente, o mais seguro, porém o mais difícil meio de evitar os delitos, é aperfeiçoar a educação” (Capítulo 45, do livro Dos delitos e das penas).
Os dez países de mais alto IDH do mundo são os menos violentos (1,8 homicídios para cada 100 mil) e ainda estão dentre os menos desiguais, com exceção dos EUA. Contam, ademais, com rendimento per capita muito alto e um excelente nível de alfabetização. O mais desigual neste grupo (EUA) é precisamente um dos mais violentos (conta com quase o triplo de homicídios da média dos 47 países de maior IDH, que é de 1,8 para cada 100 mil pessoas). Isso nos conduz a concluir que não devemos nunca considerar um único fator (IDH) para medir ou prognosticar a violência.
* Publicado originalmente no site Carta Maior.por Luiz Flávio Gomes, da Carta Maior 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ucrânia: É preciso tomar cuidado com a manipulação midiática. Ela não é sustentável para o Planeta



Voltam a correr o mundo notícias de duros enfrentamentos em Kíev, onde manifestantes oposicionistas e pró-europeus tentaram romper os bloqueios da polícia para invadir o parlamento ucraniano. Mais uma vez a mídia relata os fatos de maneira capciosa. 

Por Fabrizio Verde em Marx21


Gleb Garanich/Reuters
Ucrânia: conservadores e fascistas unidos na desestabilização  
Confrontos entre manifestantes e policiais em Kiev, voltaram a colocar os protestos na Ucrânia sob o foco da mídia internacional.
A narração dos acontecimentos é, como normalmente ocorre nesses casos, maniqueísta: de um lado, os manifestantes democráticos, pró-europeus e obviamente amantes da liberdade. Do outro, o governo de Yanucovich, próximo das posições da Rússia, portanto inimigo jurado da liberdade e autoritário. Em suma, um regime repressivo e despótico que deve ser descartado. 

É muito mau que praticamente ninguém tenha se preocupado em ir além das versões ocidentais. Para tentar enquadrar o que está acontecendo às portas da Rússia – um território estrategicamente importante – onde mais que um duro protesto pela suspensão da associação com a União Europeia e contra a política do governo, parece ser, ao contrário, uma verdadeira desestabilização - levada adiante no clássico estilo das revoluções coloridas – com vistas a sequestrar o país para a órbita da União Europeia e da Otan. 

No entanto, bastaria não se deter na superficialidade dos acontecimentos e tentar ir mais fundo, talvez esboçando uma análise sobre a aglutinação de forças heterogêneas que representam a oposição pró-europeia, onde se destacam os “hiper-democratas” nazistas do Svoboda (Liberdade), para ter um mínimo de clareza sobre a questão. 

O papel do Canvas

Fora da versão edulcorada e maniqueísta imposta pela mídia, encontramos aqui como o jornalista estadunidense e especialista de questões geopolíticas William Engdahl, obteve informações sobre o papel desempenhado na Ucrânia pelo Canvas (ex-Otpor), organização não governamental sérvia, ativa desde finais dos anos 1990, que se tornou o fulcro da oposição pró-ocidental ao presidente Slobodan Milosevic. 

Fontes ucranianas de fato explicaram ao jornalista estadunidense que ônibus de todos os cantos do país são mobilizados para a capital, Kíev. Esses ônibus são lotados por estudantes e desempregados contratados para participar dos protestos, que distribuem na Praça Maidan – coração das manifestações – panfletos idênticos aos difundidos em 2011 na hoje famosa Praça Tahrir, do Cairo (Egito), lugar simbólico e palco das manifestações de protesto que levaram à derrubada de Hosni Mubarak. 

É necessário, além de interessante e instrutivo, fazer uma retrospectiva para percorrer em grandes linhas a história dessa organização, já ativa na tentativa da “revolução laranja” na Ucrânia em 2004.

O influente “Center for applied non violent action and strategies” (Canvas) [Centro para a aplicação de ações não violentas e estratégias] descende da velha ONG “Otpor!” (Palavra sérvia que significa resistência), movimento que se forma e conquista apoio durante os bombardeios da Otan sobre a Iugoslávia, quando dá vida a uma forte campanha política e midiática voltada para a derrubada do presidente sérvio Milosevic. Tornou-se assim o coração da oposição pró-ocidental. Uma vez conseguida a queda de Milosevic, a organização em 2001 tentou transformar-se em partido político, apresentando-se nas eleições daquele ano. Mas a operação faliu, com uma chapa que alcançou o mísero índice de votação de 1,65%. 

Nesse ponto os líderes do Otpor abandonam a ideia de transformação em partido político, decidindo dedicar-se à “consultoria”. Passam a desempenhar um papel de primeiro plano, colocando à disposição as suas “competências”, além de uma considerável quantidade de dólares, durante as chamadas revoluções coloridas nos países ex-soviéticos. Movimentos de oposição como Kmara na Geórgia e Pora na Ucrânia, entre 2003 e 2004, passam a contar com o apoio dos líderes do ex-Otpor, que em curto tempo se transforma em Canvas. 

A organização Canvas, porém, aparece na ribalta da crônica internacional durante a chamada “primavera árabe”, onde os movimentos de protesto por meio das redes sociais admitem não só que se inspiram na experiência do ex-Otpor, mas também de receber sua consultoria. Das revoluções coloridas à primavera árabe, para Otpor-Canvas a passagem foi breve, mas significativamente sempre estiveram voltados para a mesma direção – a que conduz rumo aos interesses dos EUA-Otan no cenário internacional. 

Atualmente o Canvas se declara uma fundação educativa, à qual seria “proibido receber fundos de governos ou outras fundações”. Na realidade – e isto jamais foi desmentido - o Canvas recebe regularmente enormes financiamentos de variadas proveniências, como a Fundação Adenauer, o Open Society Institute de George Soros, a International Renaissance Foundation, o National Democratic Institute de Madeleine Albright e a ONG estadunidense Freedom House (cujo orçamento é coberto em cerca de 80% pelo governo federal dos Estados Unidos), que inclusive contratou dois membros do Otpor como consultores nos movimentos na Ucrânia e Bielorússia. 

Os nomes dos financiadores nos levam diretamente a quem está por trás das tentativas, do passado e atuais, de desestabilizar a Ucrânia: a União Europeia e os Estados Unidos, os mesmos que desempenharam um papel fundamental no adestramento dos ativistas sérvios sobre os métodos de combate e desordens na praça. Um ex-agente da CIA, Robert Helvey, foi de fato encarregado de ir a Budapeste (Hungria) para adestrar os membros do então Otpor. Tudo isso, financiamentos e ingerência da CIA, foi confirmado por uma investigação após a queda de Mubarak. 

União Europeia, Klitschko e os nazistas do Svoboda

Uma vez apurado o papel do Canvas, que evidentemente se movimenta a favor de tudo o que vem estabelecido por Washington, é interessante descobrir a conexão entre o heterogêneo ordenamento da chamada oposição pró-ocidental e a União Europeia, além de com os incontornáveis Estados Unidos, como já mencionamos anteriormente. 

Nesse sentido, figura paradigmática é o ex-campeão de boxe Vitaly Klitschko. Homem forte do partido de direita Udar, capaz de conseguir o apoio estadunidense e europeu, o ex-campeão atualmente indicado como líder da variegada oposição, é respaldado por Victoria Nuland, ex-representante estadunidense junto à Otan sob Bush, que atualmente assume o papel de secretária de Estado para Assuntos Europeus e Euroasiáticos da administração Obama. Nuland pode se orgulhar dos sólidos laços com os círculos neoconservadores: seu marido é Robert Kagan, conhecido falcão, estreito colaborador do ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. 

No que se refere ao lado europeu, o jornal alemão “Bild” informa que a chanceler Angela Merkel em concertação com o Partido Popular Europeu (conservador), teria abertamente indicado Klitschko como candidato pró-europeu nas eleições previstas para 2015. Há tempos que a União Democrata Cristã da Alemanha (CDU) - partido da chanceler, juntamente com o PPE – oferece apoio econômico e logístico aos membros do Udar, fornecendo também adestramento político dos expoentes do partido de direita ucraniano. 

O deputado conservador alemão no Parlamento Europeu Elmr Brok, que esteve em Kíev, chegou ao ponto de pedir aos dirigentes da oposição ucraniana que estejam dispostos a morrer para instaurar um novo caminho pró-europeu. 

Encerramos esta breve resenha sobre a oposição ucraniana, que em nossas latitudes ainda é definida como “pró-democracia” - quando na realidade se trata de uma aglutinação de forças conservadoras e fascistas – como o Svoboda. Derivação direta do Partido Socialista Nacional Ucraniano (SNPU), assume a atual denominação em 1998, depois da eleição do seu líder Oleh Tiahnybok ao Parlamento ucraniano. Recorde-se o aberrante discurso sobre a tumba de um nazista ucraniano, onde vociferou contra “a máfia judia de Moscou”. 

Esse partido chauvinista e nazista cujos militantes foram indicados pelo “New York Times” como os mais “temíveis” manifestantes, autores “das iniciativas mais provocadoras como a ocupação de edifícios e escritórios do governo”, é fautor do culto a Stepan Bandera, fundador da Organização dos Nacionalistas Ucranianos que em junho de 1941 uniu as próprias forças com as dos nazistas durante a invasão da União Soviética. A autorização para a atuação do Svoboda foi conseguida graças ao partido pró-alemão Batkivshina da corrupta Julia Tymoshenko, atualmente presa por apropriação indébita e fraude, que na última eleição fez aliança com os nazistas decididamente frutífera para estes últimos, que conquistaram 37 cadeiras. Enquanto isso, a sua influência aumenta cada vez mais, graças ao papel proeminente nos violentos protestos em curso. 

Desinformação da mídia e deslumbramento de certa esquerda 

Para descrever o papel mistificador da mídia nesses acontecimentos podemos recorrer ao que expressou um alto dirigente comunista, Pietro Secchia, por meio da sua coluna semanal no jornal “Rinascita”, em 1950.

“Não é de hoje - escrevia Secchia – que a imprensa é um poderoso instrumento do qual se serve a classe dominante para manter a sua ditadura. O grande capital não domina somente com a banca, os monopólios, o poder financeiro, os tribunais e a polícia, mas também com os meios quase ilimitados da sua propaganda e da corrupção ideológica. Jamais, porém, como hoje, a imoralidade da imprensa capitalista se manifestou de forma tão vulgar e abjeta. Houve um tempo, no início da Idade Moderna, até as revoluções do século 18, em que, como escreveu Lênin, a luta pela liberdade de imprensa tinha a sua grandeza porque era a palavra de ordem da democracia progressista em luta contra as monarquias absolutas, o feudalismo e a Igreja. Mas na fase da decadência do capitalismo a imprensa conservadora e reacionária perdeu todo o senso moral e todo o pudor. O jornalismo a serviço dos grupos imperialistas é uma forma corrente de prostituição. O capitalismo em putrefação tem necessidade de mentir continuamente. A realidade o acusa, por isso deve ser falsificada. A fábrica de mentiras se tornou uma arte, uma técnica e uma norma de vida”. 

As palavras de Pietro Secchia, que mantêm uma extraordinária atualidade, bastam por si sós para descrever o papel dos meios de informação, incluindo os chamados de esquerda, que continuam a manter o dístico de jornal comunista. 

São fruto de clara má fé as tolices de certa esquerda, que sem qualquer hesitação apoia as políticas imperialistas. Destaca-se sobre os demais o deputado Boccadutri, parlamentar do partido Socialismo e Liberdade (SEL) que no twitter se referiu a “um povo de jovens que enche as praças para pedir ingresso na UE”. Enquanto isso, o vice-presidente do Parlamento Europeu, Gianni Pittella (Partido Democrata), é autor de um sincero apelo: “Que a Europa escute o grito de liberdade e amor que vem de Kíev”. 

Certo, amor pelos dólares americanos e os euros alemães, além de pelo vulgar revanchismo de marca nazista. 

Fonte:www.marx21.it

Tradução de José Reinaldo Carvalho

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Butão será o primeiro país do mundo que só permitirá agricultura orgânica



butao Butão será o primeiro país do mundo que só permitirá agricultura orgânica

Butão, um país com cerca de 750 mil habitantes, se tornará, antes de 2020, o primeiro do mundo que produzirá todos os seus alimentos com práticas de agricultura ecológica.
O ministro da agricultura, Pema Gyamtsho, que também é agricultor, anunciou essa medida ao mundo na Cúpula Sobre o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu na capital indiana, Nova Delhi. Ele também declarou que o desejo do país é exportar alimentos naturais para China, Índia e outros vizinhos continentais.
Nesta data estará proibido o uso de pesticidas e agrotóxicos químicos e os agricultores butaneses utilizarão em seu cultivo somente adubos orgânicos naturais, obtidos de seu gado. Grande parte da agricultura do país já é orgânica por conta do alto custo dos produtos artificiais e para a manutenção da qualidade do solo.
O ministro ainda advertiu para os efeitos nocivos dos componentes químicos nos valores nutricionais de frutas e legumes e na contaminação das águas subterrâneas. Para que o prazo seja cumprido, a intenção do governo é aumentar as terras irrigadas e usar variedades de alimentos imunes a pragas.
* Publicado originalmente no Pressenza IPA e retirado do site Brasil de Fato.

Londres inaugura a maior ponte solar do mundo


Ares futuristas agora recobrem um histórico símbolo da capital inglesa. Construída na era do vapor, em 1886, a ponte de Blackfriars, sobre o Rio Tâmisa, em Londres, acaba de tornar-se a maior ponte solar do mundo.

Depois de quase cinco anos, Londres concluiu, nesta quarta-feira (22), a instalação dos 4.400 painéis fotovoltaicos. A energia gerada vai suprir metade do consumo da estação ferroviária London Blackfriars.

Ao todo, são seis mil metros quadrados de teto solar, capazes de produzir 900 mil kWh, anualmente. É energia suficiente para fazer quase 80 mil xícaras de chá por dia.

Além de cortar os custos da conta de luz, a empresa First Capital Connect, que opera a estação, espera que os painéis reduzam as emissões de carbono em 511 toneladas por ano, o equivalente a cerca de 89 mil viagens de carros.

A empresa por trás da engenharia solar e da instalação é a londrina Solarcentury. Os módulos solares de alta eficiência utilizados são fabricados pela Panasonic.

Entre outras credenciais verdes do retrofit, a estação ficou mais arejada e com melhor iluminação natural e passou a contar também com sistema de captação de água da chuva.

Uma outra ponte solar conhecida no mundo é a passarela Kurilpa, em Brisbane, Austrália, e o Solar Tunnel, na Bélgica, uma rede de trem que usa energia solar. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Povo Argentino ganha batalha contra a Monsanto, mas resta a guerra


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A fábrica da Monsanto em Malvinas Argentinas, desde o acampamento montado pelos moradores para bloquear o acesso à obra. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS

Moradores de uma aguerrida localidade da Argentina ganharam o primeiro round contra a gigante da biotecnologia Monsanto, mas não baixam a guarda, conscientes de que falta muito para ganhar a guerra. Em Malvinas Argentinas, que fica na província de Córdoba, já dura quatro meses o bloqueio ao terreno onde a transnacional norte-americana pretende instalar a maior unidade de tratamento de sementes de milho do mundo.
E assim, os moradores continuam acampados diante da edificação que já se levanta neste povoado, antes aprazível, e impedindo o acesso à área da construção, mesmo depois de um tribunal provincial ter ordenado este mês a paralisação das obras. A campanha contra a unidade, convocada pela Assembleia Malvinas Luta pela Vida e por outras organizações sociais, começou em 18 de setembro neste povoado que fica a 17 quilômetros da capital de Córdoba.
Após situações de tensão, com tentativas de dispersão dos manifestantes pela polícia provincial e provocações por enviados do sindicato da construção, a provincial Sala Segunda da Câmara de Trabalho deu razão aos moradores, no dia 8. “A sentença mostra que os argumentos dos moradores são justos, porque reclamam direitos fundamentais reconhecidos e estabelecidos pela Constituição Nacional e pela legislação do Estado Federal”, disse à IPS o advogado Federico Macciocchi, que defende a causa dos opositores à obra.
A sentença determinou a inconstitucionalidade da autorização municipal para a construção nesta localidade de aproximadamente 15 mil habitantes, a maioria de classe trabalhadora. Além disso, ordenou a paralisação das obras, impondo à Municipalidade de Malvinas Argentinas que se abstenha de autorizar a construção, até serem cumpridas duas exigências legais: realização de uma avaliação de impacto ambiental e convocação de uma audiência pública.
“É um grande avanço, um grande passo na luta, que se conseguiu graças ao trabalho em conjunto das reclamações institucionais, somado à reclamação social nas ruas”, afirmou à IPS um dos integrantes da Assembleia, Matías Marizza. “A luta serviu para garantir que a lei seja respeitada”, acrescentou. A Assembleia e outras organizações decidiram continuar com o acampamento que impede o acesso à obra, até conseguir o abandono definitivo do projeto por parte da empresa.
A Monsanto respondeu a um pedido de comentário da IPS com um comunicado no qual qualifica a ação dos moradores de fruto de “extremistas”, que impedem os empreiteiros e empregados de “exercerem o direito de trabalhar”. A sentença respondeu a uma ação de amparo interposta por moradores da localidade e pelo cordobês Clube de Direito, presidido por Macciocchi. A sala trabalhista ordenou que sejam realizados tanto o estudo de impacto ambiental quanto a audiência pública, lembrou o advogado.
O que se expressar na audiência “será muito relevante”, ressaltou Macciocchi, embora a Lei Geral de Meio Ambiente preveja que as opiniões e objeções dos participantes “não serão vinculantes”. Mas estabelece que as autoridades convocantes, se tiverem uma opinião contrária aos resultados alcançados na consulta, “deverão fundamentá-la e torná-la pública”, explicou.
Agora, o objetivo da Assembleia é que também seja feita uma consulta à cidadania mediante voto secreto. Essa consulta complementaria a lei ambiental e “garantiria o exercício pleno do direito da cidadania de decidir sobre seu modelo de desenvolvimento local, o tipo de atividades sociais e econômicas que deseja para sua vida cotidiana e sobre os riscos socioambientais que está disposta a assumir”, detalhou à IPS outro morador, Víctor Mazzalay.
“É o povo quem deve contar com essa informação e decidir se aceita ou não aceita esses custos e riscos”, opinou Mazzalay, que também é pesquisador social do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e da Universidade de Córdoba. “Um estudo de impacto ambiental deve incluir consulta popular, para que seja a população a dar a licença social necessária para o desenvolvimento de qualquer atividade social, econômica e produtiva que possa afetar seu meio ambiente e sua saúde”, acrescentou.
Em seu comunicado a Monsanto diz que a companhia não concorda com a sentença, mas, por “respeitar as decisões do Poder Judicial, acatará como sempre suas medidas”. Além disso, esclareceu que “já apresentou o Estudo de Impacto Ambiental, documento que está em fase de avaliação pela Secretaria de Ambiente da Província”.
Para Macciocchi, a sentença é definitiva e “põe fim ao conflito judicial. A sentença foi dada em virtude de um recurso de apelação, razão pela qual já não restam recursos ordinários para interpor”, enfatizou. À Monsanto restaria a possibilidade de um recurso de cassação junto ao Tribunal Superior de Justiça (TSJ).
A empresa já informou que vai apelar, “pois considera legítimo seu direito de construir a unidade após cumprir todos os requisitos legais e ter obtido as autorizações para isso conforme as normas vigentes, o que foi confirmado pela sentença do Juizado de Primeira Instância no dia 7 de outubro de 2013”.
Macciocchi considera, entretanto, que “esse recurso não vai paralisar o que foi determinado pela Sala Segunda da Câmara do Trabalho”. E acrescentou que, “além disso, se pensarmos no tempo que o TSJ demora para resolver um recurso de cassação, quando estiver resolvido a Municipalidade de Malvinas e a Secretaria de Ambiente já terão cumprido as leis que foram violadas com essa obra”, afirmou.
Segundo o advogado, o alto tribunal demora até dois anos e meio nos casos de cassação apresentados por pessoas sentenciadas e até cinco ou sete quando a matéria é trabalhista e não civil. “Seria um verdadeiro escândalo institucional o TSJ resolver esta causa pulando a ordem das que há anos ‘dormem’ em suas salas”, ressaltou.
A decisão do dia 8 impede a instalação definitiva da unidade, que a Monsanto quer ver em operação este ano. “Mas, na medida em que os cidadãos se expressam contra a obra, e que a avaliação de impacto ambiental seja desfavorável para a empresa, neste caso a Monsanto não poderá se instalar em Malvinas”, destacou Macciocchi. Mazzalay recordou que a razão “principal” para a oposição à instalação da unidade da Monsanto se deve à “reivindicação do direito do povo decidir sobre o tipo de atividade produtiva e sobre os riscos ambientais aos quais se submeter”.
A empresa divulgou que pretende instalar mais de 200 silos de milho, e que serão usados produtos agroquímicos para a preparação das sementes. A Monsanto, um dos maiores fabricantes de herbicidas e de sementes geneticamente modificadas do mundo, opera na Argentina desde 1956, quando instalou uma fábrica de plásticos.
“Um argumento frequente sugere que existe uma dúvida razoável sobre a suposta inocuidade dessa atividade sobre a saúde humana”, disse o pesquisador. A seu ver, “são múltiplos e diversos os estudos científicos demonstrando os efeitos negativos que tanto o movimento de sementes como a manipulação e exposição a diversos produtos agroquímicos têm sobre a saúde”.
Mazzalay crescentou que, “nesse sentido, sobre questões ambientais nas quais está em risco à saúde, a dúvida razoável deve fazer prevalecer um princípio precatório, isto é, não aceitar o desenvolvimento de uma atividade até que se demonstre de maneira definitiva sua inocuidade”. Envolverde/IPS

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Portaria interministerial cria a Campanha Brasil Orgânico e Sustentável




organico Portaria interministerial cria a Campanha Brasil Orgânico e Sustentável
Os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Desenvolvimento Agrário lançaram a Campanha Brasil Orgânico e Sustentável, que está inserida na agenda de meio ambiente e sustentabilidade do governo federal para a Copa do Mundo de 2014. A portaria que prevê a medida foi publicada ontem (16) no Diário Oficial da União.
Os objetivos da campanha são incentivar o consumo de produtos orgânicos, aumentar o nível de conhecimento da população para a alimentação saudável, além de ampliar e diversificar os canais de comercialização de produtos sustentáveis. A ideia é desenvolver uma cadeia produtiva mais estruturada e estimular uma demanda diferenciada, promovendo geração de emprego e renda e proteção do meio ambiente.
A campanha busca incentivar a comercialização e o consumo de produtos orgânicos e da agricultura familiar nas 12 cidades-sede da Copa por meio do aumento de oportunidades para que cooperativas divulguem e vendam seus produtos no megaevento.
“Depois de fazermos um grande trabalho na Rio+20 juntando os aspectos econômico, social e ambiental, queremos repetir isso na Copa, que é a ocasião para discutir o consumo sustentável. Queremos incentivar o consumo dos produtos orgânicos e fortalecer nossas cadeias agroecológicas. A Copa é a oportunidade para avançar a agenda da sustentabilidade”, disse a ministra Tereza Campello. por Ana Cristina Campos, da Agência Brasil
* Edição: Talita Cavalcante.** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Carro: o cigarro do século 21?




carros 300x199 Carro: o cigarro do século 21?
Pesquisas mostram que jovens já não possuem o mesmo desejo por veículos particulares. Foto: Valter Campanato/ABr
Até pouco tempo incontestável, o automóvel já não ocupa mais o mesmo lugar no imaginário das pessoas. 
Muita gente talvez não concorde. Pode ser também que exista uma dose de exagero na afirmação. Ou será que não? O certo é que temos observado um inédito questionamento ao império do automóvel.
Soberano ao longo de muitos anos e cercado de toda admiração. Assim foi a trajetória do carro. Agora muitas vozes se levantam contra ele como um grande problema, a perturbar a vida de todos. Aliás, não parece estar ocorrendo um fenômeno semelhante ao ocorrido com o cigarro no século passado? Portanto, guardadas as devidas proporções, será realmente loucura pensar que não assistiremos no século 21 com os veículos de transporte individual o mesmo que ocorreu no passado com o cigarro?
No passado, fumar representava um símbolo de status, charme e elegância. Durante um bom período o consumo de cigarros foi objeto do desejo de inúmeras gerações. Os muitos jovens até arriscavam levar surras paternas se fossem pegos no ato. Celebrizado, entre outros, por Clark Gable, Cary Grant, Rita Hayworth, James Dean e Clint Eastwood, os ícones do cinema entre os anos 40 e 60. Todo mundo que se prezava, naquela época, fumava. E o que aconteceu com o passar do tempo e os mais do que comprovados problemas causados pelo cigarro? Quase a demonização do ato de fumar!
Para as novas gerações fica até difícil explicar que, na maior parte do século 20, fumar em qualquer lugar era a coisa mais comum do mundo. Em bares, restaurantes e até mesmo dentro de claustrofóbicos aviões, os fumantes viviam o auge de seu vício com toda a liberdade. Hoje todos nós sabemos sobre os males causados pelo fumo, inclusive para aqueles expostos a fumaça de cigarros alheios, o chamado fumante involuntário. Cigarro mata e ponto final!
A publicidade ainda tinha o desplante de vincular o fumo à virilidade e à prática de atividades esportivas. Uma barbaridade digna de criminosos!! Não foi por outra razão que, posteriormente, a propaganda de cigarros foi banida dos meios de comunicação.
Bem, não dá para afirmar o mesmo em relação aos carros, ou será que é possível fazer essa relação? Dados divulgados pela ONG Saúde e Sustentabilidade em parceria com vários estudiosos, entre eles, o médico e pesquisador da USP Paulo Saldiva, mostram que a poluição no estado de São Paulo, foi responsável pela morte de quase 100 mil pessoas em seis anos. Só em 2011, a pesquisa revelou que o ar contaminado, boa parte dele vindo de escapamentos de veículos, contribuiu para a morte de mais de 17 mil e 400 pessoas. Esse trabalho é o primeiro de abrangência estadual que fez uma relação direta entre índices de poluição e número de mortes. Portanto, temos aí uma relação carro e saúde semelhante como no passado foi feito entre cigarro e saúde.
Outro interessante ponto de convergência das trajetórias do cigarro e do automóvel está localizado no exercício de sua prática. Como disse antes, fumar era algo exercido com total liberdade até começarem a surgir diversas leis obrigando a exercer o hábito a lugares pré-determinados e o veto total a outros. Hoje em dia, o pobre fumante se vê quase num ato clandestino e de banimento social para poder dar algumas boas tragadas. Isso em prol da saúde coletiva.
Em relação aos carros algo parecido está em processo acelerado de implantação. Recentemente a prefeitura de São Paulo definiu que a velocidade máxima na cidade passou de 60 para 40 quilômetros por hora. A ação visa reduzir as mortes de pedestres e ciclistas vitimados entre outras razões pelo excesso de velocidade. Se somarmos essa a outras medidas em vigor como o rodízio de veículos, a proibição de circular em faixas de ônibus e as restrições para locais de estacionamento, teremos aí mais exemplos de coerção ao livre uso do carro, até pouco tempo praticamente “dono” das ruas e avenidas das cidades contra qualquer planejamento minimamente civilizado de mobilidade urbana que buscasse uma convivência pacífica com outros usuários de transporte público, pedestres e ciclistas.
Sonho da juventude. Quem, como eu, já entrou na casa dos 50 anos de idade sabe bem o que um garoto ou garota de minha época sonhava em ter os 18 anos. Até outras gerações posteriores enxergavam e ainda enxergam no fato de ter um carro o alcance definitivo do mundo adulto e da independência. Isso, claro, ainda não mudou, mas parece ir por um caminho bem diferente.
Uma tendência observada em pesquisas realizadas na Inglaterra e nos Estados Unidos é que os jovens desses países já não possuem o mesmo desejo por veículos particulares. Eles acham mais interessante utilizar transporte público como ônibus e metrô e até mesmo andar de bicicleta. As pesquisas mostram que eles não estão dispostos a gastar boa parte de seus recursos na manutenção de um automóvel. E, além de mais barato, também consideram mais saudável o uso cotidiano de outras modalidades de transporte. Isso significa que a posse do carro próprio está perdendo o encanto? Com o cigarro não se passou algo bastante parecido?
Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e palestrante e consultor na área ambiental.** Publicado originalmente no site Carta Capital.por Reinaldo Canto*

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Futebol insustentável - Acorda Marin


 
O título da Copa do Brasil levou o Flamengo, clube de maior torcida do Brasil, à Copa Libertadores com justiça, sendo a vaga conquistada dentro de campo.   Pressionar a Conmenbol, agora, para tirá-lo à força da competição, só pode ser devaneio de uma diretoria louca, burra ou que imagina viver, ainda, em um passado recente, nada saudoso, em que seu atual presidente foi colaborador ativo.
 
Faz-se necessário alguém trazer o Sr. Marin e seus asseclas à realidade rápido ou realmente o Brasil corre o risco de pagar, de verdade, o maior mico da história do futebol durante a Copa.  

Ou será que acreditam que a torcida do Flamengo assistirá tamanha pernada calada?  Acorda colecionador de medalhinha!!!
 
Odilon de Barros Pinto Junior

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Degelo na Antártica aumentará o efeito estufa, dizem pesquisadores




Antartida Degelo na Antártica aumentará o efeito estufa, dizem pesquisadoresA Antártica é a maior reserva de água doce da Terra. Seus 14,2 milhões de quilômetros quadrados – 1,6 vezes a extensão territorial do Brasil – são cobertos por uma capa de gelo de 2 quilômetros de espessura média. Além disso, tem as maiores reservas de gelo (90%) e água doce (70%) do planeta. Em seu estado sólido, essas reservas regulam o clima do Hemisfério Sul e distribuem umidade pelo planeta. Também resfriam a atmosfera e retiram carbono, metano e outros gases que influenciam diretamente no efeito estufa.
O Continente Antártico está situado na Região Polar Austral. Ele é formado por uma massa continental localizada quase inteiramente dentro do círculo polar antártico. É cercado pelo Oceano Antártico, de limites imprecisos, formado pelo encontro das águas dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, a chamada Confluência Antártica.
As temperaturas no verão variam de 0º Celsius (ºC), no litoral, a –32º C no continente e, no inverno, variam de –15º C, no litoral, a –65º C no continente. De acordo com informações de participantes do Seminário Antártica 2048, evento que discutiu a pesquisa na região, a possibilidade de um degelo no continente acionaria um círculo vicioso, de quanto mais degelo, mais carbono e metano seriam jogados na atmosfera e, consequentemente, acarretaria em um maior efeito estufa, temperaturas mais altas e, consequentemente, mais degelo.
Atualmente, 29 países – incluindo o Brasil – mantém bases e desenvolvem pesquisas na Antártica. No verão, essas bases recebem mais de 4 mil pesquisadores, em cooperação científica estabelecida pelo Tratado da Antártica. O tratado de cooperação estabelece uma moratória até 2048 para a exploração de recursos não renováveis na região. O Brasil faz parte deste acordo desde 1975 e deu início ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar), em 1982.
Estação2 Degelo na Antártica aumentará o efeito estufa, dizem pesquisadoresSegundo o glaciologista Jefferson Simões, ainda não existe um policiamento do Tratado da Antártica. Para o pesquisador, a qualidade dos estudos e da ciência feitas na região é que determinam o status de um país no Tratado Antártico.
“O Brasil é líder na pesquisa [sobre o Continente Antártico] da América Latina. Grandes conhecimentos da química e da física são feitos na Antártica. Há organismos que estão em estado dormente há mais de 400 mil anos dentro do gelo na Antártica”, explica Simões.
Outro acordo de cooperação para estabelecer procedimentos na região, o Protocolo de Madri, assinado em 1998, determina regras a serem seguidas na execução de pesquisas científicas e no apoio logístico às estações antárticas. O objetivo é proteger a flora e a fauna da região. Há limitações com a eliminação de resíduos e medidas preventivas contra a poluição marinha.
De acordo com a Marinha do Brasil, em três décadas, o Proantar fará uma média anual de 20 projetos de pesquisas nas áreas de oceanografia, biologia, biologia marinha, glaciologia, geologia, meteorologia e arquitetura. Além de pesquisadores e cientistas, o turismo é uma atividade regular que já leva ao continente mais de 40 mil visitantes por ano.por Heloisa Cristaldo, da Agência Brasil* Edição: Marcos Chagas.** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Desenvolvimento e desigualdade: onde está o Brasil?


brasil 2 300x180 Desenvolvimento e desigualdade: onde está o Brasil?
Foto: Divulgação/Internet
O avanço na distribuição da renda deve continuar e se manter perene. De fato, precisa permanecer sendo uma bandeira dos governos vindouros.
O processo de desenvolvimento de um país é multifacetado econômica, social, institucional e politicamente. Entram em ação, entre outras instâncias, os donos do poder, seus prepostos, o conjunto da força de trabalho, as relações de mercado, as condições e regras atribuídas às instituições e os termos e canais do intercâmbio financeiro e comercial com o exterior.
Não segue uma trilha homogênea e progressiva o desenvolvimento, embora possa ser, e hoje em dia normalmente é, planejada e acompanhada diuturnamente pelos gestores da política econômica. Como diria Marx, as relações de produção na sociedade capitalista moldam e são moldadas pelas forças produtivas continuadamente, às vezes acordadas, outras e a mais das vezes nem tanto, gerando possibilidades, alternativas e soluções compatíveis ou contraditórias.
A desigualdade pode ser entendida como o resultado do processo de desenvolvimento, sua foto instantânea, ao mesmo tempo em que é a partir dela que o processo prossegue e relança suas bases e estruturas de expansão. Como esta expansão, no capitalismo, é intrínseca e marcadamente desigual, a foto é sempre diferenciada, heterogênea e inconfundível. O desenvolvimento capitalista não faz progredir tudo e todos da mesma maneira, a igualdade entre os indivíduos estampada nas leis e convenções internacionais fica apenas no papel.
Há, no entanto, níveis diversos de desenvolvimento e desigualdade, bem como relações distintas entre eles. As sociedades escandinavas, por exemplo, tem sido as mais igualitárias no mundo moderno, pois conseguem combinar bem e há tempos as duas dimensões em benefício da maioria da população. O Brasil já esteve pior na classificação entre as sociedades mais desiguais. Conseguiu melhorar e hoje pode se dar ao luxo de sair melhor na foto. Em quase duas décadas a economia do país cresceu e conseguiu distribuir de maneira mais justa os seus ganhos.
De acordo com os dados da FGV e IPEA, de 1995 a 2002, enquanto o crescimento médio da economia (PIB) foi de 2,23%, a desigualdade (índice de Gini) reduziu 1,9%; de 2003 a 2010 os dois resultados chegaram a 3,58% e 9,6%, e de 2011 a 2012 atingiram 2,03% e 1,6% respectivamente. Em todo o período o recuo na desigualdade sai do patamar de Gini de 0,60 e fica em 0,52 – uma queda de 13%.
A maior parte dessa conquista (3/4 dela) ficou por conta do segundo período de oito anos coberto pelo governo Lula, enquanto o governo Dilma em apenas dois anos já tenha se aproximado dos resultados dos oito anos do governo FHC.
A cara social na foto do desenvolvimento brasileiro das duas últimas décadas certamente é das três administrações petistas. A grande imprensa ainda não se apercebeu desses resultados, nunca reconheceu as conquistas sociais que eles revelam. Ao contrário, ela consegue desenhar um retrato de um país acabado como salientou bem Emir Sader. Para ela, cada variação negativa de quaisquer dos indicadores econômicos é uma tragédia, assim como outras tragédias por ela mesmo criadas na aposta de resultados nunca alcançados. Ela não consegue, não quer e não pretende fazer uma avaliação criteriosa e imparcial, fica apenas estampando e repercutindo alguns resultados adversos reais ou inventados.
A queda da desigualdade no Brasil nos últimos vinte anos, vista de outra perspectiva, melhora substancialmente a vida da maioria esmagadora da população ocupada no mercado. Os dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2004 e 2001 mostram que os 90% menos ricos galgaram de 55,4% a 58,5% da renda total, o que significa um ganho de 15,5% – conseguiram retirar 3,1 pontos do percentual da renda dos 10% mais ricos da população. Na realidade, todos os grupos (decis) ganham parcelas adicionais da renda total de 2004 a 2011 à exceção dos superiores 10%.
Este avanço na distribuição da renda do país, no entanto, deve continuar e se manter perene. De fato, precisa permanecer sendo uma bandeira dos governos vindouros uma vez que o patamar de desigualdade auferida pelo índice de Gini ainda é alto. Para se ter uma ideia, o índice de 0,52 marcado pelo Brasil em 2012 em sua trajetória de descenso ainda está longe de um dos melhores do mundo, o da Noruega, cravado em 0,35.
Todo o movimento do mercado de trabalho trazido com a expansão de atividades produtivas e ocupações proporcionou melhoria substantiva nos ganhos de renda dos grupos que fazem parte dos 90% menos ricos. Ocorre o fenômeno do alargamento e progressão da classe média, antes em situação de renda inferior, depois e aos poucos em situação de renda mais favorável. Os grupos mais beneficiados foram os que ganham de 2 a 3 salários mínimos, os quais assim identificados podem não parecer nem da classe média baixa, mas ao se destacar deles os membros das famílias, a renda familiar com certeza atinge o patamar.
A alternativa capitalista brasileira seguida pelos governos de 2003 para cá tem trazido bons resultados em termos de desenvolvimento e excelentes resultados em termos de igualdade. Mantê-los é o propósito que deve ser seguido, melhorá-los a tarefa a ser conquistada, retrocedê-los o risco a evitar.
José Carlos Peliano é economista.
** Publicado originalmente no site Carta Maior.
(Carta Maior) 

Arena Pantanal é destaque em revista científica chilena


Comprometido com a sustentabilidade, com a responsabilidade socioambiental e com a requalificação urbana de Cuiabá, assim foi descrito o projeto arquitetônico da Arena Pantanal em um artigo veiculado na edição de dezembro da revista Hábitat Sustentable, publicação científica chilena da Universidad del Bío-Bío, referência em construções sustentáveis na América Latina.

O texto é assinado pelo arquiteto e urbanista Rodrigo Tóffano, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental (PPGEEA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e pelo Prof. Dr. José Manoel Henriques de Jesus, que foi o seu orientador na dissertação de mestrado sobre a Arena Pantanal, pesquisa que foi noticiada no site da Secopa em março de 2013.

“Depois de alguns meses de espera o nosso artigo foi publicado nessa importante revista latino-americana e passa a ser ainda mais expressivo porque o primeiro jogo da Copa do Mundo em Cuiabá terá o Chile, seleção que enfrentará a Austrália no dia 13 de junho”, comemorou Tóffano.

Intitulado “Copa 2014 - diretrizes de sustentabilidade na concepção do projeto do novo verdão, a Arena Pantanal, em Cuiabá-MT", o artigo apresenta uma análise de 10 ações de sustentabilidade empregadas no estádio: ambiente urbano e paisagístico; transportes; racionalização da água; conservação e reuso da água; fontes renováveis de energia; demanda minimizada de energia; materiais ecológicos; resíduos e reciclagem; conforto ambiental passivo; e conforto ambiental ativo.

Entre os pontos observados, destacam-se a economia de aproximadamente 40% do consumo de água, em comparação com uma edificação semelhante, redução de 20% de uso energético, reaproveitamento de 24 mil m³ de concreto e alvenarias do estádio demolido e o uso de madeiras e tijolos cerâmicos certificados.

“Elenco como positivos também a busca pelo melhor aproveitamento da iluminação natural e da ventilação cruzada, que favorecem a eficiência energética, a concepção da forma arquitetônica mais arejada e permeável, a criação de microclimas com vegetação, a utilização de espelhos de água e, ainda, o posicionamento da edificação e do campo, protegidos da insolação mais forte em razão de uma envoltória com brises metálicos, associada a uma membrada vazada com tratamento termoacústico”, comentou o arquiteto e urbanista.

Projeto

Com capacidade para cerca de 44 mil torcedores, a Arena Pantanal foi concebida a partir de modernos conceitos de funcionalidade e sustentabilidade. O projeto já recebeu vários prêmios, inclusive um internacional e foi elogiado por instituições ligadas à arquitetura nacional.

O novo Verdão é um exemplo de construção ambientalmente sustentável desde a sua concepção. O Governo do Estado fez questão de encomendar um projeto que atendesse as exigências do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema de certificação de edificações americano para verificar e atestar a qualidade ambiental de um empreendimento.

O entorno do estádio, área com mais de 300 mil m², contará com passarelas, uma praça com áreas de lazer, pista de caminhadas, atividades esportivas, espelho d'água, lanchonetes, restaurante e muito verde.

“A Arena Pantanal reflete uma preocupação do Governo de Mato Grosso de tornar o Estado mais competitivo e incluído na dinâmica nacional de desenvolvimento”, finalizou Tóffano. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Onça-pintada pode desaparecer da Mata Atlântica




oncapintada Onça pintada pode desaparecer da Mata Atlântica

De acordo com alerta feito por pesquisadores brasileiros na revista Science, restam no bioma 250 animais adultos distribuídos em oito populações isoladas e apenas 50 estão de fato se reproduzindo. Foto: Sandra Cavalcanti/Instituto Pró-Carnívoros
Agência FAPESP – A Mata Atlântica está na iminência de perder um de seus mais ilustres habitantes: a onça-pintada (Panthera onca). O alerta foi feito na revista Science, em carta publicada por um grupo de pesquisadores brasileiros membros do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota).
“Uma recente reunião de especialistas em vida selvagem concluiu que a Mata Atlântica, que no passado se estendia por toda a costa brasileira e também por parte da Argentina e do Paraguai, pode em breve ser o primeiro bioma tropical a perder seu principal predador, a onça-pintada”, relataram os cientistas na carta.
“Pesquisadores estimaram menos de 250 animais adultos vivos em todo o território, distribuídos em oito populações isoladas. Ainda pior, análises moleculares demonstraram que o tamanho da população efetiva local (número de animais que estão de fato se reproduzindo e deixando descendente, um parâmetro crítico para a manutenção da diversidade genética) está abaixo de 50 animais”, destacaram.
De acordo com Ronaldo Gonçalves Morato, coautor do texto e chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre as causas do declínio estão a perda de habitat resultante do desmatamento e da fragmentação da mata e também a caça. Estima-se que, atualmente, reste apenas entre 7% e 12% da cobertura original da Mata Atlântica.
O impacto do desaparecimento da onça-pintada para o ecossistema local é difícil de prever, mas certamente o saldo será negativo. “Quando um grande predador desaparece, pode haver explosão nas populações de herbívoros, como veados, catetos e queixadas. Em excesso, esses animais acabam consumindo todo o sub-bosque da floresta e isso implica em perda da capacidade de recomposição e perda de estoque de carbono. Em longo prazo, pode levar à quebra da dinâmica da floresta”, avaliou Morato.
Pedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coautor do texto, lembrou que o desaparecimento da onça-pintada pode ainda causar aumento desmedido nas populações de predadores intermediários, como jaguatiricas e outros carnívoros.
Por sua vez, isso poderá levar a um aumento na predação de ninhos e, potencialmente, à extinção local de muitas aves, importantes dispersoras de sementes, e alterar a estrutura da vegetação. “O predador de topo de cadeia tem um papel de regulação do ecossistema e, quando ele desaparece, um distúrbio é criado. Isso pode causar a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema encontre um novo equilíbrio”, disse Galetti, que coordena pesquisa apoiada pela FAPESP e realizada no âmbito do Sisbiota – programa lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2010 que reúne pesquisadores de diversos Estados e, em São Paulo, conta com financiamento da FAPESP.
Plano estratégico para conservação
A iniciativa de enviar o alerta para a revista Science, contaram os cientistas, surgiu após uma reunião promovida em setembro de 2013 pelo Cenap com o objetivo de elaborar um plano estratégico para a conservação da onça-pintada na Mata Atlântica.
“Na semana anterior ao evento, havia sido publicado também na Science um artigo sobre a recuperação da população de carnívoros no Hemisfério Norte graças a medidas adotadas há mais de 20 anos, como reflorestamento, reintrodução e translocação de indivíduos. Alguns fatores de manejo utilizados por lá permitiram que algumas espécies praticamente extintas voltassem a ocupar certos espaços. Nossa carta tinha o intuito de fazer um contraponto a esse artigo”, contou Morato.
O evento promovido pelo Cenap reuniu diversos membros da rede Sisbiota. O objetivo do grupo é fomentar e ampliar o conhecimento não apenas sobre predadores, mas sobre toda a biodiversidade brasileira, bem como melhorar a capacidade preditiva de respostas às mudanças de uso e cobertura da terra e às mudanças climáticas.
De acordo com os especialistas, a medida mais urgente a ser tomada para salvar a onça-pintada seria o aumento da fiscalização para evitar a perda de indivíduos tanto pela caça quanto pela redução do ambiente causada pelo desmatamento ilegal.
“Primeiro precisamos estancar a perda para então pensar em trabalhar para recuperar as populações. Estamos discutindo a possibilidade de fazer a translocação de indivíduos (colocar novos animais em uma população existente para trazer informação genética nova para o grupo), pois as análises têm mostrados que geneticamente muitas dessas populações remanescentes estão comprometidas. Mesmo se a perda de animais cessar, será necessário recompor essas populações”, afirmou Morato.
Outra possibilidade, contou o pesquisador do Cenap, é recorrer a ferramentas de reprodução assistida. “Podemos coletar sêmen de um indivíduo de uma região e inseminar uma fêmea de outra população, por exemplo. Esse mecanismo pode ser mais prático do que fazer a translocação”, contou Morato.
De acordo com o plano em elaboração pelo Sisbiota, nenhum animal seria solto sem um sistema de monitoramento 24 horas e sem um programa prévio de educação e conscientização com as comunidades do entorno. “É necessário um trabalho forte para que essas comunidades aceitem o retorno do animal. É preciso orientação para que não haja risco no contato com a população humana e para que haja um manejo de rebanhos de modo a evitar a caça por perda econômica”, afirmou Morato.
Para Galetti, antes que qualquer medida seja tomada, é preciso ampliar o conhecimento científico sobre a onça-pintada – o que inclui informações sobre a biologia, a ecologia, a genética e os sistemas em que ela está incluída, ou seja, os demais organismos que interagem com ela. “Não se pode pensar em translocar animais enquanto não se tem segurança e controle sobre os impactos da medida”, ponderou.
Muitos dos estudos que embasam a discussão do plano de recuperação da onça-pintada foram conduzidos no âmbito do Sisbiota, que completa três anos. Parte dos dados foi apresentada nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Carlos, durante o 1º Simpósio Brasileiro sobre o Papel Funcional de Predadores de Topo de Cadeia.
O artigo Atlantic Rainforest’s Jaguars in Decline (DOI: 10.1126/science.342.6161.930-a), de Ronaldo Morato, Pedro Galetti e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org/content/342/6161/930.1.full?sid=b8928fb9-3760-4f2e-9188-23bc28d2dc2f.
por Karina Toledo, da Agência Fapesp