segunda-feira, 17 de junho de 2013

E AGORA

Ufa, parece que foi ontem mas lá se vão quase treze anos de minha última participação em manifestações de rua.  Afinal está acabando o efeito da anestesia popular causada a partir da eleição presidencial vencida pelo PT. 

Nascidas meio que como um movimento isolado de estudantes de Porto Alegre, em março, as reivindicações foram ganhando espaço e hoje, depois de dois meses e uma ajudinha sem querer dos meios de comunicação, que subestimaram os manifestantes tratando-os como vândalos, tomaram o Brasil.

Saí do trabalho às 18h e a multidão já tomava inteiramente a Av. Rio Branco.  Como havia marcado com meu filho e sobrinhos de encontrá-los, resolvi ficar olhando a massa se movimentar.  Estava bonito mesmo, não imaginava ver ali tanta gente. Pensei: se o tal do Cordão do Bola Preta, que fica com a avenida inteiramente cheia  com 2 milhões de pessoas, imagine aqui.  Calculo, pelo menos 200 mil pessoas presentes hoje.

Quando todos chegaram começamos a caminhar lentamente rumo à Cinelândia.  Cartazes com inscrições contra as três esferas de governo eram empunhados por um público, em sua grande maioria, jovem.  “País mudo não muda”, “seu filho está doente, leva ele ao Maracanã”, “se a passagem não baixar, o Rio vai parar”, “desculpem o transtorno mas estamos mudando o Brasil”,entre outros.  A todo momento que alguém (pouquíssimos, por sinal) resolvia levantar qualquer bandeira de partido político, era vaiado e um coro ensurdecedor gritava: “sem partido, sem partido”.

Tudo pacífico, com muito bom humor.  Não vi em todo o percurso um único policial, nenhuma briga, nenhuma provocação.  Até às 20h e 15 minutos. A partir daí, nossos telefones começaram a tocar informando que bombas e confrontos estavam ocorrendo em Brasília e no Rio de Janeiro, na ALERJ e Paço Imperial, dando conta de policiais feridos e um carro pegando fogo.  A partir de então, senti o clima um pouco estranho.  Chamei meu filho e sobrinhos, descemos as escadas ao lado do Cine Odeon, estação Cinelândia e fomos embora.

Pra quem não acreditava, está na hora de baixar a bola e tentar analisar os motivos de tudo isso estar ocorrendo.  Somadas, já são 47 as manifestações em todo mundo em apoio às manifestações. Mais, é sintomático a total aversão a políticos e a partidos nesse momento.  Com a palavra, os cientistas políticos de plantão. A agenda, antes apenas por conta do preço das passagens de ônibus, passa já por uma educação e saúde de qualidade, contra a corrupção, contra os gastos com os estádios da Copa, contra a PEC 37, enfim, espero que as boas cabeças dentro do governo consigam raciocinar e aceitar que o humor mudou, que a população, antes calada, está cansada de tanta falta de tudo.  E é preciso mudar, rápido. 

Pouco tempo faz, o Ministro Joaquim Barbosa afirmara que nossos partidos eram de mentirinha.  As ruas estão corroborando esse sentimento. Pois bem, é bom acabar com a brincadeirinha antes que nossa democracia seja, como nunca, colocada à prova.


Odilon de Barros     

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