quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Trinta e cinco mil Amarildos em seis anos. BASTA!!!


Hoje faz um mês que Amarildo sumiu e entrou para a triste estatística de nosso Estado.   Símbolo de nossa chacina diária, ele desapareceu após ser levado para dentro da UPP da Rocinha por policiais militares.  Cotidianamente, há seis anos, desaparecem, em média, 16 pessoas, totalizando o impressionante número de 35 mil mortes.  Um assombro!  Números de uma guerra civil, silenciosa e absurda, que tem muito a ver com a omissão do Estado e a pouca participação da sociedade, que não cobra explicação de seus governantes e dá pouco valor à vida humana.   Hoje no Rio, mata-se por pouco, morre-se por nada.  Vivemos, literalmente, em um “Estado de Exceção”.  BASTA!!!

Foi por isso que aceitei entrevistar Jefferson, entregador de pizza de um restaurante da zona oeste do Rio, na madrugada de terça.  Ele tem 18 anos e é sobrinho de Amarildo. Garoto exemplar, de boa índole, trabalhador, dedicado pai de família.  Apesar da pouca idade, tem dois filhos, Kelvin e Ana Laura.  Visivelmente nervoso, tentei acalmá-lo dizendo que parecia com meu filho mais novo.  

Fiz questão de esclarecer que estava ali para ajudar na elucidação do episódio e para que outros casos semelhantes não voltassem a ocorrer.  Disse, ainda, que gostaria que ele avisasse em casa para saber se haveria algum tipo de problema em conversar comigo.  Resposta: falei com minha madrinha e ela perguntou o que estava esperando pra falar.

Jefferson

Iniciei a conversa perguntando se todos eram do Rio e se morava perto de Amarildo.  Ele disse que sim e que morava bem perto da casa dele.  Em seguida quis saber como era a vida na comunidade e ele disse que vez ou outra iam ao pagode, faziam churrasco.  Afirmou que Amarildo era pedreiro e que todos gostavam dele.  Disse, ainda, que na família ninguém mexia com drogas.  Bety, a esposa, era uma espécie de faz tudo.  E dos seis filhos, por conta da idade, apenas dois trabalham.

Jefferson jogava bola e fazia teatro, hoje dá aula de capoeira e sonha ser ator. Perguntei-lhe sobre a visita da polícia um dia antes do sumiço de Amarildo e se acreditava que ainda estava vivo.  Ele disse acreditar que tudo estava programado para ocorrer antes, porém, como as câmeras e GPS’s estavam ligados, desistiram e voltaram no dia seguinte.  Disse, ainda, que não acredita mais que Amarildo esteja vivo e que a família só quer saber a verdade.

Perguntado se havia alguma coisa que queria dizer que ainda não tinha saído na imprensa, foi categórico:

- a Polícia continua abordando de forma desrespeitosa os moradores.  Somos obrigados a chamá-los de “senhores”, porém, somos nós que lhes pagamos os salários, afirmou;
- o mesmo policial, conhecido como cara de macaco, que levou meu tio, ameaçou, também, meu padrasto e;
- no mesmo dia que levaram Amarildo, sem explicação, levaram para a delegacia da Gávea e depois para Bangu 2, Jorginho e Rodolfo, dois amigos de infância, sem que qualquer explicação fosse dada.  Eles continuam presos até hoje, apesar de serem trabalhadores.

Finalizando, Jefferson declarou: está mais do que na hora de o Brasil acordar.  Eu só queria ver se fosse o filho do Ronaldo ou do Eike Batista que tivesse desaparecido se seria igual.

A ameaça ao padrasto e a detenção de seus amigos Jorginho e Rodolfo, estão no vídeo que está sendo preparado.  A exibição será aqui mesmo, amanhã, 15.  Não percam!

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros