terça-feira, 27 de agosto de 2013

Mobilidade urbana: o caos nosso de cada dia


Recentemente afirmei que, comparado à jornada de trabalho, passava o equivalente a 4 meses do ano dentro do ônibus.  Muitos amigos me questionaram espantados e foram fazer a conta, que é verdadeira.  Minha intenção com a comparação foi fazer exatamente o cidadão comum parar para pensar e refletir: por que ficar 4 meses dentro de um coletivo, desnecessariamente, quando poderia estar com minha família ou em férias, por exemplo?

A resposta está dentro de nós mesmos quando votamos sem pensar, pois nossas escolhas refletem a (i)mobilidade urbana do país, nos três níveis de governo.  Vejamos:

- em nível Federal, enquanto o governo, com uma política contraditória, aceitou reduzir, voluntariamente, os níveis de CO2 causadores do efeito estufa, entre 36% a 39%, ao mesmo tempo, cedendo a pressões do sempre poderoso lobby da indústria automobilística, incentivou a compra de carros com redução do imposto sobre produtos industrializados, o IPI. Conclusão: na última década, a proporção que era de 75% para aqueles que se locomoviam de ônibus contra 25% daqueles que optavam por carro, está, agora, 50% para  ônibus e 50% para carros;

- nos Estados, a guerra fiscal é acirrada e selvagem, com concessões impensáveis de terrenos, construções de fábricas bancadas com o dinheiro público e reduções inimagináveis de impostos por 15/20/25 anos e;

- na esfera Municipal, com concorrências pouco transparentes (quando ocorrem), permitimos o toma lá dá cá de vereadores que se vendem em troca de favores de empresários que mantêm uma relação promíscua e perniciosa à população, dividindo entre poucos amigos as benesses de um filão de negócio que na maioria dos países desenvolvidos é um serviço de boa qualidade oferecido aos cidadãos.

Mas a falta de uma política pública para a área, com metas plurianuais coerentes, e, sobretudo, sustentáveis, de longo prazo, faz com que outros setores dentro do governo sofram prejuízos. É o caso da saúde, onde apenas ano passado, por conta da poluição, doenças cardiovasculares, estresse, pressão arterial alta, morreram em São Paulo 5 mil pessoas e no Rio outras 2 mil.  E isso tem um custo.

A conta sobe e, segundo a Rede Nossa São Paulo, apenas na capital paulista, o prejuízo com engarrafamentos chega a R$ 50 bilhões/ano.  Estudos semelhantes realizados pela Coppe para o Rio dão conta de outros R$ 27 bilhões/ano.  Somando-se o montante que as renúncias fiscais promovidas pelo governo deixaram de arrecadar, o prejuízo brutal com engarrafamentos e, ainda, os gastos com a saúde causados por internações e mortes em função do trânsito, chegamos a um número estratosférico de algumas centenas de bilhões de reais, que poderiam estar sendo utilizados para tornar nosso país mais sustentável nessa rubrica.  

Mais uma vez, reflexos de opções erradas nossas do passado, refletindo diretamente em nosso presente e futuro.  Ou seja, erros em cadeia.

É latente, ainda que embrionário, o sentimento por mudanças.  E elas urgem acontecer. Precisamos de governos que contrariem interesses, que rompam a barreira da mesmice, repensando métodos e práticas.  Ser sustentável, ser radical, antes que seja tarde, simples assim, a ideologia do futuro.

Abraços sustentáveis

Odilon de Barros