Emprendedoras RachelWilliamson IPS Oriente Médio, terra fértil para empreendedoras
Sarah Abunar (esquerda) e Rana Said, cofundadoras da EduKitten, empresa que vende aplicações de entretenimento educativo em árabe. Foto: Rachel Williamson/IPS

O Oriente Médio se converteu em um lugar mais propício para as mulheres empreendedoras do que a região norte-americana do Vale do Silício, epicentro da inovação e dos negócios, conforme sugere uma evidência que surpreende. A egípcia-norte-americana Yasmin Elayat, de 31 anos, nascida e criada no próprio Vale do Silício, disse à IPS que o ambiente de negócios no Oriente Médio era mais favorável do que o dos Estados Unidos e da Europa, quando, em 2011, começou a trabalhar em sua agora inativa empresa de mídia GroupStream. “É um ambiente mais estimulante para as mulheres empresárias. Há algo mais aqui, seja a cultura ou o ambiente”, afirmou.
De fato, a única vez que se sentiu menosprezada nos negócios por ser mulher foi na Europa, quando participou de um acampamento de capacitação de três meses em Copenhague para líderes de empresas startup (incipientes e de inovação). Ali, um empresário da Europa oriental ficou surpreso quando soube que Elayat não era uma simples funcionária da GroupStream, mas, nada mais nada menos, sua diretora geral. Em outra ocasião, após falar para uma audiência, um dos presentes dirigiu as perguntas ao cofundador de sua companhia, e não a ela.
Elayat integra o crescente grupo de mulheres no Oriente Médio e no norte da África que se aventuram nos negócios, embora seja difícil saber o número exato dessas novas empresárias. A última edição do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), estudo feito por um consórcio de universidades, sugere que as mulheres desta região são as que contam com menos probabilidades de poderem iniciar seu próprio negócio.
A pesquisa mostra que apenas 4% das mulheres adultas do Oriente Médio e norte da África se consideram empresárias. Entretanto, o estudo não incluiu a informação de importantes centros de startups na região, como Jordânia, Líbano, Emirados Árabes Unidos e Catar, enquanto Israel foi estudado de forma separada. Na Jordânia asstartups lideradas por mulheres representam um terço do total, próximo à média mundial de 37%.
No Egito aproximadamente metade dos novos empreendimentos é encabeçada por equipes mistas, informou à IPS o empresário Hossam Allam, fundador do grupo de investimento Cairo Angels. Além disso, nas competições regionais de empreendedores, a presença de mulheres e homens é bastante equitativa. Na Competição de Startups Árabes, organizada pelo MIT Enterprise Forum em 2012, quase metade dos participantes era de mulheres, incluindo a ganhadora, Hind Hobeika.
A proporção de mulheres empreendedoras na região provavelmente oscila entre 15% e 20%. Isto é notável se considerarmos que, segundo o estudo GEM, 10% das mulheres adultas nos Estados Unidos estiveram envolvidas em alguma atividade empresarial em 2012, e apenas 5% na Europa. Há várias razões para o aumento do empreendedorismo feminino no Oriente Médio, e uma delas é o favorável ambiente para as startups.
Nos últimos três anos a região presenciou o surgimento de numerosas encubadoras de empresas (entidades que apoiam os projetos de novos empreendedores) e também de competições e organizações especificamente dirigidas às mulheres. Entre essas iniciativas estão o site de notícias sobre investimentos Wamda for Women, da plataforma empresarial Wamda, a Competição para Mulheres Empreendedoras, da incubadora de negócios libanesa Berytech, a Fundação Roudha na Jordânia, e o Programa de Empreendedorismo de Mulheres Árabes, da organização norte-americana Amideast.
Outras razões são o crescente acesso à educação e às oportunidades proporcionadas pela internet. O Banco Mundial afirma que agora há mais mulheres do que homens nas universidades do Oriente Médio. Elayat contou que ela era a única mulher da sala quando fez seu primeiro curso de engenharia informática nos Estados Unidos, mas quando passou para a Universidade Norte-Americana do Cairo constatou uma presença igual de homens e mulheres.
Yasmine el-Mehairy, a jovem cofundadora do site digital árabe Supermama, explicou que, em contraste com os baixos números de mulheres que estudam computação e engenharia no Ocidente, muitas árabes entram nesse tipo de carreira depois de apresentar boas qualificações na educação secundária. “As mulheres mostram maior esforço no secundário, e por isso conseguem boas qualificações, enquanto os homens estão mais interessados em brincar com PlayStation ou futebol”, afirmou. “É parte de uma seleção natural ir para as melhores universidades se você tem boa qualificação, e seguir as carreiras de maior prestígio”, como ciências e engenharia, destacou.
Ludwig Siegele, do semanário britânico The Economist, escreveu em julho que, provavelmente, o número de empreendedoras aumentará graças à internet, pois esta permite que as mulheres dirijam suas empresas em suas casas, e isso é extremamente vantajoso em países como a Arábia Saudita, onde é mal visto saírem para trabalhar. Porém, os desafios que enfrentam as empreendedoras no Oriente Médio são muito grandes, desde o cansaço diário até as frustrações pelos preconceitos arraigados em suas sociedades patriarcais.
Os painéis organizados este ano pela Wamda for Women no Cairo, Doha, Amã e Riad, ilustraram as dificuldades que as mulheres têm para levarem adiante seus negócios. Geralmente, os principais desafios têm a ver com enfrentar seus pares homens, superar os papéis estabelecidos e equilibrar a família com a responsabilidade do trabalho. Foi o que afirmou a também empresária jordaniana Fida Taher, fundadora do site sobre cozinha Zaytouneh.
“Primeiro, alguns homens se sentem intimidados diante de uma mulher forte”, disse a Chris Schroeder, autor do livroStartup Rising: The Entrepreneurial Revolution Remaking the Middle East (Surgimento das Startups: a Revolução Empreendedora Reconstrói o Oriente Médio). “Em segundo lugar – e tentarei soar o mais correto possível – acreditam que uma relação de negócios com uma mulher deve ser mais pessoal. Por fim, alguns homens subestimam as mulheres em geral e acreditam que não somos capazes de obter bons resultados”, acrescentou.
Sarah Abu Nar, de 28 anos, cofundadora da companhia egípcia EduKitten, que vende aplicativos de entretenimento educacional em árabe, contou suas experiências. A empresária disse que deve se esforçar para convencer investidores árabes de que pode dedicar aos negócios o mesmo tempo que dedicam seus pares homens. Mas, finalmente, decidiu adotar uma postura que seguem todas as empresárias com as quais a IPS conversou. “Não se deve perder tempo falando com as pessoas para convencê-las de que se é boa. Não gaste seu tempo fazendo isto, pois suas ações falarão melhor do que suas palavras”, enfatizou. Envolverde/IPS
(IPS)