sexta-feira, 12 de julho de 2013

Na Europa os bancos valem dez vezes mais do que os cidadãos



europa Na Europa os bancos valem dez vezes mais do que os cidadãosRoma, Itália, julho/2013 – Durante a última cúpula dos chefes de Estado europeus, realizada no final de junho em Bruxelas, o tema principal foi o desemprego que afeta hoje em dia 23% da juventude, sendo que na Espanha chega a 41%.
A Organização Internacional do Trabalho havia publicado previamente um dramático estudo dando conta de uma geração perdida. Segundo suas projeções, a prevalência de trabalhos temporários sem contribuições sociais, significará que a geração atual terá aposentadoria no valor de 480 euros.
Após uma longa discussão, os chefes de Estado decidiram destinar US$ 6 bilhões de fundos europeus à luta contra o desemprego juvenil. E depois de uma reunião bem mais curta, aprovaram um pacote de ajuda aos bancos europeus no valor de US$ 60 bilhões, que se somam a subsídios generosos concedidos no passado: só o Banco Central Europeu cedeu US$ 1 trilhão aos bancos a custo nominal.
Todos os esforços para criar um sistema bancário europeu sob um regulador único foram congelados à espera do desenlace das eleições na Alemanha em setembro.
Como disse um membro da delegação alemã, “sabemos o que temos de fazer: acalmar os mercados financeiros. Mas não fomos eleitos pelos mercados financeiros, mas sim pelos cidadãos alemães”. E não foi feito nenhum esforço para explicar aos cidadãos alemães porque é do interesse deles serem solidários com os países mais frágeis da Europa.
A democracia, como a entendemos hoje, se baseia em líderes que seguem o sentimento popular, à custa de um senso do dever que empurre os eleitores para um mundo de desafios e visões.
Estamos diante de uma situação curiosa, na qual a Europa até agora não só gastou centenas de milhares de milhões de dólares em seus bancos, como inclusive convidou o Fundo Monetário Internacional (controlado pelos Estados Unidos) para que, junto com instituições europeias, maneje a crise do continente.
Em um ato de resistência aos Estados Unidos sem precedentes, a Europa rechaçou uma exortação de Washington para reduzir a austeridade e adotar políticas de crescimento como as que, com êxitos comprovados, estão aplicando a própria potência e o Japão.
O ponto comum do trio mais poderoso do Norte (Estados Unidos, Europa e Japão) foi sua falta de vontade para controlar os bancos e penalizar seus crimes.
Os bancos centrais de todo o mundo se reúnem no Banco de Pagamentos Internacionais, com sede na Basileia. Agora, seu Comitê de Supervisão Bancária lançou uma proposta que aumenta a relação entre o capital dos bancos membros e o volume de operações financeiras que podem realizar.
Um dos indicadores estabelece que os bancos devem manter uma reserva de capital de “alta qualidade”, composta por ações e ganhos não distribuídos, equivalente a 7% de sua exposição creditícia, que sobe para 9% para as instituições gigantes.
Não é precisamente uma proposta revolucionária, e é criticada como insuficiente por muitos analistas e reguladores.
Assim o confirma o fato de o Federal Reserve estimar que entre 90% e 95% dos bancos com ativos inferiores a US$ 10 bilhões já respeitam esses parâmetros. Pois bem, inclusive esta proposta levantou uma onda de protestos por parte de muitos bancos, temerosos das supostas grandes dificuldades que encontrarão na hora de reunir capital.
Sob o velho capitalismo, nenhuma empresa funcionaria sem o capital adequado para suas necessidades. Por outro lado, aqui temos um setor econômico que quer jogar sem capital e espera que o Estado o resgate quando as coisas saírem mal. Recordemos, então, algumas das muitas vezes que as coisas saíram mal sem que nenhum responsável tenha acabado na prisão.
Em abril de 2002, a agência estatal reguladora norte-americana SEC condenou dez bancos a pagarem US$ 1,4 bilhão em multas por atividades fraudulentas.
Passado um ano, a SEC descobriu que 13 de 15 entidades financeiras investigadas ao acaso haviam cometido fraudes.
Em 2010, o Goldman Sachs aceitou uma multa de US$ 550 milhões para evitar um julgamento por fraude.
Em julho do ano passado, o Senado norte-americano acusou o banco britânico HSBC de facilitar a lavagem de dinheiro ilegal por parte de traficantes de drogas e outros crimes. A multa foi de US$ 1,9 bilhão.
Alguns meses mais tarde, em novembro de 2012, a SEC multou a SAC Capital em US$ 600 milhões e o banco britânico Standard Chartered em US$ 667 milhões.
Em fevereiro deste ano, o banco Barclays anunciou que pagaria US$ 1,518 bilhão em penalidades por “transações ilícitas”, e no mês seguinte o Citigroup aceitou uma multa de US$ 730 milhões por “vender investimentos lixo a clientes desprevenidos”.
Todos sabemos que a crise que sofremos (segundo os otimistas acabará apenas em 2020, e, segundo os pessimistas em 2025), se originou nos dez maiores bancos norte-americanos que decidiram vender bônus tóxicos certificados pelas agências qualificadoras Standard & Poor’s (S&P) e Moody’s.
Os contribuintes norte-americanos doaram US$ 750 bilhões para salvar os bancos, e os britânicos fizeram o mesmo a favor de HSBC, Royal Bank of Scotland, Barclays e Northern Rock.
Entre 2003 e 2007, enquanto se espalhava o desastre financeiro, os cinco grandes norte-americanos (Goldman Sachs, Merrill Lynch, Morgan Stanley, Lehman Brothers e Bear Stearns) pagavam US$ 3 bilhões aos seus executivos, que, em 2008, receberam US$ 20 bilhões, ao mesmo tempo em que seus bancos sofriam perdas de US$ 42 bilhões.
Tudo isto foi certificado por S&P e Moody’s, que controlam 75% do mercado mundial.
Agora, se exige que a S&P pague US$ 500 milhões. Contudo, o que dizer dos milhões que perderam seus postos de trabalho? E dos milhões de jovens que não veem nenhum futuro em suas vidas?
É a mesma história de sempre: para quem rouba pão a prisão, para quem rouba milhões, nada acontece… e se roubar milhões em um banco, menos razão ainda para se preocupar.
Entretanto, na cúpula europeia, a prioridade continua sendo a distribuição do dinheiro dos contribuintes, por muito que se mantenha a retórica do desemprego juvenil. No final, o que realmente importa aos líderes europeus é garantir a reeleição…
Roberto Savio/Envolverde/IPS

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