sábado, 3 de agosto de 2013

A Siemens e a utopia de um mundo verdadeiramente sustentável sem corrupção


Não é a primeira vez (nem será a última) que escrevo sobre corrupção, afinal, como dizem os mais experientes ”quando temos um grande problema a resolver em nossas vidas, fazemos uma catarse gastando o assunto até expurgá-lo de dentro de nós”.  Assim é a pandemia da corrupção no mundo, uma pedra no caminho do desenvolvimento sustentável.

Pode parecer estranho, mas sustentabilidade e corrupção, apesar do antagonismo de seus significados, caminham juntas.  Ambas, sem exceção, estão presentes em todos os ramos da atividade humana – saúde, educação, esporte, cultura, transporte, turismo... - porém, curiosamente, não são atacadas (corrupção) e/ou incentivadas (sustentabilidade) com políticas públicas específicas. 

Talvez, também por isso, a sustentabilidade não avance no mundo (vide as várias conferências e protocolos firmados: Rio 92, Rio+20, Kyoto).  É um problema de todos  não assumido por ninguém.  Igualmente a corrupção, que corrói os tecidos sociais das sociedades modernas, com maior ou menor intensidade, dependendo do país, não é tratada com rigor por governos, tirando do povo a oportunidade de avançar na direção de uma melhor qualidade de vida.

Assim, em direções contrárias, podemos observar que nações com alto grau de corrupção têm péssimo desempenho no quesito sustentabilidade. Ao mesmo tempo, países com bom desempenho em sustentabilidade têm baixo índice de corrupção.  Ou seja, podemos afirmar que o sucesso da sustentabilidade está ligado ao fracasso da corrupção. Será?

Na semana que passou, os jornais divulgaram que a gigante alemã Siemens, em acordo inédito com o CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, estaria colaborando para elucidação de um suposto cartel em licitações para aquisição de trens, manutenção e construção de linhas de trens da Linha 5 do Metrô de São Paulo.  A empresa nega que seja fonte de tais informações mas informa que está pronta a se manifestar se esse for o desejo dos órgãos competentes pelas investigações.

A verdade é que a orientação da matriz alemã em todo o mundo é não participar em nenhum país em que atua de cartéis, negociatas ou qualquer que seja o artifício financeiro que garanta a vitória em concorrências através de fraudes.  Lógico que essas ações foram pensadas e têm suas conseqüências, para o bem e para o mal, explico.  

Olhando-se para os aspectos positivos, os esforços da empresa vem desde 2007, com novos mecanismos de controle e investigação.  A empresa alcançou 99% de pontuação no Índice de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI).  No Brasil, após extensa avaliação, a Siemens foi uma das quatro primeiras empresas a receber o Selo Ético (“Cadastro Empresa Pró-Ética”) em 2010, concedido pela Controladoria Geral da União – CGU.

Em nota oficial divulgada na última semana, a Siemens afirmou: “acreditamos que somente a concorrência leal e honesta pode assegurar um futuro sustentável para as empresas, os governos e a sociedade como um todo. Por isso, reitera seu compromisso com a ética e com a criação de um ambiente de negócios limpos, estando continuamente empenhada em dedicar todos os esforços para que os seus colaboradores ajam de acordo com os mais elevados padrões de conduta."

O negativo de toda essa história, e talvez por isso a Siemens esteja (com razão) abrindo a boca, é que a empresa ficando de fora de concorrências perde receitas.  Porém, esperamos que por sua história e seu tamanho, tenha fôlego suficiente para agüentar o tranco até o jogo virar.  É o que torcemos!

No Brasil, com a política fervilhando, vivemos um momento propício para mudanças.  É hora, portanto, de exigirmos a inclusão na agenda das manifestações, de uma urgente mudança na lei das licitações, a 8.666/93, pois o ralo do dinheiro público fácil de que tanto precisamos para as obras de infra-estrutura, saúde, educação, bons transportes, escoa por ali há décadas. 

Se queremos realmente ser uma Nação do futuro, a sustentabilidade é o caminho a seguir. Nesse caso, bem que o bom exemplo da Siemens poderia ecoar e chegar até o Planalto Central. Afirmei ali em cima que sustentabilidade e corrupção caminhavam juntas e que o sucesso de uma significava o fracasso da outra.  A hora é de coragem e opções.


Abraços Sustentáveis