sábado, 29 de junho de 2013

A reflexão que vem das ruas



Muito temos discutido tentando entender qual o fato gerador a “startar” tamanha mobilização há cerca de um mês no Brasil.  Seria essa uma nova forma de fazer política?  Estamos diante de uma nova “Era” para exigir direitos de nossos governantes? Estamos presenciando uma crise sem precedentes das agremiações políticas?  Será o início do fim dos partidos?

Afinal, nem os mais experientes políticos conseguiram, até o momento, entender o que está acontecendo.  E esse não é um privilégio brasileiro, vem ocorrendo faz tempo em boa parte do mundo árabe. 

Acompanhei algumas das manifestações com filhos e sobrinhos, todos estreantes em passeatas, todos sem ideologia definida, apenas “do bem”, e percebi que, diferente de outras épocas, quando tínhamos partidos e seus políticos a orientar e comandar a multidão, essas não têm sequer líderes, quando chegam ao seu destino final ninguém discursa, são entoados somente cânticos e palavras de ordem.

Diferente, também, de outras épocas, onde apenas as grandes cidades participavam, agora, o digital entra e convoca a todos e o que vemos são cidades com 10 milhões ou 10 mil habitantes fazendo seus atos independentemente de solicitação a um comando central, temas, nada.  A falta de coloração partidária, se por um lado é ruim, pois escancara a falência representativa dos partidos, é importante, também, pois não inibe ou restringe a participação de diferentes matizes sociais, ao contrário, agrega. 

Como um viral avassalador ainda não compreendido pela classe política dominante, o povo anônimo nas ruas, conseguiu através das redes sociais, aprovar em uma semana matérias até então impensáveis em outros tempos, dando um banho de organização, simplicidade, e, sobretudo, resultados práticos.  E isso tudo sem qualquer reunião ou negociação com as três esferas de Poder. 

No Executivo, a presidente Dilma está propondo a reforma política tantas vezes recusada pelo Congresso, além de um plebiscito; no Judiciário, de maneira inédita, acaba de mandar prender o Deputado Donadon ao recusar os tais embargos declaratórios/infringentes que, na prática, tinham a exclusiva intenção de apenas protelar seu processo e; no Legislativo, em apenas uma semana aprovou a transformação do crime de corrupção em hediondo, além de recusar a tão temida PEC 37 que, se aprovada, inibiria a investigação de crimes pelo Ministério Público.  Não é incrível?

É ou não algo a se refletir e pensar? Mais, se alguém ousar se colocar acima dos movimentos e aparecer dando entrevistas em nome de grupos, é imediatamente posto de lado.  Essa, talvez, a maior força das manifestações. 

Ouvi várias opiniões divergentes dando conta que o movimento não tinha propostas objetivas, o que é um equívoco, pois tudo até agora aprovado é resultado, justamente, do que as ruas clamavam.  Ouvi, também, o Ministro Gilberto Carvalho afirmar, preocupado, já quando o circo pegava fogo, que não tinha com quem dialogar.  Esse para mim, o grande barato disso tudo: eles (o poder) não tinham a quem cooptar.  

Não estou aqui afirmando que os Partidos não são importantes ou dispensáveis em nosso sistema político, entretanto doravante, no mínimo, se o movimento souber organizar as propostas e a massa, estará descoberta uma bela e vigorosa maneira de fiscalizá-los, não tenho dúvidas. Agora, sabedor da força que tem (e que adormecia em berço esplêndido), o gigante acordou e tem a tarefa de acompanhar as propostas que serão apresentadas à Nação.  E, se for o caso, pois essa gente não se emenda fácil, botar o bloco na rua novamente.  

Mas o que esse assunto tem a ver com “Sustentabilidade”?  Fiquem ligados, no próximo artigo vamos conversar sobre “Corrupção, Vandalismo e Sustentabilidade”.


Odilon de Barros

2 comentários:

CLAUDIA OBERTI disse...

primavera àrabe, outono brasileiro.

Unknown disse...

Fala amiga, o que está acontecendo é inédito, ainda precisaremos de um tempo para entender. Sem dúvida, o mundo começa a mudar. Seremos exemplos, podes crer, na América do Sul , principalmente, de outas coisas que estão a caminho. Aguardemos. Beijo grande. Ah, ia esquecendo, estou impressionado com tanta gente aqui que está participando lendo. Até agora tem gente de nove países nas estatísticas. Acho que está agradando.